25 agosto, 2010

A Temporada de Setembro: Arraiais do Mundo e Chocalhos


Setembro começa logo com a Festa do "Avante!", mas há mais música de norte a sul: no Arraiais do Mundo, que decorre de 3 a 5 de Setembro em Tavira, eno Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância, que ocupa a aldeia de Alpedrinha, Fundão, entre 17 e 19 de Setembro (info via Crónicas da Terra):

ARRAIAIS DO MUNDO:

"Uma residência artística, concertos, bailes e oficinas - a dança é o pretexto para pôr em contacto Serranos com músicos estrangeiros e portugueses, estudiosos e um público cada vez mais alargado.
O Fole encontra-se em todos os seus estados no Festival Arraiais do Mundo: Concertina, Acordeão ou Bandoneão - venha descobrir as suas diferentes sonoridades!

A concertina, instrumento que chegou a Portugal antes do acordeão, está presente com o grupo lisboeta Fol&Ar.
O acordeão tem dois representantes no grupo franco-português Extravanca (na foto): o João Frade e o Guy Giuliano, os quais apresentam, com Pascal Seixas, Romain Cuoq, Anthony Jambon e Simon Valmort, o resultado da Residência Artística que teve lugar em Cachopo (Tavira). Esta Residência visa a recuperação do repertório tradicional algarvio, num formato contemporâneo.

O Bandoneão é um instrumento de origem Alemã, embora hoje em dia mais associado à Argentina, em particular ao Tango. Está presente em Tavira com o grupo Tangomanso Orquesta Inestable.

E do Baile Mandado ao Tango, é só um passo de Estravanca: esta luta coreografada transforma-se em Setembro num grande Arraial.



PROGRAMA (ENTRADA LIVRE)
Sexta-feira 3 de Setembro
18h30 – Oficina de Danças Tradicionais Europeias com Alexandre Matias, Jardim do Coreto – Tavira
22h00 – Concerto - Baile com Fol & Ar, Praça da República – Tavira

Sábado 4 de Setembro
10h30 – Oficina de Cante do Algarve com Os Velhos da Torre, Palácio da Galeria – Tavira (Inscrição na Sexta feira anterior)
15h00 – O Património Cultural Imaterial: Encontro para a constituição de um Arquivo de Dança com Lia Marchi, Sede Clube de Tavira – Tavira (mais info)
18h30 – Oficina de Danças do Algarve com Alexandre Matias, Jardim do Coreto – Tavira
22h00 – Concerto - Baile com Extravanca, Praça da República – Tavira

Domingo 5 de Setembro
18h30 – Oficina de Tango com L.E Tango Juan + Graciana, Jardim do Coreto – Tavira
22h00 – Concerto – Baile com Tangomanso Orquesta Inestable, Praça da República – Tavira

RESIDENCIA ARTISTICA: EXTRAVANCA! NA SERRA DO CALDEIRÃO22 de Agosto – 3 de Setembro, Cachopo – TaviraJuntar músicos com formação e experiência em jazz e interesse pelas músicas tradicionais e músicas do mundo é uma boa aposta para trabalhar o repertório algarvio, já rico em influências cosmopolitas. E nada melhor que ficar durante duas semanas na Serra do Caldeirão para juntar ideias, descobrir sonoridades, reconstruir melodias e compor novas músicas.Com a experiência do contrabaixista Pascal Seixas (Dites 34, Minuit Guibolles, Travudia) em colaborações artísticas internacionais e a paixão do acordeonista João Frade pela sua região, o resultado promete muitas cores e surpresas. Diálogos diabólicos com o outro acordeonista Guy Giuliano, chuva de solos com o guitarrista Anthony Jambon e o saxofonista Romain Cuoq, falta só o baterista Simon Valmort para fazer caminhar esta residência até o mar.Estreia no dia 4 de Setembro as 22 horas na Praça da Republica, Tavira.
RESIDÊNCIA ARTISTICA: EXTRAVANCA! NA SERRA DO CALDEIRÃO
22 de Agosto – 3 de Setembro, Cachopo – Tavira
Juntar músicos com formação e experiência em jazz e interesse pelas músicas tradicionais e músicas do mundo é uma boa aposta para trabalhar o repertório algarvio, já rico em influências cosmopolitas. E nada melhor que ficar durante duas semanas na Serra do Caldeirão para juntar ideias, descobrir sonoridades, reconstruir melodias e compor novas músicas.
Com a experiência do contrabaixista Pascal Seixas (Dites 34, Minuit Guibolles, Travudia) em colaborações artísticas internacionais e a paixão do acordeonista João Frade pela sua região, o resultado promete muitas cores e surpresas. Diálogos diabólicos com o outro acordeonista Guy Giuliano, chuva de solos com o guitarrista Anthony Jambon e o saxofonista Romain Cuoq, falta só o baterista Simon Valmort para fazer caminhar esta residência até o mar.
Estreia no dia 4 de Setembro as 22 horas na Praça da Republica, Tavira."


