20 março, 2007

Cromos Raízes e Antenas XIV


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XIV.1 - The Chieftains



Os Chieftains já ultrapassaram os 45 anos de carreira. Uma carreira que entronca no que de melhor, mais puro (por muitos cruzamentos que tenham feito) e mais sublime tem a música irlandesa. Nascidos em Dublin, em 1962, pelas mãos de Paddy Moloney, ao qual se juntaram Martin Fay, Michael Tubridy, Seán Potts e David Fallon, os Chieftains cedo se assumiram como os pontas-de-lança da folk irlandesa e, com o passar dos anos, como os seus maiores embaixadores. Actualmente constitituídos por Moloney, Seán Keane, Kevin Conneff e Matt Molloy, pelo grupo passaram também outros músicos fabulosos como Derek Bell, Peadar Mercier e Ronnie McShane. Têm dezenas de álbuns (dos quais é impossível escolher o melhor!), seis Grammys, um Oscar, muitas e variadas colaborações - dos Rolling Stones a Júlio Pereira, de uma orquestra chinesa a Sting ou Sinéad O'Connor - e uma história única para contar.


Cromo XIV.2 - Adufe



O adufe é um instrumento de percussão português de origem árabe (a sua introdução no nosso país remonta à Idade Média) que tem como principais características ser quadrado e ter duas membranas percutíveis. Construído com madeira e, preferencialmente, com a pele de um animal macho e outro fêmea (o que dá sonoridades diferentes de cada lado do instrumento e que, segundo alguns teóricos, reforça o carácter simbólico do instrumento), o adufe pode ainda incluir no seu interior algumas sementes ou soalhas. Essencialmente tocado por mulheres na Beira-Baixa (Monsanto, Idanha, Penamacor...), o adufe também se encontra na tradição de Trás-os-Montes e pode ouvir-se igualmente em muitos grupos e artistas de música popular portuguesa nas últimas décadas, nomeadamente no projecto Adufe, de José Salgueiro, que reinventa os adufes e lhes dá outras formas, dimensões e sonoridades.


Cromo XIV.3 - Ulali



O trio feminino Ulali é um dos maiores representantes da música dos índios norte-americanos da actualidade. Integrando três cantoras e percussionistas - Pura Fé (da tribo tuscarora), Soni (com raízes maias, apaches e yaquis) e Jennifer (tuscarora) - as Ulali surgiram em 1987, tendo como finalidade fundir canções ancestrais pré-colombianas, harmonias mais recentes de vários povos índios e a sua aprendizagem de canto contemporâneo. A beleza da sua música levou-as a actuar em diversos festivais (Woodstock, WOMAD, World Festival of Sacred Music ou o Cantigas do Maio do Seixal), à abertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta, à inauguração do Smithsonian National Museum of the American Indian, a participar em filmes e a colaborar com gente tão diversa quanto os 1 Giant Leap, Indigo Girls, Sting, Miriam Makeba ou Robbie Robertson. Álbum aconselhado: «Mahk Jchi».


Cromo XIV.4 - Warsaw Village Band



Um dos mais excitantes novos projectos saídos dos países do leste europeu, o grupo polaco Warsaw Village Band (em polaco Kapela Ze Wsi Warszawa) nasceu em Varsóvia, em 1997, obstinado em dar à música tradicional polaca o mesmo tipo de tratamento que os Hedningarna deram à música sueca. E conseguiram-no plenamente. Electrizante em palco e em disco, a Warsaw Village Band mostra que é um grupo contemporâneo, quase rock, ao mesmo tempo que toca instrumentos antigos como a sanfona ou a szuka, uma antiga rabeca polaca, e canta num género - bialy glos («voz branca») - próprio dos pastores das montanhas da Polónia. A sua modernidade levou-os também a convidar para os seus discos gente do hip-hop e das electrónicas, paixões que ainda são mais desenvolvidas no seu projecto paralelo Village Kollektiv. Álbuns aconselhados: «Wiosna Ludu» (2002) e «Wykorzenienie» (2004).

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