31 março, 2008

Tocar de Ouvido - O Encontro de Tocadores É em Maio


O Tocar de Ouvido - Encontro de Tocadores está de regresso entre 1 e 4 de Maio, em Évora. E, como a informação é longa, o melhor é mesmo citar o press-release na íntegra:

«Nesta edição estarão disponíveis as habituais oficinas de instrumentos, com algumas novidades: Viola Braguesa, Cavaquinho, Canto, Concertina (Cabo Verde), Gaita-de-fole, Harmónica, Rabeca (Brasil) e até uma oficina de Dança e várias actividades paralelas, com construção de instrumentos, colóquios, palestras, debates, bailes informais, mostra de artesãos e instrumentos e momentos musicais. O programa completo já está disponível no site e as inscrições estão abertas até 26 de Abril de 2008... O evento é organizado pelas associações Pédexumbo (Évora), Gaita-de-foles (Lisboa) e d'Orfeu (Águeda), com o apoio da Câmara Municipal de Évora. A edição deste ano receberá várias oficinas de aprendizagem deinstrumentos de todo o país e alguns músicos estrangeiros convidados...

Encontro de Tocadores
Portugal, um Retrato Musical

O Encontro de Tocadores regressa em 2008, com uma edição cheia de novidades e mais oficinas, para todos os públicos: Viola Braguesa e Cavaquinho, Gaita-de-fole, Concertina (Cabo-verde), Harmónica, Canto, Rabeca (Brasil) e até uma oficina paralela de Dança, dedicada aos repertórios das oficinas de instrumentos.

Oficinas e mais além
Para além destas oficinas, haverá actividades paralelas, inteiramente dedicadas à música: oficinas de Improvisação Musical, Construção de Instrumentos, actividades para crianças e Mostra de Artesãos e Instrumentos.

Mas o Tocar de Ouvido - Encontro de Tocadores, também é um espaço para pensar e aprender. Ao longo do programa haverá palestras, colóquios, mesas-redondas e "coisas que não lembram ao diabo": Palestra sobre Instrumentos de Corda, com Joaquim Domingos Capela; Recital Comentado "A Rabeca no Brasil", com Zé Gomes; mesa-redonda sobre a construção de instrumentos musicais, com algumas das principais referências portuguesas desse âmbito; mesa-redonda sob o tema "Portugal, Um Retrato Musical", dedicada às grandes transformações ocorridas em Portugal nos últimos 30 anos - e a sua influência nas práticas musicais; com Domingos Morais, Julieta Silva, Eduardo Paes Mamede, entre outros.
E ainda, as "Conversas Debaixo do Radar - Coisas que Não Lembram ao Diabo", sobre aqueles fenómenos marginais ou polémicos da música, que geralmente passam despercebidos para o grande público.

Os Bailes: Regresso ao Terreiro
E como não podia deixar de ser, os bailes informais nocturnos são o grande momento de encontro, improviso, dança e convívio de todos os Tocadores e do público. É no Terreiro que se fazia a música das aldeias; é no Terreiro que se volta a fazer música, pela mão de todos os que visitam os Tocadores. Momentos de verdadeira euforia, onde se registaram alguns dos melhores momentos de criação musical deste evento, nas suas sucessivas edições.

Os Cordofones, os Gaiteiros e o poder das Vozes
A oficina de Viola Braguesa e Cavaquinho procura recuperar as velhas formas de tocar este instrumento, para salvá-lo do seu declínio técnico; embora haja cada vez mais pessoas a tocá-lo, poucas conhecem a fundo as suas técnicas e segredos. Nesta edição, talvez surja um novo grupo de pessoas dispostas a aprender e a transmitir conhecimentos, o que iniciará algo maior, com consequências para lá deste evento. Esse é, pelo menos, o objectivo.

Na oficina de Gaita-de-fole estará presente João da Pena, um gaiteiro oriundo de Cantanhede. A Beira Litoral é uma das regiões do país onde há mais registos de uma prática continuada e original do instrumento, com características próprias e um grande número de Gaiteiros e Gaitas-de-fole a povoar os espaços e os momentos da vida de todos os dias. No entanto, o grande público ainda desconhece essa realidade, habituado que está a pensar a Gaita-de-fole como exclusiva do Minho ou do Nordeste Transmontano.

Na oficina de Canto, pela mão da maestrina Paula Coimbra, trabalhar-se-ão os registos das vozes, individuais e em conjunto, para explorar a enorme riqueza dos cantos polifónicos, uma prática musical em que Portugal é inusitadamente rico, em comparação com outros países europeus.

A "Gaita de Beiços" e a outra face do Alentejo
No Alentejo a música é, ou era, verdadeiramente popular: para além dos sobejamente conhecidos coros alentejanos, tão propagados nos Media, é abundante o uso de instrumentos como a Harmónica, ou "Gaita de Beiços".
Uma boa parte do repertório dos bailes e canções alentejanas era feito ao som desse instrumento, que por ser um instrumento muito popular e difundido em todo o Mundo, não captou, talvez, as atenções dos mais interessados em instrumentos e práticas musicais "exóticas". E no entanto, este universo contém práticas musicais riquíssimas, mal conhecidas e a explorar. Na edição deste ano está prevista a inclusão de uma oficina de Harmónica, com a vantagem de este instrumento ser relativamente fácil de encontrar, a preços razoáveis, em qualquer loja de música - o que fará desta uma oficina para todos.

Dançar: o corpo é música
A oficina de Dança desta edição visa recuperar a vivência dos géneros musicais e dos repertórios ensinados nas oficinas de instrumentos, através da dança. Em muitos casos, essa era a primeira função dos instrumentos e das músicas dos Tocadores: proporcionar o Baile, o espaço comum de convívio, interacção e festa das comunidades.
No caso dos repertórios "tradicionais", pertencentes a práticas musicais em declínio, é comum observar a degradação das estruturas musicais, por desconhecimento dos contextos em que eram tocados, porque os tocadores desconhecem a coreografia associada à música, a sua razão de ser e porque se tocava de um modo e não de outro.
Por isso mesmo, a oficina de Dança pretende estudar os repertórios das oficinas, levar os bailadores a interagir com os músicos e vice-versa. Para que todos aprendam com todos.