CHOCALHOS:


"O Bairro Alto da Serra da Gardunha, vulgo Alpedrinha (no Concelho do Fundão) recebe de 17 a 19 de Setembro mais uma edição da sempre muito animada festa da transumância chocalheira. Velha Gaiteira e Musicalbi animam as noites nesta edição de 2010 do Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância. Durante o dia haverá o célebre percurso com ovelhas e com os Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, do Fundão a Alpedrinha.
Programa
17 de Setembro
18h00
Abertura
Arruada com os Bombos Zambumbas
Ruas de Alpedrinha
21H00
Oficina do Feltro -Mostra do Ciclo da Lã (a cardação, fiação e a feltragem)
Instalação de Feltro “Fios Puxados”
Local: Casa do Pátio
Construção de Instrumentos Musicais Pastoris – OCAIA (Fundão )
Local: Largo de Santo António
Demonstração da Feitura da Travia e do Queijo pela Associação de Queijeiros da Soalheira
Local: Largo de Santo António
Animação de Rua
Arranca-Telhados
Carriços
Tokavacalhar
Ovelha Negra
Bombos da Junta de Freguesia do Fundão
Bombos da Capinha
Zabumbas
Grupo de Bombos de Alcongosta
Ruas de Alpedrinha
Grupo de Cantares Ponto e Linha
Local: Largo de Santo António
22:30
Musicalbi
Local: Chafariz
00H30
Velha Gaiteira
Local: Chafariz
Dia 18 de Setembro
Abertura
Arruada com os Bombos
Ruas de Alpedrinha
11H00
Oficina do Feltro – Festa da Lã com a Colaboração do grupo feminino de Viana do Alentejo
Local: Casa do Pátio
14H00
Concurso pedagógico do Cão da Serra da Estrela
Local: Largo de Santo António
16H00
Construção de Instrumentos Musicais Pastoris – OCAIA
Local: Largo de Santo António
16H00 / 21H00
Demonstração da Feitura da Travia e do Queijo pela Associação de Queijeiros da Soalheira
Local: Largo de Santo António
Animação de Rua
Zigzagaita
Cornes
Carriços
Ovelha Negra
Roncos e Coriscos
Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho:
Grupo de Música Popular As sementinhas do Centro de Dia do Castelejo
Grupo de Bombos do Alcaide
Grupo de Bombos da Barroca
Grupo de Cantares da Escola Secundária do Fundão
Zambumbas
Grupo de Concertinas da Barrenta
Ruas de Alpedrinha
20H30
Concerto: Grupo de Cantares de Alpedrinha
Local: Largo de Santo António
22h00
Concerto: Pedro Mestre e os cardadores
Local: Casa do pátio
23h30
Concerto:“O Romance da Transumância” de Sebastião Antunes
Local: Chafariz
Dia 19 de Setembro
8H00
Percurso com as Ovelhas desde o Fundão e Alpedrinha.
Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho
Local:Fundão-Alpedrinha
14h00
Construção de Instrumentos Musicais Pastoris – OCAIA (Fundão).
Local: Largo de Santo António
Animação de Rua Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho
Grupo de Cantares de Santo André
Grupo de Gaita de Beiços da Rapoula
Carriços
Grupo de Concertinas da Barrenta
Grupo de Cantares Nossa Senhora do Mosteiro
Grupo de Cantares da Barroca"

23 agosto, 2010

E Ainda... Folk em Tregosa e Jazz em Sines


Afinal, e quando se pensava que o Verão já tinha dado as últimas no que concerne aos festivais, ainda há espaço para (pelo menos) mais dois: o Arredas Folk Fest, que decorre em Tregosa, Barcelos, nos dias 3 e 4 de Setembro com os espanhóis Zamburiel (na foto) e os portugueses Ogham e Estica-me as Peles no primeiro dia e um cartaz completamente nacional no segundo: Katharsis, Pé na Terra e Bomboémia. O festival inclui ainda exposições, workshops, artesanato, gastronomia e jogos tradicionais, entre outras actividades. E... o Sines em Jazz, cujo programa oficial segue já aqui em baixo:


"Nos dias 26, 27 e 28 de Agosto, a quarta edição do Sines em Jazz traz alguns dos melhores autores e intérpretes do jazz português ao coração da cidade de Sines.

Organização da Associação Pro Artes de Sines e da Câmara Municipal de Sines, o Sines em Jazz 2010 oferece seis concertos de entrada gratuita no Auditório do Centro de Artes de Sines e duas jam sessions, na cafetaria do Castelo.

A música tem início no dia 26 de Agosto (quinta-feira), às 22h00, com o espectáculo do Quinteto Sara Valente. Formado em 2006, o quinteto constituído por Sara Valente (voz), João Maurílio (piano), Gonçalo Marques (trompete), Nelson Cascais (contrabaixo) e Paulo Bandeira (bateria) trabalha ambientes da história do jazz norte-americano da segunda metade do séc. XX, com alguns temas originalmente instrumentais acrescidos de letras em português.

Às 23h15, tem início o concerto do ensemble flaJAZZados, situado no jazz que vai do pós-bop ao experimentalismo actual através de um repertório maioritariamente original. A inclusão de textos e um narrador dão ao espectáculo momentos inesperados. Alexandre Andrade (trompete), Omar Hamido (sax alto), Francisco Andrade (sax tenor), Pedro Gil (guitarra), Marco Martins (baixo), Sónia Cabrita (bateria), Zé Eduardo (piano e direcção) e Vítor Reia-Baptista (MC) são os artistas em palco.

