05 novembro, 2010

Roda de Choro de Lisboa - Conexões Luso-Brasileiras


Quando se sabe que o álbum de estreia da Roda de Choro de Lisboa, "Lusofolias" , tem edição marcada para Dezembro de 2010, aqui fica a entrevista que fiz a este grupo publicada originalmente na "Time Out Lisboa" em Agosto de 2009. É para dançar enquanto se lê.

Roda de Choro de Lisboa
Os Músicos que Mais Trabalham na Cidade

O local é um típico clube de bairro popular lisboeta: tem uma bar “atascado”, uma sala de bilhares - numa das mesas está uma viola adormecida; na outra dois pintas esgrimem os tacos - com ditos sábios nas paredes («Deus dá as nozes, mas não as parte») e, atracção maior dessa noite de terça-feira, um salão de baile onde já e amontoam, à porta, dezenas de tias e betos, muitos freaks e estudantes universitários em férias e ainda uma quantidade apreciável de turistas, mais turistas no feminino do que no masculino, diga-se. O local chama-se Lusitano Clube de Alfama e a razão para tamanha animação é mais um concerto/baile abrilhantado pela Roda de Choro de Lisboa, grupo ainda sem disco gravado mas com nome feito em centenas de concertos e no passa-palavra dos muitíssimos fãs angariados nos últimos anos.

O concerto/baile da Roda de Choro de Lisboa dá razão à sua fama: a meio caminho entre o ambiente gaiato e apaixonado das danças tradicionais europeias e o calor e a sensualidade das aulas de kizomba, os casais que dançam esta música deixam-se levar por uma festa que é muito maior e mais alegre do que aquilo que o nome do género que dançam, o choro, poderia fazer supor. O guitarrista Nuno Gamboa (que toca um violão de... sete cordas) explica que o choro nasceu no Brasil, “por volta de 1850, quando houve uma explosão de músicas populares por todo o mundo: o jazz nos Estados Unidos mas também, no espaço da lusofonia, a morna em Cabo Verde, o fado em Lisboa e o chorinho no Rio de Janeiro. Estas três têm todas elementos em comum: a modinha e o lundum. No caso do chorinho, tem o lundum e a modinha mais as danças de salão europeias: mazurkas, polkas, valsas... “. Gamboa acrescenta um pormenor histórico importante que ajuda a compreender estes cruzamentos musicais no universo lusófono: “Quando o rei português chega ao Rio de Janeiro para aí estabelecer a corte (NR: D.João VI partiu para o Brasil em Novembro de 1807, fugindo das tropas de Napoleão), não foi só ele que chegou ao Brasil: foram 15 mil pessoas, orquestras, músicos com instrumentos como o cavaquinho, o violão ou o bandolim...”. Quando se fala de choro, também se fala de chorinho e de chorão. Gamboa explica: “o chorão é o músico que toca choro. E o choro foi chamado durante muitos anos, popularmente, chorinho. Mas os intelectuais brasileiros defenderam a utilização de choro e não chorinho: os americanos não chamam jazzinho ao jazz ou rock'n'rollinho ao rock'n'roll”. Fica assim explicado.

A Roda de Choro de Lisboa é formada por cinco músicos, três portugueses – Nuno Gamboa, Luís Bastos (clarinete) e Carlos “Bisnaga” Lopes no acordeão – e dois brasileiros – Múcio Sá no bandolim e cavaquinho e Alexandre “Barriga” Santos nas percussões. “A Roda de Choro de Lisboa tem uma pré-história, por volta do ano 2000, quando alguns músicos se reuniram no espaço Fala-Só para tocar chorinhos”, conta Gamboa. “Foi aí que eu e o Luís Bastos tivemos contacto com o chorinho. Posteriormente, a Roda de Choro de Lisboa, já com a formação actual, estabeleceu-se no Sítio do Cefalópede, em 2005”. Já com centenas de concertos no seu currículo (o ano passado deram para cima de 120 em Lisboa, mas também em muitos outros locais), a Roda de Choro de Lisboa faz justiça à palavra Choro do seu nome mas também à palavra Lisboa, pelo lado português que a sua música contém. Luís Bastos, o clarinetista, sublinha que, embora tendo como base o choro, o grupo integra nesse género «ritmos portugueses como o malhão, o fandango, o fado, o corridinho, para termos um produto diferente do choro de S.Paulo ou do Rio de Janeiro”. O resultado dessa fusão poderá ser ouvido dentro de alguns meses no primeiro álbum da Roda (já em gravação) ou, se não se quiser esperar, todas as terças-feiras no Lusitano ou, no início de Setembro, no Palco 1º de Maio da Festa do Avante.

1 comentário:

laura disse...

Epá, este novo verde é muito forte, faz doer os olhos. Volta ao verde anterior, é mais suave. :)