25 janeiro, 2008

Cromos Raízes e Antenas XXXVII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXXVII.1 - Caetano Veloso


O cantor, músico, letrista e compositor brasileiro Caetano Veloso (na foto, de Thereza Eugenia) é um dos maiores génios da música mundial. De nome completo Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia, a 7 de Agosto de 1942, Caetano é um dos maiores paradigmas de uma música que vai às raízes populares do seu local de origem para a fundir com a música que as «antenas» lhe trazem. Não por acaso, o seu nome confunde-se com o conceito de «tropicalismo» - a corrente musical brasileira de finais dos anos 60 em que as origens africanas, o caldeirão de culturas que era a Bahia e expressões musicais como a pop, o rock ou o jazz se uniam num todo magnífico, original, vivo. Ao longo de quarenta anos de carreira, Caetano Veloso mudou a música brasileira e influenciou de uma maneira ou outra muitos artistas não brasileiros (de David Byrne a Sérgio Godinho, de Devendra Banhart a Lila Downs).


Cromo XXXVII.2 - Ojos de Brujo


Nascidos no borbulhante movimento do «som mestiço» - que tem como papa Manu Chao -, os Ojos de Brujo formaram-se em 1996, em Barcelona, Catalunha, com uma ideia de música bem-definida e incrivelmente consistente desde o início: fundir o flamenco, e mais especificamente um dos seus «palos» (géneros), a rumba catalã, com muitas outras músicas. Uma aposta que, apesar de não ser completamente original, tem nos Ojos de Brujo o seu expoente máximo. Na sua música - espalhada pelos álbuns «Vengue» (1999), «Barí» (2002), «Techarí» (2006) e «Aocaná» (2009) - o flamenco surge transfigurado, renovado, em contacto com o hip-hop, o funk, o reggae, as electrónicas, a música árabe, latino-americana e indiana. O grupo, que tem à frente a maravilhosa cantora Marina «La Canillas», tornou-se, com mérito, um dos mais importantes do circuito da world music.


Cromo XXXVII.3 - Googoosh


Neste momento é difícil acreditar que no Irão tenha havido divas da música pop e estrelas do cinema equiparáveis às suas congéneres de outros países (norte-americanas, europeias, indianas...). Mas a verdade é que as houve. E o maior e melhor exemplo de uma cantora-actriz, a estrela mais brilhante de um firmamento muito próprio - o Irão ocidentalizado do Xá Rheza Pahlevi - é o de Googoosh, nascida com o nome Faegheh Atashin, em 1950, em Teerão. De origem azeri, Googoosh chegou ao estrelato muito jovem, durante os anos 60, protagonizando filmes e discos que a transformaram, já durante a década seguinte, na maior vedeta iraniana. Na sua música houve - e há - elementos de música persa, azeri, rock, blues, jazz, disco-sound! Com a chegada ao poder do Ayatollah Khomeini, em 1979, Googoosh foi presa durante alguns meses e proibida de cantar. Mas permaneceu no Irão e, vinte anos depois, voltou à ribalta internacional.


Cromo XXXVII.4 - SambaSunda

A expressão máxima, mais genuína e verdadeira, da música indonésia é o gamelão: orquestras de percussões em que campânulas metálicas (ou, por vezes, de bambu) são percutidas de uma forma repetitiva, hipnótica, intrincada. E esta é uma música mágica, ancestral, em que é raro haver desvios. Mas que os há, há: os SambaSunda são um extenso grupo de músicos (geralmente catorze) de Bandung, na ilha de Java, liderados pelo multi-instrumentista e compositor Ismet Ruchimat e com uma cantora, Rita Tila, a traçar surpreendentes melodias sobre uma música feita de tradição - os ensinamentos dos gamelões e o canto tradicional kecak - misturada com reggae, música brasileira (a palavra «samba» em SambaSunda não está lá por acaso), jazz e a energia do rock. «Rawhana's Cry», álbum editado em 2006, lançou-os ao Mundo... E o Mundo agradece.

7 comentários:

Anónimo disse...

dear antoonio,
just to say that i love your script design and your lovely music choices,~

from finland, with love,

rebecca

laura disse...

Caro António:

Em primeiro lugar, não sei porquê, mas essa foto de Caetano Veloso faz-me lembrar o Mika ;)) (descobri no Youtube o Mika a cantar "Les Champs Elysées" de Joe Dassin, e foi um dos momentos mais desconcertantes da minha vida! :))

Em segundo lugar, a história de Googoosh é belíssima, tal como a própria.

A tua caderneta tem cromos fabulosos!

Curiosa disse...

Olá António!
Já tinha saudades deste meu prazer em comentar os teus posts que tanto nos ensinam!
O Caetano é dos meus preferidos desde criança e esta foto dele é divinal!!!

Beijos ;)

Isabel Victor disse...

É sempre um prazer passar por aqui ! E aprende-se ...

Agradeço as visitas ao " caderno ", em trabalho nas ilhas do vento e das mornas. Embalada ...
pela cadência das músicas de Henrique Cardoso " Porton d`nos ilha " (entre outras, gravadas por Ildo Lobo e pelos inesquecíveis Tubarões)
Assisti no passado dia 24,na Câmara Municipal do Mindelo, ao lançamento de um interessante livro escrito por Manuel Brito-Semedo, intitulado "A morna-balada, o legado de Renato Cardoso". Muito interessante ...
há magia nestas paragens.

Bj*

iv

António Pires disse...

Rebecca:

Thank you!

((kram))

Laura:

LOL!!! Sim, há qualquer coisa de «flamboyant» comum a esta foto e a muito guarda-roupa do Mika :)) A história da Googoosh é mais uma das que conto aqui de artistas perseguidos por motivos políticos (ou outros) nos seus países. No texto sobre o Caetano não o refiro, mas ele também esteve alguns anos exilado, tendo passado por Portugal antes d ter seguido para Londres com a sua irmã Maria Bethânia e com Gilberto Gil.

E obrigado pelo elogio, claro! :))

Beijos...

Curiosa:

A foto é muito boa, mesmo!!

Beijos

Isabel Victor:

Pois, a minha inveja continua ;) E sim, os Tubarões são um dos meus grupos favoritos da música cabo-verdiana (entre muitos outros grupos e artistas, mas com os Tubarões lá em cima, com os Bulimundo, Travadinha, Cesária, Ferro Gaita, Bau e Mayra Andrade logo a seguir). Se procurares, encontras aqui um «cromo» a eles dedicado...

Beijos

Isabel Victor disse...

Os Bulimundo não conheço ...
Vou procurar !

Bj* do mundo musical

António Pires disse...

Isabel Victor:

Os Bulimundo foram um dos grupos mais importantes - o mais importante? - do funaná. Eram liderados por Carlos Martins, aka Katchas, já falecido, e tinham como cantor o grande Zeca di Nha Reinalda, que ainda se mantém em actividade e a gravar discos. Aposto que vais gostar :)

Beijos...