A noite de concertos de sexta-feira, 27 de Agosto, arranca às 22h00 com Joana Rios, cantora e compositora portuguesa de referência da nova geração, com três discos editados, o último dos quais, “3 desejos”, lançado em Setembro de 2009. Considerada uma das melhores vozes nacionais, Joana Rios é acompanhada por Filipe Raposo (fender rhodes e piano), António Quintino (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria e percussões).

A Joana Rios segue-se, às 23h15, TGB, um trio que aposta numa formação inusual em termos instrumentais: tuba, guitarra e bateria. TGB é composto por Alexandre Frazão (bateria), Sérgio Carolino (tuba) e Mário Delgado (guitarra) e o seu som move-se num terreno próximo de formações clássicas inusitadas da história do jazz e da música improvisada.

Sábado, 28 de Agosto, último dia do Sines em Jazz 2010,começa às 22h00, com o projecto Nelson Cascais “Guruka”. O contrabaixista Nelson Cascais é um dos melhores compositores do jazz contemporâneo e "Guruka", o seu novo disco, é considerado um dos melhores trabalhos portugueses de jazz dos últimos anos. Acompanham-no Pedro Moreira (saxofone), André Fernandes (guitarra), Joäo Paulo Esteves da Silva (piano) e Marcos Cavaleiro (bateria).

O concerto de encerramento, às 23h15, está a cargo de BaBa Mongol, grupo de músicos juntos desde 2001 com o objectivo de integrar tradição e actualidade num colectivo de base jazzística que se propõe interpretar composições originais. Zé Pedro Coelho (saxofone soprano e tenor), Rui Teixeira (saxofone barítono e clarinete baixo), Hugo Raro Andrade (piano), Filipe Teixeira (contrabaixo) e António Torres Pinto (bateria) constituem a formação.

Nos dias 27 e 28 de Agosto, às 00h00, realizam-se jam sessions na cafetaria do Castelo de Sines.

A entrada em todas as iniciativas do Sines em Jazz 2010 é gratuita. Uma vez que o espaço do Auditório é limitado, os bilhetes para os concertos necessitam de reserva, que pode ser feita na recepção do Centro de Artes de Sines ou através do telefone 269 860 080.

O Sines em Jazz 2010 está integrado na operação Dinamização Musical e Artística do Programa de Regeneração Urbana de Sines, co-financiado pelo FEDER no âmbito de candidatura aprovada ao Eixo 2 - Desenvolvimento Urbano - Política de Cidades - Parcerias para a Regeneração Urbana do QREN 2007-2013"

19 agosto, 2010

Ecos da Terra na Recta Final do Verão


O Ecos da Terra, em Celorico de Basto, começa já hoje. Aqui fica a programação e a notícia, directamente sacadas ao camarada Luís Rei, das Crónicas da Terra.

"Celorico de Basto recebe de 19 a 21 de Agosto mais uma edição do Festival Ecos da Terra com um cartaz de música portuguesa (e não só) variado e consistente.

Além da divulgação musical, o Ecos da Terra, pretende divulgar o que de melhor existe na região de Basto em termos de beleza paisagística, gastronomia, artesanato e, «claro, as maravilhosas gentes» locais.

Programa:

19 de Agosto (Quinta-feira)

Tuttis Catraputtis.

20 de Agosto (Sexta-feira)

Bilan;
Mosca Tosca;
Roncos do Diabo;
Olive Tree Dance.
Workshops/Actividades diurnas:
Aula de Yoga;
Workshop de Danças Tradicionais;
Workshop de Didgeridoo;
Workshop de Percussão;
Workshop de Danças Africanas.

21 de Agosto (Sábado)

Toques do Caramulo;
Uxu Kalhus;
Galandum Galundaina;
Melech Mechaya (na foto).
Workshops/Actividades diurnas
Aula de Yoga;
Workshop de Danças Tradicionais;
Workshop de Danças de Miranda;
Workshop de Fotografia;
MostrArte.

Bilhetes para os concertos
19 de Agosto – Entrada Gratuita;
20 de Agosto – 12 euros;
21 de Agosto – 13 euros;
Passe 3 dias – 20 euros.
Os Workshops e campismo são grátis"

16 agosto, 2010

Cacharolete de Discos - Rupa & The April Fishes, Yasmin Levy, Balkan Beat Box e Victor Démé


Mais um cacharolete de críticas a discos sem ligação óbvia, estilística ou outra, e publicadas originalmente na "Time Out": os álbuns mais recentes de Rupa & The April Fishes, Yasmin Levy, Balkan Beat Box e Victor Démé (na foto).


