05 outubro, 2007

Cromos Raízes e Antenas XXVII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXVII.1 - Amália Rodrigues



Considerada unanimemente como a maior das cantadeiras de fado - e também actriz e... compositora - Amália Rodrigues (de nome completo Amália da Piedade Rebordão Rodrigues) nasceu em Lisboa, a 1 (ou 23) de Julho de 1920, e morreu na mesma cidade, a 6 de Outubro de 1999. Mas, se Lisboa foi o palco do seu nascimento e da sua morte e a música tradicional de Lisboa, o fado, a sua expressão maior, muitos outros palcos por todo o mundo acolheram a sua-voz-maior-que-a-vida e a sua arte, que partia do fado mas podia ir desembocar a muitas outras músicas. As suas actuações em prestigiadas salas do Brasil, de França, de Espanha, dos Estados Unidos, do Japão e até da antiga União Soviética (e numa altura em que o regime salazarista português tinha no comunismo o seu maior inimigo) fizeram dela uma das primeiras divas globais da agora chamada «world music» e abriram o caminho para muitos outros artistas, portugueses e não só. Um Mito.


Cromo XXVII.2 - Yothu Yindi



O rock, é sabido, anda por todo o lado. E até em locais dos antípodas, como a Austrália, terra de muito bom rock (de Nick Cave aos Go-Betweens, passando pelos, pois, AC/DC e os... Dead Can Dance). Mas já será mais estranho (ou não?) saber-se de uma importante banda rock cujo líder e maioria de elementos é constituída por aborígenes. Mas essa banda, Yothu Yindi, existe e não é a única. Mas é a pioneira de uma música que junta a música tradicional dos aborígenes com a pulsão do rock e uma ligação fortíssima a temáticas políticas (cantam, muitas vezes, sobre a repressão a que os aborígenes são sujeitos e também defenderam a causa de Timor-Leste, ali ao lado). Liderados pelo cantor e compositor Mandawuy Yunupingu, os Yothu Yindi têm na sua formação aborígenes e não aborígenes e tanto usam guitarras eléctricas e acústicas e bateria quanto o inevitável didgeridoo ou os também tradicionais «paus de percussão».


Cromo XXVII.3 - Atahualpa Yupanqui



Atahualpa Yupanqui (pseudónimo de Héctor Roberto Chavero Haram, nascido a 22 de Janeiro de 1908, em Pergamino, Argentina, falecido a 23 de Maio de 1992) é a mais importante personagem da música argentina extra-tango. Cantor, guitarrista, compositor, poeta, Yupanqui foi também a influência maior de muitos cantores e compositores argentinos e de outros países da América Latina, nomedamente da cantora sua conterrânea Mercedes Sosa, que muitas vezes interpretou as suas canções. Incansável recuperador e reinventor das canções tradicionais do interior da Argentina; activista político durante várias décadas (Yupanqui pertenceu ao Partido Comunista Argentino durante bastante tempo, tendo-se exilado no Uruguai por isso) e um símbolo da preservação de culturas antigas (o seu pseudónimo presta homenagem a dois reis incas), a sua arte permanece ainda nas vozes de muitos dos seus seguidores.


Cromo XXVII.4 - Paul Simon



Paul Simon (de nome completo Paul Frederic Simon, nascido a 13 de Outubro de 1941, em Newark, Nova Jérsia, Estados Unidos) foi um dos artistas de maior sucesso dos anos 60 e 70, mercê de uma parceria bastante frutuosa com Art Garfunkel e de canções inesquecíveis como «The Sound of Silence» ou «Bridge Over Troubled Water». Mas se Garfunkel era a «carinha laroca» do duo, Paul Simon era o principal compositor e o homem das ideias, ideias que ao longo do tempo o levaram, a solo, para caminhos alternativos ao seu habitual folk-rock: o reggae na canção «Mother and Child Reunion» ou, já na década de 80 e inícios de 90, a música sul-africana no álbum «Graceland» - em que foi acompanhado pelos Ladysmith Black Mambazo - e a música brasileira em «The Rhythm of the Saints» - onde, entre outros, colabora Milton Nascimento. Dois álbuns que, só por si, lhe garantiriam um lugar nestes Cromos.

20 comentários:

laura disse...

O Garfunkel era a "carinha laroca"? Bem, o meu conceito de cara laroca não tem nada a ver, ehehe... Mas isso sou eu, que prefiro os morenos aos caracóis louros :))
De qualquer forma, canções como as que referiste ficam para a história, e o "sôr" Paul Simon tem um percurso bastante interessante. E eu cá é que não consigo manter os pézinhos quietos aos primeiros sons de "Mrs. Robinson".. :))

António Pires disse...