Alentejo encontra Brasil: Chico Lobo & Pedro Mestre e seus Mestres: Manuel Bento & Nelson Jacó
No dia 3, Sábado, a partir das 15:00 horas, o Tocar de Ouvido recebe a visita de convidados especiais: os Mestres Manuel Bento (Viola Campaniça) e Nelson Jacó (Viola Caipira) e os seus pupilos, Pedro Mestre e Chico Lobo, respectivamente, num recital ou concerto comentado, sobre as sonoridades destas duas Violas, de Portugal e do Brasil. De Portugal e do Brasil cruzam-se também duas gerações de Tocadores, que criaram e hoje recuperam as vivências destes instrumentos, outrora quase abandonados. O momento a que se assistirá é no mínimo, histórico. A globalização também tem consequências (muito) positivas.

Cabo Verde e Brasil: novos velhos sons
Na edição deste ano, o Tocar de Ouvido tem dois convidados muito especiais.

O primeiro é Julinho da Concertina, músico Cabo-verdiano residente em Portugal, que trará os sons da "Gaita" (como a concertina é chamada em Cabo Verde), e do Ferro (idiofone de metal que acompanha a música da concertina). Virá para ensinar as músicas Cabo-verdianas e dar a conhecer a convivência de diferentes géneros musicais nessa parte do mundo, que mistura influências europeias e africanas.
A sua presença nesta edição é uma marca das transformações que mudaram Portugal nos últimos 30 anos: a transformação do mundo rural, o crescimento do espaço urbano, a descolonização, a emigração, a imigração, as mudanças nos consumos musicais das cidades e dos campos e a vinda de novos géneros musicais e novos tocadores. Novos sons, num país em mudança, cada vez mais cosmopolita, mas em que vale a pena (re)descobrir a memória musical: a sua, de mão dada com as outras.

Outro convidado é Zé Gomes, reputado músico brasileiro, que há muitos anos estuda e trabalha o repertório das regiões rurais mais esquecidas do Brasil e onde a influência da colonização portuguesa nas formas musicais perdura até hoje, sob a forma da Rabeca (o seu instrumento de eleição), mas também numa extensa família de Violas, com uma grande variedade de formatos e sonoridades.

A oficina de Rabeca é especialmente dedicada a todos os instrumentistas de Violino ou Viola de Arco (instrumentos da mesma família da Rabeca), que em Portugal se dedicam sobretudo ao estudo da música erudita, em Conservatórios e Academias espalhadas pelo país - mas que desejam alargar os seus horizontes e descobrir novos e riquíssimos universos musicais.

O Tocar de Ouvido abre-se assim ao Mundo, para melhor dar a conhecer as músicas (quase) esquecidas de Portugal e de outros lugares, onde porventura se preservou, recriou e cresceu uma parte da sua memória musical».

Mais informações aqui.

28 março, 2008

Festival Sons e Ruralidades... E o «Folk-Lore» de Tiago Pereira


Ainda não há muitos pormenores sobre a edição deste ano do festival, mas o programa musical já é conhecido: de 1 a 4 de Maio, em Vimioso, Trás-os-Montes, decorre o 3º Sons e Ruralidades, que incluirá concertos dos Mosca Tosca e dos Trasgo (dia 2), dos Pé na Terra e dos espanhóis Mayalde (dia 3), incluindo ainda o festival uma feira de burros, oficinas, palestras e a estreia do novo projecto do realizador Tiago Pereira (na foto), o vídeo-magazine «Folk-Lore». Deste novo projecto, o melhor mesmo é dar a palavra a Tiago Pereira (o mesmo dos filmes «Arritmia» e «11 Burros Caem no Estômago Vazio», entre outros): «Um realizador de vídeo guarda imagens; elas são o seu material de trabalho. Depois entretém-se com elas: corta, cola, mistura, faz andar p’rá frente, p’ra trás… A ideia é contar histórias, as dos outros e a sua. Tiago Pereira, realizador de vídeo com mais de cem horas de recolhas vídeo gravadas, decidiu dar-lhes uso, usando-as de forma livre e criativa. Se as recolhas ficarem na fita ou no computador (hoje as gavetas já pouco guardam) seremos uns monstros que comem tradições mas não as digerem, não as transformam. É urgente usar as tradições e transformá-las para que não fiquem nas barrigas dos monstros. O resultado de tudo isto chama-se Folk-Lore Vídeo Magazine, um vídeomagazine trimestral sobre cultura popular. O primeiro sairá a 2 de Abril e o tema central serão as relações da dança com a Igreja. Estão convocados Benjamim Pereira, Padre Fontes, Tiago Pereira, Tia Toneca, D. Maria, Pedro Mestre e população da aldeia de Sete (em Castro Verde), senhoras de Vilar de Perdizes e Saca Sons (grupo de mulheres da Zebreira, Idanha-a-Nova). Folk-Lore Vídeo Magazine contará ainda com animações de Manuela Gandra e Inês Ramos». Mais informações sobre o Sons e Ruralidades aqui e aqui. As imagens do «Folk-Lore» estarão disponíveis aqui e aqui.

27 março, 2008

Angélique Kidjo, Sally Nyolo e Dobet Gnahoré - Vozes da Mãe-África


Vozes femininas africanas - e muito boas! - há-as às mãos cheias. E nem sequer vale a pena fazer aqui uma lista que justifique a afirmação. Mas nessa lista têm que ser incluídas, obrigatoriamente, as três cantoras de que se fala aqui hoje: Sally Nyolo, Dobet Gnahoré e a diva Angélique Kidjo (na foto).


ANGÉLIQUE KIDJO
«DJIN DJIN»
Razor & Tie

Nascida no Benim, mas há muito radicada em França e, posteriormente, nos Estados Unidos, Angélique Kidjo é um dos nomes mais bem conhecidos da música africana. Vencedora de vários Grammys, colaboradora de gente como o saxofonista Branford Marsalis, Carlos Santana (ambos presentes como convidados em «Djin Djin»), Dave Matthews Band ou Cassandra Wilson, fundadora da Batonga Foundation - organização que ajuda na escolarização de raparigas africanas -, Kidjo atinge no seu novo álbum «Djin Djin» um nível de estrelato, mais que merecido!, difícil de igualar. Como produtor tem o lendário Tony Visconti (que produziu alguns dos discos de maior sucesso de David Bowie, por exemplo). E ao seu lado, como convidados de luxo, estão os já referidos Branford Marsalis e Carlos Santana e também Alicia Keys, Joss Stone, Peter Gabriel, Amadou & Mariam - num tema lindíssimo, «Senamou (c'est l'amour)», que podia perfeitamente pertencer ao reportório do casal maliano -, Josh Groban, Ziggy Marley, Youssou N'Dour e Keziah Jones. O alinhamento do álbum inclui muitos originais compostos por Angélique Kidjo e pelo seu marido, o produtor e compositor Jean Hebrail, ou co-compostos com alguns dos convidados (como «Salala», com Peter Gabriel), mas também algumas versões surpreendentes como «Gimme Shelter» (dos Rolling Stones), «Pearls» (de Sade Adu) ou uma curiosíssima versão do «Bolero» de Ravel, aqui com letra cantada, baptizado como «Lonlon». E, musicalmente, tudo isto resulta como se esperaria pelo que antes ficou mais ou menos explícito: um álbum variadíssimo, com os pés bem assentes na música africana mas com um cosmopolitismo global digno de nota e de um bom-gosto irrepreensível (9/10).


