29 dezembro, 2010

A Música Tradicional É... Para Dançar!


Mais ou menos no seguimento do post anterior (a passagem d'ano bailante em Coimbra), aqui ficam as críticas a três álbuns de estreia de grupos portugueses que põem a música tradicional (a portuguesa mas não só...) a servir de tapete para as danças: Monte Lunai, Omiri (na foto, de Mário Pires/Retorta)e No Mazurka Band. Todas elas foram publicadas originalmente na "Time Out".



Monte Lunai
"In Temporal"
Ed. de Autor

A Pé de Xumbo – com o Andanças mas não só -, o Contagiarte, a Tradballs, o Rodobalho, etc, etc... são os culpados disto tudo. Leia-se: culpados no melhor sentido, o de iniciadores, responsáveis, padrinhos e afins de um movimento cada vez maior, em Portugal, de festivais, grupos – e, claro, os dançarinos – que recuperam as danças tradicionais europeias. E, no lote de melhores grupos deste(s) género(s) estão desde há muitos anos os Monte Lunai. E, mesmo sem se atreverem a inovar por aí além nos arranjos dos temas tradicionais, o grupo lisboeta serve neste primeiro álbum vários ritmos de uma forma fresca e sempre alegre: da chapelloise à mazurca, da muiñeira ao círculo, do nosso “Passo Dobrado” a ritmos do Leste, faz-se aqui uma bela viagem pela Europa, a dançar. ***


Omiri
"Dentro da Matriz"
Ferradura/Compact Records

O fascínio de muitos músicos europeus que vão beber a sua inspiração primeira à tradição, ao mesmo tempo que vão em busca de outros géneros, está cada vez mais espalhado pelas “músicas do mundo”. E, no caso específico de músicos tradicionais igualmente apaixonados pelo... heavy-metal, também não estamos nada mal servidos: dos Fintroll aos Corvus Corax ou à Barbarian Pipe Band. Os Omiri – projecto a solo de Vasco Ribeiro Casais, dos Dazkarieh; ao vivo acompanhado por Joana Negrão e o VJ Tiago Pereira – vão, tal como os próprios Dazkarieh muitas vezes, também por esse caminho: a ritmos, melodias e instrumentos tradicionais juntam-se, quase sempre, uma bela chinfrineira eléctrica e em distorção. Bombom final: o único tema cantado tem a presença da eremita Né Ladeiras. ****


No Mazurka Band
"A-do-Baile, Campaniça e Tamboril"
PédeXumbo

Apesar de ter elementos comuns com Uxu Kalhus, a No Mazurka Band (no layout de quase todo o disco apenas identificada como NMB) marca diferenças fundamentais em relação ao grupo-irmão: na NMB não há cá bateria, guitarras e baixos eléctricos (são só instrumentos tradicionais, portugueses mas não só) e não há cá danças europeias no geral (só ritmos tradicionais portugueses, do Alentejo a Trás-os-Montes, mesmo que alguns deles inspirados em danças... do resto da Europa). Mas, apesar disso, não se pense que este seu disco de estreia é passadista, “nacionalista” ou algo folclórico: os arranjos são sempre inventivos e há até lugar para que uns blues se enfiem brilhantemente num malhão de Águeda ou um drum'n'bass acústico apareça num repasseado, entre muitas outras surpresas. ****

21 dezembro, 2010

Em Coimbra... A Bailar Até 2011


A já tradicional passagem d'ano bailante em Coimbra tem agora mais um capítulo: dias 30 e 31 de Dezembro e dia 1 de Janeiro, o Centro Norton de Matos, em Coimbra, é ocupado por danças europeias (e alguns desvios) noite fora e até já bem dentro de 2011. A "filosofia" e o programa:


"Festival da Passagem d'ano

Preparem-se, passem palavra: 2011 será recebido com mil sorrisos de novo. No centro Norton de Matos, com a Tradballs e o Rodobalho, dança e música não haverá melhor passagem de ano.

Três dias em que o relógio, ironia das ironias, não é dono do tempo, em que o corpo se perde na melodia e adormece na dança. Milhares de sorrisos, centenas de danças e incontáveis minutos de aprendizagem e partilha. Se não foste cativado, vem descobrir a atracção da dança, aprender uma Mazurka encantar uma valsa e sorrir a(o) desconhecido(a).

