27 julho, 2010

Colectânea de Textos no jornal «i» (VII)


O futuro do fado no masculino
por António Pires, Publicado em 17 de Setembro de 2009


Quando se fala de fado - e, principalmente, de novo fado ou de novos fadistas - pensa-se geralmente na geração de novas cantoras, muitas delas excelentíssimas, que o fado de Lisboa gerou nos últimos quinze ou vinte anos: Mísia, Mariza, Maria Ana Bobone, Mafalda Arnauth, Joana Amendoeira, Ana Sofia Varela, Kátia Guerreiro, Cristina Branco, Carminho... A lista é quase infindável. Fala-se menos dos homens, alguns deles com uma qualidade idêntica à de algumas das mulheres referidas, ou por vezes maior. Quando se fala dos homens, vêm sempre à baila - e com justiça, aliás - os irmãos Moutinho: Camané, Hélder e Pedro. Mas não é deles que se fala aqui hoje. É de dois fadistas menos conhecidos mas que merecem ser seguidos com a máxima atenção nos próximos anos: Ricardo Ribeiro e António Zambujo (na foto). Com apenas um álbum, homónimo, em nome próprio - mas com uma parceria fundamental no surpreendente e histórico álbum "Em Português", do mestre do oud libanês Rabih Abou-Khalil, em que o fado se cruza com a música árabe e faz também algumas tangentes ao flamenco -, Ricardo Ribeiro é dono de uma voz (ia escrever "vozeirão") única e completamente arrepiante. Já António Zambujo é o homem que tem na sua voz não apenas as vozes do fado mas também outras vozes (Cateano Veloso, Brel, Antony Hagerty...), e isso faz do seu fado um outro fado, fresco e originalíssimo. É necessário descobri-los e ouvi-los.





Estamos todos com os azuis
por António Pires, Publicado em 24 de Setembro de 2009

Um dos maiores segredos da música feita em Portugal é um grupo que se prepara agora para editar o seu primeiro álbum de estúdio, depois de um outro gravado ao vivo na Capela da Misericórdia de Sines. Chama-se Nobody's Bizness e faz dos melhores blues que se podem ouvir em qualquer parte do mundo. Quem já teve o privilégio de os ver nas suas (agora raras) residências mensais no Catacumbas, Bairro Alto, ou em mais alguns sítios, sabe com o que vai contar. Ou talvez não, porque os Nobody's Bizness também apresentam no disco temas originais, e excelentes!, em que os blues se cruzam com a folk norte-americana, o jazz ou a música country de uma forma original, emotiva e, de certa forma, portuguesa: os blues não estão distantes, na essência e talvez na sua origem ancestral, do fado (como também não o estarão da morna, da milonga ou do chorinho). E os Nobody's Bizness não estão sós nesta releitura à portuguesa dos blues, da country, da folk e de outras formas musicais cristalizadas nos Estados Unidos no século XIX ou inícios do século XX: The Soaked Lamb é outro grupo que parte da nascente dos blues e depois os leva para o céu; Old Jerusalem é um cantautor de enorme talento que vai à folk ianque para a personalizar e transformar; os Unplayable Sofa Guitar pegam na country e fazem dela gato-sapato, electrificando-a e distorcendo-a em rock; e os A Jigsaw (na foto) fazem canções maravilhosas a partir das mesmas bases musicais. Estamos muito bem servidos.




Amália Hoje, Rão Kyao Amanhã?
por António Pires, Publicado em 01 de Outubro de 2009

O incrível sucesso do projecto Hoje - embora muito mais relevante do ponto de vista comercial que artístico, tal como aponta uma das melhores "críticas de música" jamais feitas em Portugal, num sketch d'Os Contemporâneos - é, pelo menos, revelador de que o fado, quando mudado com profissionalismo, tem tantas potencialidades de renovação como o tango (via Gotan Project), o jazz manouche (via Caravan Palace), o flamenco (via Ojos de Brujo) ou a música balcânica (via Shantel), etc. No entanto, o colectivo que já vendeu mais de 40 mil exemplares do seu disco "Amália Hoje" - e que inicia hoje, dia 1, uma mini-digressão de apresentação do disco que o leva à Figueira da Foz, aos Coliseus de Lisboa e Porto e a Vila do Conde - não descobriu a pólvora. No já longínquo ano de 1983, Rão Kyao (na foto), directamente saído do circuito do jazz, teve igualmente um enorme sucesso com o álbum "Fado Bailado", em que o saxofone substituía a voz na interpretação de muitos fados e, muitos deles, bem conhecidos na voz de... Amália Rodrigues. O mesmo Rão Kyao que depois gravaria álbuns próximos do fado como "Viva o Fado", "Fado Virado a Nascente" ou o novíssimo "Em'Cantado", editado esta semana, em que o músico conta com as vozes de fadistas como Camané, Carminho, Ricardo Ribeiro ou Ana Sofia Varela. Vai ser curioso observar como "Em'Cantado" poderá ou não sofrer - para o bem e para o mal - os efeitos do furacão Hoje.

26 julho, 2010

Kimi Djabaté - Um dos Destaques de Sines em Entrevista


Originalmente publicada na "Time Out Lisboa", esta entrevista com Kimi Djabaté pode também servir de aperitivo ao concerto que este cantor e músico guineense vai dar esta semana no FMM de Sines. Mais em baixo segue a crítica ao novo álbum de Djabaté, "Karam".

Sob o Foco
Kimi Djabaté

Ao segundo álbum, o griot guineense Kimi Djabaté chega a uma grande editora internacional de world music, a Cumbancha, o selo da Putumayo dedicado à descoberta de novos valores musicais. E “Karam”, o álbum, merece todos os elogios entusiásticos que anda a receber um pouco por todo o lado...

Kimi, podes começar por explicar o que é um griot?

Há griots na Guiné-Bissau e noutros países ali à volta desde há séculos. Um griot é um músico que conta as histórias do povo e dos reis. Muitas vezes, eram os griots que, nas zonas de conflito, iam lá para obter a paz. Também servem para dar o devido reconhecimento, através da sua música, às pessoas que fazem coisas importantes ou que estão no bom caminho ou para levantar a moral das pessoas que estão em baixo.

O teu novo álbum, “Karam”, é quase um álbum conceptual, ao antigo estilo do rock progressivo, não musicalmente mas no sentido de cada canção ter uma dedicatória a alguém ou a alguma coisa que achas importante.

O álbum reflecte a minha maneira de ver o mundo, hoje. Mais especificamente, desde que estou na Europa comecei a olhar para África de uma maneira diferente e tenho que dizer que há coisas que não me agradam muito por lá – e falo delas nas minhas canções. Mas também presto homenagem a pessoas com quem concordo ou que eu admiro, como Dabó ou Fatumata. Mas também falo dos conflitos entre etnias, dos fulas e dos mandingas, na Guiné-Bissau e noutros países africanos. Falta democracia, falta estabilidade – um país pode estar calmo num dia e no outro já não estar -, há muita miséria... E é disso que fala o disco. Do sofrimento dos povos e também de coisas que sofro dentro de mim.

Tu falas de assuntos tristes – por vezes, trágicos – mas sobre uma base musical muitas vezes luminosa, alegre, dançável...

Não concordo. As pessoas podem achar que a música é alegre, mas eu sinto-a triste, quando falo de coisas tristes. Quando eu componho e me inspiro, por exemplo, na situação do meu país – que está muitas vezes em guerra e onde eu continuo a ter a família – não consigo dar à música a alegria de que muita gente pode estar à espera.

Uma característica muito bonita dos músicos da Guiné-Bissau que vivem em Portugal é colaborarem muitas vezes todos juntos. Neste teu álbum também tens muitos deles (Braima Galissá, N'dara Sumano, Maio Coppé...), os Guiné All Stars todos!

Sim, foi de propósito. Eu busco sempre a união entre todos. Nós, guineenses, temos que nos unir e ajudarmo-nos uns aos outros. Um músico sozinho não faz nada! Mas também há músicos de outros países: portugueses, moçambicanos, uma senegalesa, um guitarrista dinamarquês...

O teu primeiro álbum, que saiu há cerca de cinco anos, era uma gravação caseira, muito simples... Este, ao contrário, tem uma excelente produção e estás numa grande editora. É um grande salto.

É, é um grande salto. Mas não me esqueço das pessoas que trabalharam comigo no primeiro e que me acompanharam até aqui. Também foi importante. Mas estou muito feliz por fazer parte da Cumbancha: está a levar o meu trabalho a sítios com que nunca sonhei.