SALLY NYOLO
«MÉMOIRE DU MONDE»
Cumbancha/Tumbao

Igualmente um nome de topo da música africana, a cantora camaronesa Sally Nyolo - que fez coros para o rocker francês Jacques Higelin e para Touré Kunda antes de integrar as famosíssimas Zap Mama, em 1993 - lançou-se numa profícua carreira a solo em 1996. Carreira que chega agora ao seu quinto álbum em nome próprio, este «Mémoire du Monde», um disco em que Sally continua a usar como base o bikutsi (ritmo tradicional dos Camarões) mas de uma forma viva e inventiva, misturando-o com reggae (como no tema de abertura, «Mamiwata»), jazz, rock, funk, blues e até o hip-hop (cf. em «Messima Remix», remisturado por Imhotep, do grupo rap francês IAM). Quase inteiramente composto por Sally Nyolo, cantado em eton (a sua língua-mãe), francês e inglês, usando muitos instrumentos eléctricos mas também instrumentos africanos (percussões, balafons...), «Mémoire du Monde» foi gravado em Yaoundé - a capital dos Camarões, onde Sally tem o seu estúdio, o mesmo que foi usado para a gravação de «Studio Cameroon», a sua colectânea de artistas camaroneses emergentes - e em Paris e nele colaboraram Sylvie Nawasadio (sua ex-companheira nas Zap Mama), o guitarrista Sylvain Marc (de Madagáscar) e um grupo de cantores pigmeus. «Mémoire du Monde» é um álbum que escorre África por todos os lados, ao mesmo tempo que contém variadíssimos elementos exteriores que nunca se sobrepõem à raiz - uma raiz firmemente plantada na (sua) terra pela compositora Sally Nyolo. (8/10)


DOBET GNAHORÉ
«NA AFRIKI»
Contrejour/Tumbao

A cantora marfinense Dobet Gnahoré - de que este blog falou aquando da sua passagem pelo Porto, integrada no projecto Acoustic Africa (ao lado de Habib Koité e Vusi Mahlasela) - é outro nome, justíssimo, a juntar a este rol. E embora menos conhecida do que as outras duas, a sua curta carreira é já suficientemente rica para que, mais cedo ou mais tarde, seja uma das mais «incontornáveis» cantoras africanas. Dona de uma voz fabulosa e poderosíssima, Dobet canta em várias línguas - dida e guéré (Costa do Marfim), wolof (Senegal), mandinga (Mali), xocha (África do Sul), fon (Benim), lingala (Congo) e árabe, para além de uma breve incursão na língua dos pigmeus -, numa declaração de amor absoluto à variedade linguística, cultural e musical da Mãe África. E a sua música - Dobet Gnahoré é também a principal compositora dos temas deste álbum, juntamente com o seu marido e guitarrista Colin Laroche de Féline - vai no mesmo sentido, integrando géneros que têm a sua origem em vários pontos do continente. E, embora as guitarras e os baixos eléctricos também por aqui andem, nunca se imaginaria que esta música pudesse ter outra origem que não África, uma África-bonsai concentrada na música de uma única cantora. O que até não será de estranhar se se pensar que Dobet cresceu na mítica comunidade artística Ki-Yi M'Bock (o pai de Dobet, percussionista, foi um dos fundadores da comunidade), nos subúrbios de Abidjan, onde viviam mais de cinquenta artistas africanos de diversas origens e nacionalidades. Vale bem a pena conhecê-la! (9/10)

26 março, 2008

Festival Mestiço - Com África, Balcãs, América Latina e Jamaica


E mais uma excelente notícia sacada às Crónicas da Terra: o Festival Mestiço volta a ocupar a Casa da Música, no Porto, com uma programação variadíssima e aberta a muitas músicas. De 26 a 29 de Junho, com concertos da orquestra balcânica do sérvio Boban Markovic e da festa electro-latina de Señor Coconut com o crooner Louie Austen como convidado (no dia 26); do brasileiro Marcelo D2 e de um dos nomes de ponta do kuduro e da tarrachinha angolanos, MC K (dia 27); da música com raízes na Jamaica de Toots & The Maytals e The Dynamics (dia 28); e uma dose-tripla de música africana com os Extra Golden (Quénia/Estados Unidos), os moçambicanos Timbila Muzimba e a música extraordinária e lindíssima do casal maliano Amadou & Mariam, na foto (dia 29). Mais informações aqui.

25 março, 2008

Cachao - Morreu Um dos Reis do Mambo


O contrabaixista e compositor cubano Israel «Cachao» López, um dos inventores do mambo, morreu este fim-de-semana em Coral Gables, na Flórida, Estados Unidos. Tinha 89 anos e deixou atrás de si um rasto de centenas de canções compostas por ele - a solo ou em parceria com o pianista e violoncelista Orestes López, seu irmão. A aceleração, inventada por Chachao e Orestes, do ritmo tradicional cubano danzón daria origem ao mambo ainda nos anos 30 do séc.XX - o mambo que, por sua vez, estaria na origem da salsa e de outros ritmos modernos cubanos. Outra inovação de Cachao foi a introdução das «descargas» nos anos 50: as «descargas» eram jam-sessions em que os músicos misturavam ritmos afro-cubanos, canções tradicionais cubanas e jazz, um «cocktail» que viria a influenciar a salsa mas igualmente muito do jazz latino que se seguiria. Morreu uma lenda.

24 março, 2008

Fest-i-Ball - Em Lisboa Também Se Dança


Os amantes das danças tradicionais têm este fim-de-semana uma boa oportunidade para desenferrujar as pernas e dar corda aos sapatos (ou não-sapatos) durante a quinta edição do Fest-i-Ball, que decorre de 28 a 30 de Março no Teatro da Luz, em Carnide, Lisboa. Durante os três dias de festival há workshops de tango e concertos/bailes dos Tanira e Dancing Strings (dia 28); workshops de saltos bascos, danças dos Ribatejo, danças a pares, danças portuguesas e gaita-de-foles e concertos/bailes dos No Mazurka Band e dos belgas Naragonia (dia 29; na foto); workshops de expressão corporal, danças búlgaras, «ceili dances», e acordeão diatónico e concerto/baile dos Naragonia (dia 30). Mais informações aqui.

