29 janeiro, 2008

DJ Click, [dunkelbunt] e Gaetano Fabri - Quando o Mundo É a Pista de Dança (e Vice-Versa)


No passado fim-de-semana, depois dos concertos de Emir Kusturica, houve sessões after-hours «balcânicas» em Lisboa, no Santiago Alquimista, e no Porto, no Contagiarte, com vários DJs a passar música cigana de Leste. E, um pouco por todo o lado, há cada vez mais gente a fazer remisturas ou a especializar-se como DJs de variadíssimos géneros «locais» e/ou «globais». Podem-se citar alguns nomes, entre uma miríade de outros: Shantel, DJ Dolores, Mercan Dede, o menos conhecido mas excelente Uptown Joji (Daladala Soundz), etc, etc... Desta vez fala-se aqui de três outros DJs há muito rendidos à world music: DJ Click (na foto com a violinista de klezmer Estelle Goldfarb), Gateano Fabri e [dunkelbunt].


DJ CLICK
«FLAVOUR»
No Fridge

Membro do colectivo electro-jazz-world UHT, director da editora No Fridge, DJ e remisturador apaixonado por inúmeras músicas do mundo - e como ele as conhece bem, raios o partam! -, o francês DJ Click é um dos melhores, talvez mesmo o melhor, exemplo de como se podem transportar muitas músicas tradicionais para um futuro em que a música de judeus e muçulmanos, de ciganos espanhóis e do leste da Europa, de negros, de brancos e de mestiços de várias origens conseguem todas conviver, cruzar-se e obrigar toda a gente a dançar numa nave espacial utópica e cheia de músicas novas. Músicas novas como o dub, o electro, o drum'n'bass. Neste álbum estão cá, em estado puro ou muitas vezes remisturados por DJ Click, temas do turco Burhan Öçal, da espantosa cantora húngara Mitsoura, do alemão [dunkelbunt] - de quem falaremos a seguir -, dos Transglobal Underground, dos espanhóis Laxula, do argelino Rachid Taha, do projecto balcânico (produzido por DJ Click) Tziganiada, entre muitos outros. Uma festa pegada, sempre futurista mas sem deixar de ter, lá bem funda, a tradição. (9/10)


[DUNKELBUNT]
«MORGENLANDFAHRT»
Chat Chapeau/Soulseduction

Outro excelente álbum!... «Morgenlandfahrt» é apresentado, conceptualmente, como uma viagem ao longo do dia por vários países (Hungria, Sérvia, Turquia, Bulgária...), com gravações feitas nos locais pelo próprio [dunkelbunt]. Conceito à parte, o álbum é um cocktail sempre impecavelmente misturado num «shaker» onde convivem imensos sabores, de muita música original do alemão sediado na Áustria [dunkelbunt] a música já conhecida - ou especialmente feita para este álbum - de gente como a Amsterdam Klezmer Band, a Fanfare Ciocarlia, Ostblocket, Orient Expressions ou os 17 Hippies. Com vários MCs a puxar, e bem, pelas vozes e a dar pujança ao conteúdo da música, a música dos Balcãs, o klezmer, a música turca surgem aqui mergulhados num caldo onde o dub, o reggae, o jazz ou o trip-hop alteram marcadamente as músicas de raiz, sempre com o fito de criar uma música nova e original. Um objectivo mais que conseguido por [dunkelbunt], nome artístico de Ulf Lindemann. (8/10)


GAETANO FABRI
«NUIT TSIGANE»
Le Divan du Monde/Crammed Discs/Megamúsica

Embora seja o álbum musicalmente menos interessante deste lote, «Nuit Tsigane - Gypsy Night at Le Divan du Monde» é aquele que é capaz de ter mais apelo comercial: nele, o DJ belga Gaetano Fabri faz uma selecção avassaladora dos nomes mais - e alguns, menos - conhecidos da música cigana dos Balcãs, reunindo-os num todo homogéneo e, sempre, dançável. Com subtis alterações de pitch, acelerações, algum uso e abuso do dub, um ou outro efeito electrónico, Gateano Fabri remistura temas dos KAL, da Koçani Orkestar, da Fanfare Ciocarlia, dos Balkan Beat Box e dos Taraf de Haidouks, juntando ainda ao lote temas assinados por DJ Eastender, Beltuner, Romashka ou... o já referido DJ Click, aqui em parceria com a cantora Rona Hartner. E este álbum é o resultado, passado ao suporte CD, de muitas sessões de DJing de Gaetano Fabri no mítico teatro Le Divan du Monde, em Paris, um resultado que pode não ser absolutamente brilhante mas é uma boa fonte de referências para os apaixonados da música balcânica e uma mina de «pilhagens» possíveis para sets de DJ dos outros DJs todos. (7/10)

6 comentários:

Unknown disse...

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António Pires disse...

Caros marketeiros da Super Bock:

Obrigado pela sugestão, mas dispenso... Nao é arrogância: até gostava de participar e, sim!, gosto de cerveja: da vossa, de pelo menos 37 belgas, duas ou três japonesas, outras tantas mexicanas e indianas, uma ou duas inglesas e irlandesas. A verdade é que não participo porque sei que vou perder para um blog qualquer dedicado aos Tokyo Hotel...

Um abraço, com pouca espuma...

laura disse...

Ehhh... Tokio Hotel é fixe! A vocalista é muita gira... :))

António Pires disse...

Laura:

LOL!!! :))) Mas olha que o meu conceito de vocalistas giras é mais os Blondie, os Velvet Underground & Nico ou, para não se ficar a pensar que só gosto de loiras (estou a referir-me às cervejas, claro), as Bananarama e as Bangles todas :)))

Beijos...

JO disse...

Ah, ah, ah, desculpem a intrumissão e a rectificação de um erro. Não é A vocalista mas O vocalista. São 4 miudos, a banda. :)
É uma das razões de não gostar nem um pouco deles: putos andrógenos :D

António Pires disse...

JO:

Obrigado pela rectificação, mas era desnecessária: quando eu e a Laura nos referimos «à» vocalista dos T.H. estávamos, obviamente, na brincadeira :)