13 dezembro, 2006
Rachid Taha, Akli D. e Cheb i Sabbah - Três Argelinos na Diáspora
Há alguns anos, Rachid Taha disse-me em entrevista (encontrável algures neste blog...) que «o meu país é a minha música... e a minha música é o meu país», frase mais que natural saída de um cantor, músico e compositor que se sente mais à vontade num território mítico em que não há fronteiras nem «papéis», a música, do que entre dois países, no caso dele, a Argélia e a França. Festejando o lançamento do seu novo álbum «Diwan 2», aqui deixo também textos acerca de discos recentes de Akli D. (na foto) e Cheb i Sabbah, dois outros argelinos que há muitos anos também emigraram para França.
RACHID TAHA
«DIWAN 2»
Wrasse Records/Universal Music
«Diwan 2» é a continuação lógica, oito anos depois, de «Diwan», álbum em que Rachid Taha homenageava muitos dos músicos e cantores que ouvia na sua infância. Em «Diwan 2» o tributo continua - há aqui versões de temas de Mohamed Mazouni, Missoum Abdlillah/Blaoui Houari, Ahmed Wabhy e Dahmane El Harrachi, entre outros - mas com uma qualidade e uma inventividade muito maiores do que no primeiro álbum do «díptico Diwan». Em «Diwan 2» podemos ouvir rai misturado com reggae, rock com gnawa, música mandinga (anda uma kora à solta em «Agatha», original de Francis Bebey), punk com música egípcia, e por aí fora, numa festa pegada, variadíssima (não há um único tema que se assemelhe a outro, neste álbum...), que nos agarra do princípio ao fim do álbum. Menos rock e pesado do que «Tékitoi», o seu fabuloso álbum anterior, e quase não recorrendo a electrónicas, «Diwan 2» continua no entanto a conter temas que podem assaltar facilmente os ouvidos mais «ocidentalizados» (como «Josephine» ou «Ah Mon Amour», os dois originais de Taha incluídos no álbum, o primeiro também co-assinado por Steve Hillage, companheiro de Taha há muitos anos). Mas, paradoxalmente, é quando ele se aproxima mais da tradição - mesmo que uma tradição misturada com outros elementos - como em «Ecoute Moi Camarade», «Agatha», «Mataouel Dellil» ou «Maydoum», que se consegue começar a imaginar qualquer coisa muito estranha que é: «e se o rock tivesse nascido em Alger e não em... Memphis»?... Isso é que era!! (9/10)
AKLI D.
«MA YELA»
Because Music
Também a habitar em França desde há muitos anos, Akli D. (Akli Dehlis) é muito menos conhecido do que Rachid Taha, mas está agora a mergulhar definitivamente no circuito da chamada world music (e a sua presença na última WOMEX é disso prova). Originário da região da Kabilia, no norte da Argélia, Akli D. cresceu a ouvir a riquíssima música da sua região (já falada neste blog), rock norte-americano e francês, reggae e m'balax. Akli D. chega a França no início dos anos 80, por alturas da revolta dos berberes na Kabilia, onde começa por tocar nas ruas e no metro, acompanhado pelo seu banjo (!). Muitos anos depois fará parte dos grupos El Djazira e Les Rebeuhs des Bois, antes de começar a editar a solo. Para o seu novo álbum, «Ma Yela», Akli D. contou com a ajuda preciosa de Manu Chao, que o produziu e nele introduziu algumas das suas marcas habituais (cf. em «DDA Mokrane»). Um álbum em que se ouve uma deliciosa mistura de música châabi da Kabilia - e outros géneros berberes -, folk norte-americana, reggae e blues, jazz manouche e afro-beat... Com letras de intervenção - Akli D. fala de imigrantes ilegais e dos direitos das mulheres muçulmanas -, mas também com letras em que o amor, a paz e a harmonia são o mote principal, «Ma Yela» é mais um luminoso álbum em que muitos e variados géneros se encontram para criar uma música nova e em que já não faz sentido falar de géneros específicos. (8/10)
CHEB I SABBAH
«LA KAHENA»
Six Degrees Records
Igualmente argelino, o respeitadíssimo músico, compositor e DJ Cheb i Sabbah tem uma já longa carreira na mistura de ritmos de dança ocidentais com música do Norte de África, música sufi e música indiana. Tendo também deixado a Argélia natal em direcção a França ha dezenas de anos, Cheb i Sabbah trabalhou com o Living Theatre, com o trompetista de jazz Don Cherry e com o grande cantor paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan, antes de saltar para a ribalta com os seus álbuns «Shri Durga» (1999), «MahaMaya - Shri Durga ReMixed» (2000), «Krishna Lila» (2002) e «As Far As» (2003). Há um ano editou este «La Kahena - Les Voix du Maghreb» (já saiu, entretanto, o álbum de remisturas baseado neste disco, «La Ghriba»). Para «La Kahena», Cheb i Sabbah foi para Marrocos gravar com cantores (principalmente, cantoras) e músicos locais, em busca das raízes da sua música. E o resultado é um disco espantoso de ritmo e harmonia, de transe e elegância, de raiz e de modernidade, em que a música árabe, berbere, gnawa e até orações, se fundem naturalmente com drum'n'bass, dub, beats hip-hop... Para além de Cheb i Sabbah e da «crew» marroquina, também outros músicos bastante conhecidos participam em «La Kahena», como Bill Laswell, Richard Horowitz e dois «irmãos» de Cheb nestes cruzamentos das electrónicas com as suas músicas tradicionais: o turco Mercan Dede e o indiano Karsh Kale. Um cruzamento que, no caso destes três - e daí a irmandade - é sempre feito com um respeito e uma paixão enorme pela tradição, por muitos outros elementos que a sua música contenha. (8/10)
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