20 março, 2008

Cromos Raízes e Antenas XLI


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XLI.1 - José Afonso


José Afonso - mais popularmente conhecido como Zeca Afonso - foi, provavelmente, o mais importante cantor e compositor português do século XX. José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (nascido em Aveiro, a 2 de Agosto de 1929, falecido em Setúbal, a 23 de Fevereiro de 1987) foi um compositor musical atentíssimo a muita música que o rodeava - do fado de Coimbra à música moçambicana, das canções beirãs ao cante alentejano... -, criando uma música nova em que as suas palavras - ele também um poeta criativo, vanguardista, interventivo - tinham igualmente um peso extraordinário. Do seu álbum «Cantigas do Maio», editado em 1971, foi retirada a senha para a revolução de 25 de Abril de 1974: «Grândola, Vila Morena». E ele próprio - fortemente activo politicamente desde quase o início da sua carreira musical - tornou-se também um símbolo da revolução.


Cromo XLI.2 - Konono Nº1


Nascidos há cerca de trinta anos em Kinshasa, no Congo, tendo como membro fundador o músico Mawangu Mingiedi, os Konono Nº1 são um grupo de músicos, cantores e dançarinos cuja música se baseia nas tradições da etnia Bazombo - que habita numa zona próxima de Angola - mas com a particularidade de muitos dos seus instrumentos serem electrificados, nomeadamente os seus emblemáticos likembés (kissanges ou m'biras). Outros elementos imediatamente identificativos do seu som são os seus microfones rudimentares e os seus sistemas de amplificação (feitos a partir de pedaços de automóveis ou velhos altifalantes de rua), que contribuem igualmente para uma música de transe, repetitiva, eléctrica, originalíssima. O álbum «Congotronics» (Crammed, 2005) projectou-os para a ribalta internacional e Bjork convidou-os para colaborar com ela no álbum «Volta».


Cromo XLI.3 - June Tabor


Figura maior da música folk britânica, June Tabor (nascida a 31 de Dezembro de 1947, em Warwick, Inglaterra) iniciou a sua carreira em 1972 e, partir daí, nunca mais deixou de encantar o mundo com a sua voz pessoalíssima e a sua arte aberta a várias músicas que ela escolhe, sempre!, a dedo: a folk britânica, sim, mas também a canção francesa, standards de jazz e algum rock de bom-gosto, que ela reinventa e reinterpreta como ninguém. A solo - ou em grupos e parcerias como as Silly Sisters (ao lado de Maddy Prior), com o grupo de folk-rock Oysterband ou no projecto The Big Session (com a Oyster Band e outros músicos e cantores ingleses e norte-americanos) - a sua voz e a sua presença são sempre luminosas e marcantes. E a sua música, da melhor que alguma vez se pôde ouvir vinda da folk feita nas ilhas britânicas. Audição aconselhada: a caixa «Always» (2005).


Cromo XLI.4 - Tarnation


Apesar de antes e depois dos Tarnation, a cantora - e mentora, líder e principal compositora do grupo - Paula Frazer ter uma carreira em nome próprio, a verdade é que foi com este grupo, formado em San Francisco, em 1992, que ela se deu a conhecer em toda a sua plenitude musical. Apenas com três álbuns no curriculum - «I’ll Give You Something To Cry About» (1993), «Gentle Creatures» (1995) e «Mirador» (1997) -, estes discos chegaram para estabelecer os Tarnation como um dos grupos de ponta da renovação da country nos Estados Unidos; uma country infectada pela música mexicana, as bandas-sonoras de Ennio Morricone para westerns e algum rock alternativo. Tudo enfeitado pela voz única e pessoalíssima de Frazer. E, embora tenha continuado com uma carreira a solo de sucesso, Frazer «ressuscitou» de algum modo a ideia da banda no seu álbum «Now It's Time» (2007), assinado Paula Frazer and Tarnation.

19 março, 2008

Sky Fest - Entre a Terra e o Céu


Felizmente, o circuito de concertos e festivais dedicados à chamada world music está cada vez mais alargado. Desta vez, e novamente via Crónicas da Terra, chega a notícia de um novo festival, o Sky Fest, que inclui concertos de jazz, blues e world music, no Casino de Lisboa, com variadíssimos artistas e grupos nacionais e estrangeiros. A programação, bastante interessante, é como segue: 7 de Abril - Olissipo Eléctrico (jazz fusão) e Rosa Negra (world music); 8 de Abril - Jazz Me Brown (jazz) e O'QueStrada (fado ska), 9 de Abril - Dâna (world music) e The Soaked Lamb (blues); 10de Abril - James Cotton (blues), Madame Godard (jazz fusão) e Nancy Vieira (world music); 11 de Abril - Gonzalo Rubalcaba e Jacinta (jazz), Sweet Vandals (jazz fusão) e Lady G Brown & Dr.Bastard (electro world music); 12 de Abril - Estrella Morente (world music; na foto), Sara Valente (jazz) e Deolinda (world music); 13 de Abril - Canto da Terra (world music) e Tango Crash (electro world music). O festival inclui também exposições e projecção de telediscos. Mais informações aqui.

18 março, 2008

Homenagem às Vozes de Abril (Ou... Ainda É Possível Cantar a Liberdade?)


Os leitores deste blog sabem que não é comum eu vir para aqui falar de questões políticas. Às vezes acontece (como já aconteceu...), mas é raro. Mas também não escondo as minhas convicções e as minhas ideias, muitas delas comuns às de muitos links que tenho no fundo desta página, links chamados «Boas Causas» - e se lá estão por alguma razão é. Mas a verdade é que, por vezes, me apetece mesmo pôr a música de lado e falar sobre coisas que me preocupam como, desta vez, a minha - e de muita gente! - crescente sensação de que estamos, cada vez mais, a viver num país cujo Estado se está a aproximar perigosamente de um estado repressivo, policial, ditatorial. A «lei do tabaco», a ASAE, a ideia peregrina da proibição de piercings e tatuagens, a visita de polícias a escolas, a propagação da ideia de que os lugares vigiados por câmaras são mais seguros, o novo cartão de identificação electrónico, etc, etc, são apenas exemplos de como as liberdades individuais de cada pessoa estão cada vez mais a ser postas em causa. E é por isso - sim!, vamos acabar por falar de música - que é importante que haja, que haja ainda, concertos como o que vai decorrer, dia 4 de Abril, no Coliseu dos Recreios de Lisboa: a «Homenagem às Vozes de Abril», promovida pela Associação 25 de Abril e que, segundo a agência Lusa, juntará no mesmo palco José Mário Branco, Luís Cília, Vitorino, Waldemar Bastos, Brigada Victor Jara, Carlos Alberto Moniz, Carlos Mendes, Ermelinda Duarte, João Afonso, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Janita Salomé, Tino Flores, José Jorge Letria e Manuel Freire, entre outros, e ainda «as bandas dos três ramos das forças armadas». O espectáculo - que também servirá para recordar José Afonso e Adriano Correia de Oliveira - será transmitido pela RTP no dia 25 de Abril. Será que algum dos nossos governantes estará lá no meio do público?

