31 janeiro, 2012

A Naifa - Oiça Os Novos Sons!


Já se podem ouvir alguns segundos das novas canções d'A Naifa (na foto, de Nuno Carvalho) e ficar a saber por onde passa a digressão do novo álbum. Mas, antes disso, leia o comunicado:

«Tour de Apresentação do Disco d’A NAIFA percorre Teatros do País
ouça em 1ª mao excertos de “não se deitam comigo corações obedientes”

Está já confirmado que passará por Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Portimão, Ílhavo, Caldas da Rainha, Arcos de Valdevez, Loulé, Almada e Açores, a Tour que levará a música d’A NAIFA, aos palcos de vários Teatros portugueses, entre Março e Maio de 2012.

Depois da Tour realizada em 2010, a banda de Luís Varatojo (Guitarra Portuguesa) e Maria Antónia Mendes (Voz), que conta agora com Sandra Baptista (Baixo) e Samuel Palitos (Bateria), volta a pisar os palcos de vários Teatros portugueses para apresentar as músicas do seu novo álbum de originais “não se deitam comigo corações obedientes”.

O novo disco tem 11 canções, compostas a partir de textos de Adília Lopes, Ana Paula Inácio, Margarida Vale de Gato, Maria do Rosário Pedreira e Renata Correia Botelho. Ilustram o disco imagens seleccionadas das diversas propostas chegadas, na sequência do desafio lançado pela Banda a artistas plásticos, gráficos, ilustradores, fotógrafos, etc.

O disco será inicialmente disponibilizado em edição on-line, durante o mês de Fevereiro e só terá edição física no inicio do mês de Março, com venda exclusiva nos locais dos concertos. A edição física de “não se deitam comigo corações obedientes”, só no final do mês de Março estará disponível nas lojas.

TOUR “não se deitam comigo corações obedientes”

2 Março – Arcos de Valdevez – Casa das Artes
3 Março – Braga – Theatro Circo
7 Março – Lisboa – Teatro S. Luiz
9 Março – Coimbra – Oficina Municipal de Teatro
17 Março – Portimão – Teatro Municipal
31 Março – Caldas da Rainha – Centro Cultural e de Congressos

7 Abril – Ílhavo – Centro Cultural
12 Abril – Porto – Casa da Música
14 Abril – Loulé – Cineteatro Louletano
20 Abril – Almada – Teatro Municipal

5 Maio – Faial – Cineteatro»


Para ouvir os primeiros cheirinhos da nov'A Naifa, clique aqui.

30 janeiro, 2012

Colectânea de Textos no jornal "i" - XXVII


Carecas, dreadlocks e carapinhas...

Há muitos anos, a televisão portuguesa (que nessa altura se resumia à RTP) passava o famoso anúncio do Restaurador Olex: "Um branco de carapinha e um preto de cabeleira loira não fica bem nem é natural". Mensagem devedora de um país fechado e obscurantista, onde a ditadura, o colonialismo e o racismo deixavam a sua marca até na publicidade dirigida aos homens que ficavam com cabelos brancos - e, veja-se só a ironia, no caso dos cabelos... os pretos eram melhores e mais saudáveis que os brancos! -, a verdade é que ainda hoje muita gente recorda a frase e a repete nas mais variadas situações. Isto vem a propósito de três discos recentes de malta branca, portuguesa, toda com nomes estrangeirados e uma música deveras cafrealizada. E, ainda por cima, três excelentes discos que merecem toda a atenção e carinho. Primeiro, "Hats & Chairs", dos Soaked Lamb (tradução livre: Ensopado de Borrego), um magnífico álbum de blues do mais negro que há, mas também com as doses certas de country, folk, jazz, surpresa e divertimento para que não seja apenas mais um mero (embora magnífico) disco de blues. Depois, a surpresa que é o EP de estreia e homónimo de Frankie Chavez (na foto), um homem de belíssima voz (entre Paul McCartney e John Lennon, ou vice-versa), mas cujas influências maiores são também Ben Harper e Jimi Hendrix. E, por último, "Seek Your Truth", de Freddy Locks, cada vez mais fiel às raízes do reggae e às suas mensagens. E, como se sabe, no reggae isso é sempre o mais importante.


Há (muita) música portuguesa nas rádios

A Lei da Rádio, que impôs a obrigatoriedade de uma percentagem considerável de música portuguesa nas rádios nacionais - e locais e regionais -, apesar de na sua base estar uma permissa contestável, tem de facto contribuído para uma muito maior divulgação de música nacional, muitas vezes nova e de, voltamos a repeti-lo, também muitas vezes de inegável qualidade. E isso é bom, principalmente quando é uma realidade, desde há muitos anos e devido à "ditadura" das playlists, o descréscimo do número de programas de autor dedicados à música portuguesa. Mas ainda os há, desde o incontornável "Portugália" (Antena 3), de Henrique Amaro, até a programas de rádios universitárias - "Santos da Casa" (RUC), de Fausto da Silva e Nuno Ávila; "Português Suave" (RUM), de José Reis; "H(À) Escuta"(RUA), de Leila Leiras... - ou o "Portugal Rebelde", de António Manuel Almeida, que é transmitido pela Douro FM. Um programa que lançou agora uma excelente colectânea homónima que toma o pulso a muita da música portuguesa actual e é um espelho perfeito de como a nossa música, em 2010 (ou só um bocadinho antes), está a viver um ano de ouro! Em "Portugal Rebelde", o disco, ouve-se um novo tema dos veteranos Trabalhadores do Comércio mas tudo o resto é de grupos e artistas bastante recentes, muitos deles a cantar em português - Diabo na Cruz, Os Golpes, Os Tornados, Márcia (na foto), Ludo, Feromona - e também, e muito bem, em inglês - A Jigsaw, Minta, Noiserv, Partisan Seed - ou, no caso do instrumental de M-Pex, a levar a guitarra portuguesa e o fado para um futuro radioso. Edição feita fora das esferas habituais da indústria discográfica - majors ou independentes - e com o apoio de estruturas locais, este é mais um belo exemplo de amor à música portuguesa e a quem a faz. Devia haver mais discos assim.