Ficar a olhar para fogo de artificio: Aborrecido.
Embebedar-se numa discoteca apinhada, barulhenta e escura: Deprimente.
Sorrir a um desconhecido(a) enquanto se aprende mais uma dança sensual: Inesquecível.
Dançar a meia-noite, a uma, as três e as cinco da manhã: Divinal.


Quinta, 30 Dezembro 2010
23H00: Concerto | Rakia (Porto)
24H30: DJ MATi@S

Sexta, 31 Dezembro 2010
15H00 às 18H00: workshops de música e dança (brevemente...)

23H00: Baile | Martina Quiere Bailar (Espanha)
01H00: Baile | Caravana (Lisboa)

Sábado, 01 Janeiro 2011
15H00 às 18H00: workshops de música e dança (brevemente...)

22H30: Baile | Duo Skeller (Inglaterra; na foto)
24H30: Baile | Karrossel (Porto)

Uma organização: tradballs.pt | rodobalho.com | Centro Norton de Matos

Mais informações: www.passagem-de-ano.net"

17 dezembro, 2010

Cantos na Maré - Amanhã, com Lenine, Guadi Galego, António Zambujo e Aline Frazão


O notável projecto anual Cantos na Maré, desenvolvido pela cantora galega Uxia, tem amanhã mais um novo capítulo no desenvolvimento de um conceito de cultura lusófona abrangente e agregadora de uma língua e uma cultura comuns a vários povos. A seguir, seguem dois textos retirados do site oficial, em bom galego, que é o mesmo que dizer, em excelente português:


UNHA PONTE COA LUSOFONÍA EN CANTOS NA MARÉ

Cantos na Maré, Festival Internacional da Lusofonía chega á súa oitava edición. O Pazo de Cultura de Pontevedra acolle este sábado 18 de decembro ás 21 horas un espectáculo único que volve xuntar algunhas das voces máis interesantes da actualidade nos países lusófonos. De Brasil chega Lenine (na foto), un artista de referencia nas últimas décadas; de Portugal participa António Zambujo, renovador do fado e unha das estrelas do último Womex; de Angola a novísima Aline Frazão; e de Galiza Guadi Galego, unha voz imprescindible no panorama musical do país.

En palabras de Uxía, directora artística do proxecto desde a súa primeira edición, “aínda que esta é unha cita xa consolidada, nós temos sempre o compromiso de sorprender; non é fácil, pero este ano imos logralo”. Uxía cre que se vai producir unha “comunicación especial entre os convidados”, que como cada ano compartirán temas sobre o escenario. No espectáculo haberá espazo para unha sentida homenaxe musical ao escritor portugués José Saramago, ademais dunha atención especial ao concepto de “ponte”.

Cantos na Maré, Festival Internacional da Lusofonía tende pontes entre os países lusófonos na súa oitava edición. O Pazo de Cultura de Pontevedra será o escenario ao que se subirán o sábado 18 de decembro ás 21 horas catro das voces máis persoais da música lusófona actual. O brasileiro Lenine, un dos músicos máis admirados da escena brasileira das últimas décadas, é unha das propostas máis destacadas dunha edición na que tamén participan Guadi Galego, co seu achegamento contemporáneo á música galega de raíz; o portugués António Zambujo, o último renovador do fado; e a angolana Aline Frazão, que será o gran descubrimento desta edición.

Cantos na Maré é unha produción de Nordesía, organizado polo Concello de Pontevedra, co patrocinio da Axencia Galega das Industrias Culturais e a colaboración de Caixanova, o Instituto Camões e Ponte… nas Ondas!. A nova edición presentouse este domingo en Pontevedra, no marco do Culturgal, Feira das Industrias Culturais. Na presentación participaron Lola Dopico, concelleira de Cultura de Pontevedra; José Carlos F. Fasero, director de Agadic; Quique Costas, director de Nordesía; e Uxía, directora artística de Cantos na Maré, que pechou o acto interpretando tres temas acompañado do músico brasileiro Sérgio Tannus.

