18 julho, 2010

Cacharolete de Álbuns (Híbridos e Sem Ligações Aparentes)


As músicas, cada vez mais, viajam livremente entre várias épocas e vários continentes e vários géneros. E ainda bem. Hoje aqui ficam mais quatro bons exemplos de músicas híbridas, rafeirosas (e todos nós sabemos que os melhores bichos também o são), abertas... Senhoras e senhores, os Tribeqa, Carolina Chocolate Drops, ErsatzMusika e Cibelle (na foto,de Socrates Mitsios), tal como vistos por mim há alguns meses na "Time Out Lisboa".


Tribeqa
"Tribeqa"
Underdog/Massala
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A base da sua música é o jazz, mas os franceses Tribeqa juntam-lhe funk, bossa-nova, soul, hip-hop (está aqui DJ Greem, dos C2C e Hocus Pocus, no scratch), música árabe e um quase omnipresente balafon mandinga (e a flauta do marfinense Magic Malik num dos temas) a levar tudo para África. Liderados pela compositora, vocalista e percussionista (incluindo o balafon e o vibrafone) Josselin Quentin, os Tribeqa partem de Nantes para visitar variadíssimas “músicas do mundo” mas com um som muito próprio e original. Um dos treze temas de "Tribeqa" – álbum homónimo e de estreia do grupo - tem título em português, “O Bêbado”, e, de facto, é o delírio alcoólico-musical mais perfeito que alguma vez se fez; que nos perdoem Tom Waits, Shane MacGowan, Janis Joplin, Hanggai e Serge Gainsbourg.




ErsatzMusika
"Songs Unrecantable"
Asphalt Tango/Megamúsica
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Grupo formado maioritariamente por músicos russos, embora a viverem na Alemanha, os ErsatzMusika são um objecto (muito) estranho no meio musical da actualidade: a cantora, multi-instrumentista e compositora de muitos dos temas, Irina Doubrovskja, canta como se tivesse na voz Marlene Dietrich, Nico e Marianne Faithfull; e o som da banda vai – sem pudores nenhuns e como se todos pudessem conviver livremente - ao cabaret berlinense dos anos 30 e aos Velvet Underground, à música cigana do leste europeu e aos Echo and The Bunnymen, à Penguin Cafe Orchestra ou aos Doors. Mas em “Oy, Pterodactyl” soam como se os B-52's fizessem uma versão circense de um tema qualquer do Elvis Presley. Faz confusão? Sim. Mas depressa desaparece quando a paixão fala mais alto.



Carolina Chocolate Drops
"Genuine Negro Jig"
Nonesuch/Warner
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Produzido por Joe Henry, "Genuine Negro Jig" é o quarto álbum do fabuloso trio Carolina Chocolate Drops, um grupo que recria as antigas canções para cordas (banjo, rabeca, por vezes guitarra e autoharpa) da zona do Piedmont, transversal à Carolina do Sul e Carolina do Norte. Mas o trio, que apresenta ainda duas magníficas vozes (uma masculina e outra feminina), não usa só esses instrumentos para recriar temas de dixieland, blues, country e até folk inglesa e irlandesa: garrafões (soprados à velha maneira das “jug bands”), colheres percutidas, kazoo, invenções vocais (de beatbox a uma imitação das vozes guturais de Tuva) estão também presentes nesta música ao mesmo tempo muito antiga e absolutamente actual (não por acaso, um tema de Tom Waits encaixa que nem uma luva no restante conjunto).




Cibelle
"Las Vênus Resort Palace Hotel"
Crammed Discs/Megamúsica
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Apesar de ser brasileira, Cibelle tem-se afastado cada vez mais do carimbo “Brasil” e optado por um percurso próprio, pessoal, cada vez mais reconhecível como uma marca “Cibelle”. E isso é bom. No seu novo álbum, lindíssimo e hiper-equilibrado, Cibelle é ela mesma armada com o alter-ego Sonia Khalecallon, a mesma que nos dá as boas-vindas ao seu "Las Vênus Resort Palace Hotel"... E, como se pode por isso compreender, este é um álbum conceptual – onde nem faltam passarinhos e relógios a unir as faixas – cheio de belíssimas canções muito bem cantadas e onde a música exotica convive com a alt-country, electrónicas elegantes, o cabaret, lounge tropical, versões inesperadas ("007", "Os Marretas"...), a freak-folk e, sim, também alguma música brasileira, embora, “mutante”.

4 comentários:

Palmeiros disse...

Gostei da conversa de ontem, parabéns!

São disse...

A música é verdadeiramente um elo de ligação universal!!

Boa semana.

Anónimo disse...

"Genuine Negro Jig" já é o quarto album? Pensei que fosse o segundo. Tenho que ver se arranjo os outros, então!
Encontrei os Caroline por acaso via Youtube e gostei da prestação da menina, fui ao myspace cuscar e adorei a sonoridade. Mal vi que na Fnac estava o original, fui obrigado a comprá-lo. Acho que é dos melhores lançamentos musicais deste ano.

Matusalem

Anónimo disse...

Tambem gostei muito da entrevista no Camara Clara, e realço o facto de ter realçado a importancia da Festa do Avante na divulgação da "world music"!
Os artistas da Festa do Avante ja foram apresentados e mais uma vez o PCP não deixa de nos dar grandes concertos de boa musica, muito Jazz, rumba, fado, blues, os dazkarieh, monte lunai, naifa, deolinda, roncos do diabo, melech mechaya, enfim....Não há festa como esta!