Kimi Djabaté
"Karam"
Cumbancha/LeveMuisc

Radicado em Portugal há quinze anos, o cantor, guitarrista e balafonista (o balafon é um xilofone tradicional da África Ocidental) Kimi Djabaté nasceu na Guiné-Bissau, no seio de uma família de griots – os transmissores ancestrais da sabedoria dos povos da África Ocidental. E não fugiu ao seu destino. Músico desde criança, editou há alguns anos o álbum de estreia, "Terike", mas é agora, com o segundo Karam, que está a gerar um grande sururu no circuito da world. Sururu merecido: em "Karam" está toda a tradição griot – dos textos cantados aos instrumentos (balafon, kora, etc...) - mas também uma magnífica pulsão eléctrica que a leva para o futuro. Em “Mogolu”, uma canção lindíssima (mas não a única), a guitarra e o resto parecem Ali Farka Touré. E isso é bom. (****)

25 julho, 2010

Festival Folk/Celta de Ponte da Barca Regressa em Agosto


Directamente pilhada do blog Sons Vadios,aqui fica a notícia da terceira edição do Festival Folk/Celta de Ponte da Barca, que decorre nos dias 14 e 15 de Agosto:

"Ponte da Barca vai ser palco, no fim-de-semana, dias 14 e 15 de Agosto, pelo 3º ano consecutivo, do Festival Folk/Celta. Este evento pretende, à semelhança das edições anteriores, ser o veículo para o cruzamento de sonoridades musicais folk e celtas, contando para o efeito, com a participação de grupos vindos de Portugal e Espanha. Paralelamente aos espectáculos, haverá animações e diversas outras actividades.

Os espanhóis Keympa são o grupo convidado para abrir esta terceira edição do festival folk celta. Considerados como um dos nomes seguros da música folk em Espanha, afirmam cada vez mais nas suas canções as suas influências celtas, fazendo com que cada concerto seja um espectáculo contagiante de ritmos, em que se descobre um novo caminho, uma via de fusão, um ponto de encontro que não obedece a fronteiras, quer as geográficas quer as dos sentimentos.

A dividir o palco com os keympa no 1º dia de festival vai estar a Brigada Victor Jara, um dos nomes de referência da música popular portuguesa, que ao longo dos anos recolheram músicas de todas as regiões portuguesas, reflectindo nos seus concertos a diversidade sonora de Portugal com as canções mais ritmadas do norte, as belas harmonias do Alentejo e trazendo ainda influências de locais tão díspares como o Norte de África e a Escócia.

No Segundo dia (15 de Agosto), subirão ao palco os Lufa Lufa (na foto), projecto originário do Porto, que têm como cartão de visita “Foledad”, um reportório de temas originais que percorre distintas linguagens musicais e com uma forte componente visual e cénica, transportando o espectador por paisagens imaginárias.

Para encerrar mais uma edição do festival folk celta, que tem dado mostras da sua importância enquanto crescente referência do concelho de Ponte da Barca, vão actuar os Luar na Lubre, uma das mais importantes referências do panorama musical Galego e a que talvez tenha um maior impacto internacional, com uma carreira de mais de 20 anos recheados de êxitos, prémios e distinções um pouco por todo o mundo.

O grupo tem como base de trabalho a preservação da identidade da cultura galega, dedicando uma grande atenção ao cancioneiro tradicional daquela região espanhola que é o seu grande campo de trabalho e pesquisa.

Resta acrescentar que este festival é organizado pelo Município de Ponte da Barca, e pela Adere-PG, inserido no projecto POCTEP, Natura Xurês Gerês, Gestão conjunta do Parque Natural da Baixa Limia Serra do Xurés, Chefe de fila – Xunta de Galicia-Conselleria do Medio Rural- Dirección Xeral de Conservación da Natureza; Parceiro 1 – Departamento de Gestão das Áreas Classificadas do Norte | Parque Nacional da Peneda-Gerês; Parceiro 2 – Associação de Desenvolvimento das regiões do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Todos os espectáculos têm início marcado para as 22h00, com entrada livre."

Mais informações, aqui.

23 julho, 2010

Festa do "Avante!" - Programa Completo dos Palcos Principais


O site do PCP já divulgou a programação musical completa dos palcos principais da edição deste ano da Festa do "Avante!", que se realiza mais uma vez na Quinta da Atalaia (Amora/Seixal), de 3 a 5 de Setembro:

"Artistas da Festa do «Avante!» 2010

A Naifa
A vontade de continuar sobrepôs-se à dor da perda e uma nova Naifa nasceu no espectáculo de homenagem a João Aguardela no CCB. Com Luís Varatojo, Sandra Baptista no baixo e Samuel Palitos na bateria, a semente deixada pelo João foi lançada de novo à terra e volta a dar frutos. O trabalho dum grupo marcado pela criação de um repertório totalmente original.
http://www.anaifa.com/

Abrunhosa & Comité Caviar
Três anos depois de «Luz», Pedro Abrunhosa regressa – e parte para longe! Um disco que corresponde à sua necessidade de mudança e de quebrar rotinas. Vieram João Bessa e o Comité Caviar (teclados e órgão, guitarras, baixo, bateria e percussão, piano e coros).
Mudou ainda mais no som: jazz, funky de raízes fundas, lado a lado com os seus mestres na canção europeia, tudo acrescenta com o som do rock de tónica americana e, sobretudo - qualidade.
http://www.abrunhosa.com
http://www.myspace.com/abrunhosa

Adriana
Adriana, formada no Conservatório com apenas 16 anos, não parou de aprender. Universidade em Lisboa, experiência em Paris e uma bolsa para Boston. Na América formou-se com distinção e, depois, o que realmente importava: a escrita, íntima, pessoal, cuidada. Lança o seu álbum de estreia. Faz quase tudo: canta e toca, mas também assina as letras, as composições e os arranjos. Em palco, ainda se revela mais: a expressão viva de um corpo que também canta.
http://www.adriana.com.pt


Ana Laíns
Ana Laíns construiu-se nos concursos da televisão, da rádio, nas colectividades. Em 1999 sagrou-se vencedora da Grande Noite do Fado. Depois, os Casinos, Estoril, Figueira, Espinho, Póvoa. E também musicais. Na bagagem de todas essas viagens – estava o piano: «Tem estado sempre presente na minha vida. Mas a música portuguesa sempre foi a maior paixão, o Fado, a música tradicional. Adoro a liberdade de poder cantá-los acompanhada apenas pelo piano.”
http://www.myspace.com/analains

António Chaínho
com Isabel de Noronha e Pedro Moutinho
O reconhecimento internacional das suas sempre surpreendentes apresentações, levam António Chaínho a ser considerado entre os melhores 50 instrumentistas da world music pela revista Songlines. Depois do Brasil e de África, a guitarra portuguesa do Mestre António Chainho viaja até à Índia. Em LISGOA, o projecto que nasceu desta viagem, o desafio é surpreender novamente o público, ligando à guitarra portuguesa sonoridades de instrumentos indianos reunindo diversos músicos em palco e a que se junta uma segunda parte dedicada ao Fado com as vozes de Isabel Noronha e Pedro Moutinho,
http://www.antoniochainho.com

Baile Popular
“Eu e o João Monge somos amigos de infância. Desta vez fomos directamente à fonte das palavras. O Povo Alentejano tem um cantar único e próprio que define um país único. A paisagem do sul cruza-se neste Baile Popular com universos que vão desde o Nordeste brasileiro, até à roulotte estacionada algures no deserto americano. O Zé Emídio, o Luís Espinho, o Paulo Ribeiro, o João Paulo são as vozes, o Mário Delgado, o Alexandre Frazão, o Miguel Amado e eu, armamos o resto do baile. Peguem na mão de quem amam e venham. Dancemos e cantemos este Baile Popular.” João Gil
http://www.myspace.com/bailepopular

Bernardo Sassetti Trio
“Muito do que hoje sei devo-o a este trio, ao Carlos Barretto – irreverente como poucos, sempre em constante diálogo com os outros, “astrológico” – e ao Alexandre Frazão – simultaneamente pela força e subtileza das sonoridades da sua bateria e pela energia que dá à dinâmica deste trio.
Conhecemo-nos bem.” Bernardo Sassetti
http://www.oncproducoes.com/musicos/sassetti/trio.html

Brigada Victor Jara
“Quando aconteceu a primeira Festa do Avante! a Brigada Victor Jara lançava, já, vozes e instrumentos. O nosso primeiro Palco foi levantado no Jamor por mãos militantes, as mesmas que fazem o Partido. Estávamos em 1977 e, desde então, foram raros os Setembros em que não marcámos encontro. A Brigada considera cada ano a Festa a data de um calendário novo, herdeiro das velhas tradições festivas populares. É o momento em que o Verão se despede e a luta reacende desejos de um mundo melhor.” Manuel Rocha
http://brigadavictorjara.blogspot.com/

