20 outubro, 2008

Dany Silva - Quarenta Anos Entre Cabo Verde e... O Mundo


A comemorar - sem oficialmente o comemorar - quarenta anos de carreira profissional no mundo da música, Dany Silva lançou recentemente o álbum «Caminho Longi», um excelente regresso para este cantor e compositor que foi pioneiro na mostra da música cabo-verdiana aos portugueses. Aqui em baixo seguem uma entrevista a Dany Silva e uma crítica ao disco «Caminho Longi» originalmente publicadas na «Time Out Lisboa» há algumas semanas.


SOB O FOCO
DANY SILVA

«Caminho Longi» é o novo álbum de originais de Dany Silva, oito longos anos passados sobre «Tradiçon». Gravado em Portugal e nos Estados Unidos, com Cabo Verde no horizonte, e sempre a meio caminho. Dany Silva conversa com António Pires.

Pelas minhas contas, se calhar mal feitas, o Dany tem cerca de quarenta anos de carreira feita em Portugal...

Comecei a ser músico profissional em 1968. Por isso estou mesmo a fazer quarenta anos de carreira!

E começou pelo rock...

Sim, com Os Charruas, Quinteto Académico+2, em grupos de casino... N'Os Charruas tocávamos versões dos Beatles, dos Bee Gees, etc... E no Quinteto Académico íamos mais à música negra norte-americana, ao rhythm'n'blues, à soul, ao funk, Otis Redding, James Brown...

E essas influências ficaram-lhe, não ficaram? Porque a sua música, apesar das raízes cabo-verdianas, não é somente cabo-verdiana...

É verdade. Não sou aquele músico típico cabo-verdiano, tradicional. Quando comecei a gravar música cabo-verdiana, utilizei sempre as influências que eu tive de outras músicas, não só a música norte-americana mas também a música popular portuguesa, a música brasileira, a música angolana... Quando comecei a gravar a solo, no fim da década de 70, para a Valentim de Carvalho, não podia cantar em crioulo, tinha que ser em português. Mas quando editei o meu primeiro álbum, «Lua Vagabunda», já tinha muitas canções em crioulo, com algumas em português. Aliás, em todos os meus discos tenho canções em português, que é uma língua fabulosa.

O Dany não tem a sensação de que passou ao lado de uma grande carreira internacional? E a razão para isso não será o facto de sempre ter vivido em Portugal?

Há músicos cabo-verdianos que chegaram à música muito depois de mim e que andam por todo o mundo... E ainda bem! Mas eles tiveram a sorte - e eu tive também a minha sorte - ou a oportunidade que eu não tive, que foi a de cair em mãos com indivíduos que trabalham lá fora, empresários, agentes, editores, que distribuem as coisas de outra maneira. Nunca fui aventureiro, no sentido de pegar nas minhas coisas e ir lá para fora.

Excepto agora, em que gravou boa parte do seu novo álbum, «Caminho Longi», nos Estados Unidos...

Sim, mas lá está! Vieram buscar-me. Não fui eu que procurei isto... Foi um acaso. O Barry Marshall (produtor do álbum) esteve em Portugal, em 2005, a acompanhar um cantor que ele produziu , o Philip Hamilton - que trabalhou com o Pat Metheny, a LaVern Baker... -, e conhecemo-nos na Casa da Morna, onde eu estava a tocar. E ele convidou-me a gravar um álbum com ele. Parte do álbum foi gravado nos estúdios de uma escola em que ele dá aulas, The New England Institute of Art, em Brookline (na zona de Boston). E o álbum foi gravado como um projecto de interesse para a escola. Gravei com músicos cabo-verdianos residentes lá e com músicos americanos. E o resto foi gravado cá, no estúdio do Rui Veloso... Com muito boa vontade de toda a gente! E, para além deste disco de originais, também aproveitámos para gravar um outro, com temas de toda a minha carreira - em duetos com Rui Veloso, Jorge Palma, Tito Paris, Nancy Vieira... -, que vai ser editado no próximo ano.

Para terminar: o tema «Caminho Longi» tem depois um parêntesis, «(In Memoriam)»... Pode explicar?

Esse tema é dedicado ao meu irmão, que morreu em 2001. O «caminho longi» é a eternidade...



DANY SILVA
«CAMINHO LONGI»
SaturdayNight/Fantasy Day

Um «longo caminho» foi percorrido por Dany Silva entre «Tradiçon», o seu álbum anterior, editado em 2000, e este novo «Caminho Longi», gravado entre Boston e Vale de Lobos, com a ajuda do produtor Barry Marshall - líder da banda The Marshalls e produtor de discos de LaVern Baker, Peter Wolf, Aimee Mann, Rev. Lee Mitchell, Patricia Vlieg, etc. Mas a espera valeu a pena! Não sendo um álbum absolutamente genial, «Caminho Longi» é, sem dúvida, o melhor álbum de sempre de Dany Silva, mostrando este cantor, músico e compositor cabo-verdiano radicado há muito em Portugal - e um verdadeiro cidadão do mundo que integra na sua música muitíssimas músicas - a cruzar sabiamente mornas, coladeiras e funanás com funk, latin-jazz, cheirinhos de salsa, blues, ritmos angolanos... O primeiro tema do álbum, «Farra na Sanzala» é um passaporte directo para a festa. O segundo, «Festa di Nôs Santos», é uma explosão de estilos diferentes (contem-nos!). O terceiro, «Nunca N'ca Odjal Só Tisna» (composto por Zézé di Nha Reinalda) mergulha de cabeça na tradição cabo-verdiana. E ao longo do álbum há algumas outras belas surpresas como o fabuloso «Nha Cretcheu Nha Perdiçon» (que parece uma balada dos Beatles transmutada em morna), o pungente «Caminho Longi», a coladeira apontada a sul de «Na Quês Temp», a versão de «Foi Por Ela» (de Fausto), em ritmo mais lento e dolente, morna absoluta!, ou a regravação de «Mamã África» (em dueto com o cantor norte-americano Philip Hamilton). Com vários temas de Dany Silva (alguns em parceria com o letrista angolano Cuca) e outros de autores como o já referido Zézé di Nha Reinalda e Fausto, mas também Toy Vieira ou Baptista Dias, «Caminho Longi» pode bem não ser o fim do "caminho", mas um bom re-início para Dany Silva. (*****)

5 comentários:

Anónimo disse...

Sou brasileira mas estou vivendo em Lisboa nesse momento. Foi aqui que eu conheci esse fantástico músico cabo-verdiano de nome Dany Silva. Gostei de ler sua entrevista e fiquei com vontade de ouvir esse Caminho Longi. No outro dia, encontrei essa entrevista em que ele também fala do novo disco. Escuta tudo aqui nesse link:
http://cotonete.clix.pt/quiosque/artistas/entrevistas.aspx?id=619

António Pires disse...

Carla:

Muito obrigado! E volte sempre!

Um abraço

Anónimo disse...

i love this stuff

Titinha disse...

Deste Grande SENHOR da Música CaboVerdiana só se podia esperar mesmo o MELHOR, é fantástico como ele dedilha a guitarra e pela sua boca se entoam maravilhosas melodias, FORÇA AÍ DANY, a Rita e o Fernando apoiam e dão a maior força neste novo projecto, MERECE

António Pires disse...

Rita:

Muito obrigado pela visita :)

Um abraço