Músicos de sete ofícios

Este ano só comprei dois livros na Feira do Livro: "Diário da Bicicleta", de David Byrne, e "As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy", novela gráfica com argumento de Filipe Melo (na foto). Ainda estive para comprar um terceiro, "Os Livros Que Devoraram o Meu Pai", de Afonso Cruz, mas havia tanta gente na área da Leya que adiei a aquisição para um futuro breve. E só depois reparei numa coincidência curiosa: todos estes livros têm músicos como autores. E músicos que não são só músicos e escritores: Byrne - formado numa escola de artes, no que foi e é uma tradição de muito rock anglo-saxónico (os seus Talking Heads, assim como os Doors, Velvet Underground, Pink Floyd ou Roxy Music saíram de escolas de design, artes plásticas ou cinema) - é também escritor, fotógrafo, realizador de cinema, editor... E, de regresso aos outros dois casos, Filipe Melo é pianista de jazz, realizador de cinema ("I'll See You In My Dreams", "Um Mundo Catita") e professor; enquanto Afonso Cruz é guitarrista dos Soaked Lamb, escritor, ilustrador e realizador de filmes de animação. Mas não estão sós como "novos homens do renascimento e músicos dos sete ofícios" na música portuguesa: relembre-se o caso do artista plástico João Paulo Feliciano, agora a tocar no Real Combo Lisbonense, que financiou a gravação do álbum dos Tina & Top Ten com o dinheiro de uma exposição sua no CCB (o disco era a banda-sonora da exposição). E outros: David Fonseca (também fotógrafo e realizador de clips), Tó Trips (dos Dead Combo; designer) ou Manuel João Vieira (cantor, pintor, actor e candidato à Presidência da República).




As guitarras portuguesas que se abrem ao mundo

O que é que une o jovem, mas já carismático, intérprete de guitarra portuguesa Ricardo Parreira, o novo grupo de "world music made in Portugal" Atma (na foto a capa do álbum de estreia) e os imediatamente bi-consagrados Deolinda? Passe a frase feita, aparentemente nada. Mas, ouvindo-se os três recentíssimos álbuns destes artistas, há muito mais a uni-los do que a separá-los. Vamos por partes... Parreira, depois de "Nas Veias de Uma Guitarra", um álbum em parceria com o mítico Fernando Alvim (o "viola" que acompanhou Carlos Paredes) em que homenageava mestres da guitarra portuguesa como Carlos Paredes, Artur Paredes ou Armandinho, editou agora um lindíssimo disco em que liberta a guitarra portuguesa dos jugos do fado e em que, muitas vezes, vai em busca de uma música tradicional rural - corridinhos, saias, romances, viras, um tema da Galiza... - em que a guitarra dialoga, emocionalmente, com outros instrumentos e outras vozes. O álbum chama-se "Cancionário" e é já um dos melhores deste ano. Os Atma, se bem que sem a mesma centelha de génio, vão ainda mais longe geograficamente no álbum "Com a Mesma Alma", e unem uma guitarra portuguesa quase ominipresente ao fado mas também à África moura e à África negra, às Índias orientais e ocidentais, ao flamenco e a outras topologias ciganas... E, finalmente, os Deolinda - sem guitarra portuguesa mesmo que ela se consiga imaginar lá muitas vezes, por entre as filigranas das outras cordas - assinam um segundo álbum, "Dois Selos e Um Carimbo", em que mais uma vez a música portuguesa (seja dos fados, das marchas ou do.... "Bellevue" dos GNR) abraça o mundo.

(Textos publicados no jornal "i" em Maio de 2010)

20 janeiro, 2012

Hootenanny (E os... Blues) de Volta à Culturgest


Para voltar a "estar com os azuis":

"Hootenanny

Comissário: Ruben de Carvalho

De sábado 28 de janeiro a sexta 3 de fevereiro

Grande e Pequeno Auditório

Preço: Grande Auditório – 18€; até aos 30 anos – 5€

Pequeno Auditório – 5€ (preço único)






“Os blues são a verdade sobre as realidades da vida traduzida em palavras e música, inspiração, sentimento e compreensão.” Willie Dixon





Sugar Blue
Debbie Davies (na foto)
Eeco Rijken Rapp e David Herzel


Ruben de Carvalho apresenta assim esta terceira edição do Hootenanny:

“No terceiro Hootenanny dedicado aos blues, de todo se justifica que novamente se procure a palavra daquele a quem chamaram o «laureado poeta dos blues» (e também «pai dos modernos Chicago blues»!): Willie Dixon, desaparecido exactamente há duas décadas, em janeiro de 1992.
Empenhado não apenas na criação e gravação, mas também na conservação dos blues tradicionais, Dixon escreveu, entre as várias soberbas sínteses que lhes dedicou: Os blues são as raízes e as outras músicas os frutos. E é necessário conservar vivas as raízes porque isso significa que as outras músicas poderão continuar. Os blues são as raízes da música americana. Enquanto a música americana viver, assim também viverão os blues».
Se por aqui seria possível deixar a razão de ser deste novo ciclo e se aos seus participantes se podia confiantemente deixar a demonstração da verdade do que escreveu o autor do incontornável Hoochie Coochie Man, acresce que o Hootenanny abre o seu programa de 2012 com um músico que de 1981 a 1983 integrou a Willie Dixon's Chicago Blues All Stars e a ele continuou ligado durante toda a sua carreira: Sugar Blue.
Mas, para este ano propõe-se uma viagem com alguns aspectos particulares.
Por um lado, a citada presença de Sugar Blue, uma figura que bem representa o retrato feito por Dixon, na sua versatilidade de bluesman premiado e de músico de estúdio participante em registos que vão dos Rolling Stones a Bob Dylan. Os blues são as raízes...
Mas teremos também uma pouco habitual apresentação: uma presença feminina - instrumental.
A esmagadora maioria das mulheres que largamente contibuiram para o panorama da música nascida no Delta do Mississipi destacaram-se sobretudo como cantoras. Sem elas não seria mesmo possível pensar a sua história. Acompanhando-se por vezes ao piano, menos frequentemente à guitarra, a voz tem sido o instrumento feminino de eleição. Durante muitas décadas o ambiente acentuadamente masculino e mesmo machista da cena blues contribuiu e consagrou largamente esta situação, mas, nomeadamente após os anos 70/80 a situação modificou-se - contudo com um aspecto curioso: ainda hoje a maioria das intérpretes instrumentais de blues são - brancas!
Trata-se de um percurso já bastante estudado que, reflectindo naturalmente o processo geral de emancipação feminina, apresenta traços comuns: mais do que o caminho (que pareceria lógico) do rock para os blues, ele acaba por ser essencialmente o do início na folk branca, cantada e acompanhada com guitarra acústica (e de larga presença nos mais liberais campus universitários), e, depois, a crescente paixão pelos blues e a transição para a guitarra eléctrica e uma manifesta predileção pelos estilos mais electrificados, nomeadamente Chicago, Debbie Davis aí estará para o demonstrar.
Finalmente, uma outra comprovação do pensamento de Willie Dixon: um concerto de boogie woogie!
Para quem faça um desconfiado franzir de festa, socorremo-nos do incontornável Dictionaire de Jazz de Philippe Carles para a Bouquins:
Boogie-woogie (...) O boogie-woogie é originariamente uma forma especial de interpretar os blues ao piano que terá surgido nas barrelhouses e honky tonks no início do século XX, especialmente no Texas.
Porquê Texas, falar-se-á adiante. O intérprete, considerado uma autoridade mundial, vem... da Holanda: Eeco Rijken Rapp!
Para quem sabe que a Holanda é, há muitos anos, uma espécie de «sucursal» europeia de New Orleans - não admirará!
E Dixon continua a ter razão: os blues são a raiz...”

Programa:

Sábado 28 de janeiro, 21h30, Grande Auditório
Sugar Blue
Preço: 18€ • Até aos 30 anos: 5€

Harmónica, voz Sugar Blue
Guitarra, voz Rico McFarland
Contrabaixo, voz Ilaria Lantieri
Teclados, voz Sonny Axell
Bateria Pooky Styx


Nascido no Harlem e baptizado James Whiting, pode dizer-se que Sugar Blue começou a sua carreira mesmo antes de a iniciar... Sua mãe era cantora e bailarina do lendário Apollo Theater e ali foi criado entre música e músicos, conhecendo e convivendo com celebridades que incluiram mesmo uma amiga de sua mãe - Billie Holiday.
Presenteado ainda adolescente por um tio com uma harmónica, a sua formação musical é algo invulgar num bluesman: as primeiras tentativas com a sua blues harp andaram bastante à volta dos hits da época, que incuiam tanto o R&B/soul de Stevie Wonder como o folk de Bob Dylan, mas, a influência do meio musical que o rodeava, cedo o despertou para o jazz. Com destaque para Dexter Gordon e Lester Young. Tal facto marcou decisivamente o seu estilo: a harmónica não é um instrumento habitual nas formações de jazz, mas Sugar Blue introduziu no seu estilo uma evidente e inconfundível marca jazzy, e especialmente de sax. Acrsce que tambem desde os primeiros passos revelou uma voz cheia e expressiva e um talento de compositor que lhe proporcionou criar composições a seu gosto. Há, por exemplo, quando canta e depois toca, uma sonoridade e uma continuidade invulgares que abrem caminho a diálogos ou figuras rítmicas de especial riqueza.
A conselho do veterano Memphis Slim e já depois de ter gravado com figuras como Brownie McGhee (outra significativa influência), no final dos anos 70 rumou a Paris. Já era entretanto Sugar Blue, nome artístico cuja divertida adopção ele próprio conta:
- Precisava de um nome (...) mas os bons já estavam todos usados! «Muddy», «Blind Lemon», «Sonny Boy»... até que uma noite eu e um amigo vínhamos de um concerto - de Doc Watson - e alguém atirou pela janela fora uma caixa de velhos 78 rotações; apanhei um e era «Sugar Blues» pelo Sidney Bechet. É isto, disse eu, é perfeito! E assim fiquei...
Em Paris, Sugar travou-se de amizades com alguns dos músicos dos Rolling Stones que o convidaram para várias das suas gravações, a mais famosa das quais é o famoso solo de harmónica em «Miss You», do álbum «Some Girls». Até 1982 participou em diversas gravações de grupos europeus e em espectáculos, mas nesse ano resolveu regressar aos Estados Unidos e, um ano depois, organizava a sua própria banda para a qual recebeu um Grammy em 1985 pela gravação do seu espectáculo em Montreux.
Art Blakey, B.B. King, Muddy Waters, Lionel Hampton, Fats Domino, Ray Charles, são apenas alguns dos nomes com os quais Sugar tem partilhado o palco, simultaneamente com 11 álbuns gravados.