Rupa & The April Fishes
"Este Mundo"
Cumbancha/Leve Music

O segundo álbum de Rupa & The April Fishes, "Este Mundo", não entra no ouvido tão depressa quanto a fabulosa estreia "Extraordinary Rendition". E, muitas vezes, principalmente quando se escutam as canções em espanhol, a tentação é começar logo a compará-las com canções de Lhasa, Lila Downs ou Amparanoia. Mas, ouvindo-se melhor o disco, percebem-se então as subtilezas presentes neste álbum. E são muitas! Uma festa global que pode misturar reggae com sopros aciganados, chanson com klezmer lá pelo meio ou uma cumbia infectada por ska e hip-hop (cortesia Boots Riley, MC dos Coup) ou uma raga movida a acordeão musette. Para além disso, o talento de Rupa como compositora, letrista e cantora – e a coesão extraordinária de toda a banda – saem bastante reforçados n'"Este Mundo". (****)




Yasmin Levy
"Sentir"
World Village/Harmonia Mundi


A intérprete de música sefardita mais reconhecida internacionalmente – embora Mor Karbasi já lhe esteja, de certa forma, a “morder os calcanhares” -, a israelita Yasmin Levy chega, ao quinto álbum, a um patamar dificílimo de igualar: "Sentir" é um álbum de uma cantora no seu pico absoluto de forma, com uma fórmula musical perfeitamente estabelecida (a mistura da música sefardita, árabe e flamenco) e um naipe de músicos invejável. E boa parte da “culpa” deve-se à brilhante produção de Javier Limon, o produtor que já nos acostumou a arrancar a alma das cantoras pela boca, sejam Concha Buika, Mariza ou Yasmin Levy. Com tradicionais sefarditas cantados em ladino, originais da própria Yasmin ou temas de Leonard Cohen (“Hallelujah”) e Limon, "Sentir" é um álbum absolutamente maravilhoso. (*****)




Balkan Beat Box
"Blue Eyed Black Boy"
Crammed Discs/Megamúsica


Terceiro álbum de originais dos Balkan Beat Box, "Blue Eyed Black Boy" é um enorme salto em frente na carreira deste grupo formado originalmente pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, aos quais se juntou logo de seguida o magnífico MC Tomer Yosef. E se os dois anteriores (mais o álbum de remisturas "Nu Med") já eram muito bons, o novo disco tem, a juntar às habituais electrónicas – aqui muito menos evidentes, por motivos que se vão perceber já a seguir – e às fanfarras balcânicas de metais, um som orgânico, de “banda”, que não existia nos álbuns anteriores. Os arranjos e as orquestrações ganham assim uma nova riqueza onde convivem reggae e klezmer, rebemtika e surf rock, ciganadas de Leste e hip-hop, dub e vozes búlgaras. E dois hinos para a paz israelo-árabe: “Buhala” e “War Again”. (****)


Victor Démé
"Deli"
Chapa Blues/Massala


Depois do fantástico "Burkina Mousso", álbum de estreia do cantor e guitarrista Victor Démé, do Burkina Faso, chega agora o segundo e muito aguardado álbum, "Deli". Mais sofisticado do que o álbum de estreia – quanto mais não seja pela profusão de instrumentos ocidentais (violino, acordeão...) que se juntam à guitarra, à voz, à kora, às percussões... mas a sensação de que estamos perante um dos maiores fenómenos musicais surgidos nos últimos anos depois de décadas de anonimato (o primeiro álbum de Démé foi editado já ele tinha muito mais de quarenta anos) mantém-se intacta. A sua mistura de música mandinga, blues, música latino-americana, aproximações ao flamenco, à música árabe e a várias tipologias tradicionais europeias é única e belíssima. (*****)

14 agosto, 2010

Jane Birkin - Uma Mulher do (e Com o Seu) Mundo


À medida que, nós homens, vamos envelhecendo - frase que se diz quando já se ultrapassaram os 40 anos de idade (até aos 30 e tais diz-se "à medida que vamos crescendo") - vamo-nos apercebendo que houve mulheres que, embora só as conhecendo à distância, contribuíram decisivamente para aquilo que nós somos agora: mulheres do cinema e da música, da poesia e da pintura, da dança e de outras vidas. E à medida que nós, ao mesmo tempo jornalistas e homens, vamos tendo o privilégio de contactar directamente com algumas delas - umas mais velhas e sábias, como a Marianne Faithfull, a Cesária Évora, a Susana Baca... e outras mais novas mas igualmente sábias, como a Lila Downs, a Rokia Traoré, a PJ Harvey... - vamos ficando com a certeza maior de que, ao fim de muitas centenas de entrevistas, foi com elas que aprendemos mais, e melhor, a crescer e a envelhecer. Um exemplar exemplo - pois! - disso mesmo foi a minha conversa, e a crítica ao mais recente disco, com uma das divas da minha juventude, uma conversa muito mais longa do que aquilo que aqui fica e que foi publicada há alguns meses na "Time Out", com Jane Birkin, cantora, actriz, realizadora de cinema e mito e musa transversal de várias gerações de homens que cresceram, ou envelheceram, com ela.



