30 abril, 2008

Maria de Barros - Concerto Único na Casa do Artista


A cantora cabo-verdiana Maria de Barros dá um concerto único em Portugal, dia 17 De Maio, na Casa do Artista/Teatro Armando Cortez, em Lisboa. Apesar de ter nascido em Dakar, no Senegal - e de também já ter vivido na Mauritânia e, agora, nos Estados Unidos, Maria de Barros é filha de pais cabo-verdianos e sempre se assumiu como cabo-verdiana, tanto na vida como na música que interpreta, feita de mornas, coladeiras e funanás. Afilhada da diva Cesária Évora, Maria de Barros editou até agora os álbuns «Nha Mundo» e «Dança Ma Mi», estando agora a preparar a edição do novo «Morabeza». Mais informações sobre Maria de Barros, aqui.

29 abril, 2008

Do Tejo ao Oriente - E Uma Rota de Retorno...


Há muitos séculos, as naus partiram do Tejo em busca do Oriente - de um Oriente mítico mesmo quando verdadeiro, um Oriente feito de gengibre, canela e pimentas, de mulheres exóticas e de marfins brancos de elefantes mortos. A aventura foi feita de coragem e de aventura mas também de crimes, de doenças, de enganos e desenganos (leia-se a «Peregrinação»; oiça-se o «Por Este Rio Acima»...). Mas lá chegámos: à Índia, ao Ceilão, à China e ao Japão - e que os Da Vinci nos perdoem a pobre rima!

Agora, nos inícios do ano 08 do Séc. XXI, a Fundação Oriente inaugura o seu Museu do Oriente, dia 8 de Maio, ali na Doca de Alcântara, em Lisboa, marés-meias de onde as naus partiram para as terras onde nasce o Sol. E, segundo informam as Crónicas da Terra, «nos quatro primeiros dias (de 8 a 11 de Maio), Mário Laginha apresenta o projecto "Trimurti" concebido especialmente para a inauguração do Museu e que inclui notáveis colaborações do guitarrista vietnamita Nguyen Lê (especialista em psicadelismo hendrixiano), do tocador de tablas indiano Prabhu Edouard e do percussionista japonês de taiko e shakuhachu Joji Hirota». Mas ainda há mais: «Durante este fim-de-semana (de 9 a 11 de Maio) há música hindustani com o recital de sitar de Miguel Leão, músicas e danças tradicionais de Goa com o grupo Ekvât (a 10 e 11 de Maio), danças do deserto indiano do Rajastão com a dançarina Carolina Fonseca (9 a 11 de Maio) e música chinesa em instrumentos ocidentais com o Quarteto Capela formado por António Anjos (violino), Bin Chao (violino), Massimo Mazzeo (viola) e Varoujan Bartikian (violoncelo), também nos dias 9, 10 e 11 de Maio. Durante a semana que se segue (dia 14 de Maio), é possível assistirmos à união entre intérpretes sufis paquistaneses da música qawwali (que tinha em Nusrat Fateh Ali Khan o seu mestre supremo) e o flamenco. Faiz Ali Faiz (na foto), que já actuou nos Sons em Trânsito de Aveiro, partilhará o palco do Museu do Oriente com os espanhóis Duquende e Chicuelo (só é pena que Miguel Poveda não participe também neste espectáculo). A 17 de Maio haverá fado (e só fado, sem pontes de entendimento com a música do oriente) com Ana Moura. Uma semana depois, podemos assistir a outro agradável regresso. O colectivo cigano egípcio Musicians of the Nile que participou no último África Festival actua neste espaço a 24 de Maio. A actividade do Museu do Oriente abranda um pouco durante as três semanas que se seguem, para regressar em força a 21 de Junho com o colectivo da Mongólia Egschiglen, que traz na bagagem o álbum recém editado “Gereg” e que é "Top of the World" da última edição da revista britânica Songlines. Um sexteto que já passou pelo saudoso Cantigas do Maio e que é referência obrigatória para quem é apreciador de ritmos cavalgantes das estepes de Tuva e pelo canto gutural Khomei de projectos como os Huun Huur-Tu». Obrigado, Luís!

28 abril, 2008

III Gala Amália - Os Prémios do Fado


Mais do que um espectáculo, a Gala Amália - este ano na sua terceira edição, a decorrer no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, dia 21 de Maio - é também um momento de homenagem, não só à cantora que o inspira mas também ao fado como forma músical e artística. Melhor explicado, e citando o comunicado de imprensa, «no próximo dia 21 de Maio o Centro Cultural Olga Cadaval abre as suas portas para receber a terceira Gala Amália. Este espectáculo destina-se a premiar os melhores no fado, tendo como principal objectivo divulgar, incentivar e premiar a criação e divulgação da música portuguesa». Na gala vão actuar Ana Moura (na foto), Beatriz da Conceição, Camané, Machado Soares, Marco Rodrigues e Pedro Moutinho. Os prémios Amália, referentes a 2007 e já conhecidos, contemplaram Beatriz da Conceição (Prémio Carreira), Marco Rodrigues (Prémio Revelação), Ana Moura (Melhor Intérprete), Moniz Pereira (Prémio Composição/Poesia), Carlos Manuel Proença (Melhor Instrumentista), Pedro Moutinho (Melhor Álbum) e Victor Duarte Marceneiro (Prémio Ensaio/Divulgação), votados por um júri constituído por Machado Soares (autor/compositor e intérprete de fado de Coimbra), Gabriela Canavilhas, (pianista e presidente da Orquestra Metropolitana de Lisboa), Nuno Lopes (jornalista da Lusa), Hélder Moutinho (fadista), Nélson Tereso (vogal da Fundação Amália) e A. Lourenço (vogal da Fundação Amália).

25 abril, 2008

Efeméride...


Daqui a bocadinho estarei num debate sobre música de intervenção e o seu papel na revolução de 25 de Abril de 1974. Ainda não sei muito bem o que vou dizer, mas tenho a certeza que não teria havido a revolução - pelo menos, da maneira que nós a recordamos - sem a música que a antecedeu e que se lhe seguiu, nem tanta música sem a revolução (a música que antes a sonhava; a música que depois a celebrou; e a música que, depois do depois, se desencantou - e «desencantar» é, se virmos bem, uma palavra com vários sentidos quando se fala de música). Celebremos a efeméride...

(Nota: esta imagem, de Eduardo Gageiro, foi retirada do blog Ana de Amsterdam e está aqui porque, para além de ser belíssima, faz um excelente raccord com a anterior: José Afonso-com-gato/revolução-com-flores)

24 abril, 2008

«20 Canções Para Zeca Afonso» - Celebrar Abril, Sempre!