Quarta 1 de fevereiro, 21h30, Pequeno Auditório
Debbie Davies
Preço único: 5€


Guitarra Debbie Davies
Bateria Don Castagno
Contrabaixo Mathew Lindsey


Pouco se pode acrescentar sobre um guitarrista de blues - neste caso, uma guitarrista - depois de se dizer que já partilhou palcos e estúdios com lendas como Coco Montoya, Duke Robbillard, James Cotton, Charles Musselwhite e, muito em particular, que integrou os lendários Icebreakers de Albert Collins. Acrescente-se que foi galardoada em 1997 com o prestigiado W.C. Handy Award para Melhor Artista Feminina Contemporânea e em 2010 com o igualmente importante Blues Music Award para a Melhor Artista Tradicional e ter-se-á uma ideia bastante geral de Debbie Davis, sobre quem coco Montoya disse que «é um dos laços diectos à origem desta música. Sabe tudo sobre o que os blues são e podem escutá-lo na paixão com que toca».
Contudo, não é apenas por ser branca que Debbie é um caso pouco frequente no panorama dos blues. Nascida na California (mais exactamente em Los Angeles) e filha de músicos profissionais, com doze anos começou a tocar guitarra o que, ao tempo, significava quase inevitavelmente guitarra acústica. Embora desde sempre atraída pela sonoridade de Ray Charles ouvida nos discos familiares, tudo se modificou quando começou a ouvir Eric Clapton e os Bluesbreakers de John Mayall.
Este facto de nos anos 70 ter sido através da invasão pop/rock inglesa que muitos jovens brancos da West Coast se familiarizaram com música do seu próprio país (de que nascera afinal a novidade britânica!) reflecta a realidade californiana e verificou-se com muitos outros artistas e grupos que descobriram as blues... via Londres!
Após uma estadia em S. Francisco, Debbie regressou a Los Angeles e acabou em 1984 a integrar o grupo Cadillac, uma então invulgar banda feminina de blues dirigida por Maggie Mayall, mulher de John e que entretanto se fixara na Califórnia. As coisas desenvolveram-se de tal forma que, quatro anos depois, Albert Collins convidava-a para integrar os seus Icebreakers, o que, como ela própria disse, «tornou os blues uma coisa verdadeiramente tridimensional para mim».
Em 1991 o pouco conhecido entre nós (mas notória celebridade nos EUA) cantor country Jimmy Bufett convidou-a para montar o espectáculo Ladyfingers Revue, abertura da tournée que Bufett realizou então por toda a América, após o que Debbie se dedicou a uma carreira a solo ou como acompanhante de outros solistas e trabalho para bandas sonoras.
Ao longo da sua carreira, gravou doze álbuns entre os quais a crítica entusiasticamente saudou Blues Blast, registado em 2007 que dá não só uma vibrante imagem do seu virtuosismo, como igualmente da expressividade da sua voz, qualidade muitas vezes ocultada pelo vigor da sua execução instrumental.


Sexta 3 de fevereiro, 21h30, Pequeno Auditório
Eeco Rijken Rapp e David Herzel
Preço único: 5€

Piano Eeco Rijken Rapp
Bateria David Herzel


Em 2006 um jovem holandês iniciou uma presença no YouTube que rapidamente se transformou num êxito internacional: dedicada integralmente ao boogie-woogie, incui não apenas excertos de filmes de executantes históricos como uma bem elaborada sequência de vídeos de instrução sobre o estilo. A foto do autor, Ecco Rijken Rapp, que igualmente ilustra coloca-o de pé, junto a uma velha linha férrea. Fica assim desde logo demonstrado que a sua ligação ao boogie-woogie não é puramente musical, mas que perfeitamente sabe que entre esse estilo de executar blues ao piano e as velhas locomotivas de caminho de ferro a vapor há muito em comum. Estamos, assim, face a um apaixonado - e a um estudioso
Assim é, de facto. Nascido na Holanda, em Apeldoorn, Rijken Rapp começou a aprender piano clássico aos seis anos, estudo que prosseguiu durante mais de dez anos. Sucedeu contudo que, com 16 anos, assistiu a um concerto de boogie-woogie, coisa natural no País europeu onde seguramente mais jazz se ouve por habitante.
A opção foi imediata e o nosso pianista lançou-se sobre todas as gravações e pautas dos grandes executantes, acabando por, com toda a naturalidade, se fixar no inimitável estilo de Albert Ammons. A sua vida modificou-se por completo desde então e, além da presença na net que faz dele um repeitado divulgador internacional do estilo, começou a apresentar-se em concertos por toda a Europa, umas vezes a solo, outros em duo (na boa tradição de Ammons e Pete Johnson).
Em muitos desses concertos (como será o caso do Hootenanny) Eco faz-se acompanhar pelo baterista David Herzel - consituindo um grupo que baptizaram de Boogielicious - duo de resto comum, nomeadamente após a era do swing dos anos 30 e a importância assumida pela bateria nas grandes orquestras: o estilo boogie-woogie com os seus poderosos e marcantes baixos (a left hand like God, a designação cunhada para o percursor William Turk por Eubie Blake) pode prescindir do contra-baixo, mas ganha subtileza com a presença da bateria.»

19 janeiro, 2012

ONU Promove Sustentabilidade Através da Música. Saiba Aqui Como:


«ONU DESAFIA JOVENS A CRIAR UM FUTURO SUSTENTÁVEL ATRAVÉS DA MÚSICA

2012 vai pôr jovens de todo o mundo a criar músicas a pensar num futuro sustentável e criativo. Duas bandas portuguesas podem ser escolhidas para ir ao Rio de Janeiro marcar presença na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

Foi para “juntar as mensagens musicais de todo o mundo, explorando soluções para o desenvolvimento sustentável” que nasceu o concurso, que já está a decorrer em Portugal. Os participantes, quer a título individual, quer em grupo, são convidados a criar músicas relacionadas com questões problemáticas que estarão em foco na Conferência Rio+20, como o Emprego, a Energia, as Cidades, a Alimentação, a Água, os Oceanos e Desastres, e ainda, em alternativa ou cumulativamente, a relacioná-las com os dois temas quentes da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, nomeadamente a “economia verde” no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e o Quadro Institucional para o Desenvolvimento Sustentável.

O concurso está aberto a duas faixas etárias: até aos 14 anos e dos 15 aos 30. Serão identificados vencedores nacionais, regionais e globais. Os vencedores portugueses atuarão no congresso EcoSaldo, organizado pela Quercus em Abril. Os vencedores regionais (correspondendo cada Região a um Continente) atuarão na Rio+20 Global Youth Music Contest Gala Night. As bandas, cantores ou grupos vencedores a nível mundial atuarão no Rio de Janeiro, em Junho deste ano, aquando da Conferência Rio+20.