Jane Birkin
"Enfants d'Hiver"
Liberty

Se Camões tinha como musas as tágides, Serge Gainsbourg teve também as suas "senágides": Brigitte Bardot, Juliette Gréco, Françoise Hardy, Catherine Deneuve, Vanessa Paradis... A lista é quase interminável. Mas, acima de todas elas, sempre esteve Jane Birkin, muito provavelmente a melhor intérprete de sempre do reportório do grande poeta francês e aquela que, por direito próprio, sempre pôs a sua voz ao seu serviço, antes e depois da sua morte. Nos últimos anos, no álbum Arabesque, Birkin atreveu-se - e bem! - a interpretar temas de Gainsbourg embaladas em arranjos que deviam tudo à música árabe e magrebina. No seguinte, Fictions, o “fantasma” de Gainsbourg foi afastado com a presença de compositores vindos da pop e do rock como Rufus Wainwright, Neil Hannon, Beth Gibbons, Dominique A ou os Magic Numbers, de versões de temas de Neil Young ou Tom Waits e da presença de Johnny Marr (o ex-guitarrista dos Smiths) a dar um ar de sofisticação eléctrica ao todo.
E, no mais recente "Enfants d'Hiver", Birkin dá o passo seguinte, assumindo-se como a letrista de todas as canções – e todas elas cantadas em francês, à excepção de “Aung San Suu Kyi”, dedicada à activista birmanesa e Prémio Nobel da Paz e cantada em inglês. Sai-se muito bem da tarefa: as letras são belíssimas, pessoais, íntimas, sofridas, sacadas directamente da alma de uma mulher madura e que já conviveu com muitas tragédias pessoais e familiares. Mas, apesar disso, é um disco luminoso que flui sempre muito bem por entre arranjos simples, quase sempre absolutamente acústicos e pouco elaborados. As excepções – nesta tendência, que não no bom-gosto – são “Oh Comment Ça Va?” (muito “Walk On the Wild Side”, de Lou Reed) e “Aung San Suu Kyi”, uma canção heróica com gaitas-de-foles.


Entrevista Jane Birkin
Com quantas caixas se faz a vida

Ícone vivo da cultura pop, a cantora (e agora, compositora), actriz e realizadora Jane Birkin ultrapassa a barreira dos sessenta anos com um novo álbum, "Enfants d'Hiver", e um filme realizado por ela, "Boxes". O disco é apresentado ao vivo, dia 8, no CCB, e o filme é mostrado um dia antes, no S. Jorge. E neles está muito do que é, e foi, a sua vida, como confessa nesta conversa com António Pires.

Em muitos discos anteriores, a Jane cantava as palavras dos outros. No novo, "Enfants d'Hiver", foi a Jane que escreveu todas as letras. É este o tempo certo para se mostrar ao mundo como letrista e logo de uma forma tão pessoal?

Estas letras revelam muito dos meus sentimentos pessoais. Há duas relativas a duas filhas minhas [Nota: Jane Birkin tem três filhas: Kate, filha do compositor John Barry; Charlotte, filha de Serge Gainsbourg; e Lou, filha de Jacques Doillon]: uma que teve um acidente e outra que não andava bem. Essas duas revelam o meu lado maternal; mas há outras que falam da minha infância, da minha busca de romance, de decepções amorosas ou do aspecto que a minha cara (com esta idade) revela. Escrevi-as sozinha, num ambiente de grande solidão e alguma melancolia. O nome do disco foi-me inspirado pelo meu irmão, Andrew [argumentista e realizador de cinema].

Mas uma das canções do disco ultrapassa essa esfera pessoal, ou familiar, e é um manifesto – e cantado em inglês, ao contrário do resto do disco, em francês - de apoio a Aung San Suu Kyi, líder da oposição à ditadura na Birmânia. É uma canção quase heróica, com gaitas-de-foles...

Sim, o resto do álbum é muito pessoal, muito íntimo, mas esta canção de certa forma também o é. Na minha vida tenho-me dedicado a várias causas políticas e humanitárias. Estive no Ruanda depois do genocídio, na Bósnia, na Palestina... Há demasiado horror no mundo para que fique parada a observar. Por Aung San Suu Kyi tenho uma enorme ternura e respeito. Tive a sorte de a conhecer pessoalmente e a sensação com que fiquei foi que estava na presença de alguém semelhante a Ghandi. Estou constantemente com receio de que um dia, esteja ela na sua casa sob vigilância ou na prisão, alguém me telefone a dizer “Aung San Suu Kyi morreu”. Aung San Suu Kyi é a única esperança de democracia – e de luta contra as actuais condições de vida na Birmânia: o tráfico de droga, a mortalidade infantil, a SIDA... - e a sua vida está em risco permanente. [Nota: o site de Jane Birkin é, em boa parte, dedicada à causa de Aung San Suu Kyi e, ontem, terça-feira, a cantora organizou uma vigília em Paris de apoio à Prémio Nobel da Paz]

Este disco tem uma canção com uma forte pulsão rock, quase Lou Reed, que é “Oh Comment Ça Va”. Mas tudo o resto é muito mais clássico e acústico. Esta opção pela simplicidade, pelo acústico, é uma forma de sublinhar a importância das palavras?

Eu poria a questão de outra maneira: como as palavras são modestas, precisavam de uma orquestração modesta. Neste álbum tive vários compositores musicais e, juntamente com o arranjador, tentei que tudo soasse o mais simples e minimal possível; sem bateria nem grandes secções de cordas. E isso tem a ver também com o conteúdo das canções, muitas delas bastante tristes. Neste disco estou, de certa forma, a despir-me, a expor-me, de uma forma honesta.

O seu filme "Boxes", em que é realizadora, argumentista e actriz, fala de uma mãe e de três filhas de três relações diferentes. Mas a Jane costuma dizer que não é auto-biográfico, apesar das semelhanças óbvias...

Há essa ligação evidente com a minha própria vida mas não é autobiográfico: no filme evitei expressamente referências da minha vida com os pais das minhas filhas. Mas eu sempre fui muito auto-crítica comigo mesmo e o filme reflecte, de certa forma, essa auto-crítica na boca das personagens do filme. Agradou-me a ideia de fazer um filme com uma mulher de 45 anos que está a viver o seu último amor e tem as suas três filhas a criticá-la, a confrontá-la. Uma mulher que muda de casa, abre as suas caixas [Nota: boxes] de onde emergem também depois os fantasmas de muita gente do passado...

