04 setembro, 2007

Músicas do Mar - Um Festival de Boas Ondas



A Póvoa de Varzim está de parabéns pelo nascimento de mais um festival da chamada «world music», Músicas do Mar, que decorreu este fim-de-semana sempre com boas assistências e com excelentes concertos dos nomes congregados - alguns em estreia absoluta no nosso país - no programa. Não cheguei a tempo de ver o concerto de Joel Xavier, mas o primeiro dia, quinta-feira, compensou largamente a longa viagem (três horas e meia de comboio e uma hora de metro entre Campanhã e a Póvoa) com um fabuloso concerto, no palco principal, do baterista nigeriano Tony Allen - aquele que Fela Kuti teve que substituir por três bateristas depois de o despedir -, muito bem acolitado por uma banda mista de músicos negros e brancos que serviram um poderosíssimo cocktail de afro-beat, funk, soul e jazz on the rocks, sempre com o mestre Allen a comandar a «orquestra» com mãos... de veludo. No segundo dia, no Diana Bar, a abertura deu-se com um maravilhoso espectáculo semi-musical semi-teatral dos almadenses O'QueStrada, desconstrução e reinvenção de fados, mornas, bossas e outras músicas, com a cantora Miranda a seduzir o público e o guitarrista a rappar e a raggar e a dançar. Para continuar, no palco principal, com uma grande surpresa: o cantor cipriota grego Alkinoos Ioannidis, que começou o concerto com algumas alusões ao rock progressivo mas seguiu depois por um caminho mais lírico, mais etéreo e encantatório que revelou momentos de uma beleza imensa. A noite terminou com a dupla de DJs Raquel Bulha e Álvaro Costa, que - num belíssimo anfiteatro também perto da praia - misturaram world, rock e pop, explicando sempre, em jeito radiofónico e didáctico, o que estavam a passar. No sábado, e depois de uma actuação bailante e contagiante dos italianos Anonima Nuvolari perto da praia e na Rua Junqueira - que terminou com muita gente a dançar o «Bella Ciao» - e do excelente jazz subtilmente contaminado pelo tango e pelas milongas dos argentinos Escalandrum, no Diana Bar, outra surpresa: os brasileiros Eddie tomaram de assalto o palco principal com a sua visão personalizada do mangue beat, em que se podem encontrar pontos de contacto com a Nação Zumbi, Carlinhos Brown ou os Mestre Ambrósio, mas sempre com uma frescura e uma alegria contagiantes. Uma festa que seguiu depois para o Anfiteatro com mais uma sessão furiosa, inventiva e movimentadíssima do grande Bailarico Sofisticado (e a festa não terminaria sem um after-hours, madrugada fora, numa esplanada e na... praia com os Anónima Nuvolari a comandar a jam). Domingo, último dia, mais festa pelas ruas da cidade com os sintrenses Kumpa'nia Al-gazarra, trupe pseudo-balcânica que «engana» toda a gente com as suas vestimentas, caras farruscas e instrumentos já muito bem oleados na arte de mimar as «ciganadas» de Leste. E, para terminar o Festival em beleza, o melhor concerto de todos: os fabulosos catalães La Troba Kung-Fú (na foto, de Marta Pujol), alguns deles saídos dos seminais Dusminguet, que pegaram fogo ao recinto com muitos ritmos latino-americanos (salsa, son, cumbia, mariachi, ranchera...) à mistura com punk, ska, alusões a manhosices eighties como o... «Eye of The Tiger»; e tudo isto ao serviço de uma rumba catalã que está mais viva do que nunca! Um festival que também foi feito da companhia de bons amigos; de uma ementa rica em rojões, tripas, francesinhas, filetes de polvo e pescada; e com o mar ali ao lado (ali ao lado das músicas). Pode querer-se melhor?

8 comentários:

Vítor Junqueira disse...

Foi uma bela arrancada do Músicas do Mar, mas, e independentemente disso, este fim-de-semana também valeu pelo cumbíbio com os amigos :)

António Pires disse...

Vítor:

Foi, sim senhor!!! E o «cumbíbio» foi óptimo!!! E vocês, Bailaricos, arrasaram mais uma vez!!!

Grande abraço

un dress disse...

não não pode antónio!!

e la troba kung fu ... é obra!

misturava assim as artes marciais com a música trovadoresca...
era!? :)))



abraÇo.beijO

António Pires disse...

Un-Dress:

:) :) :)

E não, não é bem essa a mistura (apesar de eles dizerem que é essa a «teoria» que subjaz ao som do grupo): é mais free-dance com rumba catalana :)

Abraço e Beijo...

Rini Luyks disse...

Olá António.
Infelizmente só estivemos com os Algazarra no último dia do Festival, mas gostámos muito da experiência. Na próxima semana, depois da Festa do Avante, mais um saltinho para o Norte: Festival Reperkusion em Allariz, perto de Ourense (Galiza). Sexta dia 14 palco, sábado dia 15 banda móvel. Há algum mistério: fazemos a primeira parte de um grande nome ou não!? Alguns rumores no site (não actualizado até hoje) www.reperkusion.com/ . Vamos ver...

Um abraço.

António Pires disse...

Olá Rini!

Também gostei muito da vossa actuação na Póvoa! E não sabia desses rumores sobre o festival de Allariz - Manu Chao? Ojos de Brujo?... Acho que no MySpace do festival já desmentiram... O programa completo parece que é este:

Cigani&Cía, Espíritu Santuka, Anonima Nuvolari, Pablo Trasno, Malabreikers, A Magnifique band des hommes sans medo, Bloco do Baliza, Miñor Swing, Bumtaka, Sherpah, Ale-Hop … V Encuentro de Malabares y Artes de el Circo, Mercadillos, gastronomía, show room, performances, talleres…

Espazo de Noite: Telephunken, Percubaba, Blasted Mechanism, Kumpania Algazarra, Komunikando Troupe (Banda Potemkin, Festicultores Troupe, Sonoro Maxin, Os 3 Trebóns, Pulpiño Vascón, e algunha outra sorpresa), Max Doblhoff [vienna loco - club cruise], Juliuss is posible (Taboo Crew – Madrid) y Silicone Soul.

Grande abraço

Anónimo disse...

Olá, muito obrigado pelo link a Planeta de Musicas. Sou espanhol e gosto inmenso do teu blogue. Até logo!

António Pires disse...

Hola Cancho!

Gracias también por tua ligacion a Raízes e Antenas! Continuacion de bon trabajo!!! (e desculpa mi portuñol)

Un abrazo