28 abril, 2011

George Clinton, Seun Kuti e Muchachito Bombo Infierno no MED de Loulé


Que grande notícia! O mestre do funk de intervenção- e fundador dos seminais Funkadelic e Parliament - George Clinton (na foto), o herdeiro do espírito do afro-beat Seun Kuti e os repetentes Muchachito Bombo Infierno estão confirmados no MED de Loulé 2011. Também confirmados estão os portugueses Lula Pena, Sean Riley & The Slowriders e a deliciosa pop-jazz de Luísa Sobral. Ainda sem carimbo oficial, mas com um grau grande de certeza, estão também -- tal como avançaram as Crónicas da Terra e aqui se repetiu -- a Fanfare Ciocarlia e a Boban & Marko Markovic Orchestra envolvidas na Balkan Brass Battle. O comunicado oficial:

"Festival MED 2011 de 22 a 25 de Junho

George Clinton Parliament Funkadelic, Seun Kuti & Egypt 80, Muchachito Bombo Infierno e Luísa Sobral entre os primeiros nomes confirmados

Loulé, 28 de abril de 2011 – Estão já fechados os primeiros nomes para a 8ª edição do Festival Med, o primeiro festival de música do verão e um dos mais conceituados festivais nacionais de world music. De 22 a 25 de junho, o centro histórico da cidade de Loulé volta a vestir as cores do mundo e a transformar-se num palco de sons e sabores, experiências culturais, e de fusão das mais variadas manifestações artísticas.

Com cinco palcos dedicados em exclusivo à música, a Cerca e a Matriz voltam a ser palcos principais, acolhendo mais uma vez grandes nomes do circuito internacional de world music. O palco Castelo, à semelhança do ano anterior, será dedicado ao que de melhor se faz em Portugal.

George Clinton Parliament Funkadelic, Muchachito Bombo Infierno, Seun Kuti & Egypt 80, Luisa Sobral, Sean Riley & The Slowriders e Lula Pena são os primeiros seis nomes confirmados para a edição 2011 do Festival Med.

George Clinton Parliament Funkadelic sobem ao palco Med a 24 de junho, para aquela que será a sua estreia absoluta em Portugal. Liderado pelo norte-americano George Clinton, considerado um dos mais importantes embaixadores do funk, ao lado de James Brown e Sly Stone, membro do Rock and Roll Hall of Fame, este será um dos grandes momentos desta edição, certamente um dos mais aguardados.

Muchachito Bombo Infierno, coletivo espanhol que fez furor na edição do festival em 2008, volta a pisar o palco Med para mostrar porque é que se mantém uma das bandas sensação da terra de nuestros hermanos. Mais do que a originalidade dos temas ou a fusão de ritmos (rock, rumba catalã e reggae), a crítica aplaude a singularidade das suas atuações, que são manifestas homenagens à arte plástica. Cada concerto dá origem a uma tela que é pintada no palco por Santos De Veracruz, o pintor que acompanha a banda em todas as deslocações. Uma atuação que se espera que volte a ser contagiante, logo na primeira noite do festival, a 22 de junho.

Seun Kuti & Egypt 80 sobem ao palco Med a 23 de junho. Depois de Femi Kuti ter brilhado no Med, é a vez do filho mais novo de Fela Kuti, Seun Kuti, passar pelo centro histórico de Loulé. O músico nigeriano acabou de lançar seu segundo álbum, acompanhado pela banda Egypt 80, anteriormente liderada pelo seu pai, e vem ao Med apresentar o novo projeto “From Africa With Fury: Rise”. Assumindo a grande responsabilidade de ser filho do lendário pai do afrobeat, Seun mostra estar à altura do legado, evidenciando, em palco e fora dele, a mesma lírica e energia musical de Fela Kuti. Uma atuação muito desejada, sobretudo para os fãs do afrobeat.

Luísa Sobral, uma das mais recentes e promissoras revelações nacionais do mundo do jazz, sobe ao palco a 24 de junho para apresentar o seu primeiro trabalho “The Cherry on my Cake”. Tendo como inspirações nomes de peso como Billie Holliday, Ella Fitzgerald ou Chet Baker, foi com estas referências que a artista rumou a Boston para estudar música no Berklee College of Music. Durante a sua estadia de quatro anos nos EUA, Luísa Sobral foi nomeada para “Best Jazz Song” (Malibu Music Awards 2008), “Best Jazz Artist” (Hollywood Music Awards), “International Songwriting Competition” (2007), e “The John Lennon Songwriting Competition” (2008).

No dia 23 de junho, o palco Castelo recebe os portugueses Sean Riley & The Slowriders que irão apresentar “It’s Been a Long Night”, o mais recente álbum de originais da banda com lançamento previsto para 30 de maio. “Silver” é o nome do primeiro single deste trabalho que, à semelhança do anterior, “Only Time Will Tell” (2009), foi produzido por Nelson Carvalho. Aclamado pela crítica e sustentado com grandes prestações ao vivo, caso do sucesso alcançado nos festivais de Paredes de Coura e Alive, a banda aponta baterias para o mercado internacional. Com os dois discos editados no Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), a banda foi escolhida pela Antena 3 para representar Portugal no importante festival Eurosonic (Groningen-Holanda).

Lula Pena é o último nome confirmado, para já, do cartaz deste ano do Med. A intérprete e compositora, a voz de “Pasión” uma das mais aplaudidas músicas de Rodrigo Leão, sobe ao palco Castelo no primeiro dia, a 22 de junho, para apresentar “Troubador”, o seu mais recente trabalho discográfico, o aguardado sucessor de “Phados”. Lula Pena toca um fado a que tira o f, assumindo-se, sem drama ortográfico mas com crença, como phadista. Vivendo imersa nesta relação tão singular com o som, com a memória e como carregamos connosco tudo o que já vimos, observámos e aprendemos para todo o lado, podemos pensar em Lula não só como uma das grandes “reinventoras” do fado, mas alguém que verdadeiramente o viveu e segue vivendo.

