27 maio, 2009
Melech Mechaya - Vem Aí o Álbum de Estreia!
«Budja Ba», o álbum de estreia dos Melech Mechaya está por dias! E, como tive o prazer e a honra de escrever o texto de apresentação do álbum, aqui vai ele, na íntegra:
«Melech Mechaya
1º álbum, «Budja Ba», à venda em Junho. Festa de lançamento no dia 13.
Já ninguém questiona que músicos e cantores portugueses se dediquem ao death-metal, ao drum'n'bass, ao hip-hop, ao jazz ou à música erudita. São géneros conhecidos, alguns mais populares que outros, mas que já não causam surpresa ou estranheza. Mas que raio é que leva cinco rapazes portugueses - e nenhum deles judeu, apesar de Miguel Veríssimo, o clarinetista, achar que teve um tetravô que o era - a escolher o klezmer, um género nascido há centenas de anos nas comunidades judaicas do centro e leste europeu, como a sua música de eleição?
Respostas: primeiro o acaso; e depois uma paixão profunda por esta música antiga e estranha, por eles misturada com outras músicas de que também gostam. O guitarrista André Santos e o violinista João Graça, colegas no Conservatório Nacional, receberam de um professor um livro com temas klezmer, que foram depois incluídos em espectáculos do duo de chorinhos brasileiros que André partilhava com o clarinetista Miguel. E gostaram tanto desses temas - o tradicional «Bulgar de Odessa» ou «Misirlou», tornado mundialmente famoso na versão de Dick Dale - que juntaram mais três amigos para tocar um reportório klezmer completo: João Graça no violino, Francisco Caiado na percussão e João Novais (aka João Sovina) no contrabaixo.
O primeiro ensaio, em Novembro de 2006, correu tão bem que - apesar de cada um deles ter outros projectos musicais e ter uma vida profissional activa (nos MM há um economista, um médico, um arquitecto, um biólogo e um professor de música) - logo se lançaram à aventura dos concertos, uma aventura que já os levou a actuar na Festa do Avante, Festival Etnias (Porto), Festival Andanças, Centro Cultural Vila Flor (Guimarães), Cabaret Maxime (Lisboa), Allariz e Santiago de Compostela e Festival Músicas do Mundo de Vilagarcía de Arousa (Galiza), Festival Ritmus (Açores), Espaço Celeiros (Évora) ou num concerto em nome próprio no Santiago Alquimista, em Dezembro passado, que esgotou por completo esta sala da Costa do Castelo. Concertos - cerca de 60 em dois anos de existência - que são uma festa pegada, cheios de dança, sorrisos e suor. E, proximamente, os MM actuam no Festival Granitos Folk (Porto, 12 de Junho), no Teatro da Comuna (Lisboa, 13 de Junho, lançamento do disco), no FMM de Sines (25 de Julho) e na Špancirfest (Croácia, 25 de Agosto).
O seu álbum de estreia, «Budja Ba», chega agora, no tempo certo. E nele, os Melech Mechaya - que se dizem tão influenciados pelos seminais Klezmatics como pelos Beatles, o guitarrista Django Reinhardt ou os Masada de John Zorn - partem do klezmer para visitar outras músicas que lhe são próximas: a música dos ciganos dos Balcãs, a música turca e árabe, mas também o jazz manouche, o flamenco, o tango ou o fado. Fado? Ah, pois, afinal sempre há lá uma ligação à música portuguesa, no tema «Fado Tantz». E se calhar ainda há outra, ainda mais subliminar, mais subtil: oiça-se o início de «Dodi Li», um tradicional klezmer, e veja-se como este tema está ligado a «Oi Khodyt Son Kolo Vikon» (uma canção de embalar ucraniana) e este a «Summertime» (de George Gershwin, que ao jazz juntava as suas influências judaicas). O mesmo «Summertime» que foi a inspiração maior de Carlos Paredes para a «Canção Verdes Anos». E há lá coisa mais portuguesa que a «Canção Verdes Anos»?
Entre tradicionais klezmer e originais compostos pelo grupo, «Budja Ba» inclui os temas «Dodi Li», «Fanfarra», «Bulgar de Almada», «Nigun 7», «Dança do Desprazer», «Sweet Father», «(Rad Halaila)», «Budja Ba», «Fado Tantz», «Na Festa do Rabi», «Freylach 6.8», «Hava Nagila», «(Melodia da Rua)», «Cravineiro», «Sabituar» e «Harmónica». Os arranjos e a produção são do próprio grupo, que teve como convidadas em alguns temas as Tucanas (vozes, percussões e acordeão) e as vozes de Noémia Santos, Ana Sousa e Irina Santos. A edição é da Ovação.
As canções de «Budja Ba», uma a uma:
DODI LI
Ouvimos uma versão desta música pelo Freylekh Trio e gostámos muito dela. Fizemos o arranjo, muito simples só com violino e contrabaixo, e passámos a abrir os espectáculos (e agora o disco) com ela.
FANFARRA
A ideia para esta música surgiu durante o concerto da Fanfare Ciocarlia na Festa do Avante em 2007, e foi feita em jeito de homenagem à banda, com ritmo sincopado e melodia ornamentada que costumam caracterizar os Ciocarlia. Funciona quase sempre colada à «Dodi Li» (que lhe serve de introdução).
