13 junho, 2007

Cromos Raízes e Antenas XXII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXII.1 - Os Tubarões



Grupo seminal da música cabo-verdiana, Os Tubarões nasceram em 1973 e revelaram-se ao mundo depois da independência de Cabo Verde, em 1975, trazendo consigo coladeiras, mornas e funanás envoltas em guitarras bailantes, um saxofone em voo livre e percussões arrebatadoras. Os Tubarões transportavam, bem fundo, a alma da música cabo-verdiana mas nunca se esquecendo de fazer pontes subtis com músicas anglo-saxónicas como a soul ou o jazz, e sempre com uma mensagem política subjacente nas suas letras cantadas em crioulo. Com uma voz magnífica a coroar a sua música, a do saudoso Ildo Lobo, Os Tubarões deixaram-nos os fabulosos álbuns «Djonsinho Cabral», «Tchon Di Morgado», «Pépé Lopi», «Tabanca», «Tema Para Dois», «Os Tubarões ao Vivo», «Terra Bô Sabé» e «Porton D'Nós Ilha». Depois do fim d'Os Tubarões, Ildo Lobo gravou três álbuns a solo: «Nôs Morna», «Intelectual» e «Incondicional».


Cromo XXII.2 - Jah Wobble



Baixista genial (com escola feita junto do mestre do dub jamaicano Robbie Shakespeare), compositor imaginativo, congregador de muitos músicos e cantores à volta dos seus projectos, Jah Wobble (de seu verdadeiro nome John Wardle, nascido em Stepney, Inglaterra, em 1958) é uma personagem que, muitas vezes, se deixou contaminar pelos apelos exóticos da «world music» e assinando, por isso, álbuns em que a música latino-americana, indiana ou do norte de África têm uma presença fundamental, como nos importantíssimos «Rising Above Bedlam» (1991) e «Take Me to God» (1993). Chegado à fama como baixista dos PiL (liderados por John Lydon, ex-Sex Pistols), Wobble enceta depois - e ao longo dos últimos 25 anos - parcerias com gente tão diversa quanto The Edge (dos U2), Holger Czukay e Jaki Liebezeit (ambos dos Can), Brian Eno, Sinéad O'Connor, Natacha Atlas, Baaba Maal ou Bill Laswell.


Cromo XXII.3 - Alan Stivell



O músico bretão Alan Stivell (Alan Cochevelou, nascido a 6 de Janeiro de 1944) foi o grande responsável pela introdução da harpa na música dita «celta», principalmente nos seus álbuns de início dos anos 70, «Reflets» (1970) e «Renaissance de la Harpe Celtique» (1972). Mas a sua carreira tinha começado muito antes quando, ainda adolescente, o pai dele fabricou uma harpa ao velho estilo bretão e o jovem Alan começou a tocar nela, tendo gravado um single logo em 1959 e um LP, «Telenn Geltiek», em 1960. A sua fama, principalmente junto da comunidade «celta» das ilhas britânicas, da Bretanha e Galiza é crescente durante os anos 70, mas as últimas décadas têm assistido a um esmorecer da sua estrela criativa. Isso não o impediu, no entanto, de colaborar activamente com Kate Bush, Shane MacGowan (Pogues), Doudou N'Diaye Rose, Paddy Moloney (Chieftains), Jim Kerr (Simple Minds), Khaled, John Cale ou Youssou N'Dour.


Cromo XXII.4 - Bhangra



Apesar de mais facilmente conectado com um estilo musical nascido nas comunidades indo-paquistanesas de Inglaterra nos anos 70, a verdade é que o bhangra começou por ser uma dança nascida no Punjab (região fronteiriça comum à Índia e ao Paquistão), essencialmente praticada por homens e associada às Vaisakhi (as ancestrais festas das colheitas). Transformado em espectáculo de palco depois da divisão do Punjab pelos dois países, em 1947, a música tradicional que acompanha o bhangra teve a sua grande evolução, nos últimos trinta anos, nas comunidades imigrantes no Reino Unido, com a sua fusão de bhangra com rock, reggae, hip-hop, tecno, etc. Pioneiros dessa fusão foram os Alaap (nascidos em 1977) e nesse «movimento» podem agora incluir-se nomes como os de Punjabi MC, Bally Sagoo, Apache Indian, Nitin Sawhney, Safri Boyz ou Dippa.

7 comentários:

un dress disse...

como não podia deixar de ser já muito dancei ao som dos tubarões...!!! :)

a renaissace de l´harpe celtique tenho desde há muito !
até ouvi agora de cor a sequência...

bhangra e jonh wobble... not at all... mas nunca é tarde...tento registar. danke! :)


beijO

António Pires disse...

Un-Dress:

Durante muito tempo também só Os Tubarões me «obrigavam» a dançar nos seus concertos! Sim, e essa que referes é mesmo a melhor fase do Alan Stivell. Do Jah Wobble, os melhores discos são aqueles que indico mas ele também tem uns de «spoken word» dedicados a vários poetas, com acompanhamento musical, que te podem interessar ;))

Beijo...

bhangra e jonh wobble... not at all... mas nunca é tarde...tento registar. danke! :)

isabel mendes ferreira disse...

salvé Sal e Praia e Mindelo e Boavista à vista dos tubarões...



águas cantantes mornas e líquidas.



______________________beijo Música.

Clara Hall disse...

fico-me a ler, a aprender coisas que não sabia. a memorizar nomes, imagens, lugares, alguns tão atractivos e polissémicos para quem gosta de palavras, que os entendo como uma espécie de prelúdio. peça breve que antecede o encontro com a verdadeira música.

Obrigada, António.

António Pires disse...

Isabel:

«Águas cantantes mornas e liquídas» dava um belo poema sobre Cabo Verde e/ou uma bela... morna (cantante e líquida). É tão boa a sua visita, mesmo que «etérea»...

Um beijo, Poesia...


Clara:

De nada! Mas compreendo o apelo destes nomes: «tubarões», «jah», «bhangra», «stivell»... E, se formos mais além, «Cabo Verde», «Punjab», «Bretanha», «terra bô sabé», «harpe celtique», «rising above bedlam»... Há muita música nestes nomes, nestes lugares e nestes títulos e quase que nem é preciso ouvir a música para se imaginar o que está lá dentro. Mas, acredite, é sempre melhor conhecê-la... Vai ter boas surpresas.

Beijo

Bandida disse...

o teu blogue é um desassossego. porque a música também o é. e é uma autêntica partitura. autêntica de música e de sabores a terra. autêntica de som e de mistérios múltiplos. autêntica de solfejos e pautas encorajadoras. que se faça música. à velocidade da luz. porque com ela toda a verdade é única e viva. só com ela se responde aos dias. só com ela, na sua verdadeira essência, se respira um oxigenado tango à beira de um acorde de sangue. na margem de um violoncelo.

beijo A.

B.
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António Pires disse...

Bandida:

Não tenho palavras para a beleza das tuas palavras... Se calhar, só uma (com muitas lá dentro): Obrigado!!!

Beijo B.

A.