Depois de mais um recorde de bilheteira batido em 2010, com mais de 25 mil pessoas a visitarem o Med durante os quatro dias de festival, a Câmara Municipal de Loulé, entidade organizadora do evento, continua a encarar a crescente adesão como uma consequência da qualidade artística do festival. Em 2011, a autarquia mantém a fasquia artística e também o preço dos bilhetes: bilhete diário - 12,00 €; passe de festival (4 dias) – 40,00 €.

Os bilhetes estarão à venda a partir de dia 1 de junho no Cine-Teatro Louletano. A partir do dia anterior ao festival, os ingressos poderão também ser adquiridos nas bilheteiras junto ao recinto."

25 abril, 2011

Festim 2011 com Acquaragia Drom, Carlos Nuñez e Ale Moller Band


Vem aí mais um Festim! E com mais um grande programa! Info geral e programação completa aqui em baixo:

"Aí está a 3ª edição do Festim!

O festival intermunicipal de músicas do mundo, vulgo Festim, volta aos palcos da região no próximo Verão, de 3 de Junho a 22 de Julho de 2011, assente numa rede de cinco municípios vizinhos: Águeda, Albergaria-a-Velha, Estarreja, Ovar e Sever do Vouga.

Com uma crescente identificação do festival pelo público nas duas edições realizadas, repete-se a dose, no incontido desejo de, através das músicas do mundo - uma área de paixão nas programações d’Orfeu -, consolidar uma rede de programação cultural à escala regional.

Em 2011, o Festim regressa com uma programação fascinante, uma festiva viagem pela diversidade. O mundo e as suas culturas em sete partidas: este ano há Itália, Cabo Verde, Palestina, Espanha, Brasil, Suécia, Grécia, Senegal, Canadá, México e Chile.

Dos oito grandes nomes desta 3ª edição, quatro são estreias absolutas em Portugal (Trio Joubran, DJ Tudo e Sua Gente de Todo Lugar, Ale Möller Band e Chico Trujillo). Oito grupos, cinco Municípios, vinte concertos, um cartaz único.

Faz teu o Festim!

Programa:


Acquaragia Drom (Itália)

Já todos sabemos que corre um sangue festivo nas veias da música cigana. Agora, imaginem-se os cantos de leste convertidos, ao passar os alpes, em saltarelos e tarantelas tipicamente italianas. É essa a matriz dos Acquaragia Drom, nome histórico da música zíngara em Itália. Na abertura do Festim, uma viagem ao extrovertido e original estilo personalizado por estes músicos de alma cigana.
Sex 3 Jun, OVAR
Sáb 4 Jun, SEVER DO VOUGA


Ritinha Lobo (Cabo Verde)

Ritinha Lobo, herdeira de um sobrenome consagrado na música de Cabo Verde, reflecte o espírito aberto da nova geração de vozes do arquipélago. Começa ainda criança a pisar os palcos, crescendo com o batuque, o funaná e as coladeras. Faz-se mulher e encarna a sensualidade da música caboverdiana. A morna faz parte dela, mas Ritinha abraça a África lusófona no seu repertório, para uma festa das sete partidas em português e em crioulo.
Qui 9 Jun, ESTARREJA
Sex 10 Jun, SEVER DO VOUGA


Le Trio Joubran (Palestina)

O alaúde está para o música árabe como a guitarra portuguesa para o fado. Os três irmãos Joubran são os inspirados herdeiros de uma tradição familiar ligada àquele instrumento. Nascidos na cidade bíblica de Nazaré, os virtuosos Samir, Wissam e Adnan improvisam com absoluta excelência e imprimem uma incomparável intensidade à sua música, ao mesmo tempo que conquistam grande notoriedade internacional. Um concerto deste trio é uma experiência irrepetível.
Sex 17 Jun , ALBERGARIA-A-VELHA
Sáb 18 Jun, ESTARREJA


Carlos Nuñez (Galiza, Espanha)

Carismático e brilhante gaiteiro galego, Carlos Nuñez (na foto) é um dos grandes nomes do Festim 2011. A aura mágica da sua música não é mais que uma certa representação da cultura celta, esse mítico mundo de magos, druidas, dólmenes e menires. Nuñez tem uma obra intemporal e uma carreira que falam por si, sendo ele próprio um ícone internacional da gaita-de-foles, instrumento com cuja magia encantará as plateias do festival intermunicipal de músicas do mundo.
Qui 23 Jun , ALBERGARIA-A-VELHA
Sex 24 Jun, ESTARREJA
Sáb 25 Jun, OVAR


La Troba Kung-Fú (Catalunha, Espanha)

Estes catalães trazem ao Festim a sua bombástica fusão de rumba catalã com ritmos da cumbia ou do reggae, num concerto com sentido único para a festa. La Troba Kung-Fú garante um cocktail explosivo de música para ouvir até dançar! Um concerto de inspiração mediterrânica a partir da cosmopolita e frenética Barcelona. Uma pedalada que só visto!
Sex 1 Jul, SEVER DO VOUGA
Sáb 2 Jul, ESTARREJA
Dom 3 Jul, ÁGUEDA


DJ Tudo e Sua Gente de Todo Lugar (Brasil)

