27 fevereiro, 2009

Cacharolete de Discos - Seun Kuti, Nitin Sawhney e Maria João & Mário Laginha


Depois de uma ausência prolongada - uma pneumoniazita que já está a passar -, o R&A regressa hoje para recuperar algumas críticas publicadas há algum tempo originalmente na «Time Out Lisboa». Desta vez, ao álbum de estreia de Seun Kuti (o filho mais novo de Fela Kuti), ao surpreendente novo disco de Nitin Sawhney (na foto) e ao disco de regresso ao jazz da dupla Maria João/Mario Laginha.



SEUN KUTI + FELA'S EGYPT 80
«MANY THINGS»
Tôt ou Tard

Transportar o nome – e a herança – de um dos nomes maiores da música nunca é fácil. Não o foi para os filhos de gente como John Lennon ou Bob Marley, de Frank Zappa ou de Charles Mingus (apesar de alguns deles terem construído uma carreira bastante decente em nome próprio). No caso de haver vários filhos a competirem no mesmo território a questão ainda se torna mais complicada, como é o caso de Seun e do seu irmão Femi, ambos filhos de uma das figuras mais importantes da música africana, o inventor do afro-beat Fela Kuti. Porque para além de competirem com a memória e o peso do nome do pai , ainda têm que «competir» entre si, para ver qual deles pode continuar a carregar a bandeira da família e/ou eventualmente a levá-la mais longe e a hasteá-la mais alto. Neste exemplo específico, a herança é encarada de maneiras diferentes pelos dois manos em compita: Femi (o mais velho), com uma carreira mais longa e já com o seu nome bem firmado no circuito da world music, é o que diverge mais da linha firmada pelo pai: nele, o afro-beat é a base, sim, mas nele incorpora sem problemas outras linguagens como o reggae, o hip-hop, o jazz, o R&B, até canções no seu sentido mais clássico. Já Seun (o mais novo), não se atreve a divergir e neste seu álbum de estreia, «Many Things», aquilo que se ouve é afro-beat puro e duro, sem grandes (nem pequenos) desvios aos ensinamentos paternos. O lado positivo é que os fãs de Fela podem ver aqui uma continuação lógica do trabalho do mestre – e Seun faz questão de ser acompanhado, para que não haja dúvidas, por muitos músicos que tocaram com o pai, os Egypt 80, e que a ligação seja imediatamente reconhecida. O lado negativo é que já ouvimos esta música antes, há 30 anos atrás, e não há aqui, mesmo!, grandes (nem pequenos) acrescentos. (***)


NITIN SAWHNEY
«LONDON UNDERSOUND»
Cooking Vinyl/Edel

Um dos nomes maiores da cena musical indo-britânica, Nitin Sawhney está de volta com um álbum (o oitavo, e o primeiro desde «Philtre», saído em 2005) surpreendente. Um álbum sério, maduro, mais pop e muito menos dançável do que é habitual. Tendo como mote os atentados de extremistas islâmicos ao metropolitano londrino a 7 de Julho de 2005, dos quais resultaram 52 vítimas e 700 feridos (daí o trocadilho do título do álbum, «London Undersound», com o London Underground), o disco é uma elegia aos mortos e a uma parte da cidade de Londres que «também morreu nesse dia». E o álbum é uma surpresa! Começa com dois temas pop («Days of Fire», com a participação de Natty, e «October Daze», com Tina Grace) e um terceiro («Bring It Home», com Imogen Heap) já com uma pulsão dançável mais imediatamente reconhecível de Nitin Sawhney. E depois entra... Paul McCartney, mas com uma voz quase irreconhecível, envelhecida, cansada mas cheia de alma na faixa «My Soul» – um tema com alusões a «A Day in the Life», dos Beatles (tema que encerra o álbum «Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band»), e uma certa atmosfera indiana. Numa outra canção há uma pulsão brasileira, a lembrar que este álbum também foi inspirado pela morte do brasileiro Jean Charles de Menezes às mãos da polícia inglesa, que o confundiu com um terrorista. E a seguir há rumba catalã e tablas indianas em «Shadowland», tema de colaboração com os Ojos de Brujo. E, à medida que o álbum avança, a presença da música indiana sente-se cada vez mais, com o canto tradicional konokol, a voz que parece saída de um filme de Bollywood de Reena Bhardwaj, ou a maravilhosa sitar de Anoushka Shankar no tema que encerra o disco. (*****)

