06 dezembro, 2006
Cromos Raízes e Antenas VI
Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)
Cromo VI.1 - Lee «Scratch» Perry
Lee «Scratch» Perry (nascido a 20 de Março de 1936, em Kendal, Jamaica) é um dos nomes mais importantes da música jamaicana, estando o seu nome associado a estilos como o ska, o reggae e o o dub. Com uma profícua carreira iniciada nos anos 50, funda a sua própria editora em 1968, a Upsetter, que também daria nome à sua banda acompanhante, The Upsetters. E o seu primeiro single editado através desta etiqueta, «People Funny Boy» é por muita gente considerado como o primeiro tema verdadeiramente reggae, para além de ter ficado para a história da música por conter um dos primeiros exemplos de samples (o choro de uma criança). No seu estúdio, o lendário The Black Ark, lançou as fundações daquilo que viria a ser a arte do dub. E produziu discos de Bob Marley & the Wailers, Max Romeo, Junior Byles e The Heptones, entre outros. Mais recentemente colaborou com Adrian Sherwood, Beastie Boys e Mad Professor. Boa porta de entrada na sua música: a magnífica caixa «Arkology».
Cromo VI.2 - Berrogüetto
Os Berrogüetto - cujos fundadores tinham pertencido, na sua maior parte, aos seminais Matto Congrio - são um dos exemplos mais originais da música feita pelos nossos irmãos galegos. Editaram o seu álbum de estreia, «Navicularia», em 1996 e rapidamente se impuseram como uma voz própria e poderosa na cena musical da Galiza, misturando na sua música elementos tradicionais, sim, mas muitas outras linguagens sonoras. Logo a seguir à saída do seu primeiro álbum iniciaram um périplo internacional que os trouxe a Portugal e também os levou à Alemanha, França e Reino Unido. Três outros excelentes álbuns se seguiram, «Viaxe por Urticaria», «Hepta» (este baseado num conceito à volta do número sete: sete é o número de músicos do grupo, sete são as notas musicais, sete são as cores do arco-íris...) e «10.0». Os Berrogüetto são Anxo Pintos, Guillermo Fernandez, Quico Comesaña, Santiago Cribeiro, Isaac Palacín, Quim Farinha e Xabier Díaz, tendo a sua emblemática vocalista e gaiteira Guadi Galego deixado a banda em 2008.
Cromo VI.3 - Pã
O deus grego Pã é uma das primeiras divindades europeias directamente associadas à música. Semi-homem semi-carneiro (tem deste animal os cornos, as orelhas e as pernas), Pã é o deus protector dos pastores e dos rebanhos, mas é também muitas vezes apresentado como um ser vingativo, violento e um predador sexual - muitas das suas representações mostram-no com o falo erecto. Filho de Zeus (noutras fontes, de Hermes ou de Cronos) e de uma ninfa, Pã conseguia, com a sua música, provocar sensações de calma, medo ou desejo sexual. A sua flauta - hoje conhecida como Flauta de Pã - tem, segundo a lenda, origem na tentativa falhada de sedução de uma ninfa, Siringe, que para se lhe escapar se transformou num canavial. Dessas canas - nas quais o vento provocava um som terno e triste -, Pã faria o seu instrumento musical. Ficou famoso um duelo entre a flauta tocada por Pã e a lira de Apolo, que a lira viria a ganhar (numa das versões desta lenda, a lira ganhou porque ambos os tocadores estavam de cabeça para baixo e é impossível tirar som da flauta de Pã nessa posição).
Cromo VI.4 - Laïs
As Laïs são três espantosas cantoras flamengas (originárias de Kalmthout) que iniciaram a sua carreira discográfica em 1998, rejuvenescendo velhas canções folk belgas com a adição de sonoridades sacadas ao norte da Europa (nomeadamente a Bulgária), à chamada música celta, ao rock e às electrónicas. Constituídas por Jorunn Bauweraerts, Annelies Brosens e Nathalie Delcroix - esta formação manteve-se estável ao longo de toda a sua carreira -, as Laïs têm entre os seus fãs gente graúda como Emmylou Harris, Sting e Daniel Lanois. O seu álbum de 2008, «Documenta», editado este ano, é um triplo que inclui um CD ao vivo, outro com interpretações à capella e outro com as Laïs a serem acompanhadas por outros músicos e pode ser um bom cartão-de-visita do grupo para quem não as conhece. Mas outros discos como os anteriores «Dorothea» (2000), «Douce Victime» (2004) e os posteriores «The Ladies' Second Song» (2007) e «Laïs Lenski» (2009) são também bastante aconselháveis.
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2 comentários:
Só uma pergunta: se a lira ganhou, porque é que destacas o Pã e não o Apolo? ;-)
Abraço,
Carlos Ramos
Olá Carlos!
Boa pergunta... Nos cromos já falei de Krishna e de Abraão... E todos eles, tal como Pã, estão ligados à pastorícia e a instrumentos de sopro (a bansuri, flauta de bambu, de Krishna, e o shofar de Abraão) mas a questão é que a lira está mais associada à música erudita, a conservatórios e academias, etc, etc... e a flauta de Pã é mais terra, mais raiz, mais tradição «pura e dura»... Mas ainda não tinha pensado na questão até perguntares...
Um grande abraço e bons «filmes»,
António
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