Alfredo Bello, aka DJ Tudo, é um dos mais destacados pesquisadores da tradição musical brasileira. Em concerto, faz conviver samplers de vozes recolhidas por todo o Brasil com o potente som da sua banda. Uns e outros são a sua gente de todo o lugar. Unindo tecnologia e autenticidade, DJ Tudo viaja das capitais do mundo aos quintais do interior. Colagens sonoras de primeiríssima qualidade ou como fazer do Brasil profundo uma festa sofisticada!
Qui 7 Jul, ÁGUEDA
Sex 8 Jul, OVAR
Sáb 9 Jul, SEVER DO VOUGA


Ale Möller Band (Suécia, Grécia, Senegal, Canadá e México)

Ale Möller Band é expressão de uma música étnica transversal a várias culturas do globo. O resultado é mais que um som extraordinário, é a história cultural do mundo contada em notas de música. Virtuoso instrumentista sueco, Ale Möller apresenta na sua banda, literalmente, um músico de cada nação. Tal combinação de tradições, aparentemente distantes entre si, resulta numa colorida e fantástica miscigenação. Uma das estreias absolutas em Portugal desta edição do Festim.
Qui 14 Jul, ÁGUEDA
Sex 15 Jul, OVAR
Sáb 16 Jul, ALBERGARIA-A-VELHA


Chico Trujillo (Chile)

Um concerto de Chico Trujillo é daqueles em que não se pára de saltar. Este colectivo chileno arrasa em cada país por onde passa e chega agora, pela primeira vez, a Portugal. A contagiante fusão de cumbia, rock e ska inclui um cantor louco, uma explosiva secção de sopros, letras de desamor e consciência social e uma irreprimível batida. Com o primitivo desejo de fazer o público dançar, o objectivo da música de Chico Trujillo é a festa. Nada mais apropriado para fechar o Festim 2011!
Qui 21 Jul, ÁGUEDA
Sex 22 Jul, ALBERGARIA-A-VELHA"

Mais informações, aqui.

23 abril, 2011

Flamenco, Rumba Catalã, Folk e... Fado Vindos de Espanha


Hoje recupero aqui quatro textos publicados originalmente na Time Out Lisboa, todos a propósito de artistas de vários territórios espanhóis e de diversas áreas musicais: críticas a álbuns da maravilhosa cantora de flamenco Concha Buika, da herdeira do espítito dos L'Ham de Foc, Mara Aranda, e dos rumberos catalães Sabor de Gràcia, para além de uma entrevista com a fadista basca María Berasarte (na foto), que depois da edição deste álbum "Todas Las Horas Son Viejas" passou a integrar o projecto Aduf, de José Salgueiro.

Buika
"El Último Trago"
Casa Limon

Abençoada hispanidade que permite a junção de personagens musicais como estas e deste calibre para a realização de um álbum genial: o produtor espanhol Javier Limón (o mesmo que trabalhou no último álbum de Mariza), a extraordinária cantora de flamenco e não só Concha Buika e o fabuloso pianista cubano Chucho Valdés, mais a sua banda, juntaram-se para um disco de homenagem às canções de Chavela Vargas (a lendária cantora nascida na Costa Rica mas mexicana de alma). E o resultado é absolutamente sublime! Ouve-se este disco e, nele, as canções interpretadas por Chavela – e nem por isso as mais óbvias, faltando aqui “La Llorona”, por exemplo – ganham outras cores e sabores com as rancheras e outros ritmos do México a encontrar o flamenco, a rumba, o tango, o jazz. (*****)


Sabor de Gràcia
"Sabor Pa'Rato"
World Village/Harmonia Mundi

A rumba catalã – que está bem presente na música dos Ojos de Brujo mas também aparece como referência recorrente na música de Manu Chao, Amparanoia ou Macaco – tem nos Sabor de Gràcia uns mais que dignos representantes. Ciganos que homenageiam no seu nome o bairro de Barcelona onde os gitanos mesclaram vários palos do flamenco com a salsa e outros ritmos latino-americanos, os Sabor de Gracìa têm neste seu quarto álbum, "Sabor Pa'Rato", uma abordagem à “tradição” (mesmo que nascida nos anos 50 do Séc. XX) semelhante à que os Oquestrada fazem do fado e das marchas: estão lá o rock, o funk e outras músicas mas também o respeito por ícones como Peret e Gato Pérez e, como convidados, Marina Cañailla (Ojos de Brujo), o brasileiro Wagner Pá ou Los Manolos. (***)


Mara Aranda & Solatge
"Dèria"
Galileo

Durante muitos anos foi uma das metades dos L'Ham de Foc, ao lado de Éfren López, com quem viajou pelas músicas da sua cidade (Valência) mas também de outras sonoridades ibéricas, gregas ou árabes, sempre com a memória da música medieval por trás e os ensinamentos dos Hedningarna e dos Dead Can Dance pela frente. E, com ou sem López, entrou noutras aventuras como os Aman Aman (música espanhola, grega e do resto da baía do Mediterrâneo) ou o Al Andaluz Project (música da Andaluzia da Idade Média, num convívio de géneros cristãos, muçulmanos e judeus). Agora, no álbum de estreia do primeiro projecto de Mara em nome próprio (com os Solatge) tudo isto lá continua, vivo e sempre selvaticamente acústico. É um álbum sisudo mas também há lugar para o divertimento gaiato de um fandango. (****)



María Berasarte
O fado que vem do País Basco


Há alguns, mas não muitos, os álbuns de fado gravados por artistas estrangeiros. Mas raros serão os que têm a qualidade, a ousadia e, ao mesmo tempo, um amor tão grande por este género português quanto "Todas Las Horas Son Viejas", disco de estreia da cantora basca María Berasarte, com produção de José Peixoto e letras originais, em castelhano, de Tiago Torres da Silva. Nele, não há guitarra portuguesa, mas há fados tradicionais de Lisboa em novas roupagens e uma belíssima voz a coroar isto tudo. Carlos do Carmo chama-lhe fadista.