17 março, 2008

Coimbra em Blues - Os Sacerdotes e Os Acólitos


Os blues são uma religião estranha. Uma religião em que se encontram, ou se encontraram, se cruzam, ou se cruzaram, feiticeiros africanos das margens do Niger, xâmanes de voodoo, pastores evangélicos do Mississippi, pregadores lunáticos do fim do mundo e dos vários graus do pecado... e de todo mal que se pode encontrar em casa ou no fundo de uma garrafa. Pactos faustianos, relatos de sessões de sexo contra a parede ou histórias de crimes sangrentos e de traições amorosas fazem parte dos evangelhos do género. Aliás, como de quase todos os outros evangelhos conhecidos.

E, na sexta edição do Coimbra em Blues, no Gil Vicente, houve sacerdotes - e até uma sacerdotiza - de variadíssimas tendências dos blues, uns blues que se podem encontrar em todo o lado: dos Estados Unidos a Portugal, de África a Inglaterra. E para a primeira celebração, a abrir o festival, veio da América o lendário guitarrista Gary Lucas que, juntamente com os Dead Combo - os primeiros acólitos valorosos dos muitos que se seguiriam -, deu um concerto inesperado e fabuloso: com as guitarras de Lucas em primeiro plano (principalmente quando ele se atirava a solos na sua guitarra-dobro National) e a guitarra de Tó Trips e o contrabaixo de Pedro Gonçalves a acompanhar, os blues tomaram uma dimensão diferente e fizeram-se muitas outras músicas, soando por vezes a Carlos Paredes em ácidos, de outras a Morricone em transe índio, de outras ainda a Jeff Buckley sem a voz (e aqui já era mais fácil ter essa sensação: Gary Lucas e os Dead Combo interpretaram dois temas co-compostos por Lucas com Jeff Buckley: «Mojo Pin» e «Grace»). Na segunda noite, a dupla inglesa de cantores e guitarristas Steve Morrison e Billy Jenkins deu outro espectáculo fantástico, com Jenkins a servir de sacerdote - ele é o padre que benze o público no início do espectáculo, ele é o guitar-hero frenético, ele é o cantor da voz profunda e grave e por vezes assustadora - e Morrison de acólito perfeito - ele é o contraponto de suavidade, de calma e lirismo. E os dois, separados ou em uníssono, resultam incrivelmente bem. Uma ligação que, infelizmente, não aconteceu no concerto seguinte, o dos Afrissippi, projecto que junta o cantor e guitarrista (semi-senegalês, semi-mauritano) Guelel Kumba com vários músicos norte-americanos, todos eles em busca das raízes dos blues algures na zona mandinga. Raízes que estão lá - e basta ouvir Ali Farka Touré, os Tinariwen ou Afel Bocoum... - mas que aqui, nos Afrissippi, soam mais a tese do que a música verdadeira. Kumba canta em fulani, a sua música é feita de muitas músicas antigas africanas, as pontes com os blues estão lá, bem nítidas, mas os acólitos puxam sempre aquilo para os blues-mesmo-blues e há ali quase sempre uma certa sensação de artifício e de união mal resolvida. Mas se, nos Afrissippi, o artifício incomoda, o mesmo artifício é incrivelmente bem-vindo no concerto que abre a noite seguinte: o de Ruby Ann (ela que, em Coimbra, liderava os Boppin'Boozers), cantora e compositora portuguesa agora radicada em Paris. Sacerdotiza, patroa, pin-up e excelente entertainer, Ruby Ann e os seus fantásticos músicos serviram um festim de blues, rock'n'roll, rockabilly, country, vaudeville, tudo junto ou separado, e até uma versão de um tema de Patsy Cline. A festa estava lançada. Uma festa que continuaria, em grande, com o cantor e muitíssimo bom guitarrista - ele, que constrói as suas guitarras, seja um «guinjo», mistura de banjo com guitarra eléctrica, ou uma guitarra de lata feita a partir de uma caixa de tabaco - Super Chikan (na foto). Viajando por várias frentes dos blues - das mais clássicas aos seus cruzamentos com o rock (ele raiou os limites do... heavy-metal!) ou do funk (ele raiou os limites do... disco-sound!), e muitas vezes em distorções hendrixianas, Chikan deu um espectáculo memorável, festivo, incrivelmente bem-disposto e onde foi muito bem acolitado por uma teclista incendiária e um inesperado convidado na harmónica: um rapaz francês branquinho que toca aquilo como se tivesse nascido no sul dos Estados Unidos e fosse mais negro que o carvão. Inesquecível!

