12 julho, 2006
Híbridos (Recuperados a 2004), Parte 2
Bis, bis, bis, bis...........
WORLD EXTRA
O álbum já tem um ano, mas só agora é distribuído em Portugal, à boleia da actuação do rapaz no próximo festival aveirense Sons em Trânsito - fala-se de Jim Moray e do seu disco de estreia, «Sweet England» (Niblick Is a Giraffe/Megamúsica), uma pedrada no charco, demasiadas vezes estagnado, da folk britânica. E um álbum que é uma surpresa constante e absoluta, já que Moray consegue de facto inovar a partir da tradição. E pegar em temas tradicionais, atirá-los contra a parede, transformá-los e cantar, produzir e tocar quase todos os instrumentos (é muito jogo para quem tinha apenas 19 ou 20 anos quando gravou o disco). Em «Sweet England» ouvem-se violinos nascidos nos campos do Yorkshire convivendo com programações de clube de dança selecto, pianos de recorte clássico a servir canções muito antigas, delírios psicadélicos às voltas com a country norte-americana e a música cigana com a música irlandesa e os Radiohead. Com este álbum, Moray ganhou os prémios de «Melhor Álbum» e «Revelação» dos BBC Folk Awards 2004. Foram merecidos. (8/10)
Como merecida é também a inclusão de Jim Moray noutro clube selecto, desta feita aquele que a Oysterband (na foto, com os amigos) «abriu» a um porradão de convidados para a gravação de «The Big Session - Volume 1» (WestPark/Megamúsica). Na gravação deste disco estão lá Moray, a Oysterband (John Jones e restante pandilha são os mentores do projecto) e, veja-se só, a enormíssima June Tabor, Eliza Carthy, os Show of Hands e os «primos» norte-americanos Brett e Rennie Sparks (isto é, os Handsome Family). E é um excelente álbum (gravado ao vivo perante uma pequena audiência) recheado de bons momentos: quando a folk britânica se cruza, naturalmente, com a alt.country do casal Sparks; quando June Tabor eleva a sua voz para uma versão superlativa de «Lowlands»; quando todos (todos, mesmo) cantam a capella «The New Jerusalem»; quando Moray transforma «The Cuckoo's Nest» num fabuloso tema de rock progressivo (!). Grande decepção, só uma: a versão de «Love Will Tear Us Apart», dos Joy Division, que começa muitíssimo bem com June Tabor mas continua muitíssimo mal na voz de John Jones. (9/10)
E por falar em versões estranhas e em canções tristes: imagine-se (depois de «Love Will Tear Us Apart») uma versão, deste vez em ritmo de salsa, alegre (!!) e saltitante (!!!), de outra canção desesperada: «Ne Me Quitte Pas», de Jacques Brel. Pois é, essa versão existe mesmo e foi gravada pelo salsero colombiano Yuri Buenaventura, que agora edita o seu «best of» «Lo Mejor de...» (Mercury/Universal). Uma colectânea onde há ainda lugar para outras surpresas: uma versão lounge-salsa-bossa de «Insensatez» (de Tom Jobim e Vinicius); uma outra - que puxa completamente o pé para a pista de dança - de «Mala Vida», de Manu Chao; uma colaboração bastante bem conseguida com os cubanos Orishas (rap-son-salsa-rumba); e um exercício de cruzamento da latino-americana salsa com o rai do norte de África, «Salsa Rai» (pois, o título não engana), em que Yuri contracena com o franco-argelino Faudel. (7/10)
E - fazer raccord, se faz favor - da salsa para o... rai: um dos nomes maiores deste género argelino, Cheb Mami, está de volta com um álbum ao vivo, «Live au Grand Rex - 2004» (Virgin/EMI), em que o cantor e compositor interpreta grandes sucessos da sua carreira («Parisien du Nord», «Meli Meli», «Zarartou») e aproveita para convidar alguns amigos. E o álbum começa muito bem, com Cheb Mami a cruzar a música árabe com a música «celta» da Bretanha francesa e ataca, depois, o rap-rai pulsante de «Parisien du Nord». Mas, depois, há muitos momentos em que os sintetizadores e as programações afogam aquilo quase tudo em proto-foleirada-etno (e o dueto com o italiano Zucchero é calamitoso). Salvam-se, nesta parte do disco, as colaborações com Moss e Hakim («Des 2 Côtés»), uma bonita versão de «Desert Rose» (de Sting) e um dueto lindísimo com a cantora indiana Susheela Raman. (5/10)
Também cantora e também indiana (outro raccord), Asha Bhosle é a mais respeitada (juntamente com a sua irmã, Lata Mangeshkar) das cantoras que dão voz às canções da indústria cinematográfica indiana, conhecida como Bollywood. E dão voz e não o corpo: as actrizes e dançarinas que aparecem nos filmes fazem playback sobre a trilha sonora previamente gravada pelas cantoras verdadeiras, como Asha. Em «The Very Best Of... The Queen of Bollywood» (Nascente/Megamúsica), Asha Bhosle protagoniza 26 das canções que gravou ao longo de mais de 40 anos de carreira (ela que gravou, dizem as estatísticas, cerca de 30 mil - sim, 30 mil! - canções). Mas chegam para se perceber que a voz de Asha - fresquinha fresquinha como um gelado de menta e açafrão - se sente tão à-vontade em temas clássicos indianos quanto em variadíssimos géneros importados do ocidente ao longo das últimas décadas: da música latino-americana ao rock'n'roll, do jazz ao funk, do disco-sound ao tecno. Muitos dos temas deste duplo-álbum são de RD Burman, um dos mais importantes directores musicais dos filmes de Bollywood e marido de Asha, mas o momento mais alto do disco é, sem dúvida, a versão acelerada de «Thodasa Pagla», do paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan - e um belo exemplo de aproximação entre duas nações desavindas. (7/10)
E de uma senhora indiana que participou em centenas de filmes para um senhor cubano a quem bastou ter participado num filme - «Buena Vista Social Club», de Wim Wenders - para ficar mundialmente conhecido: o trompetista Manuel Guajiro Mirabal. E, como noutros casos não por acaso, o seu álbum de estreia em nome próprio (apesar de mais de 40 anos de carreira!) tem por título «Buena Vista Social Club Presents...» (World Circuit/Megamúsica). No disco - quase todo ele preenchido por temas compostos por Arsenio Rodríguez (aka El Ciego Maravilloso) - Guajiro surge acompanhado por uma equipa de luxo: Orlando Cachaíto Lopez, Manuel Galbán, Papi Oviedo e a voz de Carlos Calunga, entre outros, e como convidados outros «buena vistas» ilustres como o cantor Ibrahim Ferrer e o pianista Rubén González. E o álbum é uma festa irresistível, permanente e belíssima, feita de son, mambo, rumba, guajira, bolero, jazz... Aos 71 anos, é obra. (8/10)
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