12 julho, 2010
Colectânea de Textos no jornal «i» (VI)
Os Três Senhores
por António Pires, Publicado em 27 de Agosto de 2009
O encontro estava pensado há muito tempo, mas só agora se vai concretizar: José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto vão dar dois concertos em conjunto (um em Lisboa, a 22 de Outubro; outro no Porto, a 31 do mesmo mês), em que vão cantar canções próprias e dos outros companheiros em palco - e, aposto, também de José Afonso, o "pai" musical e ideológico deles todos -, a solo, em duo ou em trio. Os espectáculos - e não é preciso ser a Maya para prever que serão dos mais relevantes de sempre da música portuguesa - serão gravados para posterior edição em CD e DVD. Há cinco anos (Maio de 2004), a propósito da edição do álbum "Resistir É Vencer", em que participavam como convidados Sérgio Godinho e Fausto, fiz uma entrevista a José Mário Branco em que lhe perguntava: "Em que pé está a ideia de fazer um espectáculo conjunto dos três?" A resposta de José Mário Branco foi exemplar: "Para já é só um projecto. Mas é daquelas coisas que, como se costuma dizer, não gostaria de morrer sem fazer, sem que esse espectáculo conjunto acontecesse. Mas um espectáculo em que fizéssemos músicas originais não seria um espectáculo do género: 'Olha ali aqueles três velhinhos a olharem para o passado.'" E, a julgar pela influência que os três têm tido na música portuguesa actual - audível em inúmeros artistas e grupos de variadas famílias musicais -, não se duvida um só segundo que estes "Três Cantos" (na foto, de Augusto Brázio) vão ser dois concertos que também irão lançar muitíssimas sementes para o futuro.
Toquem Gaiteiros, que nós dançaremos
por António Pires, Publicado em 03 de Setembro de 2009
A chegar à "maioridade" - são já 18 anos de carreira! -, os Gaiteiros de Lisboa estão prestes a editar um novo álbum, onde terão a companhia de Ana Bacalhau (Deolinda), Sérgio Godinho, Zeca Medeiros e Adiafa. E este texto serve para celebrar, por um lado, a notícia de um disco novo dos Gaiteiros de Lisboa, sem dúvida a banda- -charneira da renovação da música tradicional portuguesa, fazendo a ponte entre José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Fausto e GAC - Vozes na Luta e dezenas de novos grupos portugueses. E, por outro, para lhes fazer justiça num pormenor muitas vezes esquecido: a sua importância na transmissão pelo gosto da aprendizagem da gaita-de-foles às gerações mais novas. Curiosamente, um dos músicos dos Gaiteiros de Lisboa, Paulo Marinho, começou esse trabalho quando ainda fazia parte de uma banda de... rock, os Sétima Legião, que nos anos 80 levaram a gaita transmontana e galega ao conhecimento de muitos rapazes e raparigas dos grandes centros urbanos. Agora, em 2009, há gaiteiros em inúmeros grupos que não são só de gaitas-de-foles, mas também há outros - de Trás-os-Montes às regiões sulistas - que têm na gaita (e na caixa e no bombo) o seu instrumento preferencial: Galandum Galundaina, Roncos do Diabo, Lenga-Lenga, Velha Gaiteira, Gaiteiros de Alcochete, Cornes e Míscaros são apenas alguns deles. E - a atestar o crescimento do fenómeno - até há um grupo na Casa Pia. (*)
Roberto... Leal às raízes
por António Pires, Publicado em 10 de Setembro de 2009
Os músicos e cantores que mudam de rumo musical não são uma grande novidade. Só para nos cingirmos ao caso português, relembre-se como - entre tantos outros - José Cid já passou pela pop, pelo rock progressivo, pela música ligeira, pelo jazz ou pelo fado (é, sem dúvida, o maior "camaleão" da música nacional); Rão Kyao saltou do saxofone jazz para as flautas do mundo; Vítor Rua renegou a pop para se atirar à música arty e experimental. Até Amália Rodrigues tentou trocar o fado por outras coisas quaisquer (da música espanhola e italiana ao folclore ou àquele objecto não identificado chamado "O Sr. Extraterrestre"). Mas o caso de que falamos hoje é ainda mais extremo: Roberto Leal, o maior embaixador da música portuguesa no Brasil - e obedecendo quase sempre ao grande requisito desse estatuto (também sublinhado quando os malogrados Mamonas Assassinas assinaram o seu êxito "Vira-Vira") que é ser profundamente «'tuga» e... foleiro - deu, de há dois anos para cá, uma volta enorme na sua carreira. Fazendo apelo à sua condição de natural de Macedo de Cavaleiros, Leal editou "Canto da Terra" em 2007, um disco em que cantava temas tradicionais transmontanos, com músicos da Brigada Victor Jara e dos Galandum Galundaina. Ainda se pensou que era um capricho passageiro, mas agora surge "Raiç/Raiz", onde o reportório é um pouco mais alargado, mas em que Trás-os-Montes continua presente, e com um acentuado grau, se não de pureza, pelo menos de um respeito enorme. E com os mesmos bons músicos, também.
(*) - Nota... má: dez meses depois da publicação deste texto no "i", o novo álbum dos Gaiteiros de Lisboa ainda não foi editado - culpa da crise, da vontade da indústria discográfica, de outra (não) vontade qualquer... Um dia destes há-de existir, espero!
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