Nos últimos anos, assisti a dois concertos seus. Um em que apresentou "Arabesque" - com canções de Serge Gainsbourg arranjadas num contexto de música árabe - e outro em que apresentou "Fictions". E mesmo neste, dedicado a um álbum que não tinha canções de Gainsbourg, cantou as canções dele em palco... É inevitável fazê-lo, não é?

(Risos) É! E se não o fizer, as pessoas que me vão ver não o irão aceitar. Não irão compreender porque é que eu, que tive a sorte de ter um dos maiores poetas a escrever canções para mim, e algumas das mais belas que alguma vez foram escritas, não uso esse património. Por isso, para não se sentirem enganadas, eu irei cantá-las mais uma vez.

12 agosto, 2010

Celtas à Solta em Santulhão, Ritmos do Mundo em Querença


A temporada de festivais de Verão está a terminar, mas esta semana ainda há lugar para mais dois, um na ponta norte e outro na ponta sul do país: o X Festival de Música Tradicional/Celta de Santulhão, em Trás-os-Montes, e o segundo festival Ritmos, em Querença, no Algarve. Aqui vão os programas oficiais:



X Festival Tradicional/Celta de Santulhão

"Irá acontecer pela 10ª vez o Festival de Música tradicional/Celta de Santulhão - Vimioso no dia 13 de Agosto de 2010. O Cartaz que propomos é o seguinte:

17h - Workshop de danças tradicionais
19h - Arruada com gaiteiros e pauliteiros
20:30h - Ranchada Santulhão
22h - Brigada Victor Jara
24h - Keympa (Espanha)

A organização é da responsabilidade da AMS - Associação de Melhoramentos Santulhana com o apoio de CMVimioso e junta Freguesia de Santulhão.
A entrada é livre.
Mais informações em: http://festivais.santulhao.net"


Ritmos - Danças do Mundo


"RITMOS 2010 – 13, 14 e 15 de Agosto
Festival Internacional de Danças do Mundo

Loulé, 10 de Agosto de 2010 - A segunda edição do RITMOS – Festival Internacional de Danças do Mundo – arranca esta próxima sexta-feira, dia 13 de Agosto. Este evento que traz à pequena aldeia algarvia três dias repletos de danças de todo o mundo, desde o antigo ao contemporâneo, pretende divulgar a dança através de espectáculos, oficinas, workshops e muita animação.

Para além da dança, música e teatro os visitantes têm ainda diferentes motivos para visitar o festival como o artesanato de rua, ou as várias propostas gastronómicas que se poderá encontrar em qualquer ponto da aldeia.

O festival decorre ao ar livre, no centro da aldeia, tendo como ponto de partida o Largo da Igreja. As iniciativas vão estender-se entre a Casa do Povo local, até à nova Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Todo o espaço será das pessoas, estando vedado à circulação de veículos, permitindo assim viver em pleno a atmosfera do festival. A entrada é livre e o convite extensível a todos.

Ao longo dos três dias, os visitantes do Ritmos 2010 vão ser as peças essenciais do festival, estando sempre convidados a dançar. As portas abrem sexta-feira, 13 de Agosto, às 20h.

Programa:

Sexta-feira | 13 de Agosto
20h00 – Ateliê de dança “Ragga” com BICA TEATRO
21h00 – Espectáculo de Teatro “L.O.C” com BICA TEATRO
22h00 – Espectáculo de música e dança BAILANSER
23h30 – Baile TRIBAL JAZE

Sábado | 14 de Agosto
18h00 – Oficina de Dança e Música para Adultos BATUQUE
19h00 – Oficina para Pais e Filhos ZAMPADANÇAS
19h30 – Atelier de Tai chi
20h00 – Atelier de Teatro “ Contos Contigo” com BICA TEATRO
21h00 – Espectáculo de teatro “Karingana Raggae” com BICA TEATRO
22h15 – Espectáculo de Música e Dança FINKA PÉ
23h45 – Baile com TOQUES DO CARAMULO (na foto, de André Brandão)
00h30 – World Music Dj Set

Domingo | 15 de Agosto
18h00 – Baile/Oficina VALSAS MANDADAS
19h00 – Atelier de Yoga
20h00 – Ateliê de dança “ Hip Hop New School” com BICA TEATRO
21h00 – Espectáculo AS SEVILLANAS
23h30 – Baile com OMIRI"

10 agosto, 2010

Colectânea de Textos no jornal "i" (VIII)