Recordar a revolução de 25 de Abril de 1974 passa, inevitavelmente, por recordar as canções de José Afonso (na foto). E depois da vaga de edições, homenagens e concertos do ano passado, surge agora uma nova proposta de reinvenção da sua música: amanhã, dia 25, o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, apresenta o espectáculo «20 Canções Para Zeca Afonso», dirigido por Rafael Fraga e João Paulo Esteves da Silva. O elenco completo do espectáculo integra os cantores João David Almeida e Alexandra Ávila, Jorge Reis (saxofone), Rafael Fraga (guitarras), Augusto Macedo (baixo), Bruno Pedroso (bateria), João Paulo Esteves da Silva (piano) e um quarteto de cordas. Segundo refere o site do CCB, «20 Canções para Zeca Afonso reflecte o olhar da geração mais jovem sobre a obra do saudoso músico, numa alternativa rica e original de homenagem ao seu trabalho... Em 20 Canções para Zeca Afonso, a raiz popular sempre presente na música de Zeca Afonso é recriada num contexto inovador que concilia as melodias das canções, os timbres característicos do trio de jazz que acompanha os instrumentos solistas e a ambiência subtil do quarteto de cordas, numa fusão única de universos musicais que se complementam e enriquecem. O repertório seleccionado inclui canções originalmente editadas entre 1962 e 1987, representando estética e cronologicamente uma parte significativa da obra de Zeca Afonso». Para outros concertos deste fim-de-semana, consultem também o excelente «cardápio» das Crónicas da Terra, que dá conta de inúmeros espectáculos comemorativos do 25 de Abril que decorrem hoje e amanhã por todo o país.

(Nota: a inusitada foto que encabeça este post foi «pilhada» no blog Alentejanando. O autor é Alexandre Carvalho e a fotografia é uma delícia, mesmo!)

22 abril, 2008

Omiri - Ou a Folk Transformada em Tempo Real


OMIRI Bourrée from Tiago Pereira on Vimeo.

Projecto original do músico Vasco Ribeiro Casais (também dos Dazkarieh) e, agora, também com o realizador Tiago Pereira incorporado, os Omiri são um laboratório de experimentação sonora e visual em que a música e as imagens são manipuladas, transformadas e alteradas em tempo real. No Andanças, os dois colaboraram pela primeira vez, mas agora o projecto passou a ser mesmo conjunto e a primeira apresentação oficial dos «novos» Omiri é dia dia 30 de Maio, às 23h00, no Teatro da Luz, em Carnide, Lisboa. Segundo o comunicado oficial, «Omiri é um projecto que vive da dualidade antigo vs moderno. Um músico e um vj partem das danças tradicionais e de instrumentos antigos e transformam-nos numa viagem audiovisual em que o moderno se funde com a tradição e esta se rejuvenesce, tornando-se viva e apta a ser vivida nos tempos de hoje. O espectáculo OMIRI explora simultaneamente duas vertentes: a criação de ambientes complexos dada pela sopreposição de camadas sonoras e visuais gravadas em tempo real e a improvisação em torno das mesmas. Vasco Ribeiro Casais: Nyckelharpa, Gaita-de-Foles, Bouzouki, Flauta, Manipulação Sonora. Tiago Pereira: Vj, Manipulação Visual e Sonora». Aqui em cima pode ter-se um cheirinho do que se vai poder ouvir e ver neste espectáculo.

21 abril, 2008

Cromos Raízes e Antenas XLIII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XLIII.1 - Ryuichi Sakamoto


Saído de um dos mais importantes grupos electro-rock japoneses dos anos 70, a Yellow Magic Orchestra, Ryuichi Sakamoto - nascido a 17 de Janeiro de 1952, em Nakano, Tóquio - rapidamente se destacou como um dos mais marcantes compositores e músicos dos últimos trinta anos, tendo a sua obra para disco, filmes (a sua banda-sonora de «Feliz Natal, Mr.Lawrence», onde também é actor ao lado de David Bowie, é maravilhosa) ou outros suportes passado pelo rock, o experimentalismo, a world music (nele convivem vários elementos tradicionais nipónicos mas também música árabe, indiana, africana ou brasileira), as electrónicas ou a ópera. Ao longo do seu riquíssimo percurso musical já trabalhou com David Byrne, David Sylvian, Thomas Dolby, Iggy Pop, Youssou N'Dour, Brian Wilson, Alva Noto, Arto Lindsay ou Jaques Morelenbaum (com quem gravou canções de António Carlos Jobim). Um génio absoluto.


Cromo XLIII.2 - «Latcho Drom», de Tony Gatlif


Pesquisador incansável e apaixonado da cultura cigana, nomeadamente da sua música, o realizador de cinema argelino, e cigano, Tony Gatlif (de seu verdadeiro nome Michel Dahmani, nascido a 10 de Setembro de 1948, em Argel), concluiu em 1993 um filme absolutamente extraordinário: «Latcho Drom», a (longa) história de uma viagem que traça a diáspora do povo cigano a partir do Rajastão, na Índia, e a sua chegada a países distantes como a Roménia, França, Egipto, Turquia, Hungria, Eslováquia ou Espanha. Uma viagem que é feita, sempre, com a música e a dança como traço fundamental de união e de memória deste povo. «Latcho Drom» (que significa, em romani, «boa viagem») é, talvez, o pico mais alto da carreira de Gatlif - ele também compositor de música - que tem como outros filmes marcantes o igualmente inesquecível «Gadjo Dilo», «Vengo», «Exils» ou o recente «Transylvania».


Cromo XLIII.3 - Susana Baca


A cantora Susana Baca - de seu nome completo Susana Esther Baca de la Colina, nascida a 24 de Maio de 1944, em Chorrillos, Lima - é também uma respitadíssima compositora e estudiosa da influência da música africana no Peru. Paralelamente à sua carreira musical - que já nos deu álbuns fabulosos como «Vestida de Vida, Canto Negro de las Américas!», «Fuego y Agua», «Espíritu Vivo», «Lamento Negro» (com o qual ganhou um Grammy) ou «Travesías» - é também, juntamente com o seu marido Ricardo Pereira, a responsável pelo Instituto Negro Contínuo que, nos arredores de Lima, recorda as heranças culturais que os escravos vindos de África deixaram no seu país. Cantando lunduns, valsas, marineras, zamacuecas ou canções de Gilberto Gil e poemas de Pablo Neruda, a sua voz é sempre enorme e a sua vida um enorme exemplo.


Cromo XLIII.4 - Babatunde Olatunji


Mito maior da música africana - e do que a música africana tem de mais ancestral, as percussões -, Babatunde Olatunji nasceu a 7 de Abril de 1927 em Ajido, Lagos, na Nigéria, e morreu a 6 de Abril de 2003, nos Estados Unidos. E foi nos Estados Unidos que ele teve a parte principal da sua profícua carreira, iniciada nos anos 50 quando fez amizade com um dos maiores génios do jazz, John Coltrane, e com o A&R John Hammond, da Columbia Records, editora para a qual começou a gravar em 1957 (o seu álbum «Drums of Passion» é um clássico). Fundador do Olatunji Center for African Culture, em Harlem, Nova Iorque, e guru de inúmeros bateristas, percussionistas e outros músicos (de Bob Dylan a Santana, de Mickey Hart a Airto Moreira, de Quincy Jones a Stevie Wonder, de Max Roach a Muruga Booker), Olatunji foi também um activista dos direitos civis nos EUA, ao lado de Martin Luther King e, depois, de Malcolm X.