O espectáculo desenvolverase baixo a dirección artística de Uxía e a dirección musical de Paulo Borges. “En Cantos na Maré sempre logramos que sexa unha noite máxica, e cremos que esta nova edición no vai frustrar esa espectativa”, sinalou Uxía. Animou ao público a acudir e divertirse, citando a Emma Goldman: “Se não posso dançar não é minha revolução”. A edición deste ano tamén renderá tributo ao escritor José Saramago. Lola Dopico destacou que “o carácter diferenciador márcao esa lingua común que fai de lazo sensitivo” e engadiu que Cantos na Maré e “un referente tanto na súa calidade artística como na súa capacidade de xerar novos proxectos”.

Quique Costas, que abriu a presentación lembrando a Francisco Fernández del Riego, explicou que o evento debe ser “un punto de encontro para crear conciencia da lusofonía, non só como espazo cultural senón como mercado de intercambio das nosas culturas”. Nese sentido destacou que este ano Cantos na Maré recupera o encontro profesional, como un punto de coñecemento e intercambio entre axentes culturais de Brasil, Portugal, Francia, Alemaña e Polonia especializados en músicas lusófonas. Fernández Fasero salientou a aposta de Agadic “por fortalecer estes encontros empresariais dos que poden saír novas actuacións e proxectos.

As entradas están á venda na web de Servinova. Tedes toda a información de Cantos na Maré e dos músicos participantes en www.cantosnamare.org"

15 dezembro, 2010

Colectânea de Textos no jornal "i" - XXI


Cinco canções no Natal 2009
Publicado em 17 de Dezembro de 2009

Não são propriamente canções de Natal tal como as conhecemos, mas como não passam nas rádios e vão, quase de certeza e injustamente, passar ao lado da fama que merecem, aqui ficam cinco sugestões de temas portugueses recentes para ouvir numa consoada mais consolada: "Tango do Vilão Rufia", tema gingão do grupo portuense As Três Marias (com vozes de Cristina Bacelar e do convidado Sérgio Castro, dos Trabalhadores do Comércio), para dançar e sorrir enquanto o peru cozinha - do álbum "Quase a Primeira Vez". "Os Loucos Estão Certos", dos Diabo na Cruz, para fazer um eventual coro gospel iconoclasta enquanto se ouve a frase "Na igreja de S. Torpes hoje há bacanal" - do álbum "Virou". A lindíssima caixinha-de-música pop, juvenil e semi-africana que é "Mariazinha Luz", de Margarida Pinto (dos Coldfinger, aqui a solo) e, esta sim, com uma citação natalícia óbvia ("brilha, brilha lá no Céu, a estrelinha que nasceu") - do EP "A Aprendizagem de...". Já na voz da luso-cabo-verdiana Danae (na foto), "Bu Rosto" é uma morna nada tradicional, para ouvir quando a consoada já chegou aos doces, e que faz a ponte entre este ritmo de Cabo Verde, o jazz, os blues e algo de absolutamente etéreo e indizível - do álbum "Cafuca". Finalmente, a divertidíssima "Kit de Prestidigitação", de B Fachada, é perfeita para a altura em que se abrem as prendas porque é de prendas que a canção fala... embora sejam aquelas (incluindo velhos LPs do Zeca) que se "herdam" nos divórcios! - do álbum "B Fachada".





Porque é que os protestantes cantam tanto?
Publicado em 24 de Dezembro de 2009

Fui viver para o Barreiro quando tinha quatro anos. O primeiro amigo que lá tive chama-se Jorge Samuel e a sua família é protestante, mais especificamente pentecostal. Eu era miúdo do outro lado, dos católicos e - apesar de o Barreiro ter tido padres bastante progressistas (do padre Fanhais, cantor!, ao saudoso padre Sobral) -, havia uma coisa que me fazia espécie: os meus vizinhos passavam boa parte do dia a cantar. Hinos, salmos, espirituais, etc. Bastante novo, o Jorge aprendeu a tocar guitarra e, se bem me lembro, órgão. Só muitos anos depois percebi a importância que o gospel e os espirituais negros tiveram no desenvolvimento de várias correntes protestantes dos Estados Unidos, passando ainda pelos hinos das lutas pelos Direitos Civis, e a sua transmissão a outras igrejas evangélicas em todo o mundo, sem esquecer que alguns dos maiores cantores e guitarristas de blues eram também pregadores ou pastores (o grande Reverendo Gary Davis, por exemplo, era pastor baptista). Tudo isto para falar, mais uma vez, da trupe da Flor Caveira - e da razão por que dali, do seio dos protestantes, sai tanta música e tão boa. E com uma fé, uma ironia, uma verve, um sentido crítico, uma lucidez e até uma certa iconoclastia que só ficam bem a artistas e bandas de cristãos... mas que também vêm do punk roque. E agora o lead, virado ao contrário: oiça-se com urgência o fabuloso primeiro álbum-síntese de Samuel Úria: "Nem Lhe Tocava". Está lá isto tudo, resumido.