Bunnyranch
Os Bunnyranch surgem no ano de 2001 em Coimbra e lançam o primeiro registo discográfico em 2002. Em 2004, o primeiro longa duração, uma digressão nacional. Em 2005 representam Portugal no Eurosonic, na Holanda, e vão a Espanha, França e Grã-Bretanha. No ano seguinte, a banda é alvo do galardoado documentário Rockumentário, de Sandra Castiço. Em Fevereiro de 2010 editam o seu mais recente álbum If you missed the last train.
http://www.myspace.com/bunnyranchspace

CACIQUE’97
De Portugal e Moçambique, CACIQUE’97 é um colectivo de afrobeat dez músicos de conhecidos bandas funk, reggae e afro. Uma banda sonora global, dos novos tempos, sem perder o lado reivindicativo e de promoção da consciência social característica do afrobeat. Recentemente lançaram o seu segundo videoclip, Sr.Diplomata, e têm a agenda preenchida com concertos e festivais na área do world music .
http://www.myspace.com/cacique97

Camba Tango
Fundado em 2006, em Buenos Aires, este novo grupo de tango depressa se destacou na cena musical argentina, brindado com os prémios Carlos Gardel. Tocaram no Centro de Convenções do Parque Norte, tal como nas milongas mais populares milongas porteñas. Em 2007 encerram o Festival “A Guitarra: da Renascença ao Rock” e, em 2009, realizaram uma tournée pelo Japão, Singapura e Tailândia. A sua digressão europeia de 2010 conta, com o apoio do governo argentino no âmbito de um prémio pela divulgação do tango.
http://www.cambatango.com

Catarina dos Santos
Catarina dos Santos nasceu no Barreiro, em 1977. Desde pequena viveu a música portuguesa, de Angola, Cabo Verde, do Brasil. Estuda Pintura e Cerâmica na Universidade de Lisboa, música no Conservatório, jazz no Hot. Prossegue nos Estados Unidos e no Brasil onde grava os seus primeiros discos. Faz um trabalho de pesquisa no Nordeste do Brasil. Em Agosto de 2009 lança o Balanço do Mar em Lisboa e é convidada para participar no CCB ao lado de Seun Kuti e Branford Marsalis. Catarina vive entre Nova Iorque, Recife, Brasil e Lisboa.
http://www.myspace.com/catarinadossantos

Claud
Claud iniciou a sua carreira a solo em 2006 com o Contradições, a que se seguiu Pensamento, ambos considerados disco Antena 1. O cruzamento entre os instrumentos tradicionais como a braguesa, a gaita de foles, o adufe as caixas, com os sons tecnológicos e a voz grave e quente de Claud, dão uma cor inconfundível a uma presença diferente.
http://www.claudmusic.com

Dany Silva e Celina Pereira
Nascido na Cidade da Praia, Dany Silva vive em Portugal desde 1961. A música acabou por triunfar sobre o engenheiro agrário e deu um dos mais relevantes músicos da cena cabo-verdeano. Com uma vasta discografia e um longo historial de colaboração com músicos portugueses, largamente contribuiu para o encontro entre as duas sonoridades, traduzido no recente lançamento de dois novos álbuns.

Celina Pereira igualmente se fixou em Portugal há vários anos, mantendo um empenho particular na preservação das antigas tradições musicais e poéticas cabo-verdeanas em risco de desaparecimento (o seu último trabalho é pensado para a área da educação intercultural e resulta de um extenso trabalho de investigação).
http://www.danysilva.com
http://www.celinapereira.com

Dazkarieh
Após um caminho de dez anos de vida, os Dazkarieh conseguiram criar um som inconfundível. É o som do passado pelos instrumentos antigos e acústicos e é o som do presente que se ecoa quando se transforma em distorção pura. É a tradição portuguesa, mas também uma tradição dos nossos dias que provocam uma explosão sonora, ainda que plena de intimismo.
http://www.myspace.com/dazkarieh

Demian Cabaud Quarteto com Leo Genovese
O mais recente CD do contrabaixista Demian Cabaud, Ruínas, mostra-nos várias facetas deste músico argentino, que vindo dos EUA há já 5 anos, se integrou com naturalidade na cena jazzística portuguesa. Este grupo, um quarteto sem instrumento harmónico, interpretará melodias escritas por Demian completando-se com a presença em algumas das faixas do pianista Leo Genovese.
http://www.myspace.com/demiancabaud

Deolinda
E surgiu a Deolinda (na foto), que é fictícia. Até certo ponto, embora por vezes ganhe corpo e assuma a forma da cantora Ana Bacalhau. Hoje em dia já seria fútil evocar o entusiasmo que o quarteto da cantatriz Ana, das guitarras dos irmãos Martins e do contrabaixista Zé Pedro Leitão suscitaram antes e depois da publicação do primeiro álbum, Canção ao lado. Passaram-se dois anos. Ultrapassaram as salas pequenas, as salas maiores, concertos, festivais, multidões ao ar livre. E a seguir para os teatros, rádios e televisões de outros países.
http://www.deolinda.com.pt/

Diabo na Cruz
Diabo na Cruz faz a ponte entre duas margens que viveram separadas: música moderna portuguesa e música popular portuguesa. Cinco músicos com temas que são do mais fresco e entusiasmante que se fez por cá nos últimos anos. Os Diabo na Cruz recuaram ao tempo em que a música tradicional era rainha e juntaram-lhe a atitude do século XXI.
http://www.myspace.com/diabonacruz

Dias da Raiva
Os Dias da Raiva fazem parte de uma série de bandas com relevância em Portugal de há mais de uma década. O que une este cinco elementos nesta espécie de “super grupo” é uma urgência na música e nas palavras: "Vamos despojar-nos de tudo o que é supérfluo para nos concentrarmos apenas na força da energia pura rápida curta e sem vírgulas. Bem vindos aos dias de raiva".
http://www.myspace.com/osdiasderaiva

Eina
Uma palavra de ressonância obreira, EINA (ferramenta, em catalão) é o nome que os membros dos Inadaptats escolheram para uma nova fase: “Aqueles que pensavam que a idade é o antídoto para o pensamento revolucionário escrevem – enganaram-se connosco. Voltamos com as intenções mais subversivas do que nunca, com o explosivo mais eficaz: os livros”. E A Arte da Guerra é o titulo do primero álbum, baseado na obra célebre do teórico militar chinês Sun Tzu. Para adaptação musical, os EINA gravaram catorze temas. Um CD-Livro e um espectáculo com Sun-Tzu, mas agora ao som do metal, do hip-hop e do punk da era Inadaptats.
http://www.myspace.com/einappcc

Expensive Soul
Passaram-se quatro anos desde “Alma Cara” e o amadurecimento estético é notório no 3º disco dos Expensive Soul. O single de avanço, O Amor É Mágico, tomou rapidamente de assalto as principais rádios portuguesas e renovou o interesse do público. O título “Utopia” tem tudo a ver com as canções já que segundo os autores “relatam um mundo nosso ou imaginado por nós para atingirmos a perfeição. Utopia, né?!”
http://www.expensivesoul.com/

La Rumbé
La Rumbé nasce do underground barcelonês em 2003. É um grupo poeticamente transgressor, que junta de maneira natural a rumba, o rock, as músicas tradicionais. Seis anos tocando, nos quais abriram concertos de lendas vivas como Los Patriarcas de la Rumba, em salas como L'Auditori ou Luz de Gas em Barcelona, Sala Sol, ou Boca del Lobo em Madrid. Em festivais em Espanha e Itália. Também tocaram na prisão de La Trinitat, em Barcelona. Em Itália e na Suécia. Desde Janeiro de 2008, a Fratelos Tour levou-os a mais de 90 sítios em toda a Espanha – e chegaram a Lisboa!
http://www.myspace.com/larumbe

Luísa Basto
Luísa Basto celebra "40 anos a cantar o Povo e a Liberdade". Nasceu no Alentejo, em Vale de Vargo, à beira de Serpa. Estudou canto e música, licenciando-se em 1973 no Instituto Musical Pedagógico do Estado em Moscovo. Regista canções com palavras de nomes como Eugénio de Andrade, José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca, Ary dos Santos, Florbela Espanca. O seu trabalho discográfico "Alentejo" é um hino de amor à terra e suas gentes. O seu último CD com poemas de António Henrique inclui temas musicais de João Fernando (autor/compositor de eleição de Luísa), José Alberto, Manuel Gomes e Fernando Gomes. Luísa Basto estará na Festa do Avante! acompanhada pela Big Band Loureiros e Grupo Scala.

