24 setembro, 2007

Cromos Raízes e Antenas XXVI


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXVI.1 - Aisha Kandisha's Jarring Effects



O rock é uma realidade global que «contaminou» - assim como muitos dos seus derivados - muita da música que se faz hoje em dia. E, no interminável mundo das fusões de músicas locais com o rock (e derivados), os marroquinos Aisha Kandisha's Jarring Effects são um dos exemplos mais interessantes: começando por fazer música tradicional shabee, durante os anos 80, o seu primeiro álbum, «El Buya», de 1990 foi produzido pelo suiço Pat Jabbar (o mesmo que trabalha agora com os Maghrebika), que mergulhou a música do grupo num molho de dub, rock e electrónicas, com excelentes resultados. No álbum seguinte, «Shabeesation», de 1992, os Aisha Kandisha's Jarring Effects tiveram a colaboração do incansável Bill Laswell (o homem das mil colaborações e produções), álbum em que também colaboraram membros dos Last Poets e dos Parliament. Hoje, os A.K.J.E. continuam de boa saúde e a trilhar os mesmos caminhos.

Cromo XXVI.2 - Tsinandali Choir



Tentar fazer a viagem dos cantos polifónicos europeus é uma experiência fascinante: pode começar-se pelo Alentejo, seguir pela Córsega e a Sardenha, parar para beber da beleza das vozes femininas na Bulgária e acabar na Geórgia, antiga república da União Soviética. Aqui, na Geórgia, o ponto de paragem obrigatório é a cidade de Tsinandali (na região da Kakhetia), conhecida no exterior pelo seu vinho e, desde que Peter Gabriel editou na Real World o único álbum do Tsinandali Choir, em 1993 (reedição de um disco originalmente lançado em 1988 apenas na Geórgia), também pela sua maravilhosa música. Grupo apenas de homens, que cantam a capella, o Tsinandali Choir faz justiça à sua origem e neste disco interpreta as chamadas «canções de mesa», isto é, odes ao vinho que congregam os amigos nas noites frias do Leste, depois de uma noite de muita comida e ainda mais bebida. É belíssimo!


Cromo XXVI.3 - Mickey Hart



Ao longo dos tempos, muitos foram os artistas anglo-saxónicos que se apaixonaram pelas chamadas «músicas do mundo». George Harrison, Robert Plant, Brian Jones, David Byrne, Paul Simon ou Peter Gabriel estão do lado dos mais conhecidos... Mas houve e há muitos outros, menos conhecidos, mas tão ou mais importantes que estes no cruzamento de variadíssimas linguagens musicais. Entre eles está, na linha da frente, o baterista, percussionista, escritor e musicólogo norte-americano Mickey Hart (nascido a 11 de Setembro de 1943). Membro dos Grateful Dead entre 1967 e 1971, e, depois, entre 1974 e 1995, Hart teve no mítico percussionista Babatunde Olatunji uma das suas maiores influências. E, ao longo da última década e meia, gravou álbuns importantíssimos com alguns dos mais importantes percussionistas mundiais. A conhecer (pelo menos estes álbuns): «Planet Drum», «Mystery Box» e «Supralingua».


Cromo XXVI.4 - Chavela Vargas



Nascida na Costa Rica (em San Joaquín de Flores, a 17 de Abril de 1919), mas mexicana por adopção e paixão, Chavela Vargas - de verdadeiro nome Isabel Vargas Lizano - é a maior lenda viva da música tradicional do México, especialmente da música ranchera, um estilo feito de canções de amores fatais e geralmente reservada aos homens. Há poucos anos, Chavela revelou numa entrevista aquilo de que muita gente suspeitava devido ao facto de quase sempre se ter vestido como um homem: ser lésbica. Assim como se ficou a saber que, durante a sua juventude, foi amante da pintora Frida Khalo (e ironicamente, ou talvez não, Chavela tem um dos seus momentos de maior reconhecimento internacional ao cantar no filme «Frida», de Julie Taymor). Mas isto são apenas pormenores, se bem que reveladores, da vida de uma mulher cuja força maior está na sua voz marcante, pessoal, inesquecível. A Mulher do Poncho Vermelho.

4 comentários:

C. disse...

:)) não fosse o mocito do lenço vermelho (a propósito dos primeiros cromos desta série) ao centro e as tuas palavras a afirmarem que ali há rock...é curioso...rock e marrocos parece mistura que não liga.
mas falando a sério...dá vontade de os conhecer/ouvir.

agradável encontrar a Chavela Vargas. foi o filme sobre a Frida que me fez descobrir estas vozes das Lloronas e Palomas.


e boa noite.

António Pires disse...

C.:

O rock em Marrocos não é assim tão incomum como isso. Na mesma linha de fusão dos Aisha Kandisha's Jarring Effects estão, por exemplo, os Hoba Hoba Spirit (que também já tiveram direito a um cromo há uns meses) e os Gnawa Storm, que também mesclam músicas tradicionais com géneros anglo-saxónicos. E há muitos outros grupos e artistas marroquinos que fazem heavy-metal, hip-hop, electro, etc, etc...

E, sim!, o «La Llorona» na voz da Chavela Vargas é absolutamente arrepiante!!!

Boa noite :)

Curiosa disse...

Muito aprendo eu por aqui, caro António!
E lá tive de ir 'curiosar' a Mulher do Poncho Vermelho, não fosse eu fã incondicional da Frida...!!!


E... boa tarde! rsrs :))))

António Pires disse...

Caríssima Curiosa:

Curiose sempre o que houver para curiosar por aqui!!! Outra sugestão contida na banda-sonora do filme «Frida»: Lila Downs, uma mulher simpatiquíssima e com uma voz lindíssima, se bem que não tão marcante - a idade e a vida também não são as mesmas! - que a da D.Chavela Vargas. E outras cantoras que também pode achar interessantes: Lhasa (principalmente o primeiro álbum, «La Llorona») e Astrid Hadad (esta numa atitude de ruptura com a tradição e divertidíssima).

E... muito boa-tarde! :))))