O que é que leva uma rapariga basca a interessar-se por um género como o fado?

A minha mãe é galega e tive sempre uma relação muito estreita com Portugal. E desde há muito que comecei a ouvir fado e a apaixonar-me por esta linguagem, que é belíssima. Também gosto de flamenco, mas este é mais duro; gosto mais das melodias do fado. E, quando comecei a falar sobre o que seria o meu primeiro disco, a minha mãe disse-me “Maria, tens que gravar um disco de fados”. Primeiro, não liguei muito mas... isto ficou a maturar na minha cabeça.

Lembra-se de qual foi o primeiro fado que ouviu ou qual a primeira ou primeiro fadista que ouviu?

Foi a Amália Rodrigues. E coincidiu mais ou menos com uma altura em que a Dulce Pontes estava a ter muito sucesso em Espanha com a “Canção do Mar”. Estamos a falar de há treze anos e, nessa altura, não havia muitos discos de fado em Espanha. Mas eu comecei a comprar todos os que encontrava. E aprendi a cantá-los!

Antes da entrevista começar, disse que não quis fazer um disco de fado tradicional porque já há muitos e muito bem feitos. Este álbum, apesar de ter o fado como base navega também por outras músicas como o tango, o flamenco, a música árabe... Acha que há ligações entre todos estes géneros?

Sim. Principalmente, entre as músicas que nascem em cidades portuárias. Sevilha, onde nasceu o flamenco, foi um porto importantíssimo. Lisboa também; Buenos Aires também... as viagens que as músicas
fazem enriquecem-nas. Mas não houve nenhuma intenção inicial de irmos a essas ou outras músicas. A ideia era: vamos tocar, vamos sentir e aí vamos ver o que acontece... Poderíamos ter ido por um lado como por outros. Mas, sendo espanhola e não sendo fadista, tenho mais liberdade para percorrer esses caminhos...

“Fadista” é um carimbo muito forte...

Sim, eu prefiro dizer que sou cantora; também pela liberdade que me dá. Mas quando o Carlos do Carmo me apresentou (NR: no espectáculo comemorativo dos seus 45 anos de carreira) como uma “fadista espanhola” senti um grande orgulho! E participar nessa festa foi é importantíssimo para mim.

O José Peixoto esteve sempre nas margens do fado – lá perto mas sem lá estar. Com os seus projectos a solo, com os Madredeus, o Sal... Ele era o parceiro perfeito para esta aventura, não era?

Sim, claro. Ele foi importantíssimo em tudo isto. Costumo dizer que foi o pai do disco. Os arranjos, a produção, a sonoridade, o sentimento... E acho que para ele também foi importante, porque acho que foi a primeira vez que trabalhou sobre composições feitas há já muito tempo (NR: todas as músicas do disco são fados tradicionais de Lisboa).

Continuando na “família” que fez este disco, se a mãe é a María, se o pai é o José Peixoto, também há um tio...

Que é o Tiago Torres da Silva. Ele deu-nos muita força para fazermos o disco e arriscou ainda mais do que nós, ao fazer letras originais para aqueles fados, directamente em castelhano. E, ainda mais, a fazer letras pensando em mim. Eu gosto de cantar coisas com que me identifico e ele conseguiu conhecer-me.

O disco está a ser agora editado em Portugal e já foi editado em Espanha. Acha que Espanha já está suficientemente familiarizada com o fado para aceitar um álbum como este e... cantado em espanhol?

Em Espanha há muita gente que conhece e gosta de fado. Mas há muita gente que não percebe as palavras do que se canta. Gosto desta ideia de poder explicar, e em castelhano, do que é que o fado fala.

20 abril, 2011

Sly & Robbie com Junior Reid, Dissidenten e Secret Chiefs 3 no FMM Sines, Justin Adams & Juldeh Camara e Speed Caravan no Islâmico de Mértola


Duas excelentes notícias. A referente a Sines é da responsabilidade da organização. A de Mértola foi directamente roubada no Crónicas da Terra.


"Sly & Robbie feat. Junior Reid, Dissidenten
e Secret Chiefs 3 no FMM Sines

Reggae, worldbeat e rock experimental nas três novas confirmações do FMM Sines – Festival Músicas do Mundo 2011.

SLY & ROBBIE feat. JUNIOR REID (Jamaica)

O último concerto do FMM no Castelo, no dia 30 de Julho, com honras de fogo-de-artifício, estará este ano a cargo de Sly & Robbie feat. Junior Reid.

Lowell “Sly” Dunbar (bateria) e Robert “Robbie” Shakespeare (baixo) formam a dupla mais bem-sucedida da música jamaicana.

Enquanto secção rítmica e produtores, deram coração ao melhor reggae produzido desde os anos 70 até aos dias de hoje e nas cerca de 200 mil canções que já tocaram ou produziram acumulam um dos patrimónios mais impressionantes da música popular.

O seu uso inovador das capacidades do digital ajudou a mudar o “modus faciendi” da criação musical nos anos 80 e a sua erudição rítmica tem sido procurada por uma lista interminável de artistas de outros géneros musicais, em que se incluem nomes como Bob Dylan, The Rolling Stones e Sting.

Apresentam-se em Sines 10 anos depois da sua primeira passagem, em 2001, com os Black Uhuru.

Junior Reid, o cantor que trazem como convidado, também conheceu a experiência de actuar com aquele grupo lendário, mas hoje afirma-se a solo como umas vozes que melhor promove o encontro entre o reggae, o R&B e o hip hop.

