14 julho, 2007

Festival do Trebilhadouro - Dar Vida a Uma Aldeia



Dias 27, 28 e 29 de Julho, na aldeia de Trebilhadouro, perto de Vale de Cambra, vai decorrer mais um Festival do Trebilhadouro, que visa devolver a vida a esta aldeia perdida. Teatro e música são o prato principal da ementa, com espectáculos dos Bombos de Sandiães, Danças Tradicionais de Moçambique, Quarto Minguante e Folkatrua (dia 27); Teatro do Elefante, Lúmen e os franceses Dites 34 (dia 28); Teatro Dom Roberto, Teatro Assombrado, Bailebúrdia e os russos Dobranotch, na foto (dia 29). Mas há mais: palhaços, danças africanas e europeias, yoga, modelagem em papel, contos tradicionais africanos e ateliers de expressão dramática.

Tudo num cenário lindíssimo, se bem que abandonado, assim descrito pela Rasgo, a cooperativa de teatro organizadora do festival: «Trebilhadouro é uma aldeia perdida nas encostas da Serra da Freita. Rodeada pela serra do Trebilhadouro e o Alto do Galinheiro, é zona de microclima, pois é abrigada dos ventos que sopram do Norte. Do alto destes montes avistam-se o mar e a ria de Aveiro, bem como outras cidades do Litoral, todo o Vale de Cambra e a Serra da Freita. É também aqui que nasce um ribeiro que desagua no rio Caima, cujas águas servem para regar os campos das aldeias vizinhas. O lugar de Trebilhadouro, de cujo nome ainda não se descobriram as origens, é bastante antigo; nas bases de dois canastros de pedra lavrada encontram-se gravadas datas do século passado, mas presume-se que esta aldeia tenha sido habitada em épocas mais remotas devido à sua altitude (cerca de "600 metros" acima do nível médio das águas do mar), e como é virada a Sul e abrigada a Norte é provável que antes da passagem dos povos Romanos por esta zona tenha habitado aqui algum núcleo Lusitano: lembramos que os povos Lusitanos se dedicavam à pastorícia; ora esta área é propícia a essa actividade, mas como não dispomos de documentos comprovativos desse facto deixaremos esse trabalho para outros estudiosos na matéria. Provavelmente é a única aldeia do concelho de Vale de Cambra onde a arquitectura tradicional da casa rural portuguesa ainda se mantém, à excepção de um palheiro que foi restaurado com blocos de cimento. Facto pouco significativo se comparado com outras aldeias, onde as “Maisons” proliferam desordenadamente. O ultimo melhoramento cá feito foi a recuperação do fontanário da aldeia que estava em ruínas em 1987, por Cristina Brás e Aníbal Augusto da Costa, no âmbito do curso de Cantaria que frequentavam no Porto, e com a colaboração da Junta de Freguesia de Rôge, recuperou-se o fontanário que marca o centro da aldeia. Rôge é uma freguesia muito antiga, conta na sua história as marcas de um passado muito rico, deixado pelos povos que a visitaram, desde os Lusitanos que nas montanhas habitaram, aos Mouros que lutaram contra os Romanos que por aqui estiveram e deixaram nesta freguesia pelo menos uma das suas pontes características chamada “Castelo”. Pelo século XVII foi erguido o cruzeiro de Rôge todo em pedra esculpida. Hoje é considerado Monumento Nacional. A igreja de Rôge também é rica em Cantaria. É incrível também, o registo escultórico lá existente,desde os esteios, que são feitos todos de pedra, alguns a recordarem menires; até aos trabalhos de cantaria registados em canastros e algumas casas. O aspecto humano não é tão risonho; até alguns anos a esta data, viviam a tia Maria e a tia Francelina, mãe e filha respectivamente, habitavam em Trebilhadouro: sem luz eléctrica. Sem telefone e nem sequer um caminho satisfatório com que possam comunicar com as aldeias vizinhas, estas duas senhoras sobreviviam à custa de umas ovelhas e umas hortas que cultivavam. Segundo nos contaram, em 1987 (Cristina Brás e Aníbal Costa), os mais novos começaram a fugir para Sandiães, Soutelo, Fuste e para outras aldeias onde existiam escolas primárias, electricidade, telefone e melhores vias de comunicação e condições de vida; foram as últimas pessoas a sair desta aldeia, depois da morte do Sr. Barbosa, que esteve no Brasil e quando para cá veio teve uma trombose que o paralisou, mas ainda fazia colheres de pau artesanalmente; a sua mulher e filha abandonaram Trebilhadouro talvez para sempre. Trebilhadouro, uma aldeia para o alerta para uma situação que afecta muitos monumentos de pedra e as sua raízes culturais, ou são preservados, ou perdem-se definitivamente na voragem dos tempos». Mais informações aqui.

2 comentários:

un dress disse...

a aldeia, conheço e o festival também...

verdadeiros mergulhos na origem
na memória...

pena os festivais serem todos (tantos!) ao mesmo tempo.

sempre as opções...! :)


beijO

António Pires disse...

Un-Dress:

Infelizmente não conheço a aldeia nem o festival. E ainda não é desta que vou conhecer... Não consigo estar em Sines e em Trebilhadouro e no L Burro e l Gueiteiro, etc, etc..., ao mesmo tempo...

Beijo...