A Rosa (e os Enjeitados)
por António Pires, Publicado em 08 de Outubro de 2009

António Variações cantava, em "Todos Temos Amália na Voz": "Dei o teu nome à minha terra/Dei o teu nome à minha arte/A tua vida é primavera/A tua voz é eternidade", antes de, no refrão, dizer "Todos nós temos Amália na voz". E Variações, nesta canção composta muitos anos antes da morte de Amália Rodrigues - ele, aliás, viria a morrer muito mais cedo que a sua musa -, resumiu na perfeição o amor, o respeito e a admiração que milhões de portugueses sentiram e sentem pelo ícone maior do fado de Lisboa. Não são de mais, portanto, as inúmeras iniciativas que nesta e nas últimas semanas homenagearam a memória de Amália. A edição em CD de temas inéditos dos primeiros tempos da cantora; extensas colecções de discos; concertos de tributo (de gente do fado e de fora dele); conferências; exposições; o filme "Amália" a passar na RTP... Tudo isso é mais que justo, e se calhar ainda é pouco. Mas não deixa de ser triste - como o fado - pensar que homenagear Amália é importante, mas que igualmente importante seria homenagear muitos outros. Há dois anos passaram 25 anos sobre a morte de Alfredo Marceneiro (na foto). O ano passado, 20 sobre o falecimento de Francisco José. Alguém os recordou? Neste mesmo ano de 2009 passam dez anos, tal como com Amália, sobre o desaparecimento de Lucília do Carmo. Onde estão as comemorações? Max morreu em Maio de 1980. Alguém sabe de alguma coisa que esteja a ser feita para a celebração dos 30 anos da sua morte, daqui por alguns meses?




O Segredo da Mandrágora
por António Pires, Publicado em 15 de Outubro de 2009

Se Michel Giacometti - e alguns outros - fez um trabalho extraordinário na preservação do património musical português, também é importante que, neste início de novo século, se ponham em diálogo as tradições com a modernidade. E isso está a ser feito por muitos nomes da música portuguesa que têm sido referidos nesta coluna ao longo das últimas semanas. Mas esse diálogo é ainda mais visível - e aqui "visível" é a palavra correcta - na obra videográfica de Tiago Pereira, que em filmes como "11 Burros Caem no Estômago Vazio", "Arritmia" ou "B Fachada - Tradição Oral Contemporânea" - tem sempre feito a ponte, ao mesmo tempo que a questiona muitas vezes de forma irónica, entre a nossa música tradicional e a nossa música moderna. O culminar deste processo é um filme/instalação multimedia/intervenção em tempo real e ao vivo... novo e absolutamente maravilhoso: "Mandragora Officinarum". Nele, Tiago Pereira parte da nossa religião tradicional (mistura de paganismo antigo, judaísmo mal-amanhado, resquícios da cultura muçulmana, um catolicismo temeroso e medicina popular) para, com esse mote, pôr em confronto responsos, ladaínhas, orações, benzeduras e receitas de mezinhas tradicionais com a música de gente como Tó Trips, B Fachada, Tiago Guillul, Márcia, Ernst Reijseger, Pedro Mestre, Paulo Meirinhos, Vasco Casais, Walter Benjamin, Jorge Cruz, Luís Fernandes, Lara Figueiredo ou BiTocas. "Mandragora Officinarum" é um marco maior do nosso cinema e da nossa música.



O fado não é só português!
por António Pires, Publicado em 29 de Outubro de 2009

Anda a circular na net um texto de Fernando Zeloso (será pseudónimo?) que parte dos Amália Hoje - sobre os quais já dei a minha opinião nesta coluna -, para depois defender, entre outras tomadas de posição xenófobas e nacionalistas (inclusive acerca dos luso-brasileiros da selecção portuguesa de futebol e terminando o texto com um revelador... "A Bem da Nação Fadista"), que o fado deve ser única e exclusivamente cantado por portugueses. A mesma posição tomaram algumas pessoas a propósito do filme "Fados", realizado por um espanhol, Carlos Saura, e onde apareciam Lila Downs (na foto), Caetano Veloso, Cesária Évora e Miguel Poveda, entre outros, a cantar fado. Ora esta ideia, para além de perigosa ideologicamente e mesquinha moralmente, é sem dúvida ridícula. Pela mesma ordem de ideias, e entre variadíssimos exemplos possíveis, Vitorino não poderia gravar tangos, Luís Represas não poderia cantar música cubana nem os Mind da Gap fazer hip-hop - e a própria Amália Rodrigues nunca poderia ter interpretado flamenco, napolitanas, canções francesas, as maravilhosas letras de Vinicius de Moraes ou standards de jazz. Em tempos fiz um apanhado de cantores e instrumentistas de fado não portugueses. E são às dezenas: no Japão, no Brasil, na Itália, na Espanha, na Argentina, na Índia, no México, na Holanda, na Croácia, na Polónia, na França... O que, ao contrário do que defende Zeloso, nos deveria, isso sim, encher de orgulho.

05 agosto, 2010

Afro-beat - O Passado, o Presente e o Futuro


O afro-beat (há muita gente que escreve as duas partes de afrobeat - a grafia normalizada e absolutamente aceitável do termo - pegadas, mas eu cá uso um hífen por razões íntimas e pessoais...) é um dos géneros pioneiros da mestiçagem de músicas africanas e anglo-saxónicas.E, ainda hoje, há milhares de bandas e de artistas a praticá-lo. Neste post - que recupera três textos publicados originalmente na "Time Out" - fala-se dos modernos Fanga, do veterano Dele Sosimi (ex-teclista de Fela Kuti, o inventor do género) e de alguém que passeou pelo afro-beat mas também por muitas outras músicas: o incontornável - olá Toni :) - Manu Dibango (na foto).