MARIA JOÃO & MÁRIO LAGINHA
«CHOCOLATE»
Universal Music Portugal

Há comemorações e... comemorações. Há comemorações chatas, institucionais, preguiçosas, previsíveis e, logo, inúteis. E há comemorações vivas, felizes, brilhantes, inesperadas e, logo, inesquecíveis. E, na música, são cada vez mais raras as comemorações - sejam elas quais forem - que se enquadram na segunda categoria. Mas «Chocolate», o novo álbum de Maria João e Mário Laginha, entra de caras e directamente nesse segundo grupo. Porque é um disco que comemora 25 anos de trabalho e criação em conjunto - duas décadas e meia depois do pioneiro álbum do Quinteto de Maria João - mas, muito mais do que isso, é um álbum com um som novo, fresquíssimo, espelho mais que perfeito daquilo que os dois fizeram - e já fizeram tanto! - antes... e de tudo aquilo que ainda poderemos esperar deles, para um depois qualquer. Entre vários clássicos de sempre do jazz e derivados («Goodbye Pork Pie Hat», «I've Grown Accustomed to His Face», «I'm Old Fashioned», «When You Wish Upon a Star»...) e alguns originais compostos pelo duo, o álbum viaja, de forma perfeita, por vários géneros de jazz - alguns mais clássicos, outros mais free ou mais experimentais ou mais contemporâneos... -, e deixando sempre brilhar a voz de Maria João (nas palavras, nos sussurros, no scat, numa mais ampla e aberta gama de frequências que a faz chegar a inesperados e absolutamente bem-vindos registos graves), o piano excelentíssimo - e qual «grilo falante» em diálogo com a voz de Maria João - de Mário Laginha, o saxofone voador (seja ele gaivota, seja ele moscardo) de Julian Arguelles, as percussões mágicas de Helge Norbakken, e os seguríssimos cimentos que são o contrabaixo de Bernardo Moreira e a bateria de Alexandre Frazão. Mais que uma comemoração, «Chocolate» é uma... celebração. (*****)

17 fevereiro, 2009

Helder Moutinho - Os Fados Que Ele Nos Traz


A propósito de um dos melhores álbuns de fado editados nos últimos anos em Portugal, «Que Fado É Este Que Trago?», de Helder Moutinho, aqui recupero a crítica ao disco e a entrevista com o cantor, compositor e letrista que foram originalmente publicadas na revista «Time Out Lisboa» há alguns meses.


HELDER MOUTINHO
«QUE FADO É ESTE QUE TRAGO?»
HM Música/Farol

Manager, agente, editor, Helder Moutinho é - acima disso tudo - um grande fadista, dos maiores que o fado nos deu na última década. De voz contida, grave, por vezes a fazer lembrar crooners como Bing Crosby, Frank Sinatra ou Johnny Hartman… E um autor de excelência, compositor de músicas e, mais ainda, um poeta que escreve para a sua própria voz - neste novo álbum, «Que Fado É Este Que Trago?», oito dos quinze temas têm letra de Helder Moutinho - e para a voz de muitos outros e outras fadistas. Como se isto tudo não bastasse, Helder Moutinho é ainda um estudioso e um pensador do fado, do fado antigo e dos fados que se poderão fazer no futuro, não sendo portanto de espantar que este seu terceiro álbum seja uma reflexão - inteligente - sobre a essência do fado e quais os caminhos que percorreu e irá percorrer. E uma reflexão que não se limita, nunca, à teoria, mas que apresenta exemplos práticos - e musicalmente e liricamente extraordinários, muitos deles - de como se pode renovar o fado tradicional (exemplos: «Perdi-me nos Olhos Teus», em que Helder Moutinho encaixa na perfeição um poema seu no Fado Mouraria, e «A Cor dos Olhos», em que a utilização de acordeão e percussões faz o fado conviver naturalmente com o fandango), de como a ponte entre o fado tradicional e muito do novo fado foi feito através do fado-canção (exemplo: o belíssimo «Esta Voz», com letra de Helder Moutinho e música do guitarrista Ricardo Parreira, que parece uma homenagem a Carlos do Carmo e à poesia de Ary dos Santos) ou como pode haver boa pop - pop mesmo! - no fado («À Espera de Uma Paixão», novamente com letra de Moutinho e com música de Yami). (*****)


