11 setembro, 2010

Colectânea de Textos no jornal "i" (IX)


Os Pós-Tradicionalistas (Parte 327)
por António Pires, Publicado em 5 de Novembro de 2009

Já por várias vezes, nesta coluna, se referiram variadíssimos exemplos de bandas e artistas que estão a pegar na nossa música tradicional (e noutras à volta) para com ela criarem uma nova música. E, desta vez, vou falar de cinco outras propostas, todas elas com discos fresquíssimos no mercado. Partindo da ideia-base "Se Carlos Paredes não é pós-rock, então o que andamos aqui a fazer?", os Laia (na foto) atiram-se no seu disco "Viva Jesus e mais alguém" ao pós-rock (dos Cult of Luna aos Tortoise ou aos Godspeed You Black Emperor!), mas com uma guitarra portuguesa, adufes e bombos a sublinharem, bem, a portugalidade da sua música. Por sua vez, os respeitadíssimos Danças Ocultas regressam, em muitos temas do seu novo álbum "Tarab", a sonoridades, ambientes e paisagens mais próximas da tradição portuguesa (embora sem nunca esquecer, em nenhuma nota das quatro concertinas, outras paragens do mundo). Desta vez sem a "muleta" dos convidados exteriores ao grupo, os Danças Ocultas têm aqui o seu melhor trabalho de sempre! Finalmente, referência breve a três outros álbuns: a surpreendente e muito bem conseguida primeira incursão a solo de Sebastião Antunes (Quadrilha), "Cá Dentro"; o novo álbum dos transgressores marafados Marenostrum, "Arraia Miúda", que ainda é melhor que o primeiro; e o hiper-dançável "In Temporal", dos Monte Lunai (danças tradicionais europeias, vivas e actuais).



Valete, Bento e... os outros
por António Pires, Publicado em 12 de Novembro de 2009

Sou benfiquista (mais daqueles "doentes pelo Benfica" que daqueles "fanáticos pelo Benfica"), mas tenho imenso respeito pelo Paulo Bento, tanto como treinador como enquanto pessoa, e não me importaria nada de o ver treinar o meu clube daqui por muitos anos (depois de o Jorge Jesus ter ganho tantos troféus nacionais e internacionais que o Real Madrid e o Manchester estejam dispostos a dar por ele uma enorme pipa de massa ao SLB). Mesmo assim, achei imensa graça ao tema "Baza Correr com o Paulo Bento", do rapper Valete (na foto), que há mais de um ano já pedia a demissão do treinador do Sporting. Curiosamente, trata-se de um caso raríssimo de contestação, pelo menos activa e concretizada, do meio musical português a algo relativo ao mundo do futebol. Mais normal é a glorificação de alguns dos seus jogadores: desde o longínquo "Quem Tem Eusébio", de Artur Ribeiro, aos mais recentes "Não me Mintas", em que Rui Veloso (com letra de Carlos Tê) canta "voar como o Jardel entre os centrais", e "Adivinha Quem Voltou", dos Da Weasel, em que Pacman diz "finto como o João Pinto, marco golo na baliza". E, mais ainda, a glorificação dos clubes através de hinos originais ou adaptados: dos clássicos "Ser Benfiquista" (Luís Piçarra) e "Marcha Sporting" (Maria José Valério) a "Os Filhos da Nação", dos Quinta do Bill (adaptado para "Os Filhos do Dragão" e tornando-se assim o hino oficioso do FCP), "Sou Benfica", dos UHF, ou "Leão de Fogo" (hino do 100.o aniversário do SCP), dos Delfins.



O que aprendo a dar aulas
por António Pires, Publicado em 19 de Novembro de 2009

Desde há seis anos, tenho o privilégio de dar aulas de História da Indústria Discográfica no curso de Produção e Marketing Musical, na Restart. Nos primeiros anos, a maioria dos alunos era formada por pessoas que, apesar de amarem profundamente a música, não cantavam nem tocavam instrumentos, querendo usar o curso como trampolim - mais do que legítimo - para se integrarem no meio editorial ou, em alternativa, na produção de espectáculos. Mas, nos últimos anos, a tendência inverteu-se e verifiquei que cada vez mais eram os músicos e cantores que, descrentes de uma indústria discográfica em crise, procuravam este curso para assim gerirem melhor as suas próprias carreiras musicais, criando editoras próprias ou aprendendo os mecanismos necessários para as suas edições de autor. Este ano, fez-se o pleno: os 13 alunos da turma são todos músicos e/ou cantores, DJ ou já músicos/editores. E com um leque de referências vastíssimo: de um guitarrista de um grupo pimba alentejano a um DJ e produtor de tecno, de músicos punk hardcore e doom metal a uma cantora de formação clássica e outra que trabalha com o Filipe La Féria desde os 12 anos, de dois cabo-verdianos que injectam outras músicas nas kizombas, mornas e coladeiras a um outro que faz rock e música para crianças. E, com todos os meus alunos - vendo a sua alegria, fé e orgulho no que fazem -, aprendo que a indústria até pode estar em crise mas que a música nunca estará.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de te convidar a dar uma espreitadela (auditiva) a esta web-rádio:
www.wix.com/kitschnet/radio
é feita por amadores, é totalmente independente ou quase, já que depende inteiramente daqueles que a fazem estar todos os dias no ar e sem fronteiras.
Um grande bem haja.

Pedro Arnaut disse...

A descrição feita ao disco dos Laia deixou-me curioso António. Vou ouvir qualquer coisa no myspace.