DISSIDENTEN (Alemanha)

Os berlinenses Dissidenten sobem ao palco do Castelo de Sines no dia 29 de Julho.



Apelidados de “padrinhos do worldbeat” pela Rolling Stone, foram fundamentais para abrir a música popular ocidental como a conhecemos às músicas do mundo.

Formados em 1981, editaram o primeiro disco, “Germanistan”, no ano seguinte, durante uma estadia na Índia. Em 1984, em Tânger, gravaram “Sahara Elektrik”, de onde saiu um dos maiores sucessos, a canção “Fata Morgana”.

Continuaram em viagem pelo planeta e pelos seus sons nas duas décadas seguintes.

Em 2008, editaram “Tanger Sessions”, disco base do concerto no FMM, inspirado no conflito entre Oriente e Ocidente que se seguiu ao 11 de Setembro.

Marlon Klein (bateria e percussões) e Uve Müllrich (baixo e guitarra), membros fundadores da banda, lideram um septeto explosivo com músicos alemães e marroquinos.

SECRET CHIEFS 3 (Estados Unidos)

O grupo americano Secret Chiefs 3 (na foto) actua no Castelo de Sines no dia 22 de Julho.

Liderada pelo guitarrista / compositor Trey Spruance, trata-se de uma banda de rock progressivo experimental de grande versatilidade, com influências tão diferentes quanto a música sinfónica de cinema, as melodias do Médio Oriente e o heavy metal.

Originária de São Francisco, foi fundada em meados dos anos 90 por Spruance, Trevor Dunn (baixo) e Danny Heifetz (bateria).

Ao longo da sua história e de quase uma dezena de discos gravados, as formações têm sido fluidas, como a própria banda, que muitas vezes apresenta fronteiras pouco definidas com outros grupos liderados por Spruance, como Ur e Traditionalists.

A edição de 2011 do FMM Sines – Festival Músicas do Mundo realiza-se na cidade de Sines em dois fins-de-semana de Julho: 22 a 24 (sexta a domingo) e 27 a 30 (quarta a sábado).

Além dos nomes divulgados nesta nota, estão também já confirmados, entre os 35 concertos previstos, os seguintes artistas: Congotronics vs. Rockers (RD Congo / EUA / Argentina / Suécia), Vishwa Mohan Bhatt & The Divana Ensemble “Desert Slide” (Rajastão – Índia), Cheikh Lô (Senegal), Ebo Taylor & Afrobeat Academy (Gana), Mário Lúcio (Cabo Verde), Mamer (China), António Zambujo (Portugal), Nathalie Natiembé (Ilha Reunião – França). Blitz the Ambassador (Gana / EUA), Ayarkhaan (República da Iacútia – Rússia), Le Trio Joubran (Palestina), Shunsuke Kimura x Etsuro Ono (Japão), Luísa Maita (Brasil), Mercedes Peón (Galiza – Espanha), Mama Rosin (Suíça), Manou Gallo & Women Band (Costa do Marfim / Bélgica) e Nomfusi & The Lucky Charms (África do Sul).

Mais informações sobre o festival em www.fmm.com.pt e www.facebook.com/fmmsines."

"Justin Adams & Juldeh Camara e Speed Caravan no Islâmico de Mértola


O festival bienal Islâmico de Mértola celebra-se este ano entre os dias 19 e 22 de Maio.

O enorme souk que atravessa as ruas estreitas, íngremes e caidas do centro histórico desta localidade debruçada sobre o Rio Guadiana, continua a ser uma das principais atracções desta 6ª edição do Islâmico. Mas o cartaz musical, apesar de incluir propostas que figuraram em cartazes de Sines e de Loulé (e no próprio Islâmico de Mértola) é, provavelmente, o mais forte de sempre. Senão vejamos os pratos principais: o guitarrista britânico Justin Adams (e produtor dos Tinariwen) volta actuar com o griot gambiano Juldeh Camara; os sónicos Speed Caravan (que saudades da sua versão de “Killing an Arab” dos The Cure), os marroquinos Nass Marrakesh, Eduardo Paniagua e Sebastião Antunes com Janita Salomé. Fora de horas há ainda bailaricos e animação de rua com os Uxu Kalhus e a Kumpania Algazarra.



Programa Completo

Dia 19

10:00h ~ Abertura do mercado de rua
~ Abertura dos museus
~ Abertura das exposições
16:00h ~ Inauguração oficial do 6º Festival Islâmico de Mértola
16:30h ~ Conferência Diálogo e Coexistência na região
Euro-mediterrânica (F. Anna Lindh)
17:00h ~ Apresentação da linha de mershandising e produtos
tradicionais do Festival Islâmico
18:00h ~ Colóquio “Norte de África ¿Una Revolucion Islàmica?” (CIE)
~ Ao Pôr-do-Sol – Noite de Dikra
20:00h ~ Encerramento dos Museus e exposições
22:00h ~ Concerto no Castelo
Eduardo Paniagua “Latidos de Al-Andalus”
~ Encerramento do mercado de rua

Dia 20

10:00h ~ Abertura do mercado de rua
~ Abertura dos Museus
~ Abertura das exposições
18:00h ~ Colóquio “La Verdad de la Economia actual:
A Quien protegen los Estados” (CIE)
19:00h ~ Apresentação informal de dança – Dansul
20:00h ~ Encerramento dos Museus e exposições
22:00h ~ Concertos no cais do Guadiana
Nass Marrakech
Justin Adams & Juldeh Camara
~ Encerramento do mercado de rua
01:00h ~ Concerto/baile na Praça Luís de Camões
Uxukalhus

