08 julho, 2010

E Quantos Caminhos Tem a Música Indiana?


No seguimento da recuperação de vários textos publicados na «Time Out Lisboa» ao longo dos últimos meses -- e se nos próximos textos eu não referir a fonte é porque ela já aqui está bem explícita! -- aqui ficam mais algumas críticas a discos que têm como origem o imenso e misterioso continente indiano: o cantor Paban das Baul (na foto), o músico (aquilo é uma sitar? é uma pedal steel? é a mistura das duas? é o quê, afinal?) Debashish Bhattacharya e mais uma imensa colectânea de canções de Bollywood...


Debashish Bhattacharya
"O Shakuntala!"
(World Music Network/Megamúsica)

Se Ry Cooder tivesse composto e gravado a música para um filme chamado, imagine-se, “Havai, India”, em vez de um outro de nome “Paris, Texas”, o primeiro tema - “Megha Re” - do novo álbum do mestre da slide-guitar indiana Debashish Bhattacharya entraria imediatamente nessa banda-sonora. E a comparação, que poderia parecer despropositada se se pensasse que se está aqui à procura de uma simples contextualização ocidental para uma música oriental, até ganha algum fôlego se pensarmos que a slide-guitar é um instrumento de eleição nos blues ou na country e não tanto naquilo que estamos habituados a ouvir (sitar, tamboura, harmonium ou tablas...) na música indiana. Mas com Bhattacharya a slide-guitar (mesmo que uma slide-guitar que tem como base instrumentos de cordas locais) passou a ser, e “O Shakuntala!” é a sua obra-prima!, um instrumento indiano por direito próprio.

(****)



Vários
"The Bollywood Funk Experience"
Nascente/Megamúsica

Mais um disco da série "The... Funk Experience" da Nascente (que também inclui volumes dedicados a Cuba, ao Brasil e aos trópicos), este "The Bollywood Funk Experience" é capaz de ser o mais curioso de todos, tanto pelo elenco que apresenta – importantes compositores de clássicos do cinema de Bombaim (Mumbai) como RD Burman e estrelas maiores da arte do play-back do cinema indiano como a fabulosa cantora Asha Bhosle – como pela riqueza desta música híbrida que tanto deve à música clássica e tradicional indiana como a inúmeras contaminações externas: aqui o funk, claro, mas também coisas tão diversas como as bandas-sonoras do 007, o cha-cha-cha ou (oiça-se esta versão sublime) o “Twinkle Twinkle Little Star”.

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Paban das Baul
"Music of The Honey Gatherers"
World Music Network/Megamúsica

Desde há muitos anos radicado no Ocidente, o cantor e percussionista indiano Paban das Baul tem deixado bem vincada a sua arte (produto de uma cultura milenar que mistura ensinamentos tântricos, sufis e budistas, entre outros) tanto nos seus álbuns a solo como em colaboração com gente como os State of Bengal ou Sam Mills. Neste novo álbum, Paban das Baul surge acompanhado apenas por instrumentos tradicionais da sua região natal de Bengala e não há aqui distracções eléctricas ou electrónicas: tanto a voz como a restante instrumentação estão ao serviço de uma função: o transe sagrado, a celebração da vida e da natureza, a circularidade de todas as coisas. "Music of The Honey Gatherers" sabe a mel, sim, mas também a algo muito antigo e de uma enorme sabedoria.

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