Monte Lunai
Os Monte Lunai lançaram em 2009 o álbum In Temporal com excelente acolhimento. É um disco feito por músicos muito diferentes, pegando em tradições de diversos países, transformando sonoridades actuais e muito próprias. Constituído por instrumentos pouco comuns, o grupo dedica-se à revitalização de temas e danças de diversas regiões do mundo: a música francesa, alemã, portuguesa, irlandesa, grega, bretã, galega entre outras!
http://www.montelunai.com

MUXIMA
Janita, Filipa Pais, Ritinha Lobo, Yami

Muxima é o nome que dá vida ao álbum de homenagem ao Duo Ouro Negro e que assinala os 50 anos do seu início, um dos projectos musicais mais carismáticos da década de 60 em Portugal. Hoje, são quatro músicos lusófonos: os portugueses Janita Salomé e Filipa Pais, bem como a cabo-verdiana Ritinha Lobo e o angolano Yami, os quais emprestam as suas vozes aos mais emblemáticos temas dos Duo Ouro Negro. O nome surge exactamente porque muxima é a palavra angolana para “coração”, e as músicas dos Duo Ouro Negro estão guardadas no coração de muitos portugueses.

Orquestra de Jazz de Matosinhos
com Kurt Rosenwinkel
O guitarrista norte-americano Kurt Rosenwinkel é o solista convidado da Orquestra Jazz de Matosinhos (OJM) no concerto da Festa do Avante!. Rosenwinkel é tido como um seguidor de músicos como Metheny ou Scofield, mas conseguiu já impor a sua linguagem própria. Com este concerto, a OJM reforça a aposta na política de ligação a grandes instrumentistas, com quem partilha projectos que têm trazido a Portugal nomes como Chris Cheek, Lee Konitz, Dee Dee Bridgewater ou a compositora Maria Schneider.
http://www.ojm.pt

Peste & Sida
Os Peste & Sida iniciam a sua carreira em 1986. Em 1991, o grupo começou a a ter uma actividade paralela sob o nome de Despe e Siga e em 95 dá-se a separação. Um dos fundadores, João San Payo, convicto de que os Peste & Sida têm futuro, passou à reconstrução. Em Outubro de 2002, a Universal lança a compilação A Verdadeira História dos Peste & Sida e em 2003 concretiza-se a reactivação com um espectáculo que esgota a lotação do Santiago Alquimista. Em 2004 sai o quinto álbum dos Peste & Sida com o título Tóxico. A banda tem novidades, os espectáculos sucedem-se e reafirma-se com o grande grupo punk da cena portuguesa.
http://www.myspace.com/pestesida

Ricardo Pinheiro Sexteto
Neste concerto, que conta com a participação de Mário Laginha, João Paulo Esteves da Silva, Alexandre Frazão, Demian Cabaud e Pedro Moreira, o Sexteto do guitarrista Ricardo Pinheiro irá apresentar ao vivo o disco Open Letter. Composto por música e arranjos da autoria do guitarrista, este trabalho combina todo um conjunto de influências que se funde na perfeição com a personalidade dos músicos envolvidos.
http://www.myspace.com/ricardofutrepinheiro

Roberto Pla All Stars
Roberto Pla - o «Rei dos timbales» - nascido em Barranquilla, na Colômbia, transformou-se numa lenda entre os percussionistas do seu país, o que acabou por o integrar na famosa La Tradición, que o traz para Europa em 1987, fixando-se em Londres onde se transforma num verdadeiro «guru» do som latino-americano no Velho Continente. Participa em numerosas gravações, bandas sonoras e montagens teatrais, com Joe Strummer ou Kate Bush. A sua formação habitual, os All Stars Latin Ensemble (com o qual se apresentará na Festa) inclui seis percussionistas, quatro sopros, teclados e dança.
http://roberto-pla.150m.com/


Sebastião Antunes e Quadrilha
A Quadrilha liderada por Sebastião Antunes vai na Festa viajar ao longo dos seus seis CDs. Este o concerto que será como habitualmente efusivo, interventivo e com uma energia contagiante. Mas não só. Depois de décadas a liderar projectos colectivos, eis que este músico surge também a solo: Cá Dentro… Sebastião Antunes tece este casulo de música do qual se soltam doze canções que têm de ser ouvidas.
http://www.quadrilha.net/

Stonebones & Badspaghetti
Os Stonebones & Badspaghetti são a única banda de bluegrass em Portugal. Nasceram no início de 2009, como consequência de sessões improvisadas em casa de Bryan Marovich, estudante americano que vivia em Portugal e entusiasta deste estilo de música da América popular das montanhas Apalaches. Cedo construíram um forte núcleo de fans ao qual se juntam outros músicos, hoje uma banda única no panorama nacional.
http://www.myspace.com/stonebonesandbadspaghetti

The Flawed Cowboys
Vieram da Austrália e da Irlanda. Tocam tudo o que faz da música irlandesa, galesa, norte-americana um padrão da qualidade e da sensibilidade dos instrumentos acústicos, do banjo à harmónica, do contra-baixo ao dobro. Mick Daly, Frankie Lane, Chad Dughi e Damian Evans também cantam, com aquela harmonia vocal que não se sabe se nasce dos instrumentos ou são eles que dela nascem. E que se ouve na Irlanda, nos Apalaches – na Festa.
http://www.nodepression.com/profile/ChadDughi

http://www.myspace.com/frankielaneireland

Tim e Companheiros de Aventura
No seu novo espectáculo Tim apresenta para além dos seus originais belíssimas canções de outros compositores compostas e partilhadas pelos seus Companheiros de Aventura: Rui Veloso, Mário Laginha, Celeste Rodrigues e Vitorino estão presentes em palco, em temas únicos e inesquecíveis. Uma Festa! Este CD é o registo dos encontros casuais de Tim com alguns convidados muito especiais na Fábrica do Braço de Prata e no Museu do Oriente. Noites inesquecíveis, Companheiros de Aventura é a junção de várias correntes e gerações, a sensibilidade e a segurança de cada um dos convidados, uma mistura fina e poderosa. Companheiros de Aventura é um trabalho de amor, amizade, partilha e muita aventura.
http://www.musica.iol.pt/noticias/tim-novo-disco-solo-companheiros-de-av...

Tornados
Os Tornados, uma das mais desconcertantes bandas a surgirem do panorama nacional. Agora que, definitivamente, se assumem com a definitiva designação, actualizam o rock’n’roll e o surf da década de 60. Twist do Contrabando, editado em 2009, foi só um dos 10 melhores álbuns do ano da revista Blitz.
http://www.myspace.com/ostornados

US&THEM
A Festa do Avante! terá este ano, o prazer de saborear rock‘n’roll ao som duma banda entusiasmante e plena de energia que – como tantos outros grandes grupos nacionais – chega do Norte: os US&THEM. Com o seu primeiro EP lançado no início de 2010, Highway 19, assume as influências dos tempos áureos do rock.
http://www.myspace.com/usnthemband"


Fonte: http://pcp.pt/node/245004

18 julho, 2010

Cacharolete de Álbuns (Híbridos e Sem Ligações Aparentes)


As músicas, cada vez mais, viajam livremente entre várias épocas e vários continentes e vários géneros. E ainda bem. Hoje aqui ficam mais quatro bons exemplos de músicas híbridas, rafeirosas (e todos nós sabemos que os melhores bichos também o são), abertas... Senhoras e senhores, os Tribeqa, Carolina Chocolate Drops, ErsatzMusika e Cibelle (na foto,de Socrates Mitsios), tal como vistos por mim há alguns meses na "Time Out Lisboa".


Tribeqa
"Tribeqa"
Underdog/Massala
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A base da sua música é o jazz, mas os franceses Tribeqa juntam-lhe funk, bossa-nova, soul, hip-hop (está aqui DJ Greem, dos C2C e Hocus Pocus, no scratch), música árabe e um quase omnipresente balafon mandinga (e a flauta do marfinense Magic Malik num dos temas) a levar tudo para África. Liderados pela compositora, vocalista e percussionista (incluindo o balafon e o vibrafone) Josselin Quentin, os Tribeqa partem de Nantes para visitar variadíssimas “músicas do mundo” mas com um som muito próprio e original. Um dos treze temas de "Tribeqa" – álbum homónimo e de estreia do grupo - tem título em português, “O Bêbado”, e, de facto, é o delírio alcoólico-musical mais perfeito que alguma vez se fez; que nos perdoem Tom Waits, Shane MacGowan, Janis Joplin, Hanggai e Serge Gainsbourg.