SOB O FOCO
HELDER MOUTINHO

Homem de sete ofícios - mas sempre com o fado como fio que os une a todos -, Helder Moutinho acaba de editar um novo álbum, «Que Fado É Este Que Trago?», uma pergunta que tem várias respostas mas que se resumem numa só: o seu enorme amor ao fado, ao antigo das vielas de Alfama ou da Madragoa, ou aos outros, outros fados, que aí virão ou que, nele, já convivem com a tradição. Porque o fado até pode ser «maldito» sem deixar de ser possível trocar as voltas ao destino.

A primeira pergunta, inevitável, é: afinal, que fado é este que trazes?

Se eu próprio faço essa pergunta, é porque também não sei muito bem. É o meu fado, o fado em que eu acredito. E é todo o fado, desde o tradicional até aos chamados fados-canção e aos originais, que ainda não sabemos muito bem se são fados e que, obviamente, ainda não são clássicos porque são novos, embora um dia possam vir a ser considerados como tal se forem aceites pelo grande público e até pela comunidade fadista. Sei que sou fadista, não caí aqui de pára-quedas, mas no fundo não sei lá muito bem qual é o meu fado.

Neste álbum, criaste ou recriaste fados ao jeito tradicional, embora com letras ou músicas novas…

Sim. O «Labirinto ou Não foi Nada» tem letra de David Mourão-Ferreira mas a música é minha, uma música que eu compus com a estrutura de um fado tradicional, sem refrão. E chamei-lhe Fado Labirinto porque muitas das músicas de fados antigos onde podem caber várias letras diferentes assumem o nome da letra original - por exemplo, o Fado Cravo, do Alfredo Marceneiro, chama-se assim porque a letra original falava de um cravo.

O tema que dá nome ao disco, «Que Fado É Este Que Trago?», levanta uma questão curiosa: a música é do Yami, que é angolano. E há quem diga que o fado nasceu em Angola, viajando depois para o Brasil e do Brasil para cá…

Pois, mas este fado não tem nada a ver com isso. O Yami tem uma particularidade interessante: ele nasceu em Angola, filho de mãe angolana, mas o pai é minhoto. Mas, apesar de na sua maneira de tocar ele ter muitas raízes africanas, ele veio para Portugal muito novo e está muito integrado no meio do fado. Ele toca baixo com outros fadistas e comigo sempre. Em relação à origem do fado, acho que ele nasce a partir de uma série de outros estilos musicais que se encontram numa cidade portuária, Lisboa. E essas influências vêm de Angola, do Brasil - para onde nós também levámos muitas músicas -, Índia, Moçambique… e é bom não esquecer os 700 anos em que os mouros cá estiveram. E o fado é a convergência dessas melodias todas.

Neste álbum - à semelhança do que já acontecia no teu espectáculo «Maldito Fado» - há alguns instrumentos exteriores ao formato do fado: o acordeão e as percussões.

Sim, e o «Maldito Fado» - que esteve para ser este meu novo álbum, e gravado ao vivo - teve bastante influência na génese deste disco de estúdio. Os outros instrumentos… não são uma novidade - a Amália e o Carlos do Carmo fizeram-no - mas foi uma experiência que decidi fazer, porque são instrumentos vindos de outros géneros musicais. Como se fossem outras perguntas que eu faço.

