08 novembro, 2007

Cromos Raízes e Antenas XXX


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXX.1 - Yungchen Lhamo


A maior embaixadora da música tibetana - e também uma importante porta-bandeira da liberdade para o seu país anexado pela China -, a cantora Yungchen Lhamo («yungchen», que é mesmo o seu nome de origem, significa curiosamente «deusa do canto», o que nos faz acreditar que o seu destino esteve desde sempre traçado) nasceu em Lhasa, capital do Tibete, em 1966, tendo começado em criança a cantar temas religiosos budistas, prática proibida pelas autoridades chinesas. Em 1989, Yungchen atravessa os Himalaias e inicia o seu exílio com uma visita ao Dalai Lama, em Dharamsala, na Índia. Daí parte para a Austrália, onde edita o seu primeiro álbum, «Tibetan Prayer» (1995), antes de se fixar em Nova Iorque e começar a gravar para a editora inglesa Real World. Os seus discos e concertos (em que costuma apresentar-se sem qualquer acompanhamento) são um grito de esperança e uma manifestação artística arrepiante.


Cromo XXX.2 - Hector Zazou


Músico, produtor e compositor dos mais versáteis que a música conheceu nas últimas décadas, o francês Hector Zazou - nascido a 11 de Julho de 1948, falecido a 8 de Setembro de 2008 - passou pelo rock e as suas margens (com os Barricades e o projecto ZNR) mas foi na sua demanda por uma música universal que se tornou uma referência fundamental da world music. Três álbuns de reinvenção das músicas africanas ao lado de Bony Bikaye, o disco que recuperou para a actualidade os cantos da Córsega («Les Nouvelles Polyphonies Corses»; de 1991), o lindíssimo «Sahara Blue» (baseado na poesia de Rimbaud; de 1992), o absolutamente inventivo «Chansons des Mers Froids» (onde visita e adapta canções tradicionais dos países nórdicos, do Japão ou da Gronelândia; de 1995) ou «Lights In The Dark» (cantos sagrados celtas; 1998) chegam para o colocar no panteão. Para já não falar de quem ele se faz rodear nos seus álbuns: John Cale, Sakamoto, Manu Dibango, Varttina, Bjork, Sylvian, Khaled...

Cromo XXX.3 - «The Blues» de Martin Scorsese

O realizador e produtor Martin Scorsese assina, com a sua produção da série de filmes «The Blues», o maior trabalho cinematográfico de sempre acerca de um género musical. Um trabalho feito de amor pela música, pelo rigor com que se conta a história de um género - o primeiro episódio da série, realizado pelo próprio Scorsese, «Feel Like Going Home», demonstra claramente as origens dos blues em África -, pela riqueza de intervenções e abordagens diferentes feitas pelos realizadores convidados para com ele colaborarem nos vários episódios: Wim Wenders, Richard Pearce, Charles Burnett, Marc Levin, Mike Figgis e Clint Eastwood. Todos eles a contarem uma parte da história, de África para os campos de algodão do sul dos Estados Unidos, do delta do Mississippi para Memphis e Chicago, a sua evolução para o rock e como se espalhou pelo mundo. Uma obra de arte maior e um hino à música.


Cromo XXX.4 - The Skatalites



Há quem diga - eles, pelo menos, dizem-no - que sem os Skatalites não existiria ska, reggae, rocksteady, dancehall e toda a música jamaicana conhecida. É capaz de ser exagero - outros nomes estão também na génese da música moderna jamaicana (e nas suas ramificações pelo mundo) - mas é verdade que os Skatalites foram uns dos principias pioneiros de um som novo nascido na Jamaica que, nos anos 50 e 60 do séc. XX, juntava o mento e o calipso caribenhos a géneros vindos dos Estados Unidos: o jazz, o rhythm'n'blues e o emergente rock'n'roll. Com um período inicial de enorme fulgor no início dos anos 60, criando música própria ou acompanhando outros artistas - nomeadamente Prince Buster -, os Skatalites têm uma carreira fugaz feita à volta do mítico Studio One mas reaparecem para reclamar a sua herança em 1986, depois do ska e da música jamaicana em geral terem conquistado o planeta. Ainda andam por aí.

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