20 dezembro, 2007

Cromos Raízes e Antenas XXXIV


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXXIV.1 - Mikis Theodorakis


O fascínio que a música tradicional dos seus locais de origem provoca em compositores eruditos é, se não banal e habitual, pelo menos comum a muitos deles e das mais variadas origens. Pense-se em George Gershwin, em Béla Bartók, em Manuel de Falla ou em Fernando Lopes-Graça... E pense-se, aqui, em Mikis Theodorakis, o compositor grego que tem na música do seu país - e de países à volta, como a Turquia e as regiões dos Balcãs - o mote principal para muitas das suas obras. Nascido a 29 de Julho de 1925 na ilha de Chios, Grécia, desde muito cedo o jovem Mikis se deixou conquistar pela música popular e pelos cantos polifónicos da igreja ortodoxa. Exilado em Paris devido ao seu activismo político, começou a desenvolver um riquíssimo reportório que, ao longo da sua vida, se revelou em sinfonias, óperas, cantatas, concertos para piano, partituras para bailado e filmes (a música para «Zorba, O Grego» e «Serpico» ficarão como marcas indeléveis do seu génio).


Cromo XXXIV.2 - Zap Mama


O excelentíssimo grupo afro-belga Zap Mama, liderado por Marie Daulne (na foto), é um dos melhores exemplos de como - a partir da voz, e de muitas vozes femininas em polifonias e harmonias africanas - se pode fazer a ponte entre músicas tradicionais e músicas apanhadas nas ondas do éter: o rock, o reggae, o hip-hop... Marie Daulne, nascida no Congo, criada na Bélgica, formada musicalmente no cadinho efervescente de Londres e ideologicamente quando fez uma longa viagem ao Congo e a outros países de África, e as suas companheiras (e os seus companheiros) de jornada, deram e dão ao mundo uma música viva, actual, fundada em raízes antigas mas com as antenas apontadas ao presente e ao futuro das músicas. No início (o álbum de estreia, «Adventures in Afropea» é de 1993) as Zap Mama eram um grupo a capella, mas há muito tempo que são outra coisa: muitas vozes e muitos instrumentos directamente ligados ao Céu.


Cromo XXXIV.3 - Gotan Project


Tendo como inspiração para o seu nome o calão da bandidagem de Buenos Aires, os Gotan Project («gotan» são as sílabas de «tango» ao contrário, tal como no referido calão, o vesre - ou «revés» ao contrário! - «madre» é «drema» e «carne» é «necar»), têm base em Paris mas como inspiração maior o tango e as milongas. E é um dos mais importantes - e o primeiro a ser massivamente conhecido na Europa e Estados Unidos - projectos a fundir a música urbana argentina com sonoridades contemporâneas, nomeadamente com uma fortíssima componente electrónica. Nascidos em Paris, em 1999, os Gotan Project são formados pelo francês Philippe Cohen Solal, pelo argentino Eduardo Makaroff e pelo suiço Christoph H. Müller, que editaram um ano depois o álbum «Vuelvo Al Sur/El Capitalismo Foraneo». Mas foi com «La Revancha del Tango» (2001) que se tornaram internacionalmente conhecidos.


Cromo XXXIV.4 - Stomp


Break-dance, tambores vagamente taiko/vagamente japoneses, danças e percussões africanas e brasileiras, os ritmos industriais dos Test Dept e dos Einsturzende Neubauten do início, vassouras, esfregonas e baldes de lixo usados como instrumentos musicais, o «Singin' In The Rain» tal como se tivesse sido coreografado por replicants do «Blade Runner», o corpo humano como uma imensa caixa-de-ritmos... Tudo isto - e mais, muito mais! - são os Stomp. Grupo alargado - neste momento são, aliás, vários grupos com o mesmo nome - de dançarinos, percussionistas, actores e acrobatas, todos irmanados numa missão comum, os Stomp são uma fabulosa ideia de espectáculo nascida em Brighton, Inglaterra, que já originou filmes, discos, anúncios de televisão... Mas é ao vivo que a arte total - só lá faltam as palavras, que, vendo bem, não fazem falta nenhuma - deste colectivo pode ser mais bem apreciada.

5 comentários:

Chá de Lucia Lima disse...

Opsssss ZAP MAMA!!! Ainda esta semana falei desse grupo a um professor de educação musical que veio da Bélgica! Como é possível conseguir-se "aquele som" só com a voz e pequenos instrumentos do quotidiano como...uma simples cabaça, por exemplo! Magníficas, é o termo.
Depois vem o Mikis Theodorakis que me trouxe à memória um LP -- entre outros k tenho dele -- em que outro nome, que muito aprecio, faz um brilharete nas suas mãos: Irene Papas!

Alors...aurevoir et, je te donne un kandanduuuu!!!!! :-))

lacasadelasalmohadas disse...

Hola Antonia!
Gracias por traer a mi memoria a Mikis Theodorakis, un genio que muchos ya ni recuerdan.
Un abrazo

António Pires disse...

Lúcia-Lima:

Sim, as Zap Mama são mesmo especiais! E sim, bis!, também gosto muito da Irene Papas, que está «guardada» para uma segunda série dos Cromos. Esta, a primeira série, terminará nos Cromos Raízes e Antenas L (isto é, 50). Mas haverá mais, que este mundo das músicas é infindável...

Au revoir et... ((kandandus)

Mirando al Sur:

Uma das ideias dos Cromos é exactamente recuperar nomes da música já esquecidos ou pouco lembrados. A presença de Mikis Theodorakis aqui era fundamental.

Un abrazo e... Feliz Navidad!

Anónimo disse...

Parabéns pela homenagem ao grande Theodorakis, certamente um dos compositores europeus do século XX e de quem pouca gente fala. Sem querer ofender a Irene Papas (que é, essencialmente, uma boa actriz de teatro e cinema) a "voz" de Mikis é a Maria Farantouri, essa sim, uma cantora e peras. Para quem não conhece, sugiro a audição do album "Mauthausen Cyclus" (1967) que fala por si. Tive o privilégio de vè-los juntos e ao vivo nos idos anos setenta e penso que formam um corpo único. Ninguém canta melhor Theodorakis do que a Farantouri.
Abraços

Rui Mota

António Pires disse...

Rui Mota:

Obrigado pelas «achegas» acerca da Maria Farantouri!

Abraços...