Fanga
"Natural Juice"
(Underdog Records)

O afro-beat – fixado nos anos 70 pelo nigeriano Fela Kuti, que reuniu de forma genial elementos (e instrumentos) dispersos de várias músicas norte-americanas (funk, jazz, soul..) com estilos africanos – é um género ingrato: ou é muito bem tocado e, mais importante ainda, extremamente inventivo ou pode transformar-se numa imensa chatice. Esse não é, de caras, o caso deste álbum dos franceses Fanga. Começando com um tema afro-beat de formato clássico (e com o grande Tony Allen a dar uma ajuda), o álbum “Natural Juice” segue depois – e apesar de manter sempre a matriz do afro-beat bem presente (nas teclas, na secção de metais, nas percussões...) - em roda livre por outras sonoridades africanas, das mandingas à juju music (com King Sunny Adé como outro papa dos Fanga) e com uma série de remisturas modernaças, mas de extremo bom-gosto, a ajudar ao resultado final. (****)




Dele Sosimi
"Identity"
Helico Records

Se calhar, muita gente conhece uma canção de Dele Sosimi sem saber quem raio poderá ser o seu autor: “Turbulent Times”, na remistura de Paul Oakenfold e com uma base que deve tudo ao... “Smells Like Teen Spirit”, dos Nirvana, e que de Sosimi só mantém o refrão (a voz dele e os coros femininos). Passa em muitas discotecas, com sucesso. Mas dele convirá conhecer, mesmo, a obra original. Uma obra que se inscreve sempre na grande família do afro-beat fundado por Fela Kuti – continuada pelos filhos Femi e Seun e pelos seus antigos companheiros de banda como Tony Allen e o próprio Dele Sosimi, durante muitos anos o teclista e director de orquestra de Fela e, depois da sua morte, um dos seus maiores e mais legítimos representantes. Oiça-se este álbum e veja-se como, aqui, o afro-beat é uma realidade. Viva e actual. (****)



Manu Dibango
"Makossa Man: The Very Best Of"
Nascente/Megamúsica

Não é por acaso que este “best of” de Manu Dibango se chama "Makossa Man" – o tema “Soul Makossa” foi, na primeira metade dos anos 70, um enorme sucesso em toda a África e também na Europa e Estados Unidos, lançando o nome do saxofonista (e vibrafonista) camaronês Manu Dibango para a ribalta. E muito justamente: “Soul Makossa” foi, com a sua mistura de funk, jazz e afro-beat um precursor do disco-sound, tendo sido usado e recriado por nomes como Michael Jackson, Wyclef Jean, Jay-Z, A Tribe Called Quest ou Rihanna. Mas a carreira de Manu Dibango tem muitos outros pontos altos, como esta colectânea comprova – brilhante a sua citação livre, e irónica!, de “Le Freak” (dos deuses do disco-sound Chic), por ele ironicamente rebaptizada “Ah Freak Sans Fric” (tradução fonética: “África sem Dinheiro”).(*****)

03 agosto, 2010

FMM de Sines - Cada Vez Mais a Acabar Com Preconceitos


O FMM de Sines deste ano foi mais um belíssimo festival de música e, também, mais um excelentíssimo exemplo de como se pode dar completamente cabo de preconceitos recorrendo apenas à música. Tendo começado, na quarta-feira, com o rejuvenescimento do aparentemente intocável cante alentejano por Vitorino e Janita Salomé, e terminado na madrugada de sábado para domingo com a luso-angolana Batida, outro projecto de cruzamento de sonoridades antigas - gravações dos anos 60 e 70 feitas em Angola - trazidas para a modernidade com a ajuda de kuduros, hip-hops e bailes funk, o FMM 2010 ajudou a quebrar estas barreiras temporais e/ou espaciais, mas também muitas outras... Só mais alguns exemplos: a bandeira palestiniana agitada durante todo o maravilhoso concerto da cantora israelita, judia, Yasmin Levy; o amor com que foram recebidos os fabulosos Barbez, que só muito vagamente poderão eventualmente inscrever-se naquilo que é normalmente considerado world music (a repetição do "mente" é propositada); a classe das vozes de formação clássica de Las Rubias del Norte, aqui posta ao serviço de outras músicas; o surpreendente - e tão bem conseguido! - cruzamento da música da Bretanha com a música do Mali do colectivo N'diale; os genuínos Galaxy, rapazes timorenses que têm as antenas apontadas para o reggae e o metal; e, acima de todos, os Staff Benda Bilili (na foto; de Mário Pires/FMM de Sines), que deram o melhor concerto do festival e um dos melhores de todos os FMM, e símbolo maior do que é lutar contra todos os preconceitos: musicais, de cor de pele, de forma do corpo, de estatuto social. O FMM faz-nos sentir melhores pessoas ou, pelo menos, ajuda-nos a sê-lo. E isso nunca teve, nem terá, preço.

Nota: o pré-lançamento do livro "Raízes e Antenas" correu muito bem! Estive rodeado de muitos e bons amigos; tive direito a um abraço prévio do Carlos e da Marta; o Paulo Faustino, da Media XXI, esteve lá a dar-me todo o apoio necessário e a ajudar-me na apresentação do livro que, sim!, está mesmo muito bonito. A todos o meu muito obrigado! Um agradecimento extensível, e ainda maior, a quem me acompanhou desde o início, e cada um à sua maneira, neste processo todo: o Guilherme Pires, o Rodrigo Madeira e a Laura Alves.