Dia 21

10:00h ~ Abertura do mercado de rua
~ Abertura dos Museus
~ Abertura das exposições
11:00h ~ workshop de dança oriental – Dansul
20:00h ~ Encerramento dos Museus e exposições
22:00h ~ Concertos no cais do Guadiana
Sebastião Antunes “Cá Dentro”
participação especial de Janita Salomé
Speed Caravan
~ Encerramento do mercado de rua
24:00h ~ Concerto/baile na Praça Luís de Camões
Kumpania Algazarra

Dia 22

10:00h ~ Abertura do mercado de rua
~ Abertura dos Museus
~ Abertura das exposições
16:00h ~ Encerramento dos Museus
~ Encerramento das Exposições
17:00h ~ Encerramento do mercado de rua

Outras actividades: Passeios no barco “O Vendaval”; Animação
Musical (Alentejanos, Grupo Coral Guadiana de Mértola,
Adufeiras, Mercadores de Abjul, Eduardo Ramos); Circuito dos
Pátios de Mértola; Circuito da Poesia; Feira do Livro; Dança; Teatro;
Exposição e Workshop de Instrumentos Musicais…"

12 abril, 2011

Odisseia:Portos - Ciclo Lusófono na Invicta


A Praça da Batalha, no Porto, é a partir de dia 15 o palco de um novo ciclo/festival muito apropriadamente intitulado Odisseia:Portos. Todos os pormenores:

"Odisseia: Portos


Antecedendo a realização de um showcase e de um festival de teatro internacional, o Odisseia faz da Praça da Batalha o seu ancoradouro, resgatando-a da costumeira condição de descampado nocturno. Iniciativa realizada com o apoio do Turismo de Portugal, Portos faz desembarcar nas imediações do TNSJ o fado, a música tradicional portuguesa, a percussão e os ritmos africanos, as sonoridades ibéricas, a música popular brasileira – sons da lusofonia que simbolicamente culminam a 25 de Abril.

Todas as músicas de raiz popular e tradicional, não escritas, apesar de representativas de uma região, de uma ideologia ou da vivência dos povos que as interpretam, são o resultado de uma série de influências culturais. Se uma canção, ao ser composta, passa por um processo de crescimento até alcançar toda a sua estrutura, o mesmo acontece com qualquer género musical.

O fado, por exemplo, absorveu influências musicais de várias terras que fazem parte da nossa história, de África ao Brasil, sem esquecer as próprias regiões de Portugal, tornando-se assim uma forma de música popular urbana. Mas também influenciou géneros oriundos dos vários países ligados à lusofonia – das mornas ao samba e ao chorinho, e até a alguma música pop cantada em português.

As cidades portuárias são, sem dúvida, coniventes com a cristalização destas músicas. Em toda a história do nosso país, o mar foi a estrada principal para todas as viagens. Uma Odisseia de encontros, desencontros, cruzamentos e evoluções, que acabaria por nos deixar por herança este caldeirão de culturas que faz parte da alma e da história do mundo português.

Hélder Moutinho


15 Abril, 23:00
Yami (Angola/Portugal)
convidado: Manuel D’Oliveira

Cantor, compositor e guitarrista, Yami nasceu em Angola, mas viveu apenas em Luanda até aos quatro anos. Ainda assim, os sons, cheiros e costumes de África foram-lhe transmitidos pela mãe e vêm ao de cima em Aloelela, disco de estreia lançado em 2007, em que se detectam também influências da música brasileira, da música soul e do jazz. A guitarra de Manuel D’Oliveira vai trazer outras texturas a uma noite que celebra a lusofonia, ponto comum das várias aventuras musicais de Yami.


16 Abril, 23:00
Manuel D’Oliveira (Ibéria)
convidado: Yami

A música tradicional portuguesa e o flamenco constituem a matriz do trabalho de Manuel D’Oliveira, pelo que não é por acaso que o seu disco de estreia, lançado em 2002, se chama Ibéria. O guitarrista empresta a essas linguagens o seu inegável virtuosismo, mas também uma alma a toda a prova, que lhe valeu a admiração (e colaboração) do “mestre” António Chainho. Repetindo uma parceria já encetada, por exemplo, no projecto Muxima, o vimaranense surge em palco acompanhado pelo angolano Yami.



17 Abril, 18:00
Atlantihda (Portugal)
convidados: Paulo Parreira, Pedro Soares

Os Atlantihda reúnem o talento de seis músicos com percursos diversos que definiram o objectivo de criar “uma canção genuinamente portuguesa”. Se a voz poderosa de Gisela João lhe empresta um cunho fadista, a presença de instrumentos como o acordeão, o violoncelo, a viola braguesa e o adufe baralham as contas e proporcionam tonalidades surpreendentes. Os Atlantihda trazem na bagagem um recentíssimo álbum de estreia e “neste espectáculo especifico” a companhia dos guitarristas Paulo Parreira e Pedro Soares.



22 Abril, 21:30
João Afonso (Portugal)
convidado: Ruben Alves

João Afonso conquistou, por mérito próprio, um lugar de relevo entre os cantautores que exploram a tradição musical portuguesa. A participação em Maio Maduro Maio (1994) – disco em que interpretou temas do tio, Zeca Afonso, ao lado de Amélia Muge e José Mário Branco – foi decisiva para o lançamento de uma carreira como compositor e letrista. O premiado Missangas, de 1997, marcou o início de um trajecto que o tem levado a múltiplos palcos nacionais e internacionais. Acompanhado pelo pianista Ruben Alves, o cantor revisitará boa parte do seu repertório.