ErsatzMusika
"Songs Unrecantable"
Asphalt Tango/Megamúsica
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Grupo formado maioritariamente por músicos russos, embora a viverem na Alemanha, os ErsatzMusika são um objecto (muito) estranho no meio musical da actualidade: a cantora, multi-instrumentista e compositora de muitos dos temas, Irina Doubrovskja, canta como se tivesse na voz Marlene Dietrich, Nico e Marianne Faithfull; e o som da banda vai – sem pudores nenhuns e como se todos pudessem conviver livremente - ao cabaret berlinense dos anos 30 e aos Velvet Underground, à música cigana do leste europeu e aos Echo and The Bunnymen, à Penguin Cafe Orchestra ou aos Doors. Mas em “Oy, Pterodactyl” soam como se os B-52's fizessem uma versão circense de um tema qualquer do Elvis Presley. Faz confusão? Sim. Mas depressa desaparece quando a paixão fala mais alto.



Carolina Chocolate Drops
"Genuine Negro Jig"
Nonesuch/Warner
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Produzido por Joe Henry, "Genuine Negro Jig" é o quarto álbum do fabuloso trio Carolina Chocolate Drops, um grupo que recria as antigas canções para cordas (banjo, rabeca, por vezes guitarra e autoharpa) da zona do Piedmont, transversal à Carolina do Sul e Carolina do Norte. Mas o trio, que apresenta ainda duas magníficas vozes (uma masculina e outra feminina), não usa só esses instrumentos para recriar temas de dixieland, blues, country e até folk inglesa e irlandesa: garrafões (soprados à velha maneira das “jug bands”), colheres percutidas, kazoo, invenções vocais (de beatbox a uma imitação das vozes guturais de Tuva) estão também presentes nesta música ao mesmo tempo muito antiga e absolutamente actual (não por acaso, um tema de Tom Waits encaixa que nem uma luva no restante conjunto).




Cibelle
"Las Vênus Resort Palace Hotel"
Crammed Discs/Megamúsica
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Apesar de ser brasileira, Cibelle tem-se afastado cada vez mais do carimbo “Brasil” e optado por um percurso próprio, pessoal, cada vez mais reconhecível como uma marca “Cibelle”. E isso é bom. No seu novo álbum, lindíssimo e hiper-equilibrado, Cibelle é ela mesma armada com o alter-ego Sonia Khalecallon, a mesma que nos dá as boas-vindas ao seu "Las Vênus Resort Palace Hotel"... E, como se pode por isso compreender, este é um álbum conceptual – onde nem faltam passarinhos e relógios a unir as faixas – cheio de belíssimas canções muito bem cantadas e onde a música exotica convive com a alt-country, electrónicas elegantes, o cabaret, lounge tropical, versões inesperadas ("007", "Os Marretas"...), a freak-folk e, sim, também alguma música brasileira, embora, “mutante”.

16 julho, 2010

Andanças - Flocking leva os Bailes para o Futuro










Para quem pensa que o Andanças está apenas agarrado a danças do passado - ou do presente -, aqui fica um dos destaques da programação deste festival que ocupa, mais uma vez, a aldeia de Carvalhais (S. Pedro do Sul), de 2 a 8 de Agosto, e que puxa definitivamente o Andanças para o futuro:



Flocking: tecnologia de bailes interactivos

O projecto "Flocking", com direcção artística de Luís Miguel Girão, é uma co-produção Artshare/PédeXumbo. Este projecto trabalha no campo da criação de bailes interactivos, explorando o conceito de trabalho em grupo versus massas anónimas. Neste projecto, os bailadores induzem, através da dança, o ambiente sonoro a despoletar, graças à presença de sensores, que condicionam o ritmo da música e o repertório seleccionado por um computador - um pouco como um cardume de peixes muda de direcção em simultâneo – o nome “flocking” deriva do inglês “flock” (rebanho/bando).

A dinâmica de inteligência colectiva, apesar de ser trabalhada por meios complexos, é simples: se os bailadores dançam num ritmo mais rápido ou lento, ou com figuras mais complexas ou simples, a música tocada segue essa influência - e vice-versa.
Um tal processo interactivo nunca foi testado...até agora. E será no Andanças, tendo como base os repertórios da música e dança tradicional, que tal experiência-piloto terá lugar, aproveitando o facto de aí estarem presentes 25.000 pessoas, grande parte delas amantes da música tradicional, músicos e dançarinos experientes.

Mais informações:

http://www.andancas.net/pt/programacao/50
http://www.gehlhaar.org/pages/soundspace.htm
http://www.artshare.com.pt/trabalhos/soundspace.html
http://www.artshare.com.pt/trabalhos/coop.html



Update da comunicação anterior:


Comunidade

Em 2010, o Andanças vai transformar a aldeia de Carvalhais na verdadeira Comunidade Global. Vamos juntar músicos, dançarinos, voluntários, cientistas, artistas, de muitas origens: gente com ideias novas, brilhantes, originais, singelas ou loucas, para ver o Mundo de novas maneiras. Fazer da Utopia uma Pandemia! A programação inclui música de muitas partes do Mundo, de comunidades de artistas, de grupos sociais de bairros escondidos das nossas cidades, das aldeias onde se vive um espírito comunitário e de pessoas que partilham ideias, música e dança através de redes sociais na Internet - estamos todos ligados


Maior e Melhor

O Andanças está diferente! Há mais tendas com mais espaço para dançar, uma cantina maior e melhor, um novo sistema de compra de bilhetes on-line, novas pulseiras mais ecológicas (e bonitas!), descontos para famílias... E claro, mais sustentável: Menu Km-Zero com produtos locais, mais uso de energia solar e melhor gestão da água, Bus Andanças directo até Carvalhais para evitar trazer o carro...até a Caneca Andanças vai ser diferente. Venha conhecer as novidades deste ano!

Bailes, Concertos, Oficinas, Actividades paralelas

Este ano há mais diversidade e variedade: o Andanças trará danças de Moçambique, Timor, da França e do Brasil, da Rússia, Itália, Polónia, Cabo Verde ou Índia - sem esquecer as danças portuguesas do Alentejo (que também existem!), da Beira ou do Minho e muitas mais. Bandas lançam os seus CD (Nação Vira Lata, Monte Lunai, Uxu Kalhus, Eddy Slap); o projecto "Flocking" mistura tecnologia e tradição durante sete dias, numa experiência pioneira; as actividades paralelas e as conversas sobre Música e Dança, Open-Source, Direitos de Autor e Ecologia vão envolver toda a gente, para discutir e construir Comunidades mundiais e locais na já grande Comunidade que é o Andanças. Venha saber tudo o que há para ver e fazer!...

Mais fácil e mais rápido

Este ano o Andanças vende os bilhetes através da Internet, no site do festival, de forma mais cómoda, fácil e rápida - até se pode comprar no mesmo sítio o bilhete do Bus Andanças. Até 20 de Julho decorre a venda antecipada, com 20% de desconto. A partir dessa data, é praticado o preço normal.Como queremos juntar Comunidades, haverá descontos para famílias com dois ou mais filhos, crianças até 12 anos, associações parceiras e residentes de Carvalhais.
Consulte as informações completas no site em www.andancas.net

Site geral do Andanças:

http://www.andancas.net/

15 julho, 2010

Batida - Sincretismo Sem Secretismo



Os Batida vão protagonizar, na madrugada de dia 31 de Julho, o concerto de encerramento do FMM de Sines deste ano. É mais que justo: o grupo luso-angolano é uma das maiores revelações musicais dos últimos anos da música que se faz em Lisboa mas que tem as suas raízes em África. Hoje, neste blog, recupero uma entrevista que fiz com eles o ano passado, quando saiu o álbum «Dance Mwangolé», originalmente publicada na «Time Out Lisboa».


As pontes que a Batida faz

Entre Lisboa e Luanda, os Batida gravaram um dos álbuns mais importantes de sempre da música portuguesa e angolana: "Dance Mwangolé". António Pires investigou, junto de DJ Mpula e Ikonoklasta, as coordenadas deste mapa do tesouro onde entram o kuduro, mas não só, e antigas gravações de música angolana.

Apesar de, nas últimas décadas, terem surgido novas expressões musicais em vários países da Europa continental – mercê da modernização de músicas tradicionais através do seu diálogo com géneros modernos, ou de músicas híbridas criadas em zonas essencialmente portuárias, de cruzamento de vários povos e culturas (Lisboa, Barcelona, Paris, Marselha, Istambul, Berlim...) – não nasceu, pelo menos de forma visível, nenhum novo género musical importante ou relevante para a história da música actual. Pelo contrário – e quase sempre tendo como base várias tipologias da música negra, anglo-saxónicas ou não –, Nova Iorque assistiu ao nascimento do hip-hop; Kingston ao do dancehall; Joanesburgo ao do kwaito; Londres ao do grime; Rio de Janeiro ao do baile funk; Luanda ao do kuduro... E o início do mapa Batida fica assim feito. Mas com um acrescento fundamental e o toque que torna este disco o documento histórico que ele realmente é: o mergulho nos arquivos da Valentim de Carvalho, em busca de samples e de bases dadas por antigas gravações de música angolana, velhos sembas e merengues, ritmos dados por reco-recos ou por berimbaus de Cabinda.

