10 setembro, 2008

Adeus Hector Zazou...


Soube da notícia através do Juramento Sem Bandeira. Uma notícia que me deixou particularmente triste: Hector Zazou faleceu anteontem, dia 8, com a idade de 60 anos. Cheguei a conhecer Hector Zazou pessoalmente, quando esteve em Portugal a produzir um álbum de Né Ladeiras que nunca foi acabado. Há alguns meses dediquei-lhe um texto na série «Cromos Raízes e Antenas» (aqui)... E, como não conseguiria expressar melhor do que o Vítor o que me vai na alma - e, mais a mais, partilhando com ele a mesma paixão pelos discos referidos -, aqui fica a notícia publicada ontem no Juramento:

«Hector Zazou (1948-2008)

Depois de duas notícias óptimas, uma que não é nada agradável. Faleceu ontem Hector Zazou. Ao longo de mais de trinta anos, o compositor e produtor francês deixou obras que foram um marco na produção europeia e mundial. Ao longo do percurso, trabalhou na companhia de um notável conjunto de vozes e músicos. Entre os mais conhecidos, constam, por exemplo, Laurie Anderson, Peter Gabriel, John Cale, Brian Eno, Björk, Kronos Quartet, Suzanne Vega, Lisa Germano, Jane Birkin, Värttina, Siouxsie Sioux, Ryuichi Sakamoto, Khaled, Brendan Perry e Lisa Gerard dos Dead Can Dance, Jane Siberry, Robert Fripp, Peter Buck, Mimi Goese dos Hugo Largo, Sainkho, Nils Petter Molvær, Carlos Nuñez e muitos outros. Musicou Rimbaud (no incontornável "Sahara Blue"), musicou a "La Passion de Jeanne d’Arc" de Dreyer, trabalhou a música clássica, a electrónica, a tradicional, aventurou-se pelas tradições nórdicas, irlandesas ou asiáticas e deu à voz feminina um tratamento que poucos souberam dar tão bem. Nesta altura, o luto vive-se também na Crammed, a editora belga por onde fez sair uma dezena discos e que agora lhe dedica algumas palavras. É, aliás, pela Crammed que vai sair brevemente "In the House of Mirrors", que foi este ano gravado na Índia.
Permitam-me acrescentar esta nota pessoal: "Chansons des Mers Froides" (1994), disco composto a partir de tradições nórdicas relacionadas com o mar, e "Sahara Blue" (1992), música para poemas de Rimbaud, na comemoração do seu 100º aniversário, foram discos que eu ouvi compulsivamente um atrás do outro há pouco mais de uma década atrás, e estou certo que contribuíram para o meu desenvolvimento auditivo, seja o que for que isto signifique. Quando morre o autor de dois discos da nossa vida, é triste.»

2 comentários:

Vítor Junqueira disse...

Desse disco da Né Ladeiras é que não sabia eu... Isso foi quando?

António Pires disse...

Camarada Vítor:

Foi em finais dos anos 90 (em 99, se não me engano) e as gravações decorreram na capela do castelo de Montemor-o-Velho. Os dois estiveram juntos a gravar bases para o álbum durante alguns dias e eu fui lá entrevistá-los. Mas houve divergências entre os dois acerca de pormenores estéticos e aquilo ficou por ali. Anos depois, a Né Ladeiras disse-me que essas bases estavam a ser trabalhadas pelos Transglobal Underground mas, que eu saiba, esse trabalho também nunca ficou concluído...