16 junho, 2008
Granitos Folk - Como Invocar a Lua e as Trovoadas e Amainar a Chuva
Há momentos mágicos na vida. Por exemplo, como explicar que depois de três noites de alegria, dança e calor, a chuva começa a cair no exacto - no exactíssimo! - momento em que os EmBRUN dão a última - a ultíssima! - nota do seu concerto de encerramento do Granitos Folk no jardim do Palácio de Cristal?... Não se explica? Explica-se pois: o S.Pedro, lá do cimo da sua nuvem sagrada, pensou que depois de três noites de folia, convívio e passos partilhados em são convívio com as árvores, as pedras e a Lua, já podia enfim fazer chover sobre as cabeças das muitas e muitas pessoas que foram dançar e ouvir muito boa música ao festival.
A primeira edição do Granitos Folk fora das portas do Contagiarte foi um sucesso! Muita gente nos três dias - principalmente nas noites de sexta e de sábado -, um local lindíssimo (a Concha Acústica do jardim do Palácio de Cristal) e seis excelentes grupos musicais fizeram do festival uma festa permanente. No primeiro dia com um magnífico concerto dos Mu, anfitriões perfeitos e senhores (e senhoras) de muitas e das mais belas músicas da Terra. A mesma Terra por onde andam muitas vezes e por muitos lados os espanhóis Amainur (na foto), que mesclam na perfeição klezmer e música árabe, pedacinhos de flamenco e música afro-latina com música «celta», num exercício elegantíssimo de fusão e sempre com uma execução técnica exemplar (com destaque para a fabulosa violinista Shirin). Na segunda noite, os Dazkarieh deram mais um grande concerto - um concerto em que, tanto aos originais como às várias versões de temas tradicionais (e há mais uma a juntar ao rol do grupo, a do tema da Beira Baixa «Cantiga Bailada»), se pode aplicar na perfeição uma frase de Gustav Mahler, «a tradição é a transmissão do fogo e não a veneração das cinzas», tal é o calor - e a electricidade - que eles lhe transmitem. Fogo, relâmpagos, trovões e terramotos - de tudo isto é feita a música dos italianos Barbarian Pipe Band, um grupo que usa as gaitas-de-foles e as percussões como armas de assalto ou como «beats» irresistíveis que apelam às danças tradicionais - algumas remontando à Idade Média - tanto quanto ao mosh ou ao pogo; comunicando sempre num português (quase) perfeito, divertindo, assustando, fazendo dançar, a Barbarian Pipe Band passeou-se pela música italiana e bretã, transmontana e galega, russa e escocesa (e se calhar por isso, uma mini-versão rock por eles apresentada, só poderia ser dos... Europe!). Já na última noite, o Festival terminou em grande com a deliciosa aparição dos Zaquelitraques (um grupo de crianças da Sra. da Hora que toca temas tradicionais para gaita-de-foles e tambores), um lindíssimo concerto dos Galandum Galundaina - em que, à falta dos Pauliteiros, se dançou lá em baixo como se muitos paulitos houvesse -, um concerto em que o destaque absoluto vai para «Fraile Cornudo», um tema denso, profundo, gótico, que faz um óptimo contraponto a temas mais festivos como «Dona Tresa» ou «Chin Glin Din». E, antes da chuva cair, os belgas EmBRUN fizeram toda a gente dançar - e como esta gente toda dança bem!! - com chotiças e mazurkas, círculos e bourrés, gavottes e etc, etc... Mas não se pense que os EmBRUN são uma simples «máquina» de bailes tradicionais. Não, os EmBRUN embrulham - passe a aliteração - tudo aquilo em rock, funk, jazz e são muito, muito bons! E, todas as noites e pela noite fora, na casa-mãe do Contagiarte houve ainda animadas sessões bailantes com Osga como DJ, os Zigaia e os Mosca Tosca. Foi um festival muito bonito!!
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8 comentários:
a magical moment? i love magical moments in music.
i'm going to have to see if some of these bands are on youtube. i'd love to hear their music.
Foam:
Yes, some of them are in youtube. But the magical moment was when the last band of the festival (EmBRUN) finished their set and the rain started :))
Reparei que acrescentaste um pormenor muito bonito ao "Raízes". Será a música um fogo que se ouve?
Laura:
Obrigado!! Foste a primeira pessoa a percebê-lo :) E sim, tens razão: o fogo pode arder sem se ver mas há-de ouvir-se um dia, ai isso há-de :))
Infelizmente, só consegui ir ao último dia, mesmo a tempo de ver começar os EmBRUN. Também adorei o pormenor da chuva. Nessa altura fui para casa, já não passei no Contagiarte.
(e não era eu a metade do tal casal)
Menina Limão:
Mas dançaste :)) E isso é o mais importante!! Para a próxima havemos de cruzar-nos :))
Beijos...
antonio,
es o antonio que eu conheci na casa da clara, numa comunhao, a prai um mes e tal? que diz que nao sabe dançar nada e depois dança valsas irrepreensiveis?
Rio:
Não, não sou esse António. Mas é curioso, porque a valsa é a única coisa que eu sei dançar mais ou menos (fui «obrigado» a aprender os passos para uma peça de teatro, há muitos anos).
Volte sempre :)
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