02 fevereiro, 2007

Cromos Raízes e Antenas XI


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XI.1 - Fanfare Ciocarlia


Quem já assistiu a um concerto (ou vários) da Fanfare Ciocarlia sabe ao que é que vai. A um concerto electrizante, sem dúvida, mas também ao que se vai passar a seguir ao concerto: encores longuíssimos em halls de teatros, na rua, no check-in de aeroportos. Originária da aldeia de Zece Prajini, na Roménia, a Fanfare Ciocarlia é possivelmente a mais bem conhecida banda de metais cigana da actualidade. Nascida em 1996, de uma ideia do produtor alemão Henry Ernst, que convenceu alguns dos músicos locais a formar um grupo para digressões internacionais, a Fanfare Ciocarlia nunca deixou, ao longo dos últimos dez anos, de desmentir este início, digamos, «artificial». Porque a sua música transporta sempre uma verdade e um espírito primordiais, mesmo quando fazem versões do tema do «007» ou do «Born To Be Wild». Álbuns aconselhados: «Radio Pascani», «Iag Bari» e o fabuloso «Queens and Kings», em que colaboram muitos outros músicos ciganos europeus: Esma Redzepova, Jony Iliev, Kaloome, Ljiljana Butler, KAL, Mitsou...


Cromo XI.2 - Actores Alidos


Quando se ouve falar de música vocal polifónica da ilha italiana da Sardenha, ouve-se geralmente falar de grupos masculinos - como os fabulosos Tenores di Bitti -, mas aqui fala-se de um extraordinário grupo formado por cinco cantoras e percussionistas - Valeria Pilia (a líder do grupo), Alessandra Leo, Manuela Sanna, Roberta Locci e Valeria Parisi - e um multi-instrumentista, Orlando Mascia, em instrumentos tradicionais como o launeddas (uma flauta-tripla), sulitu (flauta tradicional), trunfa (berimbau) e acordeão. Do seu reportório fazem parte cânticos sagrados, canções de embalar, serenatas, danças populares ou canções fúnebres ou de amor, usando quer temas tradicionais no seu estado puro quer adaptações da poesia sarda para composições originais. Audição aconselhada: o álbum «Canti delle Donne Sarde».


Cromo XI.3 - Griots


À semelhança dos bardos e dos trovadores europeus, os griots da zona mandinga de África (Mali, Senegal, Gâmbia, Costa do Marfim, Guinés...) são músicos e cantores que, desde há séculos, andam de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, transportando consigo - de uma forma poética, verbal, musical - as memórias das famílias, das tribos, dos reinos. Através da voz e de instrumentos de eleição como a kora (na foto) ou o balafon, os griots (ou jelis), cantores e músicos, são o receptáculo de uma memória que vai passando de geração em geração. Tal como, aliás, os griots eles mesmos, sempre oriundos de famílias que se especializaram nesta arte ao longo dos últimos séculos, transmitindo de pais para filhos ensinamentos ancestrais. Como curiosidade refira-se que a palavra «griot» deriva do francês «guiriot», adaptação da palavra portuguesa «criado».


Cromo XI.4 - Aronas


O excelentíssimo leitor está a ver o Mozart? Sim? Então agora imagine por favor um pianista de jazz que, na Nova Zelândia, começa aos onze anos a papar os mais prestigiosos prémios do seu país nesta área musical. O músico em questão, Aron Ottignon, mudou-se entretanto para a Austrália, tocou em festivais e salas americanas e inglesas (ok, também tocou no casamento do actor Russelll Crowe), sempre com críticas do género «o feiticeiro do piano» ou «uma pipa de testosterona, Rachmaninov - vai - ao - jazz...», e formou um grupo, os Aronas, em que é acompanhado por outras três luminárias do jazz dos antípodas - David Symes (baixo), Josh Green (percussões) e Evan Mannell (bateria) - ou, nas digressões europeias, por Nick Fyffe (baixo), Paul Derricott (bateria) e Sam Dubois (steelpan). Há quem chame aos Aronas jazz-punk, mas na sua música há jazz, soul, funk, punk, ritmos tradicionais do Pacífico Sul. Uma surpresa constante. Audição aconselhada: o álbum «Culture Tunnels».

4 comentários:

M@rio disse...

Parece uma tentação, tal como muitas das bandas/artistas que tenho lido por aqui, mas para um gajo da provincia, sem dinheiro e muito menos, cartão de crédito, como me mantenho a par destes sons?

António Pires disse...

Olá Mário,

Boa questão. Na nossa televisão, só mesmo através do Mezzo (ou experimente ver imagens de grