08 abril, 2008

Cromos Raízes e Antenas XLII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XLII.1 - Fairport Convention


Os Fairport Convention - uma das mais importantes bandas da folk inglesa, se não a mais importante - foram formados em 1967 e contam agora nas suas fileiras com Simon Nicol, Dave Pegg, Ric Sanders, Chris Leslie e Gerry Conway, mas pelo grupo passaram muitas outras luminárias da folk como Dan Ar Braz, David Swarbrick, Paul Warren, Richard Thompson, Sandy Denny e Trevor Lucas, entre muitos outros. Misturando com segurança e uma linguagem ferozmente pessoal a música tradicional (ou de inspiração tradicional) inglesa com rock - os Fairport Convention são geralmente apontados como o primeiro grupo inglês de «folk eléctrico» -, a banda rapidamente atingiu um estatuto inultrapassável. Igualmente organizadores, desde 1977, do importante festival folk Cropredy Festival, o melhor espelho da sua arte encontra-se na caixa... «The Cropredy Box» (1998).


Cromo XLII.2 - «Anthology of American Folk Music»



Contendo temas gravados nos anos 20 e no início dos anos 30 do Séc. XX, e originalmente editada em seis LPs em 1952, a «Anthology of American Folk Music» - reeditada em 1997 numa caixa de três CDs duplos, através da Smithsonian Folkways Recordings - é um tesouro em que se encontram mais de oito dezenas de canções folk, country e blues, memórias «vivas» da história da música norte-americana e de nomes incontornáveis que esta colectânea deu a conhecer a um vasto auditório: The Carter Family, Leadbelly, Dick Justice, Mississippi John Hurt, Alabama Sacred Harp Singers, Clarence Ashley, The Memphis Jug Band, Blind Lemon Jefferson ou Robert Johnson, entre muitíssimos outros. A colectânea foi organizada pelo lendário etnomusicólogo, arquivista, realizador de cinema e pintor Harry Smith, que assim «pôs a render» - e ainda bem! - a sua vasta colecção de velhos discos de 78 rpms.


Cromo XLII.3 - Umm Kulthum


Antes, muito antes de o termo «world music» ter sido cunhado - em meados dos anos 80, numa reunião de editores, distribuidores e lojas, em Londres -, já muitos outros artistas e grupos tinham saltado fronteiras e espalhado músicas «locais» em lugares estrangeiros. E um dos mais importantes nomes desse fenómeno foi o da cantora, compositora e actriz egípcia Umm Kulthum (de nome completo Umm Kulthum Ebrahim Elbeltagi, aka Um Kalthoum, Oum Kalsoum e uma boa mão-cheia de outras grafias do seu nome diferentes), nascida a 31 de Dezembro de 1904, em Tamay ez-Zahayra, falecida a 3 de Fevereiro de 1975. Tendo ficado conhecida pelas suas longuíssimas canções (em espectáculos que duravam entre três a seis horas interpretava apenas três ou quatro temas diferentes), Umm tem, ou teve, entre os seus admiradores Charles De Gaulle, Jean-Paul Sartre, Maria Callas, Salvador Dalí, Bob Dylan, Led Zeppelin, Jah Wobble ou Bono.


Cromo XLII.4 - R. Carlos Nakai


Usada - e abusada - na chamada música «new age», a música para flauta dos índios norte-americanos é muito mais do que aquilo que esses discos de «meditação», «auto-ajuda» ou «contemplação» querem fazer parecer. E o melhor exemplo disso mesmo é a obra, de qualidade ímpar, do flautista R. Carlos Nakai, índio semi-navajo semi-ute, nascido a 16 de Abril de 1946, em Flagstaff, no Arizona. Iniciando a sua carreira discográfica em 1983, com o álbum «Changes», Nakai é o mais conhecido e admirado flautista índio norte-americano, vencedor de vários Grammys e um músico que, apesar de ancorado na música tradicional, está aberto a colaborações com muitos outros músicos de várias áreas (do jazz à música erudita, nomedamente com Philip Glass) e de outras origens geográficas (Nawang Khechog, do Tibete; a Wind Travelin’ Band, do Japão; Keola Beamer, do Havai...).

11 comentários:

Edward Soja disse...

Os Fairport são bons. E tinham a Sandy...

Mas eu prefiro aquele som único dos primeiros álbuns dos) Steeleye Span... Aquilo sim, eléctrico quanto baste. Direi mais, electrizante.
Pormenor importante: no Below the Salt, talvez o melhor disco deles (editado em 72) de percussões apenas uma (curta passagem de) pandeireta: quem precisa de bateria para fazer folk-rock?

Ahah.
Abraço, amigo António.

António Pires disse...

Eduardo:

Sim, os Steeleye Span tam´bém são importantíssimos e hão-de «merecer» um Cromo, ainda nesta ou na próxima série :))

Grande abraço...

Joao Augusto Aldeia disse...

Parabéns pelo blog, que só agora descobri, e ao qual irei linkar na minha página
Vilar de Mouros 1971.

Agradecia também uma informação: como poderei obter uma tradução (ainda que aproximada) para português da letra da canção "Terra Bô Sabê", dos Tubarões? É uma composição extraordinária, e tenho pena de compreender a letra em detalhe.

Obrigado
João Aldeia
Sesimbra

António Pires disse...

João Aldeia:

Obrigado pelas palavras e pelo link! Quanto ao «Terra Bô Sabê», que também é dos meus temas favoritos dos Tubarões) não sei como ajudá-lo. Eu até arranho um pouco de crioulo cabo-verdiano, mas não tenho competência para traduzir a letra toda. Talvez algum dos leitores deste blog se chegue à frente e o faça :)) Ou, então, se contactar a Associação Cabo-Verdiana, na R. Duque de Palmela, em Lisboa - que também tem um restaurante muito bom e do qual tenho imensas saudades - talvez alguém o ajude nessa tarefa.

Volte sempre e um abraço...

Anónimo disse...

Umm Kulthum sempre conheci como Oum Kalthoum. Será o nome ocidentalizado?!

António Pires disse...

Rui G:

Como deves ter reparado por uma indicação no texto, a grafia do nome Umm Kulthum no ocidente é bastante variada. Se fores à Wikipedia - que nem sempre é de fiar, mas... - verás que o nome dela tem para aí sete ou oito versões diferentes, adaptações «ocidentalizadas» (presumo que umas francesas, outras inglesas, outras etc, etc...) do seu nome em árabe. A explicação está aí :)

Um abraço...

Joao Augusto Aldeia disse...

أم كلثوم إبراهيم البلتاجي

António Pires disse...

Rui G:

Ah!, só para que fique claro - e porque já houve alguns leitores a queixar-se do mesmo -, quando utilizo a sigla «aka», isto significa «also known as» («também conhecido/a como»). Desculpa-me (e desculpem-me!) o anglicismo...

António Pires disse...

João Aldeia:

Obrigado! أم كلثوم إبراهيم البلتاجي é Umm Kulthum em árabe; eu sei. O problema é saber como é que se trancreve isso correctamente ;)

Grande abraço...

Rui Mota disse...

Aka = Aliás?

António Pires disse...

Rui Mota:

Sim ou, se se preferir, «also known as»...

Abraço