20 abril, 2008

A Naifa no Maria Matos - Um Concerto Inolvidável!


É um post rápido, domingueiro, e domingueiro de chuva..., mas que não poderia deixar de fazer: o concerto d'A Naifa (na foto; de Alexandre Nobre), ontem, no Teatro Maria Matos, foi absolutamente maravilhoso, arrepiante, extraordinário!!! Nas canções novas de «Uma Inocente Inclinação Para o Mal» - canções onde o fado é ainda mais fado e o rock é ainda mais rock - ou nas novas roupagens de canções mais antigas - com destaque para o arranjo de «A Verdade Apanha-se com Enganos» e para a interpretação sublime de «Todo o Amor do Mundo Não Foi Suficiente» - ou nas versões inesperadas de «Subida aos Céus», dos Três Tristes Tigres (mas porque é que soa, tanto!, a UHF do início?) e de «Desfolhada», de Simone de Oliveira, sente-se um'A Naifa maior, mais madura, com um sentido musical e poético apuradíssimo. A Mitó tem cada vez mais luz na sua voz, um sol inteiro ou mesmo quando a luz é contida e é apenas uma chama de vela quando ela é preciso; o Luís Varatojo rasga a guitarra portuguesa com riffs e fados (riffados?) cada vez mais personalizados; João Aguardela é a invenção e a segurança e até uns acordes (acordes!) num baixo cada vez mais melódico; Paulo Martins é o cimento, discreto, daquilo tudo. E as luzes, as luzes mesmo - as luzes que não saem da voz de Mitó ou dos instrumentos dos seus companheiros - são o enquadramento perfeito do espectáculo. Um espectáculo inesquecível.

18 abril, 2008

Pilar Homem de Melo - Uma Aventura Senegalesa


A cantora portuguesa Pilar Homem de Melo (que deixou cair o outro «l» do nome Mello) está a trabalhar num novo álbum no... Senegal. E, embora ainda pouco se saiba sobre o disco, sabe-se para já que com ela estão dois músicos respeitadíssimos desse país: o percussionista Thio Mbaye (colaborador de Peter Gabriel, Youssou N'Dour e Salif Keita, entre outros) e o baixista e compositor Habib Faye (director musical da Super Étoile de Dakar, a banda de Youssou N'Dour, tendo já gravado ou actuado também com Peter Gabriel, Sting, Mickey Hart, Angélique Kidjo, Tracy Chapman e Bruce Springsteen, entre outros). Os três - Pilar e os dois músicos referidos - estão na foto que encabeça este post. Também a trabalhar com Pilar está o cantor, compositor e letrista inglês Trevor Jones (dos Miracle Mile; não confundir com o compositor de bandas-sonoras sul-africano com o mesmo nome) e o senegalês Edouard Manga, na kora. Pilar, recorde-se, editou até agora os álbuns «Pilar» (1989), «Pecado Original» (1993), «Não Quero Saber» (2001), «Ao Vivo» (ao lado de Né Ladeiras e Anamar, 2002) e «Põe Um Bocadinho + Alto» (2003). Mais informações, quando as houver, no myspace de Pilar, aqui.

17 abril, 2008

Mercado Mundo Mix e Festival Lisboa-Porto de Abrigo - World Music em Lisboa


O Mercado Mundo Mix - que decorre no Castelo de S.Jorge, em Lisboa, dias 9, 10 e 11 de Maio - vai incluir este ano o Festival World Mix Music, com concertos da divertidíssima trupe de italianos Anonima Nuvolari (na foto; dia 10) e dos marroquinos Gnawa Sahara Soul (dia 11), para além de sessões de DJing por Raquel Bulha (dia 10), o nosso camarada das Crónicas da Terra Luís Rei (dia 11) e, hermmmm, António Pires (dias 10 e 11). Paralelamente, no espaço Eastpak Urban Jam
há mais música com DJ Ride & DJ Kwan e no espaço Timezone actuam Os Moranguitos (um trio do Porto composto por um DJ, um baterista e um violinista), o Nubai Sound System e um concerto de didgeridoo. Para além da música, o Mercado Mundo Mix inclui inúmeros stands de moda e artesanato e mostra exposições e filmes.

Também em Maio e em Lisboa, mas no Teatro da Trindade, decorre o festival Lisboa - Porto de Abrigo, que apresenta concertos do músico e cantor angolano Yami (dia 1), da fadista Raquel Tavares (dia 7), do fadista António Zambujo (dia 14), da cantora cabo-verdiana Titina (dia 21) e dos Donna Maria (dia 28). A organização é da HM Música e do Inatel.

16 abril, 2008

Deolinda - Cantar a Tristeza, Rindo!


O álbum de estreia dos Deolinda (na foto, de Mário Pires, da Retorta), «Canção ao Lado», está prestes a ser editado. E, a propósito do projecto e do álbum, o texto que se pode ler a seguir é o «press-release» oficial de lançamento do disco, que o grupo me pediu para fazer. Convite a que acedi, com muita honra...

Há uma longa série de clichés associados ao fado. Por exemplo, o fado tem que ter guitarra portuguesa. Os Deolinda não usam guitarra portuguesa. Ou, o fado tem que ser sisudo, sério, compenetrado, fatalista e triste. Os Deolinda não são nada disso. Ou ainda, o fado não pode ser dançado. E dança-se com os Deolinda. Ou, para terminar, a fadista tem que vestir de preto, como se estivesse no seu próprio funeral. Ana Bacalhau, a voz dos Deolinda (a Deolinda, ela própria?), veste roupas garridas, alegres, coloridas.

Mas os Deolinda são... fado, apesar disso tudo, e são muito mais que fado, por causa disso tudo e de tudo o mais que a sua música contém. Uma música que vai à música popular portuguesa - um universo que aqui abarca José Afonso e António Variações, Sérgio Godinho, Madredeus e os «muito mais que fadistas» Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro - e vai ainda à rembetika grega, à música ranchera mexicana, ao samba, à música havaiana, ao jazz e à pop, numa confluência original e rara de músicas-irmãs ou primas umas das outras e que, nos Deolinda, fazem todo o sentido.

