31 março, 2008

Tocar de Ouvido - O Encontro de Tocadores É em Maio


O Tocar de Ouvido - Encontro de Tocadores está de regresso entre 1 e 4 de Maio, em Évora. E, como a informação é longa, o melhor é mesmo citar o press-release na íntegra:

«Nesta edição estarão disponíveis as habituais oficinas de instrumentos, com algumas novidades: Viola Braguesa, Cavaquinho, Canto, Concertina (Cabo Verde), Gaita-de-fole, Harmónica, Rabeca (Brasil) e até uma oficina de Dança e várias actividades paralelas, com construção de instrumentos, colóquios, palestras, debates, bailes informais, mostra de artesãos e instrumentos e momentos musicais. O programa completo já está disponível no site e as inscrições estão abertas até 26 de Abril de 2008... O evento é organizado pelas associações Pédexumbo (Évora), Gaita-de-foles (Lisboa) e d'Orfeu (Águeda), com o apoio da Câmara Municipal de Évora. A edição deste ano receberá várias oficinas de aprendizagem deinstrumentos de todo o país e alguns músicos estrangeiros convidados...

Encontro de Tocadores
Portugal, um Retrato Musical

O Encontro de Tocadores regressa em 2008, com uma edição cheia de novidades e mais oficinas, para todos os públicos: Viola Braguesa e Cavaquinho, Gaita-de-fole, Concertina (Cabo-verde), Harmónica, Canto, Rabeca (Brasil) e até uma oficina paralela de Dança, dedicada aos repertórios das oficinas de instrumentos.

Oficinas e mais além
Para além destas oficinas, haverá actividades paralelas, inteiramente dedicadas à música: oficinas de Improvisação Musical, Construção de Instrumentos, actividades para crianças e Mostra de Artesãos e Instrumentos.

Mas o Tocar de Ouvido - Encontro de Tocadores, também é um espaço para pensar e aprender. Ao longo do programa haverá palestras, colóquios, mesas-redondas e "coisas que não lembram ao diabo": Palestra sobre Instrumentos de Corda, com Joaquim Domingos Capela; Recital Comentado "A Rabeca no Brasil", com Zé Gomes; mesa-redonda sobre a construção de instrumentos musicais, com algumas das principais referências portuguesas desse âmbito; mesa-redonda sob o tema "Portugal, Um Retrato Musical", dedicada às grandes transformações ocorridas em Portugal nos últimos 30 anos - e a sua influência nas práticas musicais; com Domingos Morais, Julieta Silva, Eduardo Paes Mamede, entre outros.
E ainda, as "Conversas Debaixo do Radar - Coisas que Não Lembram ao Diabo", sobre aqueles fenómenos marginais ou polémicos da música, que geralmente passam despercebidos para o grande público.

Os Bailes: Regresso ao Terreiro
E como não podia deixar de ser, os bailes informais nocturnos são o grande momento de encontro, improviso, dança e convívio de todos os Tocadores e do público. É no Terreiro que se fazia a música das aldeias; é no Terreiro que se volta a fazer música, pela mão de todos os que visitam os Tocadores. Momentos de verdadeira euforia, onde se registaram alguns dos melhores momentos de criação musical deste evento, nas suas sucessivas edições.

Os Cordofones, os Gaiteiros e o poder das Vozes
A oficina de Viola Braguesa e Cavaquinho procura recuperar as velhas formas de tocar este instrumento, para salvá-lo do seu declínio técnico; embora haja cada vez mais pessoas a tocá-lo, poucas conhecem a fundo as suas técnicas e segredos. Nesta edição, talvez surja um novo grupo de pessoas dispostas a aprender e a transmitir conhecimentos, o que iniciará algo maior, com consequências para lá deste evento. Esse é, pelo menos, o objectivo.

Na oficina de Gaita-de-fole estará presente João da Pena, um gaiteiro oriundo de Cantanhede. A Beira Litoral é uma das regiões do país onde há mais registos de uma prática continuada e original do instrumento, com características próprias e um grande número de Gaiteiros e Gaitas-de-fole a povoar os espaços e os momentos da vida de todos os dias. No entanto, o grande público ainda desconhece essa realidade, habituado que está a pensar a Gaita-de-fole como exclusiva do Minho ou do Nordeste Transmontano.

Na oficina de Canto, pela mão da maestrina Paula Coimbra, trabalhar-se-ão os registos das vozes, individuais e em conjunto, para explorar a enorme riqueza dos cantos polifónicos, uma prática musical em que Portugal é inusitadamente rico, em comparação com outros países europeus.