DJ Mpula – da Rádio Fazuma e iniciador deste processo todo – e Ikonoklasta – do seminal Conjunto Ngonguenha – são, nesta conversa, os porta-vozes dos Batida. E não, dizem eles, quando todo este processo começou não tiveram consciência da ponte de gerações e do sincretismo quase perfeito de várias músicas angolanas em que "Dance Mwangolé" viria a tornar-se. DJ Mpula diz: “Curiosamente, eu rejeitava a música angolana que os meus pais ouviam, o que acaba por ser normal numa criança ou num adolescente, geralmente mais atraído por coisas como o hip-hop ou o punk...”. Mas, se o respeito que tanto Mpula quanto Ikonoklasta têm por formas mais antigas de música angolana cresceu bastante nos últimos muitos anos, os Batida são a cristalização definitiva desse respeito pelos “cotas”.

Diz Ikonoklasta que “o Conjunto Ngonguenha sempre procurou fazer um hip-hop fortemente personalizado e enraizado na música angolana, logo um hip-hop angolano” (e o álbum “Ngonguenhação”, editado em 2004 era um passo decisivo neste sentido). Anos depois, DJ Mpula e Ikonoklasta (ambos angolanos), Beat Laden (português) e mais uma série de cúmplices – Sacerdote, Roda (no design dos elementos visuais do colectivo), Limão (no vídeo), o remisturador brasileiro DJ Chernobyl, a lenda da música angolana Carlos Burity, os grupos e artistas samplados no disco e ainda “clips” sonoros actuais presentes no documentário paralelo “É Dreda Ser Angolano” fazem a banda-sonora deste surpreendente e fabuloso "Dance Mwangolé".

DJ Mpula faz questão de dizer que “este não é um disco de kuduro! Há lá kuduro, mas há lá também os ritmos antigos e outros mais novos como o kwaito, o kwassa kwassa do Congo, o dancehall, o baile funk, etc... Não andámos à procura da variedade pela variedade, mas entre as “recolhas”, a intervenção nossa e dos MCs, as remisturas, as participações especiais, acabou tudo por ficar assim”.

Um dos momentos mais marcantes do álbum é quando uma voz anónima termina o fortíssimo e hiper-dançável “Bazuka” com a frase, aproximadamente, “Tenho dois estilhaços da guerra. Um aqui e outro na cabeça. Era só isso”. E tanto Mpula como Ikonoklasta dizem que nunca pensaram “em fazer um disco com estas características que não fosse, de certa forma, de intervenção e que não falasse dos problemas de Angola: os resquícios da guerra, a corrupção, etc...”. É que, para completar o ramalhete de "Dance Mwangolé", ainda faltava esta parte!

12 julho, 2010

Colectânea de Textos no jornal «i» (VI)


Os Três Senhores
por António Pires, Publicado em 27 de Agosto de 2009

O encontro estava pensado há muito tempo, mas só agora se vai concretizar: José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto vão dar dois concertos em conjunto (um em Lisboa, a 22 de Outubro; outro no Porto, a 31 do mesmo mês), em que vão cantar canções próprias e dos outros companheiros em palco - e, aposto, também de José Afonso, o "pai" musical e ideológico deles todos -, a solo, em duo ou em trio. Os espectáculos - e não é preciso ser a Maya para prever que serão dos mais relevantes de sempre da música portuguesa - serão gravados para posterior edição em CD e DVD. Há cinco anos (Maio de 2004), a propósito da edição do álbum "Resistir É Vencer", em que participavam como convidados Sérgio Godinho e Fausto, fiz uma entrevista a José Mário Branco em que lhe perguntava: "Em que pé está a ideia de fazer um espectáculo conjunto dos três?" A resposta de José Mário Branco foi exemplar: "Para já é só um projecto. Mas é daquelas coisas que, como se costuma dizer, não gostaria de morrer sem fazer, sem que esse espectáculo conjunto acontecesse. Mas um espectáculo em que fizéssemos músicas originais não seria um espectáculo do género: 'Olha ali aqueles três velhinhos a olharem para o passado.'" E, a julgar pela influência que os três têm tido na música portuguesa actual - audível em inúmeros artistas e grupos de variadas famílias musicais -, não se duvida um só segundo que estes "Três Cantos" (na foto, de Augusto Brázio) vão ser dois concertos que também irão lançar muitíssimas sementes para o futuro.





Toquem Gaiteiros, que nós dançaremos
por António Pires, Publicado em 03 de Setembro de 2009

A chegar à "maioridade" - são já 18 anos de carreira! -, os Gaiteiros de Lisboa estão prestes a editar um novo álbum, onde terão a companhia de Ana Bacalhau (Deolinda), Sérgio Godinho, Zeca Medeiros e Adiafa. E este texto serve para celebrar, por um lado, a notícia de um disco novo dos Gaiteiros de Lisboa, sem dúvida a banda- -charneira da renovação da música tradicional portuguesa, fazendo a ponte entre José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Fausto e GAC - Vozes na Luta e dezenas de novos grupos portugueses. E, por outro, para lhes fazer justiça num pormenor muitas vezes esquecido: a sua importância na transmissão pelo gosto da aprendizagem da gaita-de-foles às gerações mais novas. Curiosamente, um dos músicos dos Gaiteiros de Lisboa, Paulo Marinho, começou esse trabalho quando ainda fazia parte de uma banda de... rock, os Sétima Legião, que nos anos 80 levaram a gaita transmontana e galega ao conhecimento de muitos rapazes e raparigas dos grandes centros urbanos. Agora, em 2009, há gaiteiros em inúmeros grupos que não são só de gaitas-de-foles, mas também há outros - de Trás-os-Montes às regiões sulistas - que têm na gaita (e na caixa e no bombo) o seu instrumento preferencial: Galandum Galundaina, Roncos do Diabo, Lenga-Lenga, Velha Gaiteira, Gaiteiros de Alcochete, Cornes e Míscaros são apenas alguns deles. E - a atestar o crescimento do fenómeno - até há um grupo na Casa Pia. (*)






Roberto... Leal às raízes
por António Pires, Publicado em 10 de Setembro de 2009

Os músicos e cantores que mudam de rumo musical não são uma grande novidade. Só para nos cingirmos ao caso português, relembre-se como - entre tantos outros - José Cid já passou pela pop, pelo rock progressivo, pela música ligeira, pelo jazz ou pelo fado (é, sem dúvida, o maior "camaleão" da música nacional); Rão Kyao saltou do saxofone jazz para as flautas do mundo; Vítor Rua renegou a pop para se atirar à música arty e experimental. Até Amália Rodrigues tentou trocar o fado por outras coisas quaisquer (da música espanhola e italiana ao folclore ou àquele objecto não identificado chamado "O Sr. Extraterrestre"). Mas o caso de que falamos hoje é ainda mais extremo: Roberto Leal, o maior embaixador da música portuguesa no Brasil - e obedecendo quase sempre ao grande requisito desse estatuto (também sublinhado quando os malogrados Mamonas Assassinas assinaram o seu êxito "Vira-Vira") que é ser profundamente «'tuga» e... foleiro - deu, de há dois anos para cá, uma volta enorme na sua carreira. Fazendo apelo à sua condição de natural de Macedo de Cavaleiros, Leal editou "Canto da Terra" em 2007, um disco em que cantava temas tradicionais transmontanos, com músicos da Brigada Victor Jara e dos Galandum Galundaina. Ainda se pensou que era um capricho passageiro, mas agora surge "Raiç/Raiz", onde o reportório é um pouco mais alargado, mas em que Trás-os-Montes continua presente, e com um acentuado grau, se não de pureza, pelo menos de um respeito enorme. E com os mesmos bons músicos, também.

(*) - Nota... má: dez meses depois da publicação deste texto no "i", o novo álbum dos Gaiteiros de Lisboa ainda não foi editado - culpa da crise, da vontade da indústria discográfica, de outra (não) vontade qualquer... Um dia destes há-de existir, espero!

09 julho, 2010

"Raízes e Antenas", o Livro, é pré-apresentado no FMM de Sines


Se tudo correr bem, o livro "Raízes e Antenas - Mistérios e Maravilhas da World Music" será editado em finais de Agosto ou princípios de Setembro. Escrito por António Pires (pois...), com paginação de Rodrigo Madeira e editado pela MediaXXI, "Raízes e Antenas" recupera os 200 cromos que foram "colados" neste blog durante alguns anos. O livro terá a sua pré-apresentação dia 31 de Julho, às 17h00, no Centro de Artes de Sines, integrada no programa de actividades paralelas do FMM de Sines:

http://fmm.com.pt/programa/iniciativas-paralelas/pre-apresentacao-do-livro-raizes-e-antenas-misterios-e-maravilhas-da-world-music-de-antonio-pires/

08 julho, 2010

E Quantos Caminhos Tem a Música Indiana?