Mas a vontade de pôr as novas gerações a pensar criativamente o futuro não se fica por aqui. Do programa da Tempus, escola de música responsável pela promoção do Rio+20 Global Youth Music Contest em Portugal, fazem ainda parte a criação de workshops nas escolas para trabalhar a questão do desenvolvimento sustentável e até a organização de pontos de encontro especiais. Os Music Meeting Points são lugares onde os potenciais candidatos ao concurso podem encontrar o apoio das escolas de música e a listagem das instituições na sua área de residente um pouco por todo o país. Mais informações sobre estas iniciativas estarão disponíveis para consulta em http://tempusportugal.com/ ou na página do Facebook “Rio+20 Portugal”.

“Trata-se de proporcionar espaços de encontro entre músicos e letristas, entre vocalistas e instrumentistas, entre gente que gosta de música e gente com vontade de tocar”, diz-nos Ricardo Costa, estudante do Curso de Mestrado em Som e Imagem da Universidade Católica e responsável pela coordenação nacional deste projeto. “É
uma iniciativa inédita”, continua, “um movimento que vai criar pontes de contacto entre futuros agentes de mudança em torno da música e da vontade de fazer a diferença”.

Até 18 de março, a Escola Tempus recebe no seu sítio participações para o Rio+20 Global Youth Music Contest. A iniciativa já arrancou e promete pôr os jovens portugueses a criar músicas a pensar num futuro sustentável e criativo.
Mais informações sobre o Regulamento do concurso e sobre a entidade promotora, a Tempus: Tecnologias e Sistemas Avançados para o Ensino, em http://tempusportugal.com/.

A INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF INNOVATIVE APPROACHES TO GLOBAL
CHALLENGES

A IAAI, dedicada, ela própria, ao tema das mudanças globais, lançou, em direta relação com a Cimeira Terra organizada pela ONU, o Concurso RIO+20 Global Youth Music Contest, através do qual pretende gerar uma maior consciência sobre o tema do desenvolvimento sustentável nos jovens de todo o mundo.

A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL RIO+20

Tem lugar no Rio de Janeiro, Brasil, de 20 a 22 de Junho de 2012, no 20.º aniversário da Conferência do Rio de 1992. Mais informações em: http://www.rio20.info/2012/»

Andanças em Banho-Maria (Mas com Boas Notícias no Meio)


O festival Andanças (na foto; de Hugo Lima) faz uma pausa em 2012. Mas nem tudo são más notícias. O texto Público/LUSA:

«Andanças não se realiza este ano e procura um novo palco

O festival de danças tradicionais Andanças, que se realiza em Carvalhais, São Pedro do Sul, desde 1999, vai ter este ano uma pausa para que a organização possa repensar o modelo e encontrar uma nova localização. Ana Martins, da associação PédeXumbo, que organiza o festival, explicou que o Andanças vai mudar de lugar "estritamente por razões de sustentabilidade ambiental" e que o concelho de São Pedro do Sul se mantém como uma das possibilidades para que em 2013 este volte a ter lugar.

Com cerca de 30 mil pessoas na sua última edição em Carvalhais, o Andanças, criado há 17 anos pela PédeXumbo para a promoção das danças tradicionais, deixou de ter "capacidade para crescer de uma forma ambientalmente sustentável" e a necessidade de um novo espaço "surgiu como essencial para a sua continuidade". Celorico da Beira é uma das possibilidades, mas a divulgação da nova localização do Andanças só será divulgada no final do próximo Verão, disse Ana Martins.

Para que os amantes da dança não sintam "saudades" do festival, a PédeXumbo está a organizar uma versão do Andanças em Mudança já para Celorico da Beira, entre 1 e 5 de Agosto, que terá na sua programação uma ideia nova, com 24 horas consecutivas de danças, que se chamará Danças na Água e decorrerá nas águas e margens do rio Mondego.

Ana Martins admitiu à agência Lusa que Celorico da Beira é uma forte possibilidade para a nova localização do Andanças, porque já tem toda a infra-estrutura montada e tem acesso por comboio, "o que se integra na ideia de sustentabilidade ambiental perseguida pela organização", e ainda o suporte paisagístico da serra da Estrela, igualmente importante nessa dimensão de sustentabilidade. Dar uma maior abrangência ao festival, com artistas de todo o mundo, é ainda um dos objetivos da PédeXumbo.

O Andanças já é um dos maiores festivais de danças tradicionais da Europa. A organização sublinha que as parcerias com a Câmara de São Pedro do Sul e com a Junta de Freguesia de Carvalhais foram um "sucesso" e que apenas a questão do espaço físico onde tem decorrido o festival impõe uma alteração. Além da mudança geográfica do Andanças, Ana Martins deixou ainda outra certeza: "Na edição de 2013, o festival vai surgir com outro modelo".»

16 janeiro, 2012

Raízes e Antenas Nomeado Para Melhor Blog Português de Música em 2011


O Aventar incluiu o Raízes e Antenas na lista de Melhores Blogs Portugueses de Música em 2011, o que merece o meu mais profundo agradecimento. Podem votar no R&A (ou noutro qualquer), aqui. Link completo: http://aventar.eu/blogs-do-ano-2011/

13 janeiro, 2012

IFP Com Belos Filmes (do Mundo)


O Institut Franco-Portugais programou um belo ciclo de cinema (do mundo) para os próximos tempos. É favor seguir para a a Avenida Luís Bivar, em Lisboa.O programa:

CICLO CINEMAS DO MUNDO
de 16 de janeiro a 27 de fevereiro| 19h | ifp

Entrada Livre. Filme legendado em português.

Um ciclo de 10 filmes premiados pela originalidade dos seus olhares, pela força dos temas abordados e a qualidade da sua realização.

Do Tajiquistão à Roménia, passando pela Bélgica ou o Chade, venha descobrir, em Janeiro e Fevereiro, alguns dos melhores filmes de co-produção francesa destes 15 últimos anos.


