02 novembro, 2007

17 Hippies, Di Grine Kuzine e Polkaholix - É Folk Alemão, Pois Então!


Três bons exemplos de como a folk - de influências várias - está bem viva na Alemanha são os três grupos de que se fala hoje no Raízes e Antenas: os 17 Hippies (na foto), os Polkaholix e os Di Grine Kuzine, todos eles com a sua base estabelecida em Berlim. Com uma música quase sempre muito boa, quase quase sempre para dançar e de preferência com grandes canecas de cerveja a acompanhar.


17 HIPPIES
«HEIMLICH»
Hipster Records

Os 17 Hippies são uma trupe berlinense nascida em 1995 que consegue - e usando apenas um naipe alargadíssimo de instrumentos acústicos (desde europeus a asiáticos e africanos) e de vozes - fazer uma música hiper-diversificada, que soa a mil estilos misturados mas sempre muitíssimo bem. Em «Heimlich», o seu álbum deste ano, pode encontrar-se música balcânica com blues e klezmer e loucura free-jazz, uma balada em francês que ora soa a Pink Floyd ora a Penguin Cafe Orchestra, música ranchera mexicana mas tocada como se o México ficasse situado algures no meio da Europa (se é que isto faz algum sentido), um country bem-disposto que soa perfeito cantado em alemão, um misto de cajun e de polka passado pelo crivo psicadélico dos Beatles, entre muitas outras surpresas, constantes e sempre frescas e originais. O álbum é composto por originais do grupo, à excepção de «Teschko» - um tradicional sérvio aqui numa versão lenta, triste, lindíssima - e «Apache», o clássico dos Shadows, nos 17 Hippies a soar a uma espécie de Michael Nyman... do médio-oriente. Com um pé no virtuosismo - são todos músicos extraordinários - e outro na desbunda pelo prazer da desbunda (no último tema do álbum soam a uma fanfarra punk!), os 17 Hippies são uma máquina musical que está sempre muito perto da perfeição. Era tão bom que viessem cá tocar um dia destes! (9/10)


POLKAHOLIX
«DENKSTE!»
HeiDeck Records

Apesar de terem um álbum mais recente - «The Great Polka Swindle» (com o título a ser obviamente inspirado no nome do álbum dos Sex Pistols) -, foi este «Denkste!» que estabeleceu os Polkaholix como os senhores absolutos de um «novo» estilo: a «Berlin Speed Polka», que, é claro como água, é a velha polka injectada por uma energia, uma força e uma velocidade devedoras do punk, do funk, do ska, do speed-metal ou de músicas tradicionais como o klezmer e a música cigana dos Balcãs... A teoria é fácil de compreender, mas é preciso ouvir a música destes berlinenses para se entender completamente como esta música é feita de uma alegria, de um sentido de humor e de uma apurada noção de festa (sendo aqui «festa» sinónimo de muita dança, ainda mais cerveja e muita muita música, mesmo que a música seja por vezes um bocado... palerma). A polka - género que nasceu na Boémia em meados do séc. XIX e continua viva no centro da Europa (Alemanha, República Checa, Polónia...) e tem também um público alargado nos Estados Unidos - é nos Polkaholix objecto de inúmeras transformações e sujeita a tratamentos variados, mas a ideia de festa e de se fazer música para festa e dança é sempre a preocupação maior. Mesmo que a palavra «preocupação» pareça não colar muito bem com este bando de foliões que parecem não ter preocupação alguma. Ou, talvez e apenas, a de terem sempre uma grande caneca de cerveja à mão. (8/10)


DI GRINE KUZINE
«BERLIN WEDDING»
Skycap/Tumbao

É curioso constatar, ouvindo estes três discos de seguida, como há influências comuns a todos eles, embora seguindo vias próprias e assumindo fontes de inspiração diversificadas. Géneros comuns são sem dúvida o klezmer (música dos judeus do centro europeu) e a música cigana dos Balcãs, curiosamente músicas malditas e consideradas de povos «menores» durante o regime nazi. Não quero entrar aqui em análises sociológicas ou até psicológicas, mas é curioso constatar como, no início do séc. XXI, estes géneros são especialmente acarinhadas pelos músicos alemães ou por uma mistura de músicos alemães com músicos vindos do leste europeu, como é o caso dos Die Grine Kuzine. A banda, que foi criada em Berlim em 1993, caracteriza-se em «Berlin Wedding» por uma aproximação moderna e orgânica ao klezmer e à música balcânica, fundindo-a com muitíssimas outras músicas: cabaret berlinense, dub, rap, mambo, ska, polka, swing, surf-rock, música latino-americana, canções que parecem saídas do reportório do Exército Vermelho Soviético, quase todas cantadas pela vocalista Alexandra Dimitroff em alemão, espanhol, russo... Os Die Grine Kuzine fazem uma música global, centrada na Europa mas aberta a muitas outras músicas, numa demonstração inequívoca de universalidade. (8/10)

3 comentários:

Anónimo disse...

olá olá olá


música música música.



beijos.




/piano.

C. disse...

olá António :)

vou reter o artigo sobre a trupe dos 17 Hippies. pois se falas de toadas e sombras, de mil ecos diferentes, se o México muda de lugar…o Michael Nyman surge das mil e uma noites... parece que a música que aconselhas oferece aventuras sonantes demasiado aliciantes.

abraço.

António Pires disse...

Piano:

Olá Olá Poesia!

Beijos...


C.:

Oferece, sim! Os 17 Hippies são, sem dúvida, os melhores deste lote. Vale bem a pena conhecê-los.

Abraço...