No seguimento da recuperação de vários textos publicados na «Time Out Lisboa» ao longo dos últimos meses -- e se nos próximos textos eu não referir a fonte é porque ela já aqui está bem explícita! -- aqui ficam mais algumas críticas a discos que têm como origem o imenso e misterioso continente indiano: o cantor Paban das Baul (na foto), o músico (aquilo é uma sitar? é uma pedal steel? é a mistura das duas? é o quê, afinal?) Debashish Bhattacharya e mais uma imensa colectânea de canções de Bollywood...


Debashish Bhattacharya
"O Shakuntala!"
(World Music Network/Megamúsica)

Se Ry Cooder tivesse composto e gravado a música para um filme chamado, imagine-se, “Havai, India”, em vez de um outro de nome “Paris, Texas”, o primeiro tema - “Megha Re” - do novo álbum do mestre da slide-guitar indiana Debashish Bhattacharya entraria imediatamente nessa banda-sonora. E a comparação, que poderia parecer despropositada se se pensasse que se está aqui à procura de uma simples contextualização ocidental para uma música oriental, até ganha algum fôlego se pensarmos que a slide-guitar é um instrumento de eleição nos blues ou na country e não tanto naquilo que estamos habituados a ouvir (sitar, tamboura, harmonium ou tablas...) na música indiana. Mas com Bhattacharya a slide-guitar (mesmo que uma slide-guitar que tem como base instrumentos de cordas locais) passou a ser, e “O Shakuntala!” é a sua obra-prima!, um instrumento indiano por direito próprio.

(****)



Vários
"The Bollywood Funk Experience"
Nascente/Megamúsica

Mais um disco da série "The... Funk Experience" da Nascente (que também inclui volumes dedicados a Cuba, ao Brasil e aos trópicos), este "The Bollywood Funk Experience" é capaz de ser o mais curioso de todos, tanto pelo elenco que apresenta – importantes compositores de clássicos do cinema de Bombaim (Mumbai) como RD Burman e estrelas maiores da arte do play-back do cinema indiano como a fabulosa cantora Asha Bhosle – como pela riqueza desta música híbrida que tanto deve à música clássica e tradicional indiana como a inúmeras contaminações externas: aqui o funk, claro, mas também coisas tão diversas como as bandas-sonoras do 007, o cha-cha-cha ou (oiça-se esta versão sublime) o “Twinkle Twinkle Little Star”.

(****)




Paban das Baul
"Music of The Honey Gatherers"
World Music Network/Megamúsica

Desde há muitos anos radicado no Ocidente, o cantor e percussionista indiano Paban das Baul tem deixado bem vincada a sua arte (produto de uma cultura milenar que mistura ensinamentos tântricos, sufis e budistas, entre outros) tanto nos seus álbuns a solo como em colaboração com gente como os State of Bengal ou Sam Mills. Neste novo álbum, Paban das Baul surge acompanhado apenas por instrumentos tradicionais da sua região natal de Bengala e não há aqui distracções eléctricas ou electrónicas: tanto a voz como a restante instrumentação estão ao serviço de uma função: o transe sagrado, a celebração da vida e da natureza, a circularidade de todas as coisas. "Music of The Honey Gatherers" sabe a mel, sim, mas também a algo muito antigo e de uma enorme sabedoria.

(****)

06 julho, 2010

Cacharolete de Discos - Chicha Libre, Hanggai, L'Enfance Rouge e The Ukrainians


Este texto já tem quase um ano de publicação original (na "Time Out Lisboa") em cima, mas é agora aqui recuperado:

Rockers de Todo o Mundo, Uni-vos!

A world music está cheia de rock. E o rock tem cada vez mais world music lá dentro. Os Chicha Libre, Hanggai, L'Enfance Rouge (na foto) e The Ukrainians sabem isto muito bem.

Por coincidência – ou talvez não – todas estas quatro bandas estiveram na edição deste ano do FMM de Sines. E talvez não porque é sabido como o FMM gosta de correr riscos e apostar, muitas vezes, em nomes que só muito vagamente poderão estar encaixados no conceito – e tão alargado que ele é! - de world music. E ainda bem. Um excelente exemplo disto mesmo foi o concerto dos L'Enfance Rouge no palco da praia, que dividiu radicalmente as opiniões: “que horror!”, diziam alguns; “grande banda!”, contrapunham muitos outros. Eu fui daqueles que gostei. Muito. Deles foi agora distribuído em Portugal o álbum “Trapani – Halq Al Waady” (T-Rec/Wallace/Mbari; ****), em que esta trupe formada por italianos, franceses e tunisinos tanto abraça o noise mais extremo quanto as desconstruções harmónicas dos Sonic Youth ou o metal experimental de uns Isis ou Mastodon. E a world music? Está lá, pois: oud, qanún, nay, violinos árabes, bendir e darabuka dão uma trágica/brilhante/épica cor magrebina e mediterrânica a tudo o resto.

Outra incursão brilhante por músicas que não eram “suas” na origem, os norte-americanos Chicha Libre deixaram as suas raízes rock de lado (mas não completamente) para recriarem a chicha, género peruano dos anos 60 que fundia a música andina (pois, mas aqui sem flautas de Pã) com o rock'n'roll. O resultado, bem audível em “Sonido Amazonico” (Crammed Discs/Megamúsica, ****) é um divertimento constante, um baile de aldeia com órgão vintage – Farfisa, Moog... - e guitarra surf, com canções tradicionais andinas ou versões de coisas tão manhosas como o “Popcorn” ou sublimes como a “Gnossienne Nº1”, de Satie (aqui em versão... dançável!).

Do outro lado do mundo, encontraram-se punks de Pequim e músicos da Mongólia – alguns deles também peritos no canto gutural das estepes mongóis (muito semelhante ao canto de Tuva, ali ao lado, na Sibéria). São os fabulosos Hanggai, um bando de chineses dados a conhecer pelo álbum “Introducing Hanggai” (World Music Network/Megamúsica, *****) que tanto cantam – e arranham e assobiam... - sobre o amor como sobre a lenta passagem das estações do ano ou o prazer do álcool (na poguesiana “Drinking Song”).

Finalmente, uma breve passagem pelo álbum de regresso dos históricos Ukrainians, grupo anglo-ucraniano que neste “Diaspora” (Zirka Records/Megamúsica, ****) que teve o seu apogeu durante os anos 80 e que voltam agora para mostrar quem é que, muito antes dos Gogol Bordello, dos Leningrad, dos Nogu Svelo, dos Balkan Beat Box, dos A Hawk and A Hacksaw ou dos Beirut, fazia e faz – e sempre bem! - a ponte entre o rock anglo-saxónico e as músicas do leste europeu. Já tínhamos saudades.

04 julho, 2010

Sons do Atlântico, Bons Sons, Intercéltico de Sendim e Povo que Lavas no Rio Águeda: o Verão 2010 Tem Tudo!

Ora bem! Há tanta informação para dar (e tanta outra que fica de fora!) que temos que ir por partes...



Parte 1:

SONS DO ATLÂNTICO (5, 6 e 7 de Agosto, Porches, Lagoa)

Os tuaregues malianos Tinariwen que actuam no FMM de Sines a 30 de Julho participam, uma semana depois, no Festival algarvio Sons do Atlântico, que se realiza este ano entre os dias 5 e 7 de Agosto, no promontório de Nossa Senhora da Rocha, Porches, Lagoa.

Os tuaregues malianos terão a companhia no primeiro dia (quinta-feira, dia 5) do guineense e lisboeta Kimi Djabaté que inaugura esta edição do Sons do Atlântico.

Na sexta-feira, dia 6, encontra-se duas distintas vozes nacionais. A algarvia que Viviane que funde fado com tango e uma das mais interessantes novas vozes do fado: Carminho (na foto).

