27 março, 2008

Angélique Kidjo, Sally Nyolo e Dobet Gnahoré - Vozes da Mãe-África


Vozes femininas africanas - e muito boas! - há-as às mãos cheias. E nem sequer vale a pena fazer aqui uma lista que justifique a afirmação. Mas nessa lista têm que ser incluídas, obrigatoriamente, as três cantoras de que se fala aqui hoje: Sally Nyolo, Dobet Gnahoré e a diva Angélique Kidjo (na foto).


ANGÉLIQUE KIDJO
«DJIN DJIN»
Razor & Tie

Nascida no Benim, mas há muito radicada em França e, posteriormente, nos Estados Unidos, Angélique Kidjo é um dos nomes mais bem conhecidos da música africana. Vencedora de vários Grammys, colaboradora de gente como o saxofonista Branford Marsalis, Carlos Santana (ambos presentes como convidados em «Djin Djin»), Dave Matthews Band ou Cassandra Wilson, fundadora da Batonga Foundation - organização que ajuda na escolarização de raparigas africanas -, Kidjo atinge no seu novo álbum «Djin Djin» um nível de estrelato, mais que merecido!, difícil de igualar. Como produtor tem o lendário Tony Visconti (que produziu alguns dos discos de maior sucesso de David Bowie, por exemplo). E ao seu lado, como convidados de luxo, estão os já referidos Branford Marsalis e Carlos Santana e também Alicia Keys, Joss Stone, Peter Gabriel, Amadou & Mariam - num tema lindíssimo, «Senamou (c'est l'amour)», que podia perfeitamente pertencer ao reportório do casal maliano -, Josh Groban, Ziggy Marley, Youssou N'Dour e Keziah Jones. O alinhamento do álbum inclui muitos originais compostos por Angélique Kidjo e pelo seu marido, o produtor e compositor Jean Hebrail, ou co-compostos com alguns dos convidados (como «Salala», com Peter Gabriel), mas também algumas versões surpreendentes como «Gimme Shelter» (dos Rolling Stones), «Pearls» (de Sade Adu) ou uma curiosíssima versão do «Bolero» de Ravel, aqui com letra cantada, baptizado como «Lonlon». E, musicalmente, tudo isto resulta como se esperaria pelo que antes ficou mais ou menos explícito: um álbum variadíssimo, com os pés bem assentes na música africana mas com um cosmopolitismo global digno de nota e de um bom-gosto irrepreensível (9/10).


SALLY NYOLO
«MÉMOIRE DU MONDE»
Cumbancha/Tumbao

Igualmente um nome de topo da música africana, a cantora camaronesa Sally Nyolo - que fez coros para o rocker francês Jacques Higelin e para Touré Kunda antes de integrar as famosíssimas Zap Mama, em 1993 - lançou-se numa profícua carreira a solo em 1996. Carreira que chega agora ao seu quinto álbum em nome próprio, este «Mémoire du Monde», um disco em que Sally continua a usar como base o bikutsi (ritmo tradicional dos Camarões) mas de uma forma viva e inventiva, misturando-o com reggae (como no tema de abertura, «Mamiwata»), jazz, rock, funk, blues e até o hip-hop (cf. em «Messima Remix», remisturado por Imhotep, do grupo rap francês IAM). Quase inteiramente composto por Sally Nyolo, cantado em eton (a sua língua-mãe), francês e inglês, usando muitos instrumentos eléctricos mas também instrumentos africanos (percussões, balafons...), «Mémoire du Monde» foi gravado em Yaoundé - a capital dos Camarões, onde Sally tem o seu estúdio, o mesmo que foi usado para a gravação de «Studio Cameroon», a sua colectânea de artistas camaroneses emergentes - e em Paris e nele colaboraram Sylvie Nawasadio (sua ex-companheira nas Zap Mama), o guitarrista Sylvain Marc (de Madagáscar) e um grupo de cantores pigmeus. «Mémoire du Monde» é um álbum que escorre África por todos os lados, ao mesmo tempo que contém variadíssimos elementos exteriores que nunca se sobrepõem à raiz - uma raiz firmemente plantada na (sua) terra pela compositora Sally Nyolo. (8/10)


DOBET GNAHORÉ
«NA AFRIKI»
Contrejour/Tumbao

A cantora marfinense Dobet Gnahoré - de que este blog falou aquando da sua passagem pelo Porto, integrada no projecto Acoustic Africa (ao lado de Habib Koité e Vusi Mahlasela) - é outro nome, justíssimo, a juntar a este rol. E embora menos conhecida do que as outras duas, a sua curta carreira é já suficientemente rica para que, mais cedo ou mais tarde, seja uma das mais «incontornáveis» cantoras africanas. Dona de uma voz fabulosa e poderosíssima, Dobet canta em várias línguas - dida e guéré (Costa do Marfim), wolof (Senegal), mandinga (Mali), xocha (África do Sul), fon (Benim), lingala (Congo) e árabe, para além de uma breve incursão na língua dos pigmeus -, numa declaração de amor absoluto à variedade linguística, cultural e musical da Mãe África. E a sua música - Dobet Gnahoré é também a principal compositora dos temas deste álbum, juntamente com o seu marido e guitarrista Colin Laroche de Féline - vai no mesmo sentido, integrando géneros que têm a sua origem em vários pontos do continente. E, embora as guitarras e os baixos eléctricos também por aqui andem, nunca se imaginaria que esta música pudesse ter outra origem que não África, uma África-bonsai concentrada na música de uma única cantora. O que até não será de estranhar se se pensar que Dobet cresceu na mítica comunidade artística Ki-Yi M'Bock (o pai de Dobet, percussionista, foi um dos fundadores da comunidade), nos subúrbios de Abidjan, onde viviam mais de cinquenta artistas africanos de diversas origens e nacionalidades. Vale bem a pena conhecê-la! (9/10)

6 comentários:

Chá de Lucia Lima disse...

Hoje, ainda sem ter vindo aqui...retirei do suporte 3 CDs da Angélique Kidjo para ir ouvindo enquanto circulo ( rsrsrs) aqui por casa -- tô de férias!!!
Foram eles: Logozo / Black Ivory Soul e OYAYA!
Tem sido uma festa a solo.... ;.)))

Kandandus!!!

* Logo, se tudo correr bem -- vou por fim!, ver os Couple Coffee ao vivo & a cores!!!! Não tem a ver com as vozes femininas africanas mas...é 1 banda k mt aprecio e estou "em pulgas" por vê-los actuar. Depois conto como foi, tá?!

António Pires disse...

Lúcia Lima:

Olha que bela coincidência! :))

E vais ver que vais amar os Couple Coffee :)) Conta, sim!

Kandandus!!!

Menina Limão disse...

a capa da DOBET GNAHORÉ parece uma referência a uma da Tracy Chapman, embora acredite que o estilo não tenha nada a ver.

António Pires disse...

Menina-Limão:

Pois parece - à do primeiro álbum da Tracy Chapman :) Mas deve ter sido só coincidência. E como és designer és capaz de achar graça (e é que não o conheces) a este site de capas de discos muito semelhantes entre si:

http://knockoffproject.com/

Menina Limão disse...

antónio, um grande beijo nessa bochecha por esse link maravilhoso!

(maravilhoso maravilhoso maravilhoso)

António Pires disse...

Menina-Limão:

Outro para ti :))