30 janeiro, 2008

Coimbra em Blues - De África ao Mississippi, Passando por Portugal


Que as músicas tradicionais estão na base das músicas, digamos, modernas, é um dado adquirido. E o exemplo mais óbvio - já referido por diversas vezes neste blog, não sendo por isso necessário entrar em grandes detalhes sobre o assunto - é o dos blues, música de raiz africana, nos Estados Unidos transformada, a pouco e pouco, num fenómeno global avassalador: o rock e todas as suas outras ramificações, por lá e por todo o mundo à volta. A sexta edição do festival Coimbra em Blues - que decorre mais uma vez no Teatro Gil Vicente, dias 13, 14 e 15 de Março - dá bem conta dessas ligações primevas: o que une a zona mandinga de África ao delta do Mississippi - e de como os blues estão em todo o lado, dos Estados Unidos a Inglaterra e a... Portugal.

Mais uma vez com direcção artística de Paulo Furtado (WrayGunn, The Legendary Tigerman), o Coimbra em Blues começa com concertos, dia 13, do norte-americano Gary Lucas em parceria com os portugueses Dead Combo (na foto), num «duelo» encomendado pelo próprio festival. No dia seguinte, a 14, há lugar para os blues vindos das ilhas britânicas com o duo de Billy Jenkins & Steve Morrison e para o encontro de músicos da África Ocidental e dos Estados Unidos no projecto Afrissippi. Para terminar, dia 15, o festival apresenta os blues e o rock'n'roll da coimbrã mas cidadã do mundo Ruby Ann e a guitarra incendiária de James «Super Chikan» Johnson. Um grande programa para um festival que, segundo o press-release de apresentação, «ensaia uma nova combinação entre a dimensão experimental e a dimensão celebratória, que tem caracterizado a sua forma particular. Trata-se de conhecer o repertório, sim, nas suas reinterpretações, mas também, e talvez sobretudo, de conhecer o legado dessa forma de canção popular no seu potencial de recriação e contaminação inter-genérica e trans-geográfica. A matriz originária continua a ser reconhecível através da presença infecciosa dos blues nos cruzamentos entre géneros musicais, mas é esse cruzamento que lhe garante renovada vitalidade; cruzamentos incentivados pelo próprio festival de Coimbra, como acontece este ano com a colaboração entre Gary Lucas e Dead Combo». A anteceder o festival, dia 12, é apresentado o filme «The Future is Unwritten», de Julien Temple, documentário dedicado a Joe Strummer, dos Clash.

4 comentários:

Isabel Victor disse...

Belíssimo cartaz !

Coimbra está de parabéns ...



iv*

António Pires disse...

Isabel Victor:

Está mesmo! :)

Beijos...

laura disse...

São os chamados BB's (Blues Beirões), pois que, no fundo, no fundo, esta coisa do sofrimento e da melancolia são sentimentos muito portugueses, mas sobretudo beirões... E agora já percebo porque é que o meu pai me dizia "se não te portas bem levas uma lambada que até andas de azul..." Lá está, na verdade, o meu pai já era um "blues man" e nunca se apercebeu!

:))))

Coimbra vai ter mais encanto por esses dias.

António Pires disse...

Laura:

Essa expressão do teu pai contém uma sabedoria fina e antiga (assim como a lisboeta «ainda te ponho um olho à Belenenses» ;)

E sim!... Portugal está cheio de «blues»: da música «árabe» das adufeiras de Monsanto ao cante alentejano, aos romances, aos fados (de Lisboa e de... Coimbra).

Beijos...