13 abril, 2007
Tinariwen e Bassekou Kouyate - O Mali em Guitarras Eléctricas e N'gonis
Do riquíssimo alfobre que é a cena musical do Mali, os primeiros nomes que nos vêm à memória são os de Ali Farka Touré, Toumani Diabaté, Salif Keita, Afel Bocoum, Oumou Sangaré, Issa Bagayogo, Amadou & Mariam, Boubacar Traoré, Tartit, Rokia Traoré... De um não mais acabar de nomes e estilos diferentes. Mas, desde há alguns anos, outro nome está a impor-se como fundamental e diferente nesse cacharolete, o dos tuaregues Tinariwen (na foto). E, agora, um outro nome em crescimento imparável, o do mestre do n'goni Bassekou Kouyate.
TINARIWEN
«AMAN IMAN»
Independiente/Megamúsica
Os primeiros trabalhos discográficos dos Tinariwen chegados à ribalta internacional, «The Radio Tisdas Sessions» e «Amassakoul», mostravam já, claramente, as potencialidades destes tuaregues armados de guitarras eléctricas e da sua música feita de gnawa, de música árabe, da tradição própria (tuaregue) e de outras músicas apanhadas em rádios a pilhas: os blues, o rock psicadélico, o rock ácido da Costa Oeste dos Estados Unidos dos anos 60. Mas nenhum deles tinha o fulgor, a chama, a verdade que está presente no novo álbum «Aman Iman» (que tem como sub-título revelador «Water Is Life»). Em «Aman Iman», os Tinariwen fazem uma música muito mais verdadeira, directa, activa, «in your face», e dão-nos uma lição de música sem fronteiras nem grilhetas nem auto-censura de espécie nenhuma. «Aman Iman» é um álbum que se ouve do princípio (o tema de abertura, «Cler Achel», é o resumo perfeito de tudo o que vem depois e parece uma jam de Jimi Hendrix com os Jefferson Airplane se todos eles tivessem nascido no Sahara, com Grace Slick incluída) ao fim (o tema de fecho, «Nak Assarhagh», é uma balada mágica e hipnótica, belíssima) sempre com um sorriso nos lábios, uma ginga em partes secretas do corpo e um tremor constante na alma, como se esta música nova, novíssima, fosse já uma nossa velha conhecida. «Aman Iman» é um álbum de rock? Seria, se o rock ainda fosse isto: aquilo por que vale ainda a pena viver e... viver fazendo disso uma forma de arte. (10/10)
BASSEKOU KOUYATE & NGONI BA
«SEGU BLUE»
Out Here Records
É tão estranho, este disco! Estranho porque há ali sons, sonoridades, sentimentos, estímulos, que nos parecem tão distantes (de onde vêm aquelas cordas todas?, e de onde vem aquela voz feminina inesperada, a de Amy Sacko, a mulher de Bassekou Kouyate?)... Porque vêm de algo distante, desconhecido, estrangeiro a todos nós, os que estamos habituados a ouvir a música do Mali feita por Ali Farka Touré (o nosso tio, amado tio, falecido mas presente tio, que nos reconciliou com os blues, o fado, a morna, com uma raiz qualquer que nos une a todos de uma maneira que ninguém sabe explicar muito bem qual é)... mas que vem, em Bassekou Kouyate e na sua banda de n'gonis, com um eco de reconhecimento - sim, apesar da distância e da estranheza - aqui tão próximo, quase linear na sua, nesta, proximidade. Ouvimos «Segu Blue» e estamos a ouvir o álbum «Cavaquinho» de Júlio Pereira, ou um fado qualquer de vez em quando, ou alguma coisa gravada no nordeste do Brasil (com cordas lá dentro) ou um banjo tocado por Earl Eugene Scruggs ou uma (espanto!)... tuna de Castelo Branco dos anos 70 (não universitária, portanto) feita de mil cordas e mil sentimentos e mil sons. O n'goni - também chamado gaaci ou ganbare - tem apenas três ou quatro cordas (consoante a região de onde é originário) e sublinha as narrativas de amor e de guerra nas mãos dos griots. E o xamane Bassekou Kouyate, companheiro de Ali Farka em «Savane» e de Diabaté na Symmetric Orchestra, transporta-nos a uma outra dimensão, esta, sempre tão distante e tão próxima de nós... E é nela que queremos estar. (8/10)
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2 comentários:
I don't undersant the words but I know the music. Keep up the good work!
Hello Marius,
Thank you for your kind words!
Hugs
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