BULGAR DE ALMADA
Esta música surgiu na altura em que se começou a falar em misturarmos alguns originais com os temas tradicionais que tocamos desde sempre. Os bulgares são danças tradicionais, normalmente com o nome da terra da sua origem. Desta forma, apanhando motivos melódicos comuns em muitos «bulgars» (como o início da melodia) surgiu este tema. Foi composto em Almada, os Melech ensaiam em Almada, então nasceu o Bulgar de Almada. No disco, esta música é como um recreio das percussões, onde graças à interpretação de cinco musas (Tucanas) a música ganha uma nova dimensão.
NIGUN 7
Esta música surgiu inicialmente como uma segunda parte frenética de outra muito calma, chamada «In Law's Dance». No disco usamo-la como «turbilhão», um devaneio curto e rápido que deixa o caos por onde passa e traz vivacidade ao disco.
DANÇA DO DESPRAZER
Um dos momentos mais marcantes dos espectáculos ao vivo, sempre teve um arranjo muito directo e um ritmo muito simples. Sempre nos atraiu a alegria desta música, onde cantamos e gritamos e ao vivo vem sempre gente dançar p'ra cima do palco!
SWEET FATHER
Ao vivo é a música que quebra o gelo, serve para cumprimentar o público e para «apresentar» musicalmente os Melech. É das músicas que mais nos caracteriza, e aparece num sítio do disco em que começam a ser introduzidas mais variações (esta toca no jazz e no reggae) e começa a fechar o ciclo de músicas mais simples e de momentos mais fortes ao vivo.
(RAD HALAILA)
Sempre foi uma canção com uma alegria pateta, que só nos conquistou a todos quando passámos a tocá-la no fim dos concertos em jeito de «é a última, 'bora dançar e ser felizes!». No disco extraímos apenas a melodia e criámos um primeiro ponto de paragem e descanso, um interlúdio com um ritmo ternário bem português e terreno.
BUDJA BA
É uma das originais. O arranjo foi feito no teste de som do concerto em Tomar, enquanto na rua uma cadela girava loucamente com epicentro no pénis de um cão vadio, e logo se tornou o chamamento, o canto de invocação da Budja Ba, a nossa deusa. As vozes femininas surgiram aquando da preparação do concerto do Santiago Alquimista. Gostámos tanto que decidimos pô-las no disco. A música contém então o cântico de evocação da deusa Budja Ba onde se pede ajuda a todos para o levarem mais alto.
FADO TANTZ
A música serve para expressar sentimentos e estados de espirito. Em geral caracterizamo-nos como um grupo alegre e festivo mas no entanto, como tudo na vida, há sempre dias mais sombrios. Foi num desses dias que surgiu esta melodia. Pela sua carga dramática e nostálgica soa a Fado e transporta todo o sentimento associado a este estilo musical. Neste arranjo a melodia assume novas «personagens» como o Tango, Klezmer, quasi «pop» e a festa!
NA FESTA DO RABI
Esta música, mais uma do livro perdido, é das que mais gostamos e das que menos tocamos, o que é curioso. No disco é o tema-charneira que separa as duas partes - a primeira, mais efusiva e simples e directa; a segunda, mais elaborada e referenciada e rica. O ad lib. inicial é quase um portal para um novo momento e o swing no final permite-nos dançar mais um pouco. É das nossas preferidas!
FREYLACH 6.8
Um corte e costura de temas tradicionais, e onde exploramos diferentes camas rítmicas sob a forte melodia que tem. E no final a melodia passa para a guitarra, o que é incomum em nós, e o ambiente passa para a nossa sala de ensaio, os cinco a curtir.
HAVA NAGILA
Dispensa apresentações! No disco fazemos uma pequena desconstrução da música - ainda no ambiente de sala de ensaio - e depois partimos para paródia, tal e qual como o arranjo do espectáculo ao vivo. No fim da música aparece um acelerando forte para rematar a música em apoteose.
(MELODIA DA RUA)
Esta foi o Graça que nos mostrou num ensaio, só ao violino, «Malta, oiçam isto». E gostámos tanto assim, que assim ficou. No disco serve como segundo ponto de paragem/descanso, um novo interlúdio que respira do chinfrim anterior e prepara o último terço do disco.
CRAVINEIRO
Cravineiro é o nome que os contrabandistas portugueses davam aos guardas espanhóis que estavam junto das fronteiras entre Portugal e Espanha. Na altura pareceu bem fazer uma música dedicada a estes senhores. É um dos nossos temas com mais traços do klezmer tradicional. Tinha dois finais e ao vivo tocávamos aquele que o público escolhia. No disco decidimos fazer um final diferente, pronto!
SABITUAR
A melodia principal apareceu ao Miguel num banho, numa altura em que a beatlemania lhe batia particularmente forte, e a entrada da música remete precisamente para o «Helter Skelter»! No refrão exploramos um pouco uma melodia mais virtuosa (que é uma variação da melodia principal), e o fim da música apresenta um estado de espírito novo no disco, mais melancólico e sonhador, a preparar o final do disco.
HARMÓNICA
No disco começa em jeito de música de embalar, voz a cappela, e segue sempre muito delicada até ao fim, sempre dando primazia à melodia, terminando o disco. Depois não resistimos e ainda vamos à paródia outra vez. Esta é mais uma do livro, e ocupa no disco o mesmo lugar que ocupa ao vivo - o fim».
Ouvir o single de avanço, aqui.
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