Nos Deolinda, a música e as letras (geralmente de um humor fino, mordaz, por vezes absurdo, de outras surrealista, mas também capazes de fazer lembrar a pena de José Afonso, como em «Clandestino») são, em todas as canções, de Pedro da Silva Martins, guitarrista do grupo que, juntamente com o irmão - e igualmente guitarrista dos Deolinda - Luís José Martins, tinha antes feito parte dos Bicho de 7 Cabeças. Há dois anos, convidaram a prima Ana Bacalhau, então vocalista dos Lupanar, a cantar algumas das primeiras canções compostas para um novo projecto, ainda sem nome. E foi com ela - e com o contrabaixista Zé Pedro Leitão, também dos Lupanar, que se juntou ao projecto logo de seguida - que o conceito Deolinda começou a tomar forma. Um conceito que, com o desmembramento das duas bandas anteriores (Lupanar e Bicho de 7 Cabeças) nesse ano de 2006 e a vontade dos quatro em abraçar um projecto novo e original, cristalizou nos Deolinda.

Dois anos - e vários concertos memoráveis depois -, os Deolinda lançam agora o seu álbum de estreia, «Canção ao Lado», com catorze temas originais gravados pelos quatro nos estúdios Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, com produção do grupo e de Nélson Carvalho. No álbum participam ainda o percussionista João Lobo (pandeiro em «Garçonete da Casa de Fado») e muitos amigos dos Deolinda - Mitó Mendes (A Naifa), Norberto Lobo (Norman/Munchen), Mariana Ricardo (ex-Pinhead Society/Munchen), Joana Sá (também ex-Pinhead Society, agora nos Power Trio, ao lado de Luís José Martins), Gonçalo Tocha, Didio Pestana (ambos ex-Lupanar), Artur Serra e Carlos Penedo (ambos ex-Bicho de 7 Cabeças), entre outros - nos coros de «Movimento Perpétuo Associativo» e «Garçonete da Casa de Fado». Um grupo de amigos que se estende ao autor de banda-desenhada João Fazenda, que ilustrou o disco, e a Catherine Villeret e (mais uma vez) Gonçalo Tocha, que realizaram o divertidíssimo e surreal teledisco de «Fado Toninho», o primeiro single retirado de «Canção ao Lado».

O álbum «Canção ao Lado» é editado dia 21 de Abril, numa parceria da Sons em Trânsito com a iPlay.


Os Deolinda são:

Ana Bacalhau (voz)

Pedro da Silva Martins (composição, textos, guitarra clássica e voz)

Zé Pedro Leitão (contrabaixo e voz)

Luís José Martins (guitarra clássica, ukelele, cavaco, guitalele, viola braguesa e voz)



Alinhamento de «Canção ao Lado»:

1 - «Mal Por Mal»
2 - «Fado Toninho»
3 - «Não Sei Falar de Amor»
4 - «Contado Ninguém Acredita»
5 - «Eu Tenho Um Melro»
6 - «Movimento Perpétuo Associativo»
7 - «O Fado Não É Mau»
8 - «Lisboa Não É a Cidade Perfeita»
9 - «Fon-Fon-Fon»
10 - «Fado Castigo»
11 - «Ai Rapaz»
12 - «Canção ao Lado»
13 - «Garçonete da Casa de Fado»
14 - «Clandestino»

Próximos concertos:

25 de Abril: Festival de Música "Sirenes" Estarreja, Aveiro
26 de Abril: Showcase - Fnac Coimbra
27 de Abril: Showcase - Fnac Viseu
29 de Abril: Showcase - Fnac Chiado Lisboa
30 de Abril: Showcase - Fnac Colombo Lisboa
7 de Maio: Concerto de Lançamento - Cinema S. Jorge - Lisboa
9 de Maio: Valado de Frades
10 de Maio: Centro Cultural Vila Flor- Guimarães
17 de Maio: Centro Cultural de Ílhavo
24 de Maio: Centro de Artes de Sines
30 de Maio: Salão Brazil - Coimbra
31 de Maio: Passos Manuel - Porto
27 de Junho: Festival MED - Loulé
28 de Junho: Galeria do Desassossego - Beja
12 de Julho - Festas do Almonda - Torres Novas
19 de Julho: Teatro Municipal da Guarda
31 de Julho: Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha
1 de Agosto - Tavira
9 de Agosto: Festival Sudoeste - Zambujeira do Mar
23 de Agosto: Festival Bons Sons - Tomar

Myspace:

http://www.myspace.com/deolindalisboa

15 abril, 2008

Think of One, El Tanbura e Bedouin Jerry Can Band - O Deserto Já Chega à Bélgica


As visões mais catastróficas sobre o aquecimento global prevêem que daqui a algumas dezenas de anos todo o sul da Europa será um deserto: a Península Ibérica, sim, mas também partes de França, Itália, Grécia... Mas, pelo menos para já, em termos musicais o norte de África já chegou à Bélgica há alguns anos, via Think of One (na foto), banda que depois das derivações «brasileiras» volta agora a uma paixão antiga: a música norte-africana. E, para lhes fazer companhia neste texto, do norte de África mesmo - mais especificamente do Egipto - vêm os fabulosos El Tanbura e a surpreendente Bedouin Jerry Can Band.


THINK OF ONE
«CAMPING SHAÂBI»
Crammed Discs/Megamúsica

O grupo belga, de Antuérpia, Think of One - um dos mais consistentes e respeitados projectos da chamada world music, uma designação que neles assenta que nem uma luva, mercê da quantidade de cruzamentos musicais em que já estiveram envolvidos ao longo da sua carreira - está de volta a um território que conhece particularmente bem, a música magrebina, depois de dois álbuns em que namorou mais intimamente com a música brasileira. Neste «Camping Shaâbi», a música berbere, o gnawa e o sha'abi são a pedra de toque para uma música que, como habitualmente, envolve os géneros tradicionais em muitos outros géneros como o rock, o hip-hop (oiça-se o fortíssimo e interveniente «Oppressor»), o dub, o jazz, a música latino-americana ou o funk, tudo misturado com a sabedoria de quem já faz isto há muitos anos - «Camping Shaâbi» é o oitavo álbum do grupo - e sempre com um sentido global e de aventura notáveis. Rodeados de inúmeros músicos e cantores do norte de África, incluindo a cantora Ghalia Benali, e mais alguns convidados especiais - do trio belga Laïs e ao mentor da Crammed, Marc Hollander (que toca piano num dos temas) -, os Think of One atingem neste álbum alguns picos musicais notáveis como a faixa de abertura, «J'Étais Jetée», o já referido «Oppressor», o hipnótico «Gnawa Power», o inesperado «Hamdushi Five», o festivo «Où Tu Vas?» (na linha de Manu Chao) ou o fabuloso «Antwaarpse Shaâbi». (9/10)