16 fevereiro, 2009

Mercedes Peón - Concerto em Sines (Não, Ainda Não É o FMM)


A cantora, gaiteira e pandeireteira galega Mercedes Peón - uma das mais importantes figuras da renovação da música tradicional da Galiza - dá um concerto em Sines, na Av. Vasco da Gama - mesmo junto à praia -, a 24 de Abril, nas comemorações do 25 de Abril desta cidade alentejana. Aqui em baixo segue o texto de apresentação do concerto em Sines, já a deixar água na boca para o próximo FMM:

«Uma das grandes figuras da folk europeia, nomeada para os prémios de "world music" da BBC Radio 3 e merecedora de distinções por revistas como a Folkworld ou a Songlines, Mercedes Peón representa o melhor da música galega no século XXI: um conhecimento profundo da tradição e a mais contemporânea imaginação. Com raízes na cidade A Corunha, esta intérprete e compositora nascida em 1967 enche o palco com a sua voz, dança, gaita-de-foles e pandeireta. Três discos gravados ("Iusé", em 2000, "Ajrú", em 2003, e "Sihá", em 2007) e participação em mais de 300 festivais em todo o mundo, dão-lhe repertório e experiência para dar aquele que se adivinha vir a ser um dos concertos do ano em Sines».

12 fevereiro, 2009

3 Marias - O Novo Tango da Invicta!


Todas elas e também ele - Cristina Bacelar (guitarra e voz), Fátima Santos (acordeão), Sara Barbosa (contrabaixo) e Zagalo (percussão) - são já conhecidos de outros projectos musicais do Porto, mas agora estão todos reunidos num novo grupo, 3 Marias (e, acrescente-se, um «Manolo»), que tem o seu álbum de estreia com edição marcada para Março, com produção de Quico Serrano (Salada de Frutas/Bandemónio/Frei Fado d'El Rei, Plaza...). No seu myspace, as 3 Marias apresentam assim o projecto: «Sendo o Tango uma mistura de vários ritmos, de diferentes tendências dentro deste género musical, este novo projecto do Porto opta pelo tango canção, onde a letra tem a mesma relevância que a parte instrumental, aliás característica deste estilo musical. As canções são cantadas em espanhol em português ou até mesmo outros idiomas. Assim, sente-se neste trabalho as influências de recursos clássicos do próprio tango misturados com o flamenco, boleros e outros imaginários musicais. A guitarra, a voz, o acordeão, o contrabaixo ou percussão, são os instrumentos que acompanham este trabalho de fusão. O grupo é constituído por Cristina Bacelar (guitarra e voz), Fátima Santos (acordeão), Sara Barbosa (contrabaixo) e Zagalo (Percussão). Estes elementos surgem de outros projectos musicais, tais como Frei Fado d'el Rei, Musa ao Espelho e Mu». E, nas próximas semanas, o grupo vai apresentar-se em concerto no Auditório de Espinho (21 de Fevereiro), Encontros Alcultur, Lagos (6 de Março), Auditório Municipal de Lagoa (7 de Março), Teatro Constantin Nery, em Matosinhos (8 de Março) e Café Lusitano, Porto (11 de Março).

11 fevereiro, 2009

Morreu Cachaito - O Bater do Coração do Buena Vista Social Club


Orlando «Cachaito» López, o contrabaixista do Buena Vista Social Club, faleceu esta semana devido a problemas cardíacos - ele que era tido como o «pulsar do coração» do colectivo e de muitos discos a solo dos seus colegas do Buena Vista. Em homenagem à sua vida e à sua arte, a Megamúsica - distribuidora dos discos da World Circuit em Portugal - enviou-nos o texto que se pode ler em baixo e um link para o pequeno filme que se pode ver em cima: um ensaio de Cachaito com Miguel «Angá» Díaz, o percussionista do Buena Vista Social Club (também ele já falecido; em 2006).