O Balanço (possível) do ano musical português
Publicado em 31 de Dezembro de 2009

Em tempo de balanços, esta coluna semanal que dá conta do que se vai passando na música portuguesa - pelo menos daquela que o seu autor conhece ou mais aprecia - não foge à tradição, e também aqui deixa a lista dos melhores (e de um dos piores) momentos do ano. Canção Mais Surpreendente do Ano: a versão de "Júlia Florista" por Dulce Pontes, pelo seu tio rebaptizada "Júlia Galdéria" e incluída no álbum "Encontros". Melhor Canção do Ano Mesmo: "Mariazinha Luz", de Margarida Pinto (na foto), do EP "A Aprendizagem de Margarida Pinto". Melhor Versão de Um Êxito Obscuro da Década de 60 do Ano: "A Borracha do Rocha", pelo Real Combo Lisbonense. Álbum mais Surpreendente do Ano: "Luminismo", de Ricardo Rocha, com um CD de originais dele (e versões de temas de Artur e Carlos Paredes e de Pedro Caldeira Cabral) para guitarra portuguesa e outro com peças suas para piano. Editora do Ano: a Flor Caveira e a Mbari, ex-aequo, com lançamentos de excelentes discos (às vezes com artistas comuns) dos Diabo na Cruz, B Fachada, Samuel Úria, João Coração, Norberto Lobo e do já referido Ricardo Rocha. Banda mais Popular do Ano ainda sem Disco Editado: Roda de Choro de Lisboa. Canção Que já Não Há Pachorra para Ouvir Mais Este Ano (e Nos Próximos): "Gaivota", de Amália Rodrigues, pelo projecto Amália Hoje, que tornou uma canção simples, sentida e acústica num fogo-de-artifício de estúdio e em que aquilo que no peito "bateria" será mesmo mais uma caixa-de-ritmos.

12 dezembro, 2010

"Contexto & Significado" - Agora nas FNACs e no Braço de Prata


Depois da festa de lançamento, o fim-de-semana passado em Águeda, de "Contexto & Significado" -- o livro de António Pires e o filme de Tiago Pereira dedicados ao 15º aniversário da d'Orfeu --, a mesma obra-dupla começa hoje a ser apresentada noutras cidades do país. Calendário das apresentações:

12 de Dezembro
FNAC Vasco da Gama, Lisboa | 17h00
Com António Pires, Tiago Pereira e Sara Vidal


17 de Dezembro
Fábrica do Braço de Prata | 22h00
Com António Pires, Tiago Pereira e Luís Fernandes (segue-se baile/concerto com os Toques do Caramulo)

16 de Janeiro
FNAC de Matosinhos | 17h00
Com António Pires e Luís Fernandes

29 de Janeiro
FNAC de Coimbra | 17h00
FNAC de Leiria | 21h30
Com António Pires e Luís Fernandes

30 de Janeiro
FNAC de Viseu | 17h00
Com António Pires e Luís Fernandes

(Na foto, de Mário Abreu: o momento do discurso da Prof. Odete Ferreira, durante o lançamento de "Contexto & Significado", no CEFAS, Águeda)

10 dezembro, 2010

Ricardo Rocha - Um Prémio e... Um Tributo


A notícia já tem umas semanas, mas serve de mote possível ao que vem a seguir: Ricardo Rocha foi o vencedor do Prémio Carlos Paredes 2010, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, pelo seu último álbum, "Luminismo". Um prémio mais que apropriado e que me serve de justificação para recuperar aqui a crítica a esse disco e a entrevista que fiz com Ricardo Rocha a propósito deste álbum desviante, revolucionário e, por isso mesmo, absolutamente sedutor. Os textos originais foram publicados na revista "Time Out".