Segunda-feira 16 de Janeiro 19h
LUNA PAPA de Bakhtiyar Khudojnazarov
1999 – França, Alemanha, Suiça, Áustria, Tajiquistão – 1h47

Segunda-feira 23 de Janeiro |19h
BYE BYE de Karim Dridi
Bélgica, Suiça, França - 1995 - 1h45

Segunda-feira 30 de Janeiro | 19h
LUMUMBA de Raoul Peck
França, República do Congo - 2000 - 1h56

Segunda-feira 6 de Fevereiro | 19h
SATIN ROUGE de Raja Amari
França, Tunísia - 2002 - 1h40

Quinta-feira 9 de Fevereiro | 19h30
INDIGÈNES de Rachid Bouchareb
Argélia, França - 2006 - 2h08

Segunda-feira 13 de Fevereiro | 19h00
TRANSYLVANIA de Tony Gatlif
França, Roménia - 2006 - 1h43

Quinta-feira 16 Fevereiro | 19h30
DARATT de Mahamat-Saleh Haroun
França, Chade - 2006 - 1h35

Segunda-feira 20 Fevereiro | 19h30
LE CHAOS de Khaled Youssef e Youssef Chahine
França, Egipto - 2007 - 2h02

Quinta-feira 23 Fevereiro | 19h00
LE SILENCE DE LORNA de Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne
França, Albânia, Bélgica - 2008 - 1h45

Segunda-feira 27 Fevereiro | 19h00
UN HOMME QUI CRIE de Mahamat-Saleh Haroun
França. Chade - 2010 - 1h32

Mais informações, aqui.

11 janeiro, 2012

Reggae Blast Traz Dub Inc, Bushman e Omar Perry


O comunicado:

"Reggae Blast
Dub Inc
Bushman
Omar Perry
Uma co-produção entre a Soundsgood e UAU

A explosão do Reggae chega a Lisboa e ao Porto!

O Reggae Blast é o primeiro festival de reggae a abranger as cidades do Porto e de Lisboa no mesmo fim-de-semana! O próximo mês de Março de 2012 traz a Portugal alguns dos sons mais quentes do momento para celebrar da melhor forma a chegada da Primavera com duas noites memoráveis de celebração do reggae!

Totalmente dedicado a este estilo musical, o Reggae Blast propõe-se a divulgar os valores da nação reggae, a sua música, cultura e lifestyle num evento que irá envolver música, muita animação e a descoberta de novos talentos.

Com um cartaz de luxo, os Dub Inc (na foto) são os cabeças de cartaz desta noite, uma das maiores bandas de reggae francês que vai trazer para o palco o seu último disco “Hors Controle” prometendo como sempre uma grande noite de festa onde não faltarão temas como “Rudeboy”, “Murderer”, “Tout Ce Qu’ils Veulent”, “Jump Up”, “Day After Day”!

Bushman é outro dos grandes nomes do reggae incluídos neste cartaz. Bushman é um dos melhores nomes do reggae jamaicano e esta é uma estreia há já muito aguardada em Portugal. No ano passado editou um disco memorável de tributo a Peter Tosh intitulado “Bushman sings Peter Tosh”!

Omar Perry é o outro artista consagrado do Reggae Blast! Filho de Lee “Scratch” Perry, após uma actuação brilhante e inesquecível no Festival Musa 2011, Omar Perry regressa a Portugal pela primeira vez para se apresentar com a sua banda The Homegrown Band!

O Reggae Blast irá marcar o panorama dos festivais de referência do Reggae em Portugal!

23 de Março - Campo Pequeno, 25,00€
24 de Março - Coliseu do Porto, 17,50€-27,50€
Locais de venda: Coliseu do Porto, Fnac, Worten, El Corte Inglés, Casino Lisboa, CC Dolce Vita, Agência Abreu, CC Mundicenter, CC MMM, Galerias Campo Pequeno e em www.ticketline.sapo.pt
Info & Reservas ligue 1820 (24h)

www.soundsgood.pt
www.uau.pt
www.dubinc.org"

10 janeiro, 2012

Batida Assina Pela Soundway Records!


É oficial e é de festejar! O comunicado:

"Foi anunciado esta semana aos microfones da BBC1: Batida assinou pela Soundway Records, uma das melhores editoras de World Music da actualidade.
A notícia foi dada no programa de Gilles Peterson. O referencial radialista incluiu 2 temas de Batida no seu especial que aponta os nomes a ter em conta em 2012. Gilles Peterson fechou o programa com novas edições da editora britânica, que irá lançar internacionalmente o disco de estreia do projecto Batida. Mais detalhes em breve.

http://www.bbc.co.uk/programmes/b018ttyq#segments

Relembramos que BATIDA encerra uma das principais salas do FESTIVAL EUROSONIC a 13 de Janeiro. No meio de um festival cheio de projectos promissores cabe a BATIDA fechar a noite de sexta feira, numa das principais salas de Groningen, na Holanda, facto raro entre artistas portugueses. No palco, Mpula faz-se rodear por dançarinos, poeta, mc, percussionista e vjammer, com projecção de imagens de arquivo e documentais. A actuação terá a cobertura de várias rádios e media europeus.»

09 janeiro, 2012

Colectânea de Textos no jornal "i" - XXVI


Companheiros de Aventura - Mais uma Selecção A da música portuguesa

Quando a Resistência apareceu, muita gente torceu o nariz à ideia e desconfiou das boas intenções daquele super-grupo que integrava elementos dos Madredeus, Delfins, Xutos & Pontapés, Trovante, Santos & Pecadores e ainda alguns músicos vindos do jazz. Não era habitual, na altura, que músicos de diferentes grupos e de áreas estilísticas díspares se juntassem para fazer música em conjunto. Era cada um em seu cantinho, cada um na sua paróquia. É verdade que, anos antes, para a gravação de "Galinhas do Mato", de José Afonso, muitos músicos e cantores se reuniram à volta do mestre - já bastante doente - para o ajudar a terminar a gravação desse disco (em que muitas das suas canções já não foram gravadas por ele mas pelas vozes de Luís Represas, Né Ladeiras, Janita Salomé...). Mas, nesse caso, lá está, era tudo gente da mesma "paróquia". Foi a Resistência, portanto, que abriu as portas a projectos posteriores como o Rio Grande, os Cabeças no Ar, o Palma's Gang, os Humanos - em que gente do fado e dos rocks se juntava à volta das canções inéditas de António Variações - ou este "Companheiros de Aventura", novo álbum de Tim - um "habitué" de muitos dos grupos referidos - que agora reúne à sua volta Rui Veloso, a fadista Celeste Rodrigues, Vitorino e músicos do calibre de Mário Laginha, Moz Carrapa, Gabriel Gomes ou Fernando Júdice. E com uma abertura de horizontes que é, também por isso, um enorme luxo.