«É com imenso pesar que comunicamos a morte de Cachaito López, vítima de paragem cardiaca aos 76 anos. Orlando Cachaito Lopez de seu nome completo, era baixista do projecto Buena Vista Social Club incluindo este último duplo cd ao vivo no Carnegie Hall editado no passado mês de Novembro. Cachaito López era considerado o(bater do) coração do BVSC e o único totalista, tocando em todos os CDs/LPs "Buena Vista Social Club presents... Omara Portuondo, Ibrahim Ferrer, Ruben Gonzalez, Guajiro Mirabal etc. Ultimamente integrava a Orquestra Buena Vista Social Club, a qual tinha aberto uma digressão europeia, para Abril e Maio, estando previsto 2 datas em Portugal. Para além de todos os discos BVSC em que participou, Cachaito tem um disco de originais, de título genérico "Cachaito", de 2001, em que o artista cruza o "son cubano" com a música electrónica, num trabalho, por alguns considerado experimental, mas verdadeiramente aclamado por todos. Eis a nossa homenagem neste "footage" enviado pela World Circuit».

06 fevereiro, 2009

Cacharolete de Discos - Boom Pam, Diego El Cigala e «Dancehall - The Rise of Jamaican Dancehall Culture»


Recuperando algumas críticas a discos originalmente publicadas na «Time Out Lisboa», aqui ficam os textos a propósito dos novos álbuns dos israelitas Boom Pam (na foto, de Yanay Nir) e do espanhol Diego El Cigala e a crítica à fantástica colectânea «Dancehall - The Rise of Jamaican Dancehall Culture».


BOOM PAM
«PUERTO RICAN NIGHTS»
Essay Recordings/Megamúsica

Ao segundo álbum, os israelitas, de Tel-Aviv, Boom Pam têm a sua fórmula única e original ainda mais bem apurada do que no seu, homónimo, disco de estreia, editado em 2006. A fórmula «instrumental» continua a mesma: Uzi Feinerman (guitarras eléctricas e, ocasionalmente, banjo, harmónica e voz), Yuval “Tuby” Zolotov (nas gordas linhas de baixo dadas por uma… tuba), Uri Brauner Kinrot (guitarras eléctricas e voz) e Dudu Kohav (bateria e percussões). Mas a fórmula «musical» vai agora ainda mais longe, juntando à sua original mistura de klezmer judaico, rebemtika grega, música cigana dos Balcãs, pitadas de especiarias árabes e turcas e, sempre!, o surf rock - e é bom não esquecer que o surf rock foi inventado por Dick Dale, guitarrista com raízes familiares na baía mediterrânica do Médio Oriente, daí aquele som que remetia para a Grécia, a Turquia, o Líbano mas que invadiu depois o rock'n'roll, dos Beach Boys aos Shadows, do Conjunto Mistério às bandas-sonoras dos filmes de Tarantino… -, outras sonoridades: o country & western (num divertidíssimo tema, «Shayeret Harohvim», cantado em hebraico por Maor Cohen mas coberto pelo esparguete enniomorriconiano), a música ranchera mexicana em «Ay Carmela» (em duas versões, uma instrumental, a outra cantada por Italo Gonzalez) e o ska e o dancehall jamaicanos adaptados ao eixo klezmer/Balcãs com a ajuda do fabuloso MC Tomer Yusef, dos conterrâneos Balkan Beat Box, seus irmãos na busca de uma klezmerização global). E, finalmente, os Boom Pam gravaram, no segundo álbum, o tema de rock'n'roll grego… «Boom Pam», que lhes deu a inspiração original, e que é sempre um dos momentos de maior festa dos seus concertos. (*****)


