07 novembro, 2008

Cromos Raízes e Antenas XLVI


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)

Cromo XLVI.1 - Extra Golden


Quando uma tese de doutoramento acaba por dar origem a uma das melhores e mais excitantes bandas da actualidade, é caso de dar graças aos céus por haver universidades norte-americanas que aceitam trabalhos sobre... a música benga do Quénia. Foi o que aconteceu a Ian Eagleson (ele que pertencia a um grupo rock chamado Golden), quando foi para Nairobi terminar a sua tese sobre este tema e conheceu um músico local, Otieno Jagwasi, da Orchestra Extra Solar Africa. Foi com ele - e com Alex Minoff (também dos Golden e Weird War, ex-Six Finger Sattelite) - que Ian gravou em 2004 o primeiro álbum dos Extra Golden, «Ok-Oyot System» (editado em 2006). Infelizamente, Otieno morreu, tendo sido substituído por Opiyo Bilongo, com quem foi gravado o segundo álbum, «Hera Ma Nono» (2007), ao qual se seguiu «Thank You Very Quickly» (2009). Mesmo com uma história trágica por trás, a música dos Extra Golden é uma celebração de vida, de alegria e de multiculturalismo no melhor que esta palavra tem.


Cromo XLVI.2 - Rizwan-Muazzam Qawwali



Depois da morte de Nusrat Fateh Ali Khan - o nome maior da música qawwali do Paquistão - outros intérpretes dessa música sagrada inspirada pelo sufismo emergiram como eventuais substitutos da sua arte. Uma substituição impossível. Mas que há continuadores talentosos e genuínos, lá isso há. Faiz Ali Faiz, Asif Ali Khan & Party ou Fareed Ayaz são alguns dos nomes mais bem posicionados para preencher esse vazio. Mas os Rizwan-Muazzam Qawwali - formados por dois jovens sobrinhos de Nusrat Fateh Ali Khan - estão há alguns anos a reclamar o legado do tio e a assinar uma carreira tão consistente que podem mesmo bem ser eles os legítimos herdeiros do génio de Nusrat. Com três álbuns editados até agora - «Sacrifice To Love», «A Better Destiny» e «Day of Colours» - e com colaborações em discos de Adrian Sherwood e Temple of Sound, os Rizwan-Muazzam Qawwali são uma lufada de ar fresco nesta música centenária.


Cromo XLVI.3 - Banco de Gaia


Há inúmeros exemplos de má (e de péssima!) música electrónica que usa samples de músicas de vários lugares do mundo só porque soam a exótico, a diferente, a estranho ou a «moderno». E há tantos que nem haverá espaço aqui para referir um que seja. Mas, no outro extremo, há também alguns belos exemplos de como a electrónica pode ir à world music para com ela se fundir na perfeição. Um desses - e dos melhores - exemplos é o do compositor e músico inglês Toby Marks (mais conhecido pelo pseudónimo Banco de Gaia), que desde o início dos anos 90 junta várias tipologias de música electrónica (ambient, house, dub...) com música asiática e música do norte de África e de outros lugares do planeta, sempre com um talento e um bom-gosto notáveis. Audição aconselhada: os álbuns pioneiros «Maya» (1994), «Last Train to Lhasa» (1995) e «Big Men Cry» (1997).


Cromo XLVI.4 - Russendisko


Em Berlim (Alemanha), 1999, dois imigrantes oriundos da ex-União Soviética, Wladimir Kaminer - ele também jornalista e escritor, inclusive de um livro de nome... «Russendisko» (editado em Portugal pela Cavalo de Ferro), onde conta esta história, entre outras - e o DJ Yuriy Gurzhy começam a organizar festas para imigrantes de Leste com o nome Russendisko. Festas que depois se alargaram a uma crescente legião de fãs formada também por alemães e pessoas de outras nacionalidades, subitamente apaixonadas pelo ska, o punk, o klezmer ou a pop feita por grupos da Rússia, da Ucrânia, da Geórgia e de outros novos países saídos da separação da União Soviética, como os Leningrad, os RotFront ou os Nogu Svelo. E, a partir de 2003, há colectâneas Russendisko espalhadas por todo o mundo: «Russendisko Hits», «Russendisko Hits 2» e «Radio Russendisko» são as mais aconselháveis.

10 comentários:

laura disse...

Olha, cromos!!!! :)
E Extra Golden é fixe. Outra coisa fixe é essa foto. Não sei porquê, tenho uma atracção inexplicável por pontes...

António Pires disse...

Laura:

Pois é, os cromos já estavam em atraso! E esta com os Extra Golden é a Ponte de Brooklyn, em Nova Iorque, mas eu cá gosto mais da Ponte 25 de Abril :))

Beijos...

António Pires disse...

LonelyStardust:

Hey, que bela reportagem da WOMEX no teu blog!! E ainda bem que não apanhaste os teus amigos nos copos ;))

Grande abraço...

Rosmaninho disse...

António

Peço desculpa por aproveitar este post, que nada tem a ver com o assunto de que quero falar, para referir um grupo português que ainda, aqui neste espaço, não vi referência, exceptuando a ligação para o link.
Refiro-me a Mariária.
Estive, no dia 2 de Novembro passado, na FNAC Almada e assisti ao seu 1º "showcase".
É um grupo que tudo contém de boa música portuguesa: voz, poesia e sonoridades e... já lançou o seu 1º CD, este já se encontra à venda nas lojas da FNAC.
Muito gostaria que de Mariária falasse.
O António é exímio nas suas "crónicas" musicais. :)

Grata pela atenção que vier a dar a esta minha sugestão
Mena

António Pires disse...

Rosmaninho:

Obrigado pela sugestão! Mas já tenho o CD de Mariária. Ainda não o ouvi todo, mas do que ouvi gostei. É um trabalho honesto, simples, com boas referências: a nossa música popular, José Afonso, Trovante, música árabe e cabo-verdiana. Haverá crítica por aqui um dia destes.

Um abraço e volte sempre...

Anónimo disse...

António


Fico aguardando uma bela estória da história de Mariária :).
Todo o grupo merece-a e destaco Joaquim Crestejo, na qualidade de compositor, músico e cantor.

Saudações musicais
Mena

C. disse...

Muito obrigada também. Gosto do seu blog e adoro world music. É uma inspiração para tudo o que faço e escrevo.

beijinhos,

Corina

António Pires disse...

Mena:

Claro que sim! :)

Saudações musicais...

Corina:

Para mim também!!

Beijinhos...

JO disse...

Possuo algumas colectâneas Russendisko (incluindo a deste ano "Ukraine Do Amerika") e algumas musicas são bem interessantes. Dá vontade de conhecer os grupos que nelas participam em pormenor. E ás vezes neste tipo de compilações dá-se a conhecer bons musicos e bons grupos.
O mais dificil é encontrar por cá trabalhos destes artistas de leste, tem que se ficar mesmo só pelas compilações que são mais exportáves.

António Pires disse...

JO:

Sim, os discos da «série» Russendisko que eu tenho foram todos comprados na Amazon e acho que não têm representação por cá. E as bandas lá incluídas também raramente chegam a Portugal, o que é uma pena!!

Um grande abraço...