A "Gaita de Beiços" e a outra face do Alentejo
No Alentejo a música é, ou era, verdadeiramente popular: para além dos sobejamente conhecidos coros alentejanos, tão propagados nos Media, é abundante o uso de instrumentos como a Harmónica, ou "Gaita de Beiços".
Uma boa parte do repertório dos bailes e canções alentejanas era feito ao som desse instrumento, que por ser um instrumento muito popular e difundido em todo o Mundo, não captou, talvez, as atenções dos mais interessados em instrumentos e práticas musicais "exóticas". E no entanto, este universo contém práticas musicais riquíssimas, mal conhecidas e a explorar. Na edição deste ano está prevista a inclusão de uma oficina de Harmónica, com a vantagem de este instrumento ser relativamente fácil de encontrar, a preços razoáveis, em qualquer loja de música - o que fará desta uma oficina para todos.

Dançar: o corpo é música
A oficina de Dança desta edição visa recuperar a vivência dos géneros musicais e dos repertórios ensinados nas oficinas de instrumentos, através da dança. Em muitos casos, essa era a primeira função dos instrumentos e das músicas dos Tocadores: proporcionar o Baile, o espaço comum de convívio, interacção e festa das comunidades.
No caso dos repertórios "tradicionais", pertencentes a práticas musicais em declínio, é comum observar a degradação das estruturas musicais, por desconhecimento dos contextos em que eram tocados, porque os tocadores desconhecem a coreografia associada à música, a sua razão de ser e porque se tocava de um modo e não de outro.
Por isso mesmo, a oficina de Dança pretende estudar os repertórios das oficinas, levar os bailadores a interagir com os músicos e vice-versa. Para que todos aprendam com todos.

Alentejo encontra Brasil: Chico Lobo & Pedro Mestre e seus Mestres: Manuel Bento & Nelson Jacó
No dia 3, Sábado, a partir das 15:00 horas, o Tocar de Ouvido recebe a visita de convidados especiais: os Mestres Manuel Bento (Viola Campaniça) e Nelson Jacó (Viola Caipira) e os seus pupilos, Pedro Mestre e Chico Lobo, respectivamente, num recital ou concerto comentado, sobre as sonoridades destas duas Violas, de Portugal e do Brasil. De Portugal e do Brasil cruzam-se também duas gerações de Tocadores, que criaram e hoje recuperam as vivências destes instrumentos, outrora quase abandonados. O momento a que se assistirá é no mínimo, histórico. A globalização também tem consequências (muito) positivas.

Cabo Verde e Brasil: novos velhos sons
Na edição deste ano, o Tocar de Ouvido tem dois convidados muito especiais.

O primeiro é Julinho da Concertina, músico Cabo-verdiano residente em Portugal, que trará os sons da "Gaita" (como a concertina é chamada em Cabo Verde), e do Ferro (idiofone de metal que acompanha a música da concertina). Virá para ensinar as músicas Cabo-verdianas e dar a conhecer a convivência de diferentes géneros musicais nessa parte do mundo, que mistura influências europeias e africanas.
A sua presença nesta edição é uma marca das transformações que mudaram Portugal nos últimos 30 anos: a transformação do mundo rural, o crescimento do espaço urbano, a descolonização, a emigração, a imigração, as mudanças nos consumos musicais das cidades e dos campos e a vinda de novos géneros musicais e novos tocadores. Novos sons, num país em mudança, cada vez mais cosmopolita, mas em que vale a pena (re)descobrir a memória musical: a sua, de mão dada com as outras.

Outro convidado é Zé Gomes, reputado músico brasileiro, que há muitos anos estuda e trabalha o repertório das regiões rurais mais esquecidas do Brasil e onde a influência da colonização portuguesa nas formas musicais perdura até hoje, sob a forma da Rabeca (o seu instrumento de eleição), mas também numa extensa família de Violas, com uma grande variedade de formatos e sonoridades.

A oficina de Rabeca é especialmente dedicada a todos os instrumentistas de Violino ou Viola de Arco (instrumentos da mesma família da Rabeca), que em Portugal se dedicam sobretudo ao estudo da música erudita, em Conservatórios e Academias espalhadas pelo país - mas que desejam alargar os seus horizontes e descobrir novos e riquíssimos universos musicais.

O Tocar de Ouvido abre-se assim ao Mundo, para melhor dar a conhecer as músicas (quase) esquecidas de Portugal e de outros lugares, onde porventura se preservou, recriou e cresceu uma parte da sua memória musical».

Mais informações aqui.

2 comentários:

Rini Luyks disse...

Isto calha mesmo bem! Já tinha combinado uma visita cultural a Évora no início de Maio, entre outras coisas para ver uma exposição rara de obras de Salvador Dali. Este encontro de tocadores é mais uma razão para estar lá... (e a minha amiga é, tal como eu, grande fã de Julinho da Concertina!)

António Pires disse...

Caro Rini:

Olha que bom!! É sempre um prazer ser útil aos meus leitores!!

Grande abraço...