26 julho, 2010

Kimi Djabaté - Um dos Destaques de Sines em Entrevista


Originalmente publicada na "Time Out Lisboa", esta entrevista com Kimi Djabaté pode também servir de aperitivo ao concerto que este cantor e músico guineense vai dar esta semana no FMM de Sines. Mais em baixo segue a crítica ao novo álbum de Djabaté, "Karam".

Sob o Foco
Kimi Djabaté

Ao segundo álbum, o griot guineense Kimi Djabaté chega a uma grande editora internacional de world music, a Cumbancha, o selo da Putumayo dedicado à descoberta de novos valores musicais. E “Karam”, o álbum, merece todos os elogios entusiásticos que anda a receber um pouco por todo o lado...

Kimi, podes começar por explicar o que é um griot?

Há griots na Guiné-Bissau e noutros países ali à volta desde há séculos. Um griot é um músico que conta as histórias do povo e dos reis. Muitas vezes, eram os griots que, nas zonas de conflito, iam lá para obter a paz. Também servem para dar o devido reconhecimento, através da sua música, às pessoas que fazem coisas importantes ou que estão no bom caminho ou para levantar a moral das pessoas que estão em baixo.

O teu novo álbum, “Karam”, é quase um álbum conceptual, ao antigo estilo do rock progressivo, não musicalmente mas no sentido de cada canção ter uma dedicatória a alguém ou a alguma coisa que achas importante.

O álbum reflecte a minha maneira de ver o mundo, hoje. Mais especificamente, desde que estou na Europa comecei a olhar para África de uma maneira diferente e tenho que dizer que há coisas que não me agradam muito por lá – e falo delas nas minhas canções. Mas também presto homenagem a pessoas com quem concordo ou que eu admiro, como Dabó ou Fatumata. Mas também falo dos conflitos entre etnias, dos fulas e dos mandingas, na Guiné-Bissau e noutros países africanos. Falta democracia, falta estabilidade – um país pode estar calmo num dia e no outro já não estar -, há muita miséria... E é disso que fala o disco. Do sofrimento dos povos e também de coisas que sofro dentro de mim.

Tu falas de assuntos tristes – por vezes, trágicos – mas sobre uma base musical muitas vezes luminosa, alegre, dançável...

Não concordo. As pessoas podem achar que a música é alegre, mas eu sinto-a triste, quando falo de coisas tristes. Quando eu componho e me inspiro, por exemplo, na situação do meu país – que está muitas vezes em guerra e onde eu continuo a ter a família – não consigo dar à música a alegria de que muita gente pode estar à espera.

Uma característica muito bonita dos músicos da Guiné-Bissau que vivem em Portugal é colaborarem muitas vezes todos juntos. Neste teu álbum também tens muitos deles (Braima Galissá, N'dara Sumano, Maio Coppé...), os Guiné All Stars todos!

Sim, foi de propósito. Eu busco sempre a união entre todos. Nós, guineenses, temos que nos unir e ajudarmo-nos uns aos outros. Um músico sozinho não faz nada! Mas também há músicos de outros países: portugueses, moçambicanos, uma senegalesa, um guitarrista dinamarquês...

O teu primeiro álbum, que saiu há cerca de cinco anos, era uma gravação caseira, muito simples... Este, ao contrário, tem uma excelente produção e estás numa grande editora. É um grande salto.

É, é um grande salto. Mas não me esqueço das pessoas que trabalharam comigo no primeiro e que me acompanharam até aqui. Também foi importante. Mas estou muito feliz por fazer parte da Cumbancha: está a levar o meu trabalho a sítios com que nunca sonhei.




Kimi Djabaté
"Karam"
Cumbancha/LeveMuisc

Radicado em Portugal há quinze anos, o cantor, guitarrista e balafonista (o balafon é um xilofone tradicional da África Ocidental) Kimi Djabaté nasceu na Guiné-Bissau, no seio de uma família de griots – os transmissores ancestrais da sabedoria dos povos da África Ocidental. E não fugiu ao seu destino. Músico desde criança, editou há alguns anos o álbum de estreia, "Terike", mas é agora, com o segundo Karam, que está a gerar um grande sururu no circuito da world. Sururu merecido: em "Karam" está toda a tradição griot – dos textos cantados aos instrumentos (balafon, kora, etc...) - mas também uma magnífica pulsão eléctrica que a leva para o futuro. Em “Mogolu”, uma canção lindíssima (mas não a única), a guitarra e o resto parecem Ali Farka Touré. E isso é bom. (****)

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