27 dezembro, 2006
Kepa Junkera, Accordion Tribe, Tim Van Eyken - Acordeões de Todo o Mundo, Uni-vos
Há muitos discos editados este ano - e até o ano passado - sobre os quais ainda falarei neste blog, mas não queria acabar 2006 sem referir estes três de que falo aqui hoje. São três discos fabulosos - outra vez: fabulosos - que têm como elo comum o uso (não exaustivo nem exclusivo, excepto no caso dos Accordion Tribe, na foto) do acordeão e de instrumentos-irmãos. E, ah catano!, se todos os Quim Barreiros desta vida os ouvissem...
KEPA JUNKERA
«HIRI»
Elkar Musika
Ao fim de vários anos a escrever sobre Kepa Junkera, acho que já esgotei um léxico inteiro de elogios ao acordeonista basco. E a propósito de «Hiri», o seu novo álbum - também já perdi a conta a quantos já editou... - seria preciso renovar não apenas um léxico inteiro mas também uma sintaxe e um vocabulário paralelo para dizer tudo o que este álbum tem de bom lá dentro. Mas atrevo-me a dizê-lo: nunca Kepa tocou tão bem a sua trikitixa como aqui, nunca o seu som esteve mais perto de tantos caminhos (e já tantos caminhos que ele cruzou em vários álbuns!) e tão perto de um som universal, global, aberto a tantas músicas sem, nunca, nunca, deixar de ser ele, o «velho» Kepa. Oiça-se, por exemplo, «Ataun», em que a dança da trikitixa entronca na cavalgada imparável da txalaparta, sublinhada pelo uivo da alboka e o lamento da sanfona, unindo o País Basco a Itália (uma união que é repegada no maravilhoso «Napoli»). E também andam por este álbum sons árabes, vozes búlgaras (as Bulgarka), um piano maravilhoso (de Alain Bonnin), a gaita galega de Xosé Manuel Budiño, o percussionista Glen Velez, a fabulosa Mercedes Péon e a cantora azeri Aygun, os Tactequete e Eliseo Parra, entre muitos outros, numa festa feita de tantas músicas que não conseguimos contá-las. Ainda bem! (9/10)
ACCORDION TRIBE
«LUNGHORN TWIST»
Intuition Music
E se o álbum de Kepa e da sua trikitixa está, e tão bem!, rodeado de vozes e muitos outros instrumentos, já em «Lunghorn Twist», terceiro álbum dos Accordion Tribe, o acordeão (os cinco acordeões!) é rei e senhor e maestro e uma orquestra inteira. Os Accordion Tribe são um super-grupo que junta Guy Klucevsek (Estados Unidos), Maria Kalaniemi (Finlândia), Bratko Bibic (Eslovénia), Lars Hollmer (Suécia) e Otto Lechner (Áustria), cinco acordeonistas talentosíssimos que trazem as suas respectivas heranças locais (e muitos géneros musicais em que anteriormente se movimentaram, da folk ao rock progressivo, do jazz de vanguarda da Knitting Factory nova-iorquina à música clássica....) e o resultado é magnífico, absolutamente surpreendente e devastador. Com os Accordion Tribe há lugar para valsas e swing, solos lindíssimos de cor e calor mas também uníssonos em distorção e dissonância absolutas, punkalhadas sem vergonha e música improvisada que parece saída de uma jam de fim de curso no Conservatório (elogio!). O norte-americano Guy Klucevsek (que trabalhou com John Zorn, Laurie Anderson e Bill Frisell, entre outros) é geralmente visto como o líder do grupo, mas todos eles contribuem por igual para uma música novíssima e maravilhosa. (10/10)
TIM VAN EYKEN
«STIFFS LOVERS HOLYMEN THIEVES»
Topic Records
Ele também canta e toca guitarra, mas é quando pega no acordeão (oiça-se a lindíssima entrada do terceiro tema, «The Pearl Wedding/Nancy Taylor's», a primeira vez que o acordeão entra em cena neste álbum) que Tim Van Eyken se revela como um dos melhores músicos actuais do Reino Unido. Um músico com um respeito enorme pela tradição (todos os temas de «Stiffs Lovers Holymen Thieves» são tradicionais das Ilhas Britânicas) mas com a dose suficiente de ambição e talento para avançar um bocadinho na renovação da folk britânica, adicionando-lhe fatias de country norte-americana ou de rock. Jovem prodígio (com alguns prémios no currículo, nomeadamente da BBC), Tim Van Eyken fez parte dos Dr.Faustus e acompanhou durante cinco anos o projecto Waterson:Carthy, isto é o grupo da família-maravilha da folk constituído pelos enormes Martin Carthy e Norma Waterson, e a filha do casal Eliza Carthy. Neste álbum a solo, Van Eyken é acompanhado por Nancy Kerr no violino e voz, Pete Flood (dos Bellowhead) na bateria e Oliver Knight na guitarra eléctrica, entre outros. E o resultado é um álbum hiper-equilibrado, variado e muitas vezes surpreendente («Babes In The Wood», por exemplo, está entre a música romântica, a experimental e o indie-rock). (9/10)
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