23 Abril, 21:30
Ritinha Lobo (Cabo Verde/Angola/Brasil)
convidado: Yami

A cabo-verdiana Ritinha Lobo (na foto) vai servir um caldeirão de géneros ligados aos países de língua oficial portuguesa. A vocalista promete evocar o funaná da sua terra natal, o semba de Angola e a música popular brasileira. Para este concerto, Ritinha Lobo convida Yami, colaborador já habitual nos seus espectáculos e ao lado do qual integrou o projecto Muxima, uma homenagem ao Duo Ouro Negro.




24 Abril, 21:30
Ricardo Parreira (Portugal)
convidados: Micaela Vaz, Marco Oliveira, Vânia Conde

Cresceu fascinado por Carlos Paredes, no seio de uma família de guitarristas. Depois de se estrear em 2007 com um disco de homenagem a Fernando Alvim (eterno companheiro de Paredes), Ricardo Parreira editou Cancionário em 2010. O álbum junta à sua guitarra portuguesa as vozes de Micaela Vaz, Marco Oliveira e Vânia Conde, que o vão acompanhar na Praça da Batalha. O fado será a porta de entrada para uma viagem pela música tradicional e popular portuguesa.



25 Abril, 18:00
Amor Electro (Portugal)
convidado: Ricardo Parreira

O desígnio dos Amor Electro é claro: fazer pop em português, conciliando elementos electrónicos com instrumentos como o adufe ou a guitarra portuguesa, que o convidado Ricardo Parreira trará para este concerto. O quarteto vai apresentar Cai o Carmo e a Trindade, a sua estreia em disco, que chega aos escaparates precisamente no Dia da Liberdade. Do alinhamento fazem parte versões de temas históricos da pop nacional, como “Sete Mares”, dos Sétima Legião, ou “Foram cardos, foram prosas”."

07 abril, 2011

Cheikh Lô, Le Trio Joubran e Mama Rosin no FMM Sines


E mais três de uma vez:

"As três novas confirmações do programa do FMM Sines – Festival Músicas do Mundo 2011 são provenientes do Senegal, da Palestina e da Suíça.

CHEIKH LÔ (Senegal)

Considerado um dos músicos africanos mais importantes das últimas duas décadas, Cheikh Lô actua no Castelo de Sines no dia 22 de Julho. Nascido em 1955, numa cidade do Burkina Faso junto ao Mali, Lô é senegalês, mas domina toda a cultura musical da África Ocidental e Central. Cantor, guitarrista e compositor de excelência, começou a carreira como percussionista, primeiro em África e depois em França, onde passou alguns anos na década de 80. De volta ao Senegal, editou uma cassete, “Doxademe” (1990), com canções sobre a emigração, mas foi “Ne La Thiass” (1996), produzido por Youssou N’Dour, que fez dele uma estrela. Seguiram-se “Bambay Gueej” (1999), “Lamp Fall” (2005) e “Jamm”, um dos grandes discos de 2010. Na sua voz, o mbalax mais tradicional surge suavizado através de um maior uso acústico e da incorporação de ritmos cubanos, reggae, música brasileira e influências de outras origens.

LE TRIO JOUBRAN (Palestina)

Filhos de uma família palestina com quatro gerações de fabricantes e tocadores de alaúde, Samir, Wissam e Adnan Joubran (na foto) expandem o potencial deste instrumento, conferindo-lhe em trio novas dimensões de harmonia e sincronização. A história do grupo, de que também faz parte o percussionista Youssef Hbeisch, teve início quando o irmão mais velho, Samir, começou uma carreira a solo, com dois discos gravados, em 1996 e 2001. No terceiro álbum, “Tamaas” (2003), Samir pediu ao irmão Wissam para tocar com ele. O irmão mais novo, Adnan, juntou-se a eles para “Randana”, gravado em 2005, nascimento em disco do primeiro trio de alaúdes conhecido no mundo. Seguiram-se “Majâz” (2007), o disco que os tornou conhecidos do público internacional, “À l’Ombre des Mots” (2009) e “AsFâr” (2011). O repertório do grupo, composto por peças originais e improvisações, funda-se na cultura dos maqâms tradicionais. Actuam no Castelo de Sines no mesmo dia que Cheikh Lô, 22 de Julho.


MAMA ROSIN (Suíça)

Originário de Genebra, o trio suíço Mama Rosin reinventa o zydeco, estilo de música de dança nascido há dois séculos no seio da comunidade crioula negra do Luisiana. Formado por Cyril Yeterian (acordeão diatónico, voz, guitarra), Robin Girod (guitarra, banjo, “washboard” e voz) e Xavier “Gérard Guilain” Bray (bateria), o grupo funde o rock n’ roll mais enérgico ao manancial de música norte-americana com raízes na cultura de língua francesa. Elegem como grandes influências Amede Ardoin, lendário tocador de concertina dos anos 1920 e 1930, mas também bandas como Velvet Underground, The Clash e White Stripes. Gravaram o primeiro disco, “Tu As Perdu Ton Chemin”, em 2008, e “Brûle Lentement”, em 2009. “Black Robert”, editado também em 2009, acrescentou o jazz e o calypso como ingredientes desta música festiva. Lançam, muito em breve, o seu quarto disco. Mama Rosin sobe ao palco do Castelo no dia 27 de Julho.

A edição de 2011 do FMM Sines – Festival Músicas do Mundo realiza-se na cidade de Sines em dois fins-de-semana de Julho: 22 a 24 (sexta a domingo) e 27 a 30 (quarta a sábado).