13 março, 2008

A Naifa - A Cortar Pela Terceira Vez


Depois dos (excelentes) álbuns «Canções Subterrâneas» e «3 Minutos Antes de a Maré Encher», A Naifa edita agora um novo álbum, «Uma Inocente Inclinação Para o Mal», desta vez - e ao contrário dos anteriores, em que apostou na divulgação de variadíssimos novos poetas portugueses - recorrendo apena à poesia de um único autor, a escitora Maria Rodrigues Teixeira. O novo álbum d'A Naifa - Mitó (voz), Luís Varatojo (guitarra portuguesa), João Aguardela (baixo eléctrico) e Paulo Martins (bateria) - tem como primeiro single a canção «Filha de Duas Mães», sendo os restantes temas «Um Feitio de Rainha», «Na Página Seguinte», «Esta Depressão Que Me Anima», «Um Rapaz Mal Desenhado», «Dona de Muitas Casas», «O Ferro de Engomar», «Apenas Durmo Mal», «Pequenos Romances», «Na Aula de Dança», «O Ar Cansado dos Meus Vestidos», «Nas Tuas Mãos Vazias», «Uma Ligeira Indisposição» e «Apanhada a Roubar». O álbum estará disponível, a preço de lançamento, a partir de dia 15 de Março (depois de amanhã), nas bilheteiras dos teatros por onde vai passar a digressão de apresentação. Uma digressão que tem datas marcadas para Abril - Coimbra (Teatrão, dias 3 e 4), Horta (Cine-Teatro Faialense, dia 5), Guarda (Teatro Municipal, dia 11), Tondela (ACERT, dia 12), Lisboa (Teatro Maria Matos, dias 18 e 19), Sesimbra (Fortaleza de Santiago, dia 24) e Portalegre (CAE, dia 26) - e Maio - Santarém (Teatro Sá da Bandeira, dia 3), Águeda (Cine-Teatro S. Pedro, dia 9), Setúbal (Fórum Luísa Todi, dia 10), Moita (Fórum J.M. Figueiredo, dia 16), Montemor-o-Novo (Cine-Teatro Curvo Semedo, dia 17), Loulé (Convento de Sto. António, dia 23), Aveiro (Teatro Aveirense, dia 30) e Braga (Theatro Circo, dia 31). Mais informações aqui.

12 março, 2008

Uma Casa Portuguesa Com Perfume Escandinavo


Segundo mais uma excelente notícia avançada pelas Crónicas da Terra, a Casa da Música, no Porto, vai acolher um festival - Uma Casa Portuguesa, que decorre de 15 a 18 de Maio - em que junta projectos musicais portugueses com músicos nórdicos, festival inserido na temática alargada deste ano na Casa da Música: Focus Nórdico. Com concertos dos Realejo e de Rão Kyao, nas flautas, com o saxofonista norueguês Karl Seglem (na foto), o guitarrista José Peixoto e o percussionista Ruca Rebordão (dia 15); dos Galandum Galundaina e do quarteto vocal sueco Kraja (dia 16); dos Toques do Caramulo e do duo da fabulosa cantora finlandesa Anna Kaisa-Liedes com Timo Vaananen, no kantele electrificado (dia 17); de Júlio Pereira e do duo de música tradicional dinamarquesa Haugaard & Hoirup (dia 18). Mais informações aqui.

11 março, 2008

Leonard Cohen - O Regresso a Portugal (E ao Mundo)


A notícia de hoje do Raízes e Antenas não é muito alargada (mas basta a imensidão da obra e da vida do seu protagonista para que seja uma GRANDE notícia): depois de quinze anos de afastamento dos palcos internacionais - quinze anos em que se isolou num mosteiro budista (ele, que é judeu de nascimento!), em que redescobriu o amor (ele, que de relações falhadas fez a maior parte do seu cancioneiro!) e em que se apaixonou pelo prazer de compor e fazer música com outras pessoas (ele, o solitário-mor!) -, o mestre canadiano da folk Leonard Cohen volta a fazer uma grande digressão internacional e, agora a notícia, dá um concerto em Lisboa, dia 19 de Julho. Segundo as fontes consultadas pelo R&A - o Juramento Sem Bandeira e o Grandes Sons - ainda não há local definido para o concerto, se bem que se fale da Gare Marítima de Alcântara. Só uma nota: vi-o, ao Leonard Cohen, em meados dos anos 80, acompanhado por uma banda quase de hard-rock manhoso, numa noite de Carnaval. Eu, que amava as suas canções quase acima de todas as outras, odiei o concerto! Mais de vinte anos depois, estou disposto a fazer as pazes... Assim ele o permita!

10 março, 2008

No Data - Electro-World (Made in Portugal)


Os No Data - duo de Carlos Maria Trindade (nome que tem atravessado vários grupos fundamentais da música portuguesa como os Corpo Diplomático, Heróis do Mar e Madredeus, autor de raros mas preciosos momentos a solo - como o inesquecível álbum «Mr. Wollogallu», em que havia temas dele e de Nuno Canavarro - e produtor de mérito, desde os Xutos & Pontapés a Paulo Bragança ou Mariza, entre outros) e de Luís Beethoven (que pertenceu a duas bandas míticas do electro-pop nacional nos anos 80: os Ópera Nova e os FAS - Fantásticos Abridões da Selva) - acabaram de editar o seu segundo álbum, «Carrocel do Mundo», nova etapa de uma viagem global em que convivem as electrónicas, a pop e alusões a várias músicas de raiz (ritmos latino-americanos, guitarra portuguesa, acordeão, cantares tradicionais africanos...). Sucessor de «Música Naive» (lançado em 2006), «Carrocel do Mundo» é editado pela Som Livre e na gravação do álbum participaram também - para além de Carlos Maria Trindade e Luís Beethoven - Augusto Sanchez (programação, teclas, guitarra eléctrica e voz), João Lima (guitarra portuguesa e voz), Nicole Eitner (voz e teclas) e Gustavo Roriz ( baixo eléctrico e contrabaixo). Todos juntos, os seis músicos compuseram e gravaram os quinze temas presentes em «Carrocel do Mundo», temas repartidos em, segundo os seus autores, cinco «micro-estilos»: «7 Canções de amor e esperança», «3 Canções psico-electrónicas», «2 Canções mundanas», «2 Instrumentais» e «1 Dance floor».

Nota: este post tem elementos recolhidos em notícias da agência Lusa e do blog A Trompa.

07 março, 2008

DeVotchka, Vampire Weekend e Yeasayer - O Rock, Cada Vez Mais World Music


A atracção de músicos pop/rock anglo-saxónicos por músicas de outros lados do mundo não é uma coisa nova... A história - e a linhagem - é mais que conhecida: Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Peter Gabriel, David Byrne (com e sem os Talking Heads), Brian Eno, Sting, Paul Simon, Jah Wobble, Ry Cooder, boa parte do pós-punk/no wave nova-iorquino de inícios dos anos 80, etc, etc... E, nos últimos anos, essa tendência tem, em vários grupos e artistas, tomado diversas direcções: dos Animal Collective aos Beirut, dos Tindersticks aos Calexico e aos Firewater... Desta vez, a fornada é feita com mais três grupos norte-americanos de rock, digamos assim, que se deixaram cativar por músicas de outros lados do mundo: os DeVotchKa (na foto), os Yeasayer e os Vampire Weekend.