No sábado, dia 7, o Sons do Atlântico encerra com a fanfarra sintrense Kumpania Algazarra e com o cabo-verdiano Tito Paris.(Fonte: Crónicas da Terra)

Nota: Não está aqui em cima, mas o Clube Conguito (DJs António Pires e Rodrigo Madeira) encerra o Sons do Atlântico com um set que tem por mote provisório - e provisório porque se calhar vamos mesmo acelerar até cair! - "Devagar se vai ao Lounge" :)




Parte 2:

BONS SONS (20, 21 e 22 de Agosto, Cem Soldos, Tomar)

Neste ano o BONS SONS faz a festa da multiculturalidade com Princezito (Cabo Verde), Melech Mechaya, Drama & Beiço e Terrakota. Explora, transforma as linguagens da música portuguesa com Danças Ocultas (na foto), Diabo na Cruz, Dazkarieh, Diabo a Sete ou com o consagrado Fausto. Celebra manifestações vivas do património musical português com Adufeiras de Monsanto e Cantares Alentejanos de Serpa. Brinda-nos com momentos mais acústicos com os concertos de Norberto Lobo, Dead Combo, Lula Pena e B Fachada, e alarga as noites com os DJ’s com Nuno Coelho, MissBoopsieCola e BlackBambi.

Mas há mais! Para além dos concertos ao ar livre, estarão disponíveis outras formas de vivência da música e da aldeia. Falamos de espectáculos de dança, música para bebés, exposições de artes gráficas, projecção de curtas-metragens, feira das marroquinarias, entre outras propostas.

Bilhetes à venda: Sede do SCOCS em Cem Soldos, Turismo de Tomar, Fnac, Ag. ABREU, Worten, C.C. Dolce Vita, Megarede, El Corte Inglês (Lisboa e Gaia) e em www.tickeline.sapo.pt / Reservas: 707 234 234.

Bilhete diário: 6€*
Bilhete geral: 10€*
*Com acesso gratuito ao Parque de Campismo.




Parte 3:

FESTIVAL INTERCÉLTICO DE SENDIM (30 e 31 de Julho, Sendim, Terras de Miranda)

...porque a folk merece um festival assim!


Para iniciarmos uma nova década de celebrações musicais intercélticas em terras de Sendim, na finisterra mirandesa de Trás-os-Montes, a opção fundamental da programação recaiu maioritariamente sobre jovens formações musicais provenientes de distintas geografias ibéricas apostadas em contribuir, com as suas múltiplas propostas, para se alargarem as margens expressivas da música de matriz folk dos nossos dias.
Interessaram-nos sobretudo aqueles projectos que olham o futuro a partir das raízes e que se acercam das encruzilhadas não para se instalarem no conforto dos limites mas antes para descobrirem o sortilégio da partilha intercultural.
Arrancamos com uma afirmação de vontade de tocar e de reinventar a música portuguesa de raiz tradicional (Diabo a Sete), detemo-nos nas seduções das rotas do contrabando cultural que recusa as fronteiras que não raro ignoram contextos de afinidades com seculares origens (Xarnege; na foto) e logo mais acabamos rendidos à sedução de um grito interno que se afirma como expressão actual de uma respiração cultural que resgata das memórias a essência vital do presente (Mercedes Péon). Nas transumâncias destes dias (re)descobrimos quão reconfortantes são as rotas da interculturalidade (Uxu Kalhus), porventura hesitando entre os apelos das terras e os chamamentos das costas de renovadas navegações (Garma), mas com a certeza de que longa vida da Oysterband é um poderoso tónico para a folk dos nossos dias e de sempre.
No final das viagens que propomos bastar-nos-á a confirmação de uma daquelas certezas (ou verdades?) que adoptamos como princípio orientador da saga em terras de Sendim: quem não semeia o progresso faz morrer a tradição.
Cumpram-se, pois, as celebrações sendintercélticas em 2010 sob o signo da (re)descoberta permanente dos sons que fazem vibrar o cristal de um tempo que queremos viver com a máxima plenitude intercultural. Acreditamos - continuamos a acreditar! - que esta é a grande verdade do Festival Intercéltico de Sendim - Terras de Miranda.

PARQUE DAS EIRAS
€ 12,50 por noite

30 Julho
22h30: Diabo a Sete (Portugal)
23h30: Mercedes Péon (Galiza)
00h30: Xarnege (Euskadi/Gasconha)

31 Julho
22h30: Uxu Kalhus (Portugal)
23h30: Oysterband (Inglaterra)
00h30: Garma (Cantábria)


CONCERTOS PARALELOS

Oficina de Danças Tradicionais (Uxu Kalhus)
31 Julho: 16h00 - Local: Largo da Igreja

Gaiteiricos Mirandeses
31 Julho: 18h00 - Local: Largo da Igreja

Animação de Rua: Gaiteiricos Mirandeses
31 Julho: 21h30 - Desfile: Largo da Igreja/ Parque das Eiras


BARDOFOLK

Poções mágicas para todas as sedes....
Parque das Eiras: 30 e 31 de Julho e 1 de Agosto...

OUTRAS ACTIVIDADES

Curso de Iniciação à Língua Mirandesa
Salão dos Bombeiros Voluntários
31 Julho: 10h30/12h30 - 15h00/19h00
1 Agosto: 10h30/13h00

Passeio Pedestre: La Ruta de ls Celtas
31 Julho - Saída: Junta de Freguesia: 9h00

Lançamento de Livros e Discos
31 Julho: 11h30 - Local: Balões da Cooperativa Ribadouro

Homenagem ao Gaiteiro da Póvoa Delfim de Jesus Domingues
31 Julh0: 16h00 - Local: Casa do Pauliteiro

Pintura de Luís Ferreira: Um Artista Sendinês
Local: Casa da Cultura de Sendim
30/31 Julho e 1 Agosto: 15h00/20h00


Parte 4:

POVO QUE LAVAS NO RIO ÁGUEDA (Águeda, 16 e 17 de Julho)

O imponente espectáculo inter-associativo que Águeda constrói, a cada ano, sobre as águas do seu rio, tem nova edição em 2010. Um musical exuberante, contemporâneo e visual, inspirado no repertório musical de todos os tempos dedicado ao imaginário ribeirinho: “Povo Que Lavas no Rio Águeda” (na foto: Mário Abreu/d'Orfeu 2009). A 16 e 17 de Julho de 2010, na antiga piscina fluvial, terá lugar mais um evento para a história cultural de Águeda.

[ler apresentação integral em http://povoquelavasnorioagueda.blogspot.com/]

POVO QUE LAVAS NO RIO ÁGUEDA
2 únicas apresentações: 16 e 17 Julho 2010, 22h00

lotação máxima de 1200 lugares por noite

BILHETES À VENDA
preço único 3€
na Câmara Municipal de Águeda
na Biblioteca Municipal Manuel Alegre
nas Piscinas Municipais de Águeda
no Agitágueda (a partir de 3 Julho)

01 julho, 2010

MED de Loulé - Bregovic, Vieux e... A Música Portuguesa


A última edição do festival MED de Loulé voltou a registar vários enormes momentos de música. E, para além de grandes concertos de Goran Bregovic (um concerto em que dancei e fiz mosh, gritei e cantei, arrepiei-me e chorei com "Ederlezi"), Vieux Farka Touré (já liberto do fantasma do pai genial, a trilhar caminhos próprios mais próximos do rock e, agora, um fabuloso guitarrista) e Orchestra Baobab (os velhos embondeiros continuam de pé e a namorar-nos de uma forma cada vez mais sedutora e descarada), o MED teve como grande destaque deste ano o espaço e respeito que deu à música portuguesa, muita dela nova e arriscada. É a esse assunto que eu dedico a minha crónica de hoje no jornal "i" - edição online: http://www.ionline.pt/conteudo/67233-loule-e-musica-portuguesa -- e que aqui também transcrevo:

"No fim-de-semana passado tive a honra de encerrar como DJ - juntamente com o meu companheiro do Clube Conguito, Rodrigo Madeira - o MED de Loulé, um festival que está a crescer de forma sustentada em público, qualidade intrínseca de programação e prestígio internacional. E, o mais importante, a crescer na aposta que fez este ano em muitos nomes da música portuguesa, alguns já conceituados, outros novos. Do veterano Zeca Medeiros, que terá finalmente um álbum que lhe faz justiça no Outono, aos fabulosos Diabo na Cruz, que homenagearam, em rock, a Brigada Victor Jara e os Gaiteiros de Lisboa. Dos cada vez melhores (mais telúricos, complexos e misteriosos) Galandum Galundaina aos Orelha Negra, que vão à música negra americana mas transportam uma portugalidade intrínseca. Dos já quase consagrados, e muito justamente, Mazgani -- que resistiu galhardamente às interferências de um jack traiçoeiro (na foto) --, Anaquim e Virgem Suta aos prometedores Macacos do Chinês (há uma guitarra portuguesa no hip-hop!), Atma e Pucarinho. Para grande pena minha, não vi os Andersen Molière (tocaram à mesma hora que Goran Bregovic, que deu um dos melhores concertos que vi em toda a minha vida e não consegui arredar de lá pé), 3 Pianos (coincidiu com os Galandum Galundaina) e The Legendary Tiger Man (estava uma tal enchente que não consegui entrar no palco Castelo)".