Além dos nomes divulgados nesta nota, estão também já confirmados, entre os 35 concertos previstos, os seguintes artistas: Congotronics vs. Rockers (RD Congo / EUA / Argentina / Suécia), Vishwa Mohan Bhatt & The Divana Ensemble “Desert Slide” (Rajastão – Índia), Ebo Taylor & Afrobeat Academy (Gana), Mário Lúcio (Cabo Verde), Mamer (China), António Zambujo (Portugal), Blitz the Ambassador (Gana / EUA), Ayarkhaan (República da Iacútia – Rússia), Shunsuke Kimura x Etsuro Ono (Japão), Luísa Maita (Brasil), Mercedes Peón (Galiza – Espanha), Manou Gallo & Women Band (Costa do Marfim / Bélgica), Nomfusi & The Lucky Charms (África do Sul) e Nathalie Natiembé (Ilha Reunião – França).

Mais informações sobre o festival em www.fmm.com.pt e www.facebook.com/fmmsines."

04 abril, 2011

Colectânea de Textos no jornal "i" - XXIV


Em busca das arcas perdidas...
Publicado em 18 de Fevereiro de 2010

A Movieplay vai editar, dia 1 de Março, uma colecção de fado com dezenas de temas inéditos em CD "descobertos" no acervo da antiga editora Alvorada, etiqueta da Rádio Triunfo. O trabalho de recuperação do tesouro foi feito por José Manuel Osório e, nos três volumes de "Os Fados da Alvorada", estão gravações de Amália Rodrigues, José Afonso, Artur Paredes (na foto), Carlos Paredes, Luís Piçarra, João Villaret, Tereza Siqueira (mãe de Carminho), Maria de Lurdes Resende e Madalena Iglésias, entre muitos outros. Trata-se de mais um passo importantíssimo - a juntar-se a outros - para a preservação da nossa memória musical. Mas ainda há muito por fazer. Há alguns dias, no âmbito de um trabalho não estritamente musical, um amigo meu "descobriu" (e continuo a usar as aspas porque estas coisas já lá estão, à espera de ver de novo a luz) valiosíssimas gravações ao vivo de artistas e grupos importantes do pré e pós-25 de Abril que é urgente dar a conhecer. Numa conversa recente com um etnomusicólogo veio à baila o facto de dezenas de horas de recolhas feitas por Michel Giacometti (e mais algumas feitas por Ernesto Veiga de Oliveira) nunca terem sido disponibilizadas em disco, quer em vinil quer em CD. Se juntarmos a isto o facto, entre outros, de não ter sido dada continuidade à colecção Do Tempo do Vinil (que previa, por exemplo, o lançamento em CD do primeiro álbum a solo de José Cid), vemos que esse trabalho de recuperação é gigantesco mas absolutamente necessário.


E as arcas já reveladas...
Publicado em 25 de Fevereiro de 2010


Um leitor deste jornal fez-me chegar, simpaticamente, via email, o reparo de que uma frase contida na minha última crónica - "o facto de dezenas de horas de recolhas feitas por Michel Giacometti (e mais algumas feitas por Ernesto Veiga de Oliveira) nunca terem sido disponibilizadas em disco, nem em vinil nem em CD" - poderia induzir em erro e ser entendida como a afirmação de que nada daquilo que Giacometti recolheu alguma vez esteve disponível em disco. Tem razão, mas não era essa, obviamente, a minha intenção: o que eu quis dizer era que, para além das muitas horas já editadas, há ainda muitas outras que nunca foram passadas a disco. Como a semana passada se falou aqui de "arcas perdidas" de gravações de música tradicional portuguesa, fala-se hoje de algumas (e apenas de algumas) daquelas que já foram abertas e estão disponíveis em suporte CD: "Música Regional Portuguesa", recolhas de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça (Strauss/PortugalSom), cinco CD; "Portugal Raízes Musicais", recolhas de José Alberto Sardinha (BMG/JN), seis CD; "Música Tradicional dos Açores" (Açor), quatro caixas de CD; "Musical Traditions of Portugal" (Smithsonian/Folkways), CD com 30 temas; "Música Tradicional - Terra de Miranda" (Saga, numa colecção que inclui também regiões espanholas); "Voix de Femmes de Portugal" (Ethnic); variadíssimos CD com recolhas de Mário Correia (Sons da Terra), etc. Conclusão: há muita música de raiz tradicional rural já revelada, mas há muito mais ainda por revelar.

Um outro mapa necessário
Publicado em 04 de Março de 2010


Não quero alongar-me muito sobre o estado do ensino da Música nas escolas oficiais, realidade que, sublinho, apenas conheço pela rama, mas da qual tenho a percepção, talvez errada talvez não, de que é extremamente pobre se comparada com a de muitos outros países, principalmente no que toca ao ensino das nossas músicas tradicionais - carência que é, em parte, colmatada pela existência de escolas privadas ou associações em que esse ensino existe, vivo e dinâmico. Estou convicto, no entanto, de que essa realidade poderá mudar, pelo menos um bocadinho, se todas as salas de aula em que se ensina Música ostentassem na parede, com orgulho e galhardia, o belíssimo Mapa Etno-Musical de Portugal. Espelho imediato da diversidade, da riqueza e da originalidade de géneros musicais, instrumentos tradicionais, formações vocais ou antigos saberes do povo português, o Mapa Etno-Musical é uma criação do músico Júlio Pereira, com a ajuda de João Luís Oliva, Sara Nobre e Henrique Cayatte, e nele estão, de forma simples e imediata, retratados variadíssimos instrumentos musicais portugueses, uns conhecidos e outros que poderão abrir imediatamente o apetite a miúdos e professores: mas que raio é um rajão ou uma viola campaniça, que música é essa do aboio ou do leva-leva? No site do Instituto Camões, onde o mapa também está alojado, podem ainda ouvir-se os sons respectivos. Apesar de não ser exaustivo, o mapa é bem capaz de aguçar a curiosidade por muita da nossa música.