DEVOTCHKA
«A MAD AND FAITHFUL TELLING»
Anti- Records

Em tempos que já lá vão, os DeVotchKa foram a banda de apoio dos espectáculos burlescos de... Dita von Teese (pois, a ex-mulher de Marilyn Manson). Mas alguns anos, várias digressões e um punhado de discos depois, o grupo de Denver, Colorado, acabou por chegar à fama absoluta em nome próprio quando Jonathan Dayton e Valerie Faris o convidou para a banda-sonora do filme «Little Miss Sunshine». E o seu novo álbum, este «A Mad and Faithful Telling», mostra-nos uma banda seguríssima nos caminhos para onde quer levar a sua música, uma música em que ao rock indie e à folk se juntam, sem problemas e de forma absolutamente consistente, doses reforçadas de música cigana balcânica, klezmer, mariachis mexicanos, um irresistível balanço swing, valsas arrancheradas ou completamente parisienses e até um tema que poderia ser uma jam de Johnny Cash com os Tindersticks algures no Texas («Undone»). E, sendo apenas quatro, os DeVotchKa cantam e tocam variadíssimos instrumentos (guitarra, trompete, theremin, bouzouki, violino, acordeão, piano, sousafone, percussões...), numa variedade de timbres e sonoridades notável. «A Mad and Faithful Telling» vai agradar, de caras, aos fãs dos Gogol Bordello, Beirut, A Hawk and A Hacksaw, Calexico, Ry Cooder e Tarnation, por um lado, e aos fãs de Sufjan Stevens e Arcade Fire, por outro. (8/10)


VAMPIRE WEEKEND
«VAMPIRE WEEKEND»
XL Recordings

Ouve-se tão bem e é tão fresquinha a música deste disco!! Imagine-se: um pop/rock leve e saltitante que tanto vai aos Smiths quanto aos R.E.M., aos Feelies ou aos Squeeze, que aqui e ali se atreve a ir à música erudita (oiçam-se «M79» ou «The Kids Don't Stand a Chance») mas também a um ska e a um punk que tem mais, muito mais, de Green Day do que de Sex Pistols ou Clash, mas em que as canções são mergulhadas em variadíssimos condimentos de música africana: há lá ritmos que se colam imediatamente aos dos Konono Nº1 ou do afro-beat estabelecido por Fela Kuti, guitarras eléctricas que vão buscar a inspiração directamente a Johnny Clegg ou ao highlife do Gana (nomeadamente aos Osibisa) ou à marrabenta moçambicana ou a King Sunny Adé... e uns órgãos semi-manhosos que só poderiam ter saído de África nos anos 70. Novinhos, nova-iorquinos, os Vampire Weekend apontam como uma das suas maiores influências o álbum «Graceland», de Paul Simon, e isso faz todo o sentido, mas no meio de uma das suas letras, a do seu grande êxito até agora, «Cape Cod Kwassa Kwassa», falam também de Peter Gabriel (o que continua a fazer sentido). Curiosamente, «Cape Cod Kwassa Kwassa» faz lembrar, estranhamente!, o tema «Almadrava», dos nossos Marenostrum. «Vampire Weekend» é, acima de tudo, uma declaração de amor de quatro branquelas ianques pela música africana. Não é tão absoluta como a dos Toubab Krewe, por exemplo, mas é igualmente bonita. (8/10)


YEASAYER
«ALL HOUR CYMBALLS»
We Are Free

Apesar de serem o grupo deste lote menos obviamente contaminado pela chamada world music, a verdade é que os Yeasayer assinam o álbum mais interessante de todos. Com uma visão global de muitas décadas de rock - principalmente das suas margens mais psicadélicas e mais experimentais -, este novíssimo grupo nova-iorquino (formado em 2006!) faz uma música hiper-excitante e actualíssima, onde tanto podem conviver alusões aos Talking Heads como aos Flaming Lips, aos Beatles, aos Beach Boys, aos Pink Floyd do início ou a um hipotético heavy-metal feito no norte de África (cf. em «Wait For The Wintertime», que tem tanto de gnawa como de Black Sabbath). Com letras muitas vezes pessimistas e carregadas de um negrume indisfarçável - «2080», por exemplo, é uma visão apocalíptica do futuro -, a música dos Yeasayer é, no entanto, quase sempre de uma luminosidade rara e ofuscante. Uma música em que há lugar para o psicadelismo, o rock progressivo, uma freak-folk encantada e com o melhor que a palavra «freak» pode conter, o experimentalismo, o gospel, polirritmias africanas, celebrações tribais - para pôr mesmo ao lado das melhores dos Animal Collective ou dos Akron/Family -, uma sitar indiana (em «Wait For The Summertime») e até algo vindo do leste europeu (no maravilhoso «Germs»). Os Yeasayer dizem-se influenciados pelas bandas-sonoras de filmes de Bollywood, por Thomas Mapfumo e pela música «celta» (o seu myspace refere, com imensa piada, que eles soam a «Enya com tomates»!), mas o melhor mesmo é ouvir este fabuloso álbum e cada um tirar as suas conclusões. (9/10)

06 março, 2008

Budiño, Beoga, Galandum Galundaina e Encontros da Eira no Intercéltico do Porto


A 17ª edição do histórico e pioneiro Festival Intercéltico do Porto está confirmada para os dias 11 e 12 de Abril, no Cinema Batalha, segundo informa o site Divergências. E, no cartaz, está uma ementa suculenta e equilibrada, sem adiposidades nem gordurinhas desnecessárias: a abertura, dia 11, é feita - surpresa! - pelo grupo de música tradicional madeirense Encontros da Eira e pelo jovem grupo irlandês Beoga (na foto), um grupo em que - outra surpresa! - são duas concertinas a comandar a festa na interpretação dos temas tradicionais. Na segunda noite, são os cada vez mais maduros, variados timbricamente e consistentes mirandeses Galandum Galundaina que abrem o palco; palco que é depois ocupado por um dos mais respeitados e virtuosos gaiteiros galegos: Xosé Manuel Budiño. Para já, não se sabe se vai haver «after-hours» como o ano passado (e que bem que correram, com os Bailebúrdia a mandarem o baile pela noite fora!), mas sabe-se que há novamente uma extensão do festival a Arcos de Valdevez, com as Noites Intercélticas a serem ocupadas, na Casa das Artes, com concertos dos Galandum Galundaina (dia 11 de Abril) e dos Beoga (um dia depois).

