09 julho, 2007

Voz de Mulher - Do Canto das Baleias às Mais Fundas Raízes do Minho



É só um breve apontamento - que o tempo escasseia e os afazeres são muitos - mas mais que justificado pela altíssima qualidade que atingiu o II Festival Voz de Mulher, que decorreu este fim-de-semana no Teatro Aveirense. A começar por um extraordinário concerto/performance de Fátima Miranda (na foto, de Dragan Tasic), com a cantora espanhola a mostrar como a voz consegue ser um instrumento total e infinito de possibilidades, seja mimetizando o canto das baleias com um sussurro gutural nos confins dos agudos, seja fazendo ouvir um poderosíssimo grito de revolta numa canção baseada na guerra civil espanhola, seja um divertimento puro, embora elaboradíssimo, quando pega nas bases do flamenco e nos códigos da sedução homem/mulher para arrancar sentidas gargalhadas à plateia. Por sua vez, Amélia Cuni - cantora italiana que durante dez anos estudou com mestres indianos as técnicas do canto dhrupad - mostrou como é possível, com uma contenção, uma beleza e um respeito extremos, recriar criativamente uma tradição distante - e, sempre, com o seu companheiro Werner Durand a manipular sábia e subtilmente electrónicas e a tocar estranhíssimos instrumentos de sopro por ele inventados. Já as finlandesas Anna-Kaisa Liedes (voz principal, kantele e percussões) e Kristiina Ilmonen (percussões e voz), embora não atingindo o nível de arrebatamento dos outros projectos, mostraram mesmo assim como a voz tem inúmeras vozes lá dentro e como de tradições diversas se pode chegar à modernidade extrema. Entre mostras e amostras, no encerramento o grupo Mulheres do Minho mostrou um profundo amor à terra e à tradição, raro, raríssimo; um amor feito de cantos sagrados e profanos, cantados como se sempre assim tivessem sido cantados - o «Aboio» é um arrepio. Arrepios extensíveis ao workshop de Amélia Cuni (em que a voz, ali solta e não contida, viajou por estradas, espirais, remoinhos intermináveis...) e aos momentos em que Fátima Miranda, no seu colóquio, enchia a sala com uma voz maior que a vida. Ah, e a minha sessão de DJ com o camarada Luís Rei correu muito bem - uma hora de sessão transformou-se em... três horas e meia.

4 comentários:

Menina Limão disse...

vais ao andanças?

António Pires disse...

Menina Limão:

Infelizmente, acho que não. O Andanças é logo a seguir ao FMM de Sines e, depois de dez dias na costa alentejana, prevejo um período de descanso, mesmo descanso, absoluto... Dança muito!!!

Anónimo disse...

Foi mesmo fantástico e é preciso que se conheça este festival: a qualidade artística é altíssima, os workshops também, a comida a cidade e as pessoas idem, dos "DJ" :-) nem se fala! Sempre em festa! E as Segue-me À Capella estão de parabéns! O Festival encarna na perfeição o conceito de Turismo Cultural, e transcende-o. Foi uma grande surpresa!
Queremos mais!!!!

António Pires disse...

Olá Ana!

Tens toda a razão!! Menos em relação aos DJ, pelo menos a um deles ;)))

Foi bom ter estado contigo e com o Afonso! E venham mais festivais Voz de Mulher, sim!!! Beijos para ti (e abraços ao A.)