Laura:

Pois, de facto (e agora que me obrigas a pensar nisso ;), não sei se devia ter-me referido ao Garfunkel como «carinha laroca»... mas isso é o que a minhas amigas «cotas» acham :))))) E sim, o Paul Simon fez muito bem à música, com e sem o Garfunkel. O último álbum dele, com o Brian Eno (!), também é bastante interessante. E sim!!!, o «Mrs. Robinson» é irresistível - viste o «The Graduate»? (claro que viste...).

Beijos

Isabel Victor disse...

António Pires, gostei da tua passagem pelas folhas do caderno e as preciosas informações sobre dança/transe dos dervixes sufi ... vou procurar o filme de que falas,

blogabraço

isabel

António Pires disse...

Isabel:

Também gosto muito do teu blog, minha visita diária! Tenho um «cromo» dedicado à dança sufi, aqui:

http://raizeseantenas.blogspot.com/2006/11/cromos-razes-e-antenas-v_20.html

Mas é uma coisinha curta, só para criar curiosidade (como quase todos os cromos que aqui faço...). Encontras, de certeza, muito mais informação por aí, no mundo da net... E o filme existe, pelo menos, na Amazon...

Blogabraço também :)

ana disse...

(Re)descobri-te hoje. Em tempos partilhámos um Arroz Doce. Continuarei a acompanhar a caderneta de cromos. Abraços.

António Pires disse...

Ana:

Um Arroz Doce? O do Bairro Alto??... Há quanto tempo e em que circunstâncias (outra maneira de perguntar: quem és?).

(e sejas bem-vinda ao Raízes e Antenas, claro!)

Abraços

António Pires disse...

Ana:

Não precisas responder! Fui ao teu blog e percebi... Bem-vinda, mesmo!!! E obrigado por teres deixado aqui as tuas palavras...

Abraços

ana disse...

Há quanto tempo? Uns 20 anos. Eu estudava na mesma escola, uns andares acima. Circunstâncias? Bem...

António Pires disse...

Ana:

Já tinha percebido :) É bom saber de ti outra vez... e do teu blog!! Seguimos em contacto, como dizem os espanhóis? ;)

Abraços...

ana disse...

homem, por suposto ;-)

António Pires disse...

Combinado! :)

laura disse...

antónio... (ar envergonhado, mãos atrás das costas, olhar cabisbaixo...) não vi o "The Graduate"... :(

António Pires disse...

Laura:

Não tens que fazer um ar envergonhado :) Mas olha que vale a pena ver o filme: foi um marco para muitos rapazes agora cotas que antes de terem chegado a cotas perceberam o que era estar apaixonado por uma... cota (isto faz algum sentido?!?!?).

laura disse...

antónio: LOL... estranhamente, faz! :) (vou tentar encontrar o filme)
beijos

António Pires disse...

Laura:

:) :) :)

Beijos...

C. disse...

demorei-me no texto da "voz-maior-que-a-vida" (expressão lindíssima) e na imagem que o ilustra. no olhar nostálgico, na sumptuosidade que envolve o Mito, na sépia melancolia que caracteriza todos os retratos guardados nas arcas do tempo. encostei-me à esquina do mundo a sentir o Fado. foi isso.

abraço.

António Pires disse...

C.:

Muito obrigado pelas tuas palavras!!! Que, diga-se, são muito melhores que as minhas para descrever Amália - e muito obrigado por isso também!!!

Abraço...

Anónimo disse...

.......P'lo visto, eu devo ter tido sempre mau gosto pk, para mim, o Garfunkel, era mesmo a "carinha laroca" do duo! :-/
Agora não me dá jeito ir até à sala mexer naqueles LPs mas há um do Paul Simon gravado ao vivo num Park que agora não recordo o nome (rsrsrs tá bom isto hj, tá) que tem o tema Cecilia em ritmo Afro.....que só vos digo!!!! Será que tbm foi acompanhado p'los Mambazo....?! É que o ritmo é bom demaissss!

Tchauê!

António Pires disse...

Lúcia Lima:

Acertaste em cheio: «Concert In The Park», gravado ao vivo em Central Park (como, dez anos antes, o álbum de reunião ao vivo de Paul Simon e do «carinha laroca») tem a colaboração dos Ladysmith Blcak Mambazo nesse e noutros temas do concerto...

Kandandus (sempre)

António Pires disse...

Edit: Black, não Blcak (ai, a minha dislexia - que eu tento combater todos os dias da minha vida mas às vezes é mais forte do que eu :)