EL TANBURA
«BETWEEN THE DESERT AND THE SEA»
World Village/Harmonia Mundi

E de sha'abi também se pode falar quando se fala de «Between The Desert and The Sea», o maravilhoso álbum dos El Tanbura, grupo egípcio de Port Said, ali no Mediterrâneo e ao lado do Canal do Suez. Com uma música em que entram vários instrumentos tradicionais (com destaque para a simsimiyya, uma harpa cuja origem remonta ao tempo dos faraós e que foi usada como instrumento de... exorcismos!, mas também flautas e muitas percussões) e variadas harmonias vocais, os El Tanbura misturam música sufi com canções de pescadores e sha'abi, criando melodias belíssimas, quase sempre hipnóticas e circulares mas bastante ricas em nuances e variações harmónicas. Canções tradicionais e alguns originais - essencialmente compostos por Zakaria Ibrahim, o líder do grupo - que falam de amor, de guerra ou de religião (como na mágica «Dundarawi», um tradicional sufi), mas também da convivência entre vários povos (como em «Sar A Lay», cantada num dialecto de beduínos e em núbio). Umas vezes mais acelerado - quando as percussões tomam a dianteira e levam as vozes e os outros instrumentos atrás -, de outras mais ambiental e contemplativo - principalmente quando a simsimiyya e outra harpa, a gandouh, estão em destaque -, «Between The Desert and The Sea» é uma experiência sonora lindíssima e difícil de esquecer. (9/10)


BEDOUIN JERRY CAN BAND
«COFFEE TIME»
30IPS/El Mastaba Center

Vizinhos dos El Tanbura, e com uma música que muitas vezes lhes é semelhante, os músicos e cantores da Bedouin Jerry Can Band habitam no deserto do Sinai, onde o norte de África se encontra com o Médio Oriente. Não por acaso, os El Tanbura colaboram neste álbum de estreia da BJCB, «Coffee Time», e um dos instrumentos usados pelo grupo é também a simsimiyya - ao lado de flautas, da magroona (gaita), rababa (um violino de uma corda só) e percussões inusitadas (jerrycans, sim!, e também caixas de munições abandonadas no deserto aquando das várias guerras que assolaram a região, bilhas de água, cafeteiras de metal...). Beduínos semi-nómadas fixados no oásis de El Arish, pertencentes a uma tribo de religião sufi, Suwarka - mas incluindo também membros de outras origens étnicas, como o poeta Soliman Agman Mohamed Agmaan -, os músicos da BJCB assinam neste álbum uma música pura, de raiz, riquíssima de ritmos e harmonias, aproximando-se aqui e ali de formas ocidentais conhecidas como... o rock (oiçam-se «Wesh Melek» ou «Mareia»). Tendo como manager Zakaria Ibrahim - pois, o líder dos El Tanbura e o mentor do El Mastaba, um centro para o desenvolvimento da música tradicional egípcia -, a Bedouin Jerry Can Band está, ao lado dos El Tanbura, a fazer um trabalho precioso de preservação das antigas tradições musicais daquele país. E nós só temos que lhes estar agradecidos por isso. (8/10)

14 abril, 2008

Festival Galaicofolia Com Julie Fowlis


Ainda não se sabe muita coisa sobre este novo festival que vai aparecer no norte, mas o que já se sabe - apenas um nome! - é no entanto suficiente para deixar água na boca: a primeira edição do Festival Galaicofolia, que decorre no Castro de S. Lourenço, em Esposende, dias 1, 2 e 3 de Agosto, tem confirmado para o primeiro dia a presença da cantora e instrumentista escocesa Julie Fowlis (na foto), estrela emergente da folk cantada em gaélico, autora de dois aclamadíssimos álbuns - «Mar a Tha Mo Chridhe» e «Cuilidh» -, premiada com vários galardões, nos quais se destaca o prémio de «Folk Singer of The Year - 2008», da BBC Radio 2. Cantando em gaélico da Escócia - e tocando vários instrumentos, de gaitas-de-foles a flautas, oboé e melodeon (acordeão diatónico) -, Julie tem a sua música fortemente enraizada na tradição mas transmite-a com uma frescura rara. Para além da música, o Galaicofolia promete reconstituições históricas dos tempos castrejos, gastronomia, artesanato e um espaço infantil. Mais informações, aqui.

12 abril, 2008

Garifuna Collective e A Naifa no FMM de Sines


O Garifuna Collective - grupo que acompanhava o recentemente falecido Andy Palacio (na foto; de Tony Rath) - está confirmado para a edição deste ano do FMM de Sines, segundo um «press-release» do festival que refere os premiados dos BBC World Music Awards que constam do alinhamento do festival em 2008: «Três projectos musicais programados para o Festival Músicas do Mundo, que decorre em Sines e Porto Covo entre 17 e 26 de Julho, venceram as suas categorias na edição 2008 dos Prémios de World Music da BBC Radio 3. Os prémios, anunciados dia 11 de Abril, coroaram Bassekou Kouyate & Ngoni Ba (Mali) como melhor grupo africano, Juldeh Camara & Justin Adams (Gâmbia / Reino Unido) como melhor projecto de Cruzamento de Culturas e Andy Palacio and The Garifuna Collective (Belize) como o melhor grupo do continente americano. A vitória africana de Bassekou Kouyate acumula com o prémio de melhor disco de 2007 ("Segu Blue"), que já tinha sido anunciado no final do ano passado. Dia 17 de Julho, este antigo músico de Ali Farka Touré sobe ao palco com o seu quarteto de "ngoni" (tipo de alaúde africano) para um espectáculo de "blues" malianos assente no seu disco premiado. Juldeh Camara, vocalista e mestre do "riti", violino de uma corda tocado por toda a África Ocidental, e Justin Adams, guitarrista de Robert Plant e produtor de três discos dos Tinariwen, estão em Sines dia 23 de Julho com outro dos melhores discos de fusão do ano, "Soul Science". Andy Palacio, uma das grandes apostas para a programação do FMM 2008, faleceu inesperadamente em Janeiro, mas a sua música e a sua memória não deixarão de estar em Sines, dia 20 de Julho, através da sua banda, The Garifuna Collective, que organizou um espectáculo de tributo ao excepcional músico do Belize».

Outro nome confirmado para o FMM de Sines é o grupo português A Naifa, que está a lançar agora o seu terceiro álbum, «Uma Inocente Inclinação Para o Mal». O quarteto actua em Porto Covo, no dia 18 de Julho.

11 abril, 2008

Festival Sons do Atlântico - Com Transglobal Underground, Oi Va Voi e... Mayra Andrade


Nem de propósito!! Depois da (óptima) notícia de Mayra Andrade ter vencido o Prémio Revelação dos BBC World Music Awards, eis que surge a confirmação do seu regresso a Portugal para um concerto no Festival Sons do Atlântico, que decorre dias 8, 9 e 10 de Agosto no promontório de N.Sra. da Rocha, em Lagoa, Algarve, e muito bem acompanhada! Num concentrado de excelentes propostas musicais, o Sons do Atlântico apresenta este ano concertos do cantor e compositor açoriano Zeca Medeiros e de Mayra Andrade (dia 8), dos jovens sevilhanos La Selva Sur e do importantíssimo colectivo fusionista anglo-indo-paquistanês Transglobal Underground (dia 9), da folk à portuguesa dos Diabo a Sete e do klezmer revisto à luz das novas músicas pelos Oi Va Voi (na foto). Estaremos lá, claro!

