15 agosto, 2007

Sons do Atlântico - A Rainha, os Plebeus e os Infantes



O Sons do Atlântico, no lindíssimo promontório de N.Sra. da Rocha, em Lagoa, é ainda um festival pequeno - em número de assistentes - mas já bastante consistente em termos artísticos e com argumentos suficientes para se impor como mais uma etapa incontornável no roteiro de festivais de Verão da chamada world music. E se, o ano passado, o alinhamento do festival foi mais arriscado e aventuroso - apostando em nomes como Mercan Dede e Mercedes Péon, ambos a assinar concertos de nível altíssimo -, o elenco deste ano, embora alinhando nomes mais consensuais, foi também de altíssima qualidade. A começar logo no primeiro dia, com uma Lura deslumbrante, «animal de palco», a arrancar coros e aplausos de uma plateia cheia, cativando muitos cabo-verdianos e toda a gente das outras nacionalidades. Uma Lura segura, dona de uma voz maravilhosa, boa dançarina, a distribuir bem pelo espectáculo coladeiras, mornas, batuques e funanás, apelando a canções do novo álbum (como o tema-título «M'Bem Di Fora», «Ponciana» ou o lindíssimo «Bida Mariadu») mas também a sucessos mais antigos, como a inevitável «canção de embalar» «Na Ri Na» ou «Vazulina». Foi Lura, sem dúvida, a rainha absoluta do festival. Na noite seguinte, os Macaco, plebeus da Catalunha e de outros lugares, deram outro concerto fabuloso, conquistando toda a gente com a sua garra, alegria, inventividade - uma inventividade imensa que lhes permite misturar como ninguém inúmeros géneros musicais, e de uma maneira que soa sempre consistente, madura, original... Pontos altos do concerto - no meio de muitos mais, entre os quais os coros e coreografias que arrancaram do público em muitos momentos do espectáculo - foram os diálogos do guitarrista, nessa altura no oud árabe, consigo próprio em ecrã, do percussionista, bis (consigo próprio em ecrã), e a banda toda unida numa batucada quando alguém desligou o gerador a meio de uma canção e deixou de haver electricidade no recinto. Outros plebeus em alta, estes irlandeses, os Kíla encerraram o festival com mais uma demonstração de profissionalismo enorme e assinando momentos de altíssima música, quando o bodhran dialogava em alta velocidade com o violino ou as uilleann pipes num molho de folk progressiva - e aqui, a palavra «progressiva» é mais que um elogio! - ou quando aos jigs e reels se juntavam, aqui e ali, alusões à música árabe, à música latino-americana ou quando, como no final, protagonizam uma espantosa aproximação aos espirituais zulus da África do Sul. E, se os concertos dos três cabeças-de-cartaz foram muito, muito bons, os músicos e cantores das «primeiras partes» cumpriram bem o papel de infantes, mais do que de pagens ou acólitos: a cantora guineense Eneida Marta (com um super-grupo pan-africano onde pontifica Ibrahima Galissá na kora) e os seus n'gumbés e tinas; o jovem grupo andaluz Cadencia - ao qual se augura um futuro brilhante! - e o seu flamenco enfeitado de muitas músicas; e os cada vez mais consistentes algarvios Marenostrum, ali reforçados por um quarteto de saxofones que levou a música do grupo para caminhos originais e inesperados. Haja festival!

9 comentários:

sem-se-ver disse...

:-)

ANNA-LYS disse...

Hello António,

Hope Your summer has been wonderful. With lots of carnivals and festivals.
I am leaving Halmstad for Malmö Festival, very south of Sweden music. Malmö is almost Germany :-)
Maybe You are going there 2?

;-)

(( Kram ))

Anónimo disse...

podia dizer que Cabo Verde é a minha segunda terra...mas estava a ser injusta....para com Wadi Rum...:))))
mas ´´e seguramente a "terra" onde o mar e as gentes se casam para cantar....a vóz mais pura da melancólica saudade...

e quando a noite desce sobre as águas e os "putos" bolam a bola na areia e os barcos atiram o peixe e as mulheres se enrolam nas esquinas, diria que o mundo cheira a eterno. a doce eternidade do melhor que somos capazes.


(obrigada.)Música!

_______________beijo.

/piano.

António Pires disse...

Sem-Se-Ver:

Foi mesmo um belo festival :) :)

Dear Anna-Lys:

Yes, lots of festivals - and some more in the near future :) But, unfortunately, not the Malmo Festival... Hope you had a great festival!!

((Kram))

Isabel:

De alma - e de morabezas várias -, Cabo Verde também é a minha segunda pátria! Wadi Rum não conheço, mas hei-de conhecer um dia (tantas viagens que farei... um dia). Beijo Poesia!

Chá de Lucia Lima disse...

...Cabo Verde está na minha rota de "viagens de eleição" mas isto 'tá mau (€€€) :-)) vou aproveitando a "morabeza alentejana" e cá vou enganando a alma -- até 1 dia!

Quanto ao Festival: foi linduuuuuu!!!! Balancei com a Eneida, funanei c'a Lura e...saltei c'o Macaco!!!!!!!

Inté...p'ró ano!

António Pires disse...

Lúcia Lima:

E não nos encontrámos??? Grumpfff

:(((

Então, «inté... pró ano!»...

Chá de Lucia Lima disse...

.........Estive sempre junto aos "jovens" do SOM! Todas as noites....cheguei sempre a tempo dos ensaios, assisti a tudo até ao fim! Pois lá terá de ser -- se não fôr antes -- Até p'ró ano!!!!! :-)

Kandandussss :-P

Bandida disse...

a música é definitivamente a mais espantosa palavra.


beijo A.


B.

António Pires disse...

Lúcia Lima:

:) :)

((Kandandus)

Bandida:

Sim, principalmente quando a palavra se junta à... música (e nada contra os instrumentais :)

Beijo B.

A.