05 março, 2008

Cromos Raízes e Antenas XL


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XL.1 - Battlefield Band


Uma autêntica instituição da música tradicional escocesa - se se preferir, da chamada música «celta» -, a Battlefield Band nasceu em Glasgow, na primeira metade dos anos 70, e, como bons escoceses que são (apesar de, ao longo das suas variadíssimas formações por lá terem passado músicos de outras origens, nomeadamente irlandeses) o foco principal da sua música centra-se nas gaitas-de-foles. Mas sem desprezar muitos outros instrumentos, do violino ao acordeão, das guitarras ao dulcimer ou aos... sintetizadores. E, apesar de boa parte do seu reportório ser formado por versões de temas antigos e tradicionais, muitos originais foram também sendo compostos pelo grupo ao longo destas três décadas de existência. Neste momento, da banda original só resta Alan Reid (voz, guitarra, teclas), sendo o resto do grupo formado por Mike Katz (gaitas), Alasdair White (violino e flautas) e o irlandês Sean O'Donnell (voz e guitarra).


Cromo XL.2 - Sheila Chandra


No início, com os Moonsoon, ou depois, a solo, a voz da cantora Sheila Chandra sempre teve a capacidade de fazer sonhar e viajar quem a ouvia, sem limites nem fronteiras. Nascida em Londres, Inglaterra, a 14 de Março de 1965, no seio de uma família indiana, Sheila Chandra nunca esqueceu as suas raízes - mesmo quando chegou a ser uma estrela pop durante os anos 80 - e toda a sua música esteve, sempre, umbilicalmente ligada às ragas ancestrais indianas. Com os Moonsoon descobriu a fusão da música do Oriente com as novas tecnologias musicais, a solo atreveu-se também a interpretar o cancioneiro folk das ilhas britânicas e a experimentar o canto gregoriano, o flamenco, a música árabe... E teve sempre uma postura aberta, embora discreta, que a levou a colaborar com Peter Gabriel (a maior parte dos seus discos saiu na Real World) ou, mais recentemente, com o projecto The Imagined Village.


Cromo XL.3 - Crammed Discs



Uma das mais importantes editoras discográficas independentes do mundo, a belga Crammed Discs surgiu em 1981, tendo sido fundada em Bruxelas por Marc Hollander, um homem com uma visão alargada e abrangente da música. E da música experimental ao rock independente, do jazz de fusão às electrónicas, do hip-hop a um leque variado de nomes da world music (da mais tradicional a variadíssimas fusões) tudo - e é quase sempre tudo muito bom! - tem lugar na Crammed e nas suas associadas: a SSR, a CramWorld, a Made To Measure e a Ziriguiboom. Do seu catálogo fazem (ou fizeram) parte nomes como os de Hector Zazou, Tuxedomoon, Minimal Compact, Bel Canto, Bebel Gilberto, Zuco 103, Cibelle, Tartit, Sussan Deyhim, Balkan Beat Box, Shantel, Taraf de Haidouks, Koçani Orkestar, Think of One, DJ Dolores, Konono Nº 1, Juryman, DJ Morpheus, Zap Mama, John Lurie e Carl Craig, entre muitos outros. Uma festa global.


Cromo XL.4 - Phil Ochs


Phil Ochs (de nome completo Philip David Ochs, por vezes também conhecido como John Butler Train) nasceu a 19 de Dezembro de 1940 em El Paso, Texas, Estados Unidos, e morreu a 9 de Abril de 1976. Cantor de protesto - foi, muitas vezes, considerado como o «Bob Dylan nº2» -, Ochs começou a carreira no início dos anos 60 e rapidamente se fez notar pelas suas canções fortes, activas, interventivas, muitas vezes feitas de um humor fino e quase cruel. Editou oito álbuns ao longo da sua curta carreira, discos onde foi semeando pérolas da folk norte-americana como «When I'm Gone», «There But For Fortune», «Ringing of Revolution», «I Ain't Marching Anymore» ou «Power and The Glory». No início dos anos 70, Phil Ochs começou a sofrer de distúrbios de personalidade motivados pela sua doença bipolar e pelo excesso de álcool, razões apontadas oficialmente como a causa do seu suicídio em 1976. Mas o seu legado permanece; intacto.

04 março, 2008

Bassekou Kouyate, KTU e Justin Adams & Juldeh Camara no FMM de Sines


À medida que os dias passam, mais e mais nomes vão chegando para encher - e bem! - o cartaz da 10ª edição do FMM de Sines. Desta vez, e via Crónicas da Terra e Juramento Sem Bandeira chegam-nos mais três nomes de peso para o alinhamento final: o maliano Bassekou Kouyate (na foto, de Manfred Schweda), o extraordinário intérprete de n'goni que acompanhou Ali Farka Touré, fez parte da Symmetric Orchestra de Toumani Diabaté e editou o ano passado o álbum, com o seu grupo Ngoni Ba, «Segu Blue» (ver crítica ao disco, no Raízes e Antenas, aqui); o regresso dos KTU, incendiário projecto do acordeonista finlandês Kimmo Pohjonen acompanhado pela secção rítmica dos King Crimson (o baixista Trey Gunn e o baterista Pat Mastelotto); e a estreia em Portugal do duo de Justin Adams (guitarrista que já colaborou, ou ainda colabora, com Brian Eno, Jah Wobble, Natacha Atlas, Tinariwen, Sinéad O'Connor, Robert Plant...) com Juldeh Camara, um griot da Gâmbia que canta e toca o violino de uma corda só ritti, ambos acompanhados pelo percussionista Salah Dawson Miller, que fez parte dos míticos 3 Mustaphas 3. Datas das actuações: Bassekou Kouyate a 17 de Julho (em Porto Covo); Justin Adams & Juldeh Camara a 23 de Julho; KTU a 25 de Julho.

03 março, 2008

Toumani Diabaté - Akora É a Vez do Porto e de Lisboa


Depois de dois concertos memoráveis em Sines e no Seixal, Toumani Diabaté (na foto, de Mário Pires, da Retorta) vem akora - pois, o trocadilho é tão parvo que decidi usá-lo duas vezes! - tocar à Casa da Música, Porto, dia 28 de Maio, e à Culturgest, em Lisboa, dia 31 do mesmo mês, segundo avançam as Crónicas da Terra. O mestre maliano da kora - a harpa mandinga - apresenta-se desta vez em solo absoluto, sem a Symmetric Orchestra, interpretando temas do seu recentíssimo álbum «The Mandé Variations», todo ele dedicado inteiramente e em exclusivo aos sons da kora. Um facto raro numa carreira cheia de colaborações riquíssimas - de Ali Farka Touré a Taj Mahal, dos Ketama a Bjork - e em que é preciso recuar quase vinte anos para se encontrar outro álbum de Toumani exclusivamente dedicado à kora, «Kaira».