10 abril, 2008

Mayra Andrade Vence Prémio Revelação da BBC Radio 3


Mas que bela notícia!!! A cantora cabo-verdiana Mayra Andrade é a vencedora do mais recente Prémio Revelação de World Music da BBC Radio 3, levando de vencida os outros nomeados, todos de grande gabarito e todos eles também já várias vezes referidos neste blog: Balkan Beat Box, Bassekou Kouyate & Ngoni Ba e Vieux Farka Touré. O prémio deve-se, claro, ao seu álbum de estreia «Navega» mas também, sem dúvida, aos seus concertos memoráveis que, nos últimos anos, têm passado pelos melhores palcos e festivais de world music. A notícia da agência Lusa que - antecipando-se à «revelação» oficial - avança a vitória de Mayra Andrade nesta categoria dos «World Music Awards» inclui ainda uma breve biografia de Mayra Andrade que transcrevo a seguir:

«O seu álbum de estreia, "Navega", foi distinguido em 2007 com o Deutscheschalplatten pela crítica alemã. Mayra iniciou a sua carreira aos 16 anos no Canadá, quando ganhou a Medalha de Ouro nos Jogos da Francofonia. Filha de cabo-verdianos, nascida em Cuba, Mayra já partilhou palcos com cantores como Cesária Évora, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ernesto Puentes e ainda Charles Aznavour, com quem gravou um duo para o seu disco "Insolitement Votre". Mayra Andrade, 22 anos, considera que faz "parte de um leque de artistas que tem dado à música cabo-verdiana oportunidade de renovar e conquistar novos horizontes".

Adenda: «Segu Blue», o álbum de estreia de Bassekou Kouyate & Ngoni Ba (ver igualmente crítica neste blog), ganhou o prémio de «Melhor Álbum», enquanto o seu autor ganhou também o prémio de «Melhor Artista da África Sub-Sahariana». Outros artistas vencedores: a chinesa Sa Dingding («Melhor Artista da Ásia/Pacífico»), o recentemente falecido Andy Palacio com o Garifuna Collective («Melhor Artista das Américas»), os espanhóis Son de La Frontera («Melhor Grupo da Europa»), o argelino Rachid Taha («Melhor Artista do Norte de África»), o duo de Justin Adams e Juldeh Camara («Cruzamento de Culturas»), os Transglobal Underground («Dança Global») e Francis Falceto - o compilador da série de discos «Éthiopiques» («World Shaker»).

09 abril, 2008

Vampire Weekend no Porto (Com os... Young Marble Giants!)


Abençoado festival Primavera Sound, em Barcelona - que tantas e tão boas memórias me traz (olá Gonçalo, Mário, Luís e João!) - que permite que, à boleia da sua programação, muitos dos grupos e bandas que por lá se apresentam também passem por Portugal (e em sítios distintos como a ZDB e o Lux, em Lisboa, o Mercado Negro, em Aveiro, ou a Casa da Música, no Porto). E é na Casa da Música que vão actuar, dia 30 de Maio, os rockers de alma africana Vampire Weekend (na foto; ver, por favor, crítica ao seu álbum de estreia, encontrável neste blog algumas páginas abaixo) e, ainda por cima, na mesma noite em que sobe ao palco uma das mais míticas bandas rock de sempre, os Young Marble Giants, autores do absolutamente maravilhoso álbum «Colossal Youth». Estarei lá caído, claro!!! E, a reboque do Primavera Sound, ainda haverá concertos em Portugal - tal como refere o Juramento Sem Bandeira - dos Animal Collective, Boris, Atlas Sound, Dirty Projectors, Scout Niblett e Cat Power, pelo menos. Oiça-se o foguetório!

08 abril, 2008

Cromos Raízes e Antenas XLII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XLII.1 - Fairport Convention


Os Fairport Convention - uma das mais importantes bandas da folk inglesa, se não a mais importante - foram formados em 1967 e contam agora nas suas fileiras com Simon Nicol, Dave Pegg, Ric Sanders, Chris Leslie e Gerry Conway, mas pelo grupo passaram muitas outras luminárias da folk como Dan Ar Braz, David Swarbrick, Paul Warren, Richard Thompson, Sandy Denny e Trevor Lucas, entre muitos outros. Misturando com segurança e uma linguagem ferozmente pessoal a música tradicional (ou de inspiração tradicional) inglesa com rock - os Fairport Convention são geralmente apontados como o primeiro grupo inglês de «folk eléctrico» -, a banda rapidamente atingiu um estatuto inultrapassável. Igualmente organizadores, desde 1977, do importante festival folk Cropredy Festival, o melhor espelho da sua arte encontra-se na caixa... «The Cropredy Box» (1998).


Cromo XLII.2 - «Anthology of American Folk Music»



Contendo temas gravados nos anos 20 e no início dos anos 30 do Séc. XX, e originalmente editada em seis LPs em 1952, a «Anthology of American Folk Music» - reeditada em 1997 numa caixa de três CDs duplos, através da Smithsonian Folkways Recordings - é um tesouro em que se encontram mais de oito dezenas de canções folk, country e blues, memórias «vivas» da história da música norte-americana e de nomes incontornáveis que esta colectânea deu a conhecer a um vasto auditório: The Carter Family, Leadbelly, Dick Justice, Mississippi John Hurt, Alabama Sacred Harp Singers, Clarence Ashley, The Memphis Jug Band, Blind Lemon Jefferson ou Robert Johnson, entre muitíssimos outros. A colectânea foi organizada pelo lendário etnomusicólogo, arquivista, realizador de cinema e pintor Harry Smith, que assim «pôs a render» - e ainda bem! - a sua vasta colecção de velhos discos de 78 rpms.


Cromo XLII.3 - Umm Kulthum


Antes, muito antes de o termo «world music» ter sido cunhado - em meados dos anos 80, numa reunião de editores, distribuidores e lojas, em Londres -, já muitos outros artistas e grupos tinham saltado fronteiras e espalhado músicas «locais» em lugares estrangeiros. E um dos mais importantes nomes desse fenómeno foi o da cantora, compositora e actriz egípcia Umm Kulthum (de nome completo Umm Kulthum Ebrahim Elbeltagi, aka Um Kalthoum, Oum Kalsoum e uma boa mão-cheia de outras grafias do seu nome diferentes), nascida a 31 de Dezembro de 1904, em Tamay ez-Zahayra, falecida a 3 de Fevereiro de 1975. Tendo ficado conhecida pelas suas longuíssimas canções (em espectáculos que duravam entre três a seis horas interpretava apenas três ou quatro temas diferentes), Umm tem, ou teve, entre os seus admiradores Charles De Gaulle, Jean-Paul Sartre, Maria Callas, Salvador Dalí, Bob Dylan, Led Zeppelin, Jah Wobble ou Bono.