Ricardo Rocha
"Luminismo"
Mbari Música

Num ano (2009) de excelente produção discográfica portuguesa, o prémio de álbum mais surpreendente (e, de certa forma, também o mais marado) de todos vai, sem dúvida, para Ricardo Rocha. Mestre, embora relutante, da guitarra portuguesa, Ricardo Rocha editou o histórico "Voluptuária" em 2003, seguindo-se "Tributo à Guitarra Portuguesa" – em que visita os grandes guitarristas do fado de Lisboa. Agora, no duplo-álbum "Luminismo" faz os seus originais viajarem pelo fado, a folk livre à maneira de John Fahey/Norberto Lobo ou o serialismo e apresenta versões pessoais de temas de Carlos Paredes (oiça-se “Canto do Trabalho” em speed-metal!), Artur Paredes e Pedro Caldeira Cabral. O segundo CD, ainda mais surpreendente!, são temas dele compostos para... piano, interpretados por Ingeborg Baldaszt. *****


Entrevista
Eu Tenho Dois Amores...

Que em nada são iguais: um é a guitarra portuguesa mas é o piano que amo mais. Nesta conversa com António Pires, Ricardo Rocha assume a bigamia.

A letra da célebre canção de Marco Paulo, embora aparentemente desajustada neste contexto, pode aplicar-se na perfeição a Ricardo Rocha, um génio da guitarra portuguesa mas igualmente perdido de amores pelo piano. No seu novo álbum, "Luminismo", o CD1 inclui originais e versões de temas de Artur Paredes, Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral, interpretadas por ele na guitarra portuguesa, enquanto o CD2 inclui peças para piano compostas por ele e tocadas por Ingeborg Baldaszti.

Há um pequeno pormenor neste novo álbum, "Luminismo", que não existe nos outros dois que gravaste, "Voluptuária" e "Tributo à Guitarra Portuguesa": ouve-se a tua respiração, como se ouvia a respiração do Carlos Paredes nos discos dele.

E também se ouve a minha voz (como acontecia com o pianista Glenn Gould).

Mas isso leva-me a uma questão de que falaste há alguns anos noutra entrevista: a dificuldade que é, para ti, tocar guitarra portuguesa.

Sim, continua a ser doloroso. E quanto mais dificuldade técnica tiver a peça, mais esforço físico está implícito.

No "Voluptuária" tinhas, para além de inúmeros originais, versões de Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral. Neste repetes estes dois nomes mas também tens um tema de Artur Paredes (pai de Carlos Paredes).

Fiz uma adaptação – não gosto da palavra “arranjo” - de uma peça dele, “Passatempo”, que é muito bonita e que é fantástica para abordar a solo dentro de um esquema muito clássico, o que é interessante.

A referência a estes três nomes – os Paredes e Caldeira Cabral – leva-nos a outra questão inevitável: há pouquíssimos compositores para guitarra portuguesa a solo. São eles e poucos mais e, numa geração muito mais nova, existes tu. Achas que há preguiça ou falta de vontade dos outros guitarristas?

Não, não acho que seja preguiça ou falta de vontade. A guitarra está é tão associada a um género musical específico, o fado, que não são duas ou três pessoas que a conseguem resgatar ao seu papel de instrumento de acompanhamento (da voz). Eu sozinho não consigo. O Carlos Paredes não conseguiu, o Pedro não conseguiu, eu não irei conseguir...

Mas isso já aconteceu noutros géneros musicais: o bandoneón foi resgatado ao tango, a kora está agora a ser assumida como um instrumento solista...

Mas o bandoneón teve o Piazzolla, com uma projecção internacional fortíssima... Em Portugal, a guitarra portuguesa só há poucos anos entrou no meio académico, em alguns Conservatórios. Estas iniciativas são saudáveis. E talvez, por causa disso, daqui por dez, quinze anos, poderá vir a dar frutos e possamos vir a ter solistas e compositores para guitarra portuguesa.

Falando dos teus temas originais no novo disco, aquilo que sinto é que, embora havendo aqui e ali umas alusões ao fado, há ali muitas outras coisas: o serialismo, a música minimal-repetitiva, a influência da guitarra clássica aplicada à free-folk...