DIEGO EL CIGALA
«DOS LÁGRIMAS»
Cigala Music

A renovação do fado a que se tem assistido nos últimos anos em Portugal é muito semelhante ao que aconteceu, mas no caso espanhol com um avanço de muitos anos, com a reinvenção do flamenco. De Paco de Lucia a Niña Pastori, de Martirio aos Ketama ou, mais recentemente, dos Ojos de Brujo a Concha Buika, dos Son de La Frontera a Chambao, muitos - muitíssimos! - são os exemplos de cruzamentos do flamenco com muitos outros géneros musicais, insuflando-lhe assim uma nova vida e um novo sentido. Desde há uma década na linha da frente dessa mesma renovação, o cantor madrileno Diego El Cigala - cujos primeios álbuns de sucesso tiveram o dedo, na produção, de Javier Limón, o mesmo que tem produzido os últimos álbuns de Buika e o último de Mariza - chegou ao estrelato internacional com a sua aproximação muito própria do flamenco com a música latino-americana: o seu disco em parceria com o pianista cubano Bebo Valdés, «Lágrimas Negras» (produzido pelo realizador de cinema Fernando Trueba e editado em 2003) foi um sucesso estrondoso de vendas e de crítica. E, não por acaso, o novo álbum de Diego El Cigala, «Dos Lágrimas», continua de forma brilhante o seu namoro de flamenco com a música latino-americana - estão por lá, entre outros grandes clássicos, o tema «Dos Gardenias», numa versão arrepiante, os tambores afro-latinos em «Dos Cruces», o tango argentino em «Caruso»… E por aqui tocam músicos como o mítico percussionista cubano Tata Guines (falecido depois da gravação do disco, aos 77 anos) ou o grande pianista, também cubano, Guillermo Rubalcaba, para além de outras participações como o acordeonista francês Richard Galliano ou o vocalista da Vieja Trova Santiaguera, Reinaldo Creagh. Esta edição, de luxo, inclui ainda um livreto com uma extensa entrevista a Diego, curiosidades, as letras dos temas e muitas fotos. (*****)


VÁRIOS
«DANCEHALL - THE RISE OF JAMAICAN DANCEHALL CULTURE»
Soul Jazz Records

A contribuição - valiosíssima! - da Soul Jazz Records para o conhecimento e compreensão da música jamaicana das últimas décadas conhece agora um novo e inestimável capítulo: uma colectânea fabulosa que reúne mais de trinta temas que deram forma ao dancehall, género jamaicano que inicialmente pede emprestada a forma do reggae - e de outras músicas jamaicanas como o ska, o dub ou o rocksteady - mas o transforma em algo de mais carnal, mais visceral, mais violento, por oposição aos temas de intervenção política ou à cultura rastafari que o reggae enformava, e numa cena mais de DJs e de toasters do que de bandas e cantores. Não por acaso, com o correr dos tempos, o dancehall viria a tornar-se um irmão próximo do gangsta rap norte-americano e contribuiria, tal como este, para o aparecimento do reggaeton latino-americano, o kwaito sul-africano, o baile funk brasileiro ou o kuduro angolano. Mas, no princípio, o dancehall deu-nos autênticas pérolas musicais que em nada ficam a dever às melhores do reggae ou às dos tempos áureos do ska. E nesta colectânea estão cá quase todas, assinadas por nomes seminais como Yellowman, Eek a Mouse, Chaka Demus & Pliers, Ini Kamoze, Junior Murvin, General Echo, Gregory Isaacs ou Clint Eastwood (pois, não é o actor). E, acima delas todas, pelo menos na minha opinião pessoalíssima, três diamantes que qualquer pista de dança antiga ou actual, não pode desprezar: os temas «Chop Chop», de Cutty Ranks, «Trash and Ready», de Super Cat, e «Deaf Ears», de Early B, todos eles eivados de uma modernidade surpreendente. A evolução do dancehall para o ragga assistiria depois à emergência de estrelas internacionais como Shabba Ranks, Buju Banton ou Capleton, mas isso já é outra história, que decerto a Soul Jazz um dia irá contar. (*****)

04 fevereiro, 2009

Tradballs - Aniversário e Tertúlias no Braço de Prata


Em tempo de aniversário, o Tradballs começa hoje, dia 4, a apresentar as suas Tertúlias Trad - Encontros de Música e Dança no magnífico espaço da Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa. O programa:

«TERTÚLIAS TRAD
encontros de música e dança

1ªs e 3ªs quartas de cada mês, 22H00
Fábrica do Braço de Prata
Poço do Bispo - LISBOA