Cromo XLII.4 - R. Carlos Nakai


Usada - e abusada - na chamada música «new age», a música para flauta dos índios norte-americanos é muito mais do que aquilo que esses discos de «meditação», «auto-ajuda» ou «contemplação» querem fazer parecer. E o melhor exemplo disso mesmo é a obra, de qualidade ímpar, do flautista R. Carlos Nakai, índio semi-navajo semi-ute, nascido a 16 de Abril de 1946, em Flagstaff, no Arizona. Iniciando a sua carreira discográfica em 1983, com o álbum «Changes», Nakai é o mais conhecido e admirado flautista índio norte-americano, vencedor de vários Grammys e um músico que, apesar de ancorado na música tradicional, está aberto a colaborações com muitos outros músicos de várias áreas (do jazz à música erudita, nomedamente com Philip Glass) e de outras origens geográficas (Nawang Khechog, do Tibete; a Wind Travelin’ Band, do Japão; Keola Beamer, do Havai...).

07 abril, 2008

Dead Combo - Mais (Alguns) Territórios Desconhecidos


Ainda não ouvi o álbum, mas estou em pulgas para o ouvir. O terceiro disco dos Dead Combo, «Lusitânia Playboys», está quase a chegar e promete «15 faixas que nos levam a viajar, uma vez mais, por territórios alguns dos quais ainda desconhecidos do viajante habitual. Temas como "Desert Diamonds/Enraptured With Lust" transportam-nos para uma Nova Iorque dos anos 70, "Cuba 1970" passa pela ilha nos anos quentes da revolução, ao passo que "Canção do Trabalho D.C." nos leva à ruralidade interior de um Portugal desconhecido». Rodeados por um naipe luxuosíssimo de convidados - Howe Gelb (Giant Sand), Kid Congo Powers (que fez parte dos Gun Club, The Cramps e dos Bad Seeds de Nick Cave), Carlos Bica, Marco Franco, Ana Quintans, Alexandre Frazão, Zé Vilão, João Marques e Nuno Rafael -, o guitarrista Tó Trips e o contrabaixista Pedro Gonçalves ainda fazem juntar ao álbum um DVD produzido pela LowLife Pictures/Indivídeos que «contém o filme "Enraptured With Lust" (o making of das gravações do disco, realizado por Daniel Neves e Kamila Chomicz), um espectáculo do grupo gravado em 2007 no Cabaret Maxime, em Lisboa, realizado por Daniel Neves, e todos os vídeos dos Dead Combo, dos quais se destacam os vídeos de “Putos a Roubar Maçãs” realizado por Alexandre Azinheira e de “Cuba 1970” realizado por Mário Costa, os singles do novo CD». A edição é da Dead & Company, com distribuição da Universal Music Portugal. O álbum sai a 14 de Abril.

04 abril, 2008

«Folk-Lore» - O Primeiro Tomo


Untitled from mspinky23 on Vimeo.

Os leitores mais atentos deste blog sabem que nunca usei sons ou vídeos ao longo dos quase dois anos de existência do Raízes e Antenas. Hoje, e com muito orgulho, inauguro a secção «audiovisual» com o primeiro «número» do vídeo-magazine «Folk-Lore», de Tiago Pereira. Um trabalho magnífico deste realizador sobre o qual já falei várias vezes por aqui. Quem quiser saber mais sobre ele - o que é francamente aconselhável - pode consultar o seu próprio blog ou o seu myspace.

03 abril, 2008

Névoa, Marful e Acetre - Bons Ventos e Bons Casamentos


Há um velho ditado popular português - conhecido de toda a gente - que diz «De Espanha nem bom vento nem bom casamento». Mas no caso destes três discos hoje falados no Raízes e Antenas, esse ditado terá que ser completamente virado ao contrário: tanto nos galegos Marful como nos Acetre, de Olivença (pois, Olivença!) e na catalã Névoa (na foto; de Noemí Elías) há, para além de muito boa música, íntimos pontos de contacto com Portugal - respectivamente, na língua galega, na música que fazem e no fado... cantado em catalão. Isto é, ventos que se cruzam de cá para lá; casamentos felizes e com mútuo consentimento.


MARFUL
«MARFUL»
Galileo/Megamúsica

A língua galega nasce da mesma raiz que a língua portuguesa. É uma língua irmã, atrever-me-ia a dizer uma língua-gémea; viva, bela e pulsante de poesia e nuances linguísticas deliciosas. E é tão bonito ouvi-la quando ela, para além de muito bem cantada, está tão próxima do português que, muitas vezes, é português mesmo. E é isso que acontece quando se ouve cantar Ugia Pedreira - ela que canta tão bem! - a fazer voar as palavras sobre a música ao mesmo tempo antiga e tão nova que os seus companheiros - Pedro Pascual (acordeão), Pablo Pascual (clarinete-baixo) e Marcos Teira (guitarra), mais os convidados Luis Alberto Rodriguez (bateria) e Xacobe Martinez (contrabaixo) - vão tecendo por baixo da sua voz. Uma música que recria - com originalidade, elegância e paixão - a música de baile que se ouvia e dançava na Galiza nos anos 30 e 40, tanto a tradicional galega (oiça-se a belíssima «Jota Gagarim») mas também a música que muitos emigrantes galegos traziam para a sua terra: twist, habaneras, tangos, paso-dobles e até uns laivos de fado (cf. em «Tris-Tras»). Com alguns originais à mistura com adaptações de tradicionais ou canções de outros autores «de época» e cantado todo ele em galego (à excepção de «Je Suis Comme Je Suis», com música de Ugia sobre um poema de Jacques Prévert), este álbum de estreia dos Marful - eles que vão estar na próxima edição do FMM de Sines - é uma declaração de amor desta cantora e destes músicos à sua terra, à sua história, às suas memórias... Lindíssimo! (9/10)


ACETRE
«DEHESARIO»
Nufolk/Galileo/Megamúsica

Apesar de terem mais de vinte anos de carreira, os Acetre são infelizmente quase desconhecidos em Portugal - que me lembre, passaram por cá há alguns anos num festival Sete Sóis Sete Luas e não sei se passaram mais alguma vez. E é pena por várias razões: a sua música é, independentemente das suas ligações à música portuguesa, muitíssimo boa. E é, por essas ligações, um curiosíssimo exemplo de hibridismo «raiano» que - tirando a anteriormente referida Galiza - é muito raro e bem-vindo. Um hibridismo que é quase natural atendendo ao local de onde é originário o grupo, Olivença - e não, ao contrário do que dizem os nacional-saudosistas, «Olivença não é nossa!» -, ali paredes-meias com o Alentejo, e à curiosidade própria destes cinco músicos e quatro cantoras/intrumentistas que se aventuram em viagens musicais que passam pela Extremadura espanhola, pelo Alentejo, pela Galiza e pelo norte de África (cf. em «Al-Zerandeo», que faz a ponte entre Marrocos e as «pandeireteiras» galegas), fazendo uso de um folk-rock ora mais «musculado» ora mais ambiental ora mais progressivo, mas sempre de um bom-gosto enorme e uma inventividade constante. Mas o mais curioso deste «Dehesario», o sétimo álbum dos Acetre, é mesmo a quantidade de temas cantados em português e/ou com referências a Portugal e à música portuguesa: o tradicional «Mãe Bruxa» («À entrada de Elvas/Achei uma agulha...»); a guitarra portuguesa em «Amores Corridiños» (um tema «afadistado», original de José-Tomás Sousa, guitarrista do grupo); «A Rola» (tradicional alentejano que aqui surge numa versão para vozes femininas e uma «cama» instrumental muito bonita!); ou no vira que fecha o disco e que tanto pode ser galego como minhoto. É necessário conhecê-los. (8/10)