Ama Romanta... (Quase) Sempre!

Há 25 anos nasceu em Lisboa uma das mais representativas editoras independentes portuguesas, a Ama Romanta. Liderada por João Peste, dos Pop dell'Arte, ao qual se juntou Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta, a Ama Romanta destacou-se de todas as outras - na altura ou ainda agora - através de um consistente programa estético e político e de uma escolha musical irrepreensível - mesmo que muitos géneros nela convivessem (punk, rock alternativo, jazz, música experimental...). Se calhar não por acaso, as bandas já referidas foram também aquelas que deixaram marcas mais indeléveis na história da nossa música. Quer através dos seminais primeiros álbuns, e alguns dos seguintes, de cada grupo, quer através de concertos absolutamente memoráveis desses anos irrepetíveis - entre outros, o dos Pop dell'Arte na Aula Magna (com Adolfo a ajudar) ou o dos Mão Morta no Rock Rendez Vous (Adolfo e uma faca em sangue). Com carreiras absolutamente diversas - coerente, continuada e em ascensão permanente a dos Mão Morta, com altos e baixos e muitas fases de apagamento a dos Pop dell'Arte -, as duas bandas têm agora álbuns novos prontos a editar: "Pesadelo em Peluche" (Mão Morta), já por estes dias, e "Contra Mundum" (Pop dell'Arte), espera-se que para breve.



A revelação Andersen Molière

Apesar de estar nos últimos tempos a ser ultrapassado por outras redes sociais - nomeadamente o Facebook e o Twitter -, a verdade é que o MySpace continua a ser o melhor meio de divulgação de novos projectos musicais. E, por vezes, surgem por lá excelentes surpresas! Último exemplo: no passado domingo, recebi no MySpace um pedido de amizade de uma banda de Lisboa de que já tinha ouvido falar mas cuja música não conhecia: os Andersen Molière. E foi só começar a ouvir os (muitos) temas que eles têm na sua página para ficar imediatamente apaixonado pela sua música. Uma música feita de valsinhas-musette, cabaret, klezmer, country, experimentalismo q.b., algumas letras absurdas, dada e surreais, referências a nomes maiores da música portuguesa - muitas vezes Sérgio Godinho (não por acaso têm também uma belíssima versão da "Balada da Rita")mas também Madredeus com electrónica vintage (no tema "O Segredo") - ou estrangeira, como os Tindersticks, Nick Cave ou Yann Tiersen. Os Andersen Molière são mais um marco da enorme vitalidade e criatividade da música portuguesa que se sente e gosta de ser portuguesa, imediatamente ao lado dos Deolinda, OqueStrada, Anaquim, Virgem Suta ou Diabo na Cruz, entre alguns outros.



A cantiga, a arma e... a reedição que faltava!

A música portuguesa teve duas excelentes notícias nas últimas semanas: por um lado, o regresso d'A Naifa, com Mitó Mendes (voz) e Luís Varatojo (guitarra portuguesa) no posto habitual e os novos elementos Sandra Baptista (ex-acordeonista dos Sitiados, agora no baixo eléctrico que pertencia ao seu marido João Aguardela) e Samuel Palitos (bateria), assegurando assim a continuidade do mais importante projecto de renovação do fado. Por outro, a reedição em CD - finalmente - da discografia do GAC -Vozes na Luta: os históricos álbuns "Pois Canté!!", "...E Vira Bom", "...Ronda de Alegria!!" (com o bónus do EP "Marchas Populares") e a colectânea de singles "A Cantiga É Uma Arma" (com a inclusão de dois inéditos, "Hino da Reconstrução do Partido" e "Hino da Confederação"), todos com o dedo do mestre José Fortes na restauração e remasterização do som e com textos explicativos de Nuno Pacheco e João Lisboa. Há motivo para festejar! O GAC foi um objecto único, fugaz e importantíssimo da música portuguesa; um produto político do seu tempo - o turbilhão pós-25 de Abril/PREC - mas também um manifesto cultural e musical que vai muito além desse seu engajamento político-partidário e influenciou decisivamente muita da música portuguesa de raiz tradicional que se lhe seguiu. Fazendo música "para o povo", era ao povo e à sua música que o GAC ia buscar os ritmos e as harmonias, mas muitas vezes com o polimento dado pela música erudita e por gigantescos, épicos e arrepiantes coros. Pelo GAC passaram nomes como José Mário Branco, João Lóio, Luís Pedro Faro, Margarida Antunes da Silva, Rui Vaz ou Carlos Guerreiro, todos eles ainda activos musicalmente.

