18 dezembro, 2006

Sérgio Godinho - «Só Neste País» a Hino Nacional, Já!


Estou a imaginar um estádio inteiro a assobiar o início da canção, qual «A Ponte do Rio Kwai», antes de um jogo da selecção. Estou a imaginar as deputadas da Assembleia da República a fazer a ladaínha sussurrada dos coros femininos da canção durante uma cerimónia oficial qualquer. Estou a imaginar os recrutas dos quartéis a fazer continência enquanto se ouve «E agora a Rima!», e a rirem entre dentes. Estou a imaginar a Banda dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento - se existir - a atacar o final da canção, majestoso com ânimo. Estou a imaginar um país inteiro, o nosso, a cantar «Só Neste País», a canção que fecha o novo álbum de Sérgio Godinho e que é o mais perfeito retrato do nosso país em muitos anos. Merecia ser, desde já!, o nosso novo hino nacional (ver letra aqui em baixo, sff).

De resto - e isto não é uma crítica convencional ao disco - refira-se que não, «Ligação Directa» não é o melhor álbum de sempre de Sérgio Godinho - não podia!!! -, mas é muitíssimo bom... Nele há baladas puro-SG, um reggae arraçado à Police, uma marcha-ska-carrossel, um fake-country-chula (chula?), um tema («O Velho Samurai») cuja música parece saída de um misto de «banda-sonora» de Hollywood/anos 40 e Yann Tiersen, rock'n'roll de feira e circo (nos fabulosos «O Rei do Zum-Zum» e «No Circo Monteiro Nunca Chove», com mais dois grandes poemas, entre muitos, tantos outros, neste e noutros álbuns...), dois bons temas com músicas de Nuno Rafael e Hélder Gonçalves, e «Só Neste País» que, repete-se, é o Hino que todos nós merecíamos (para o bem e para o mal).

«SÓ NESTE PAÍS»
SÉRGIO GODINHO

Unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
Para provar quem vai à frente
Ou fica atrás

Se é por
Ir estabelecer um novo record
Compremos o Guinness
Ao preço que for
E fica o assunto homologado
E sai espumantes
Às vezes dá p'ra um banquete
Ou dele as sandes

Sempre
Complicamos a coisa mais simples
E simplificamos a complicada
Sai em rajada
O tiro pela culatra
Às vezes mata
Às vezes ressurreição
Foi de raspão

(Só neste país...)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país

São muitos séculos em morna ebulição
A transitar entre o granizo e a combustão
E um qualquer hino
P'ra qualquer situação
A pessimista, a optimista...
E vai abaixo e vai acima
E vai abaixo, e vai acima
(e agora a rima):

Portugal é nosso p'ro bem e p'ro mal

E o mal que está bem
E o bem que está mal
E o bem que está bem

Juro
P'lo fado
P'lo baile e p'lo kuduro
Que este país 'inda tem futuro
É verde e maduro
Como a fruta, às vezes brota
Às vezes, consternação
Secou no chão

Por isso unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
Para provar
Quem vai à frente
Ou fica atrás...

(Só neste país...)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país

(...)

2 comentários:

marcela disse...

Tens toda a razão!!!
Onde é que está o abaixo-assinado, para que eu possa por o meu nome???

António Pires disse...

Caríssima Marcela,

Não há abaixo-assinado mas bem que podia haver! Volte sempre ao Raízes e Antenas - será bem-vinda!