19 julho, 2006

Ali Farka Touré - À Espera de «Savane» (parte 4)


«Savane», o novo álbum de Ali Farka Touré, é editado esta semana. E fica desde já prometido um texto a propósito assim que o tiver. Enquanto isso não acontece, aqui fica mais um texto (publicado no BLITZ o ano passado) que parte de dois discos de Ali Farka e fala depois de outros artistas africanos...

ÁFRICA EXTRA

Para quem descobriu o guitarrista e cantor Ali Farka Touré através de «Radio Mali» ou de «Talking Timbuktu», é uma alegria ter à sua disposição dois álbuns antigos do génio do Mali como os que estão reunidos no duplo-CD «Red & Green» (World Circuit/Megamúsica), lançados originalmente em 1979 (o da capa vermelha) e em 1988 (o da capa verde) pela editora francesa Sonodis. E é também uma alegria imensa verificar que o talento enorme que ele tem agora era também já uma realidade há 25 anos e há 15 anos. Blues mandingas, descarnados, circulares, puros, praticamente só com voz e guitarra acústica (e uma cabaça a dar a base rítmica) no primeiro álbum; blues mandingas mais elaborados mas mágicos, arrepiantes, hipnóticos, e com a voz e guitarra acústica de Touré a serem ajudadas por um griot (Boubacar Farana) e um tocador de n'goni no segundo. A guitarra eléctrica e a sensação viva de que a electricidade que fornece Chicago vem do outro lado do Atlântico, das margens do rio Niger, só viria depois... (8/10)

Como viriam depois os seguidores de Touré, como Afel Bocoum ou Lobi Traoré, este agora com um «best of», «Mali Blue» (Dixiefrog), que passa por vários álbuns de Traoré e onde tem como convidados vários outros nomes grandes do Mali (a começar pelo próprio Ali Farka Touré). E o ambiente do disco, independentemente do ano de edição original de cada tema (entre 1990 e 1998), passa muito pelas mesmas paisagens fusionistas da música mandinga sub-sahariana com os blues de Touré (e, em algumas canções de Traoré, também com funk e rock psicadélico). Com o sol - abrasador, intenso, de fazer doer os olhos - a nascer, todos os dias, nos dedos e nas cordas vocais destes homens... (7/10)

Alguns milhares de quilómetros mais a sul, o também guitarrista e cantor Shiyani Ngcobo dá-se a conhecer ao Ocidente através do álbum «Introducing Shiyani Ngcobo» (World Music Network/Megamúsica), onde este cantor sul-africano mostra o que é a maskanda, uma dança tradicional zulu onde a guitarra acústica convive com violinos de som rude, uma concertina prima das da Louisiana (cajun, zydeco, etc...), um igogogo (guitarra com caixa de lata) e um baixo eléctrico saltitante. (7/10)

E, uma semana depois do camarada Miguel Cunha ter escrito neste jornal sobre «Africa Shrine» - o álbum ao vivo de Femi Kuti -, agora surge «The Best of Femi Kuti» (Barclay/Universal), mas que não se assustem os fãs do homem - principalmente aqueles angariados depois do seu concerto em Sines - porque não há nenhuma canção repetida nos dois discos. E mais: este «best of» é mais uma prova absoluta de que o nigeriano Femi continua de forma digna e bastante talentosa o som estabelecido por seu pai, o grande Fela Kuti. O afro-beat do pai - a fusão perfeita de ritmos da África Ocidental com o funk, o jazz, a soul - e a intervenção política estão lá, mas estão lá também muitas outras coisas que Femi acrescentou ao caldeirão nos tempos mais recentes: as electrónicas, o reggae, o ragga, o hip-hop - e, não por acaso, há participações em vários destes temas de Mos Def, Jaguar Wright e Common. (8/10)

E agora algo completamente diferente (ou não tanto quanto isso): «African Dreams» (Ellipsis Arts/Megamúsica), uma deliciosa colectânea de canções de embalar que começa com uma versão lindíssima do tema tradicional zulu sul-africano «Lala Mbube» (conhecida no Ocidente desde os anos 60 sob a designação «The Lion Sleeps Tonight») e continua depois com uma colecção riquíssima de «lullabies» dos Camarões (em dose dupla, e com um deles, «A Muna - O Síeya Pe», cantado por Coco Mbassi, que devia ser obrigatório para todos os casais que querem dar aos seus filhos bébés um sono descansado e cheio de sonhos de algodão), Congo, Gâmbia («Kanu Dingo» e «Jango», ambas com uma kora tocada por Muhamadou Salieu Suso que é de uma beleza absoluta, infinita, universal), Uganda, Serra Leoa, Zimbabwe («Vana Maruva» e «Kutira», ambos com uma m'bira, ou kissange, em círculos hipnóticos e capazes de adormecer um ogre em 20 segundos), Madagascar, Nigéria (o hino africano «Sweet Mother», de Prince Nico Mbarga, aqui cantado por Floxie Bee), Etiópia, Congo e Cabo Verde («Eclipse», uma morna de B.Leza com um poema belíssimo cantado por Celina Pereira). (7/10)

2 comentários:

Anónimo disse...

Holaaa exelente Blog soy de mexico, y soy Dj productor me musica electronica experimental
saludos.....

António Pires disse...

Caro Anónimo:

Muito obrigado!!! Mas não quer dizer o seu nome ou fazer um link ao seu site, blog ou myspace???...

Um abraço,

António