Não acho que aquilo que faço seja original. Acho é que se está a ouvir pela primeira vez uma guitarra portuguesa fora do contexto que é esperado. A surpresa para as pessoas é “estou a ouvir uma música que reconheço mas os sons são emitidos por um instrumento diferente daqueles a que estou habituado”. E de fado não tem nada. Só, talvez, por ser o instrumento que é. Uma coisa de que tenho a certeza é a de que, se não tocasse piano – e toco mal piano -, e se não conhecesse o seu reportório, não comporia para guitarra portuguesa como componho. A minha visão e abordagem racional da música, vinda do piano, é muitas vezes transposta para a guitarra. Adoro o piano.

Concordarias comigo se dissesse que a guitarra portuguesa é a tua mulher e o piano é a tua amante?

(risos) Essa é uma visão engraçada. Mas, sim, pode ser encarado dessa forma. E isto, com o máximo respeito para as mulheres.

Este álbum é duplo e, surpreendentemente, o segundo CD tem peças tuas compostas para piano. Foi uma maneira de mostrar que há vários Ricardos Rocha no Ricardo Rocha?

Não. E quase aconteceu por acaso. Fui convidado para tocar num programa, extraordinário, do António Victorino d'Almeida que passou há dois anos na televisão mas que ninguém viu – aquilo era transmitido às duas da manhã! E nesse programa conheci a Ingeborg, que é uma pianista absolutamente genial. Isso inspirou-me a compor algumas novas peças a pensar nela como intérprete, às quais juntei três que já tinha composto antes. Na editora, quando ouviram o piano, perguntaram-me se era eu a tocar. Eu? Quem me dera tocar assim!

09 dezembro, 2010

Festival GEADA - Pela Terceira Vez a Derreter o Gelo


Vem aí mais um GEADA e, para ajudar a derreter o gelo ou o caramelo, o melhor é ler o comunicado oficial:

«Decorrerá de 28 a 30 de Dezembro, o "GEADA 2010 - III Festival de Cultura Tradicional das Terras de Miranda", uma organização dos Pauliteiros da Cidade de Miranda do Douro e da Associação Recreativa da Juventude Mirandesa.

Nesta 3ª edição, prometemos guiar os visitantes numa pequena viagem pelas tradições de inverno do planalto mirandês, ao som de alguns dos melhores grupos de música tradicional do nosso país. Galandum Galundaina, Sebastião Antunes, Karrossel (na foto), Ogham, Uxu Kalhus e Roncos do Diabo são os destaques do GEADA 2010.

Em Paralelo decorrerão diversas actividades como: a "Mirarte - III Exposição Artística da Juventude Mirandesa, arruadas, uma volta pelas adegas típicas, palestras, oficinas de danças tradicionais, oficinas de pauliteiros, oficinas de escrita e oralidade de língua mirandesa.

Programa:
Dia 28 – VOLTA às ADEGAS
14h00 – Arruada
16h00 – Inauguração da “MIRARTE – Exposição Artística da Juventude Mirandesa”
22h00 – VOLTA às ADEGAS
00h00 – Gaitas à Solta


Dia 29
14h00 - Arruada

15h00 - Língua Mirandesa: oficina de escrita e de oralidade, com Alfredo Cameirão
17h00 – Oficina de Danças Mirandesas, Susana Ruano
18h00 – Oficina de Danças Europeias, Diana Azevedo
22h00- Baile Tradicional
Las Çarandas
SEBASTIÃO ANTUNES

KARROSSEL
GALANDUM GALUNDAINA
LSD
Dia 30
14h00 - Arruada

15h00 - Perspectivas actuais e futuras da música mirandesa, com Mário Correia
16h00 – Da língua à música tradicional Mirandesa, com Domingos Raposo
17h00 – Oficina de Pauliteiros
22h00 - Baile Tradicional
Coro Infantil de Miranda do Douro
OGHAM
UXU KALHUS
RONCOS DO DIABO


Animação Permante: IPUM, Pauliteiros da Cidade de Miranda do Douro e Mirandanças


Mais informações:

http://festivalgeada.blogspot.com»