NÉVOA
«ENTRE LES PEDRES E ELS PEIXOS»
Temps Record/Harmonia Mundi

Há alguns meses, fiz neste blog o levantamento de fadistas estrangeiros ou instrumentistas de guitarra portuguesa e espantei-me (e sei que houve mais quem se tenha espantado) com a quantidade de gente, não portuguesa, que lá fora mantém uma relação íntima com o fado. Nesse texto referi a ideia, comum a muita gente, de que «o fado só pode ser cantado por portugueses... A alma, a saudade, a emoção, etc...». Uma ideia completamente errada como se pode comprovar ouvindo muitos dos nomes referidos, nomeadamente esta fadista de corpo e voz e alma inteiros de que se fala aqui hoje: Névoa (aka Núria Piferrer). Porque, se se perguntar «É fado?», a resposta só pode ser: «É, e muito bom!». Quase todo ele cantado em catalão - com excepção de dois temas em espanhol, um deles o arrepiante «No Te Quiero», sobre poema de Pablo Neruda - e, pergunto eu, não será este um espantoso texto de fado? -, o disco tem como base variadíssimos fados tradicionais (Fado menor do Porto, Fado Pintadinho, Fado Amora, Fado Triplicado, etc, etc...) e conta com a participação de vários músicos portugueses: Manuel Mendes (guitarra portuguesa), José «Carvalhinho» (viola e direcção musical), Jorge Carreira (viola-baixo) e o cantor Gonçalo Salgueiro (produção). E basta ouvir como Névoa - ela que já contava com três álbuns dedicados ao fado anteriores a este «Entre les Pedres i els Peixos» - lança a sua voz na interpretação destes poemas para se perceber, imediatamente, que temos aqui uma excelentíssima cantora e, mais do que isso, uma fadista imensa e de alma enorme. E, embora seguindo uma via muito respeitosa do fado tradicional de Lisboa, ela acaba por inovar - com coragem - ao injectar outras línguas no nosso (e de quem o quiser fazer seu) fado. (8/10)

Beirut Cancelam Digressão Europeia

Que raio de (má) notícia: o FMM de Sines emitiu há pouco um comunicado que reza assim, na íntegra: «Beirut cancela digressão europeia. O cancelamento afecta o concerto programado para o dia 24 de Julho, no Festival Músicas do Mundo de Sines.
A banda americana Beirut anunciou o cancelamento de todos os concertos programados para a Europa neste Verão, entre os quais o que estava previsto realizar-se dia 24 de Julho, no Festival Músicas do Mundo, em Sines. Zach Condon, fundador e líder da banda, justificou o cancelamento da digressão da seguinte forma:

"Os últimos dois anos têm sido uma experiência arrasadora. Desde as primeiras indicações de que as pessoas estavam a colocar canções do Gulag [disco de estreia "Gulag Orkestar] nos seus blogs até à incrível digressão pela Austrália e Nova Zelândia, que acabámos de concluir, tudo o que tem acontecido está para além do que pudesse ter esperado para a música que escrevi e gravei no meu quarto. Quando as coisas começaram a acontecer, decidi que queria fazer tudo o maior que fosse possível. Então, resolvi juntar uma banda grande, dar-lhe um som enorme e fazer os discos mais espectaculares que conseguisse."

"Sei que parece treta de artista, mas passar por tudo isto implica pontos baixos a par dos pontos altos. As responsabilidades de reunir pessoas em torno da minha visão, trabalhar com pessoas especiais como aquelas que trabalham directamente para a banda e também as da editora, querer assegurar que cada espectáculo é tão bom quanto humanamente possível, de modo a que cada pessoa no público se aperceba do nosso esforço, tudo isso conduz a muitas questões”.

"Chegou o momento de mudar algumas coisas, reinventar outras, e voltar com uma perspectiva nova e um monte de canções".

"Por favor, aceitem as minhas desculpas. Prometo que voltamos, sob qualquer forma".

A organização do Festival Músicas do Mundo lamenta o sucedido e continua a trabalhar a sua programação no sentido de tornar a 10.ª edição do evento, que terá lugar em Sines e Porto Covo, entre 17 e 26 de Julho, em mais uma grande festa de música, como acontece desde a sua criação».

02 abril, 2008

Festeja-se Abril no CaféVinil...


Mesmo sem a habitual auto-promoção - este mês estou de «folga» no CaféVinil -, aqui fica o sumarento programa de actividades neste bar de Sintra (o CaféVinil, recorde-se, fica muito perto da estação de comboios e paredes meias com a Biblioteca). Durante todo o mês pode ver-se uma exposição dedicada à revista «Bíblia», «Os Primeiros Anos», que inclui ilustrações, fotografias e textos publicados nesta revista. E há sessões de Djing com Baby Doll («Valley of The Dolls», dia 5), DJ Miguel («oitentas», dia 12), Mike («Planet Mike», dia 19), Joana («Sons da Revolução», dia 24), Davide («Especial Música Portuguesa», também dedicado à Revolução de Abril, dia 25) e Raposo («Variedades», dia 26). Mais informações aqui.

01 abril, 2008

Festival S.I.R.E.N.E.S. - Sonoridades Singulares


Há um novo festival no horizonte: o Festival S.I.R.E.N.E.S., que pretende ser itinerante mas, para já, tem a sua primeira apresentação marcada para o Cine-Teatro de Estarreja, dias 25 e 26 de Abril, datas escolhidas a dedo pelo seu simbolismo. O festival «quer ser uma mostra de sonoridades singulares no panorama musical» e a sigla S.I.R.E.N.E.S. significa «Soluções Irreverentes Revelam Ao Espectador Novos Estilos Sonoros». Do elenco do festival constam Jorge Cruz (o ex-Superego, agora com um novo disco a solo, «Poeira»), os Deolinda (em tempo de lançamento do seu álbum de estreia, «Canção ao Lado») e as Tucanas (também com álbum de estreia fresquinho, «Maria Café»), todos no primeiro dia, e Couple Coffee (com JP Simões como convidado) e Jacinta (na foto; a interpretar temas do seu álbum «Convexo», dedicado ao reportório de José Afonso), no segundo dia. Integrada no festival está também a exposição «A Cor do Som Português», com fotografias de Jorge Neto. Mais informações aqui e aqui.