Quarta, 04 Fevereiro - sala prado coelho
c/ DJ Matt
Quarta, 11 Fevereiro - sala visconti
c/ Aurélien Claranbaux (na foto)
Quinta, 19 Fevereiro - sala visconti
Festa Aniversário Tradballs
Quarta, 04 Março - sala prado coelho
c/ Dj Matt
Quarta, 18 Março - sala prado coelho
c/ Celina da Piedade
Quarta, 01 Abril
c/ Dj Matt
Quarta, 15 Abril
c/ Dj Matt
Quarta, 29 Abril
c/ Dj Matt

entrada: 3 balls»

Nota: e se se consultar o site do Tradballs muitos outros bailes/concertos, e um pouco por todo o país, dedicados às danças tradicionais europeias irá encontrar...

03 fevereiro, 2009

A Festa dos Montes - Uma Monografia de Julieta Silva


Julieta Silva - que passou pelo GEFAC e, até há pouco tempo, pelos Chuchurumel, estando agora nos Diabo a Sete - é a autora de uma monografia sobre a Festa dos
 Montes
 (na foto, de Agostinho Sanches), que se realiza em Montes, concelho de Trancoso, no primeiro domingo do mês de Fevereiro. O livro é lançado esta semana, em Trancoso. E, para explicar o que é isto da Festa dos Montes, o melhor é deixar aqui o texto de apresentação do livro:

«A Festa dos Montes é um estudo etnomusicológico de Julieta Silva sobre a Festa do São Brás dos Montes [Montes, Trancoso]. Trata-se de um trabalho realizado no âmbito do Seminário Práticas Musicais Tradicionais em Portugal, sob a orientação da Doutora Maria do Rosário Pestana [Seminário integrado na Pós-Graduação em Estudos de Música Popular, com orientação científica da Doutora Salwa El-Shawan Castelo-Branco, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa].

A obra vai ser apresentada no dia 7 de Fevereiro [na véspera de mais uma edição da Festa do São Brás dos Montes], pelas 16h30, no Cine-Auditório Jacinto Ramos, em Trancoso. Será também apresentado o filme "A Batalha dos Montes", de Maria Lino e Zigud, sobre a mesma temática. O filme é uma edição Luzlinar.

O livro estará disponível, a partir da sua apresentação pública, através do sítio:
http://www.atrasdosbarrocos.com»

02 fevereiro, 2009

Biel Ballester Trio - De Woody Allen a... Lisboa e Portimão


O grupo catalão Biel Ballester Trio - que parte do jazz manouche inventado por Django Reinhardt para outros estilos como a bossa-nova ou a rumba - regressa a Portugal para dois concertos, dia 9 de Abril no MusicBox, em Lisboa, e um dia depois no Teatro Municipal de Portimão. Isto, depois de terem tocado com Woody Allen na estreia do filme que este realizador dedica à cidade de Barcelona, «Vicky Cristina Barcelona» (filme em que trio participa com dois temas para a banda-sonotra). O comunicado oficial:

«BIEL BALLESTER TRIO

Gypsy Jazz

Os Biel Ballester Trio são um grupo que se enquadra perfeitamente no mundo do jazz e que interpreta este estilo musical com uma personalidade muito própria através do chamado "Jazz Manouches". O que se pode afirmar do "Gypsy Jazz" é que se trata do estilo de jazz menos americano e do mais europeu de todos os que se interpretam no mundo.

Os Biel Ballester Trio têm dois temas de sua autoria no último filme realizado pelo mundialmente conhecido Woody Allen, "VICHY CRISTINA BARCELONA" (Scarlett Johanson, Javier Bardem e Penélope Cruz) temas esses que foram escolhidos pelo próprio woody Allen.

Como curiosidade o realizador fez questão de actuar com o grupo aquando da sua passagem por Barcelona para a apresentação e estreia do filme.

O grupo está ainda incluído na banda Sonora do CD com os dois temas do filme juntamente com outros artistas entre os quais Paco de Lúcia e Juan Serrano.

Em Portugal já actuaram em 2008 no Rota Jazz Trofa; Auditório de Lagoa; Festival MED (Loulé), Montemor-o-Novo, entre outros locais».