(Textos publicados no jornal "i" durante o mês de Abril de 2010)

08 janeiro, 2012

Colectânea de Textos no jornal "i" - XXV


O Humor (e a Música!) de Raul Solnado

Se Herman José e os Gato Fedorento foram os grandes nomes do humor feito em Portugal nas últimas três décadas, antes deles os reis do humor foram os grandes actores da época clássica do nosso cinema (António Silva, Vasco Santana, Ribeirinho) e, já mais na televisão e no teatro e não tanto no cinema, Raul Solnado (aqui em cima, numa foto fabulosa de Eduardo Gageiro). Com uma imaginação delirante, um sentido de humor finíssimo e um timing perfeito em muitas das suas criações, Raul Solnado foi, ainda por cima, um exemplo de coragem quando, só para dar dois exemplos óbvios, fintava a censura e falava da Guerra Colonial de forma implícita em rábulas como "A Guerra de 1908" e "É do Inimigo?" - não por acaso, o seu programa "Zip-Zip" (com Carlos Cruz e Fialho Gouveia) levou à televisão, anos depois, cantores de intervenção como José Jorge Letria, Manuel Freire ou Francisco Fanhais. Agora, e em boa hora, a Valentim de Carvalho/iPlay editou uma caixa com três CDs protagonizados por Raul Solnado, "Façam o Favor de Ser Felizes". Nela encontramos rábulas históricas, sketches do "Zip-Zip", números de Revistas e algumas canções raras de Solnado. Ele que podia ser o fadista gingão de "Fado Maravilhas", o cantor de flamenco com um inesperado "duende" latino-americano a interpretar "El Meson del Gitano", o heterónimo contestatário com o improvável nome Ludgero Clodoaldo, em "Senhor, Estou Farto", ou as personagens que encarnou no Teatro de Revista em "Flausinas", "Chamei-lhe Mamã, Chamei-lhe Papá" e os clássicos absolutos "Timpanas" e "Os Tripeiros".



Anaquim (Aos Molhos)

É bom quando um novo projecto de música portuguesa consegue dividir a crítica. Isso aconteceu no passado com a Banda do Casaco (havia os que viam nela um conceito completamente revolucionário; os outros diziam que era a direita a gozar com a tradição portuguesa), os Heróis do Mar (e, mais uma vez, as questões políticas e estéticas, mais dos que as musicais, fizeram-se ouvir) ou os Madredeus (enquanto alguns os endeusavam, outros chamavam-lhes "o Mateus Rosé da música portuguesa" ou "fado de câmara"). Não estou aqui a tomar partido por uma ou outra facção; estou apenas a constatar o facto de que alguns dos maiores nomes da música portuguesa dos últimos quarenta anos - vistos "a posteriori" - começaram por dividir as opiniões e por não ser nada consensuais. E isto vem a propósito de um novo grupo, os Anaquim, que estão igualmente a ser vistos de maneiras completamente opostas pela crítica e que eu, passe a minha modesta opinião, acredito que poderão vir a ser um caso muito sério de qualidade e longevidade da nossa música. E por uma razão simples: nunca algum grupo nacional soou tão português tendo no seu som, perfeitamente incorporados, tantos géneros externos: bluegrass, rockabilly e rock'n'roll, rembetika grega e klezmer judeu, rancheras mexicanas e baladas valsadas, jazz manouche e cabaret berlinense. E se, no fim, tudo isto acaba a soar mais a Sérgio Godinho (até pela qualidade das letras) do que a qualquer outra coisa, essa é mesmo a prova final.



O Segredo do Stockholm Lisboa Project

Em Portugal são cada vez menos raras as ligações, trocas e misturas entre músicos portugueses e de outras nacionalidades e em vários géneros musicais, seja na música erudita e no jazz, no rock e nas músicas electrónicas. Mas é nas inúmeras áreas da folk e da world music que essas trocas são cada vez mais visíveis e frutuosas. A questão é que essas trocas tendem, muitas vezes - e nada contra! - a ter como base uma língua comum (o português e as suas línguas irmãs: o galego, os crioulos ou o português do Brasil) ou até músicas primas entre si. Dois exemplos: por um lado o fado com as mornas e os chorinhos, por outro a música alentejana com o flamenco ou a música árabe. Mas o grupo de que falo hoje surpreende por fazer uma junção muito menos habitual: o Stockholm Lisboa Project junta músicos portugueses - a cantora Liana e o violinista Sérgio Crisóstomo - e suecos - Filip Jers na harmónica e Simon Stalspets na mandola nórdica e harmónica. O resultado é uma música nova que tanto deve ao fado de Lisboa e de Coimbra como às polskas escandinavas, à música do Ribatejo como aos blues. E o sucesso que o grupo anda a fazer internacionalmente com esta "fórmula" inesperada já lhes valeu, pelo seu segundo álbum "Diagonal", o German Record Critics’ Award 2009 e agora uma nomeação para um dos mais importantes galardões mundiais de world music: os prémios atribuídos pela revista "Songlines", para os quais estão também nomeados os Deolinda.



Lusenas: Ponte entre Portugal, Galiza e Irlanda

Se a semana passada falei aqui dos Stockholm Lisboa Project, grupo luso-sueco que junta sonoridades portuguesas e escandinavas e já anda aí pelas bocas do mundo, hoje falo de um grupo quase desconhecido, com objectivos bem mais modestos, mas que também merece um reconhecimento alargado: os Lusenas, uma espécie de super-grupo da folk portuguesa que junta a magnífica cantora e pandeireteira Sara Vidal (desde há alguns anos, e desde a saída de Rosa Cedrón, é ela a lusa vocalista de uma das maiores instituições da música galega, os Luar na Lubre), Luís Peixoto (Dazkarieh) no bouzouki, bandolim e bodhrán, Miguel Quitério (Tanira) nas flautas, gaita galega e uilleann pipe - a gaita-de-foles irlandesa - e Miguel Veras (Realejo e acompanhante de Júlio Pereira nas suas mais recentes aventuras) na guitarra. Ainda sem disco gravado, mas com música disponível no myspace, e com poucos concertos dados (em Portugal e Galiza), os Lusenas são um caso raro de excelente fusão de música tradicional portuguesa com sonoridades externas. Oiçam-se as suas versões de "A Saia da Ciumenta" e "Olha a Triste Viuvinha" e como, aqui, as influências igualmente retiradas da música galega e da música irlandesa fazem todo o sentido. Os Lusenas pensam fazer apenas alguns concertos dispersos em bares, pequenos festivais e pouco mais. Mas seria uma pena se não avançassem, pelo menos, para a gravação de um álbum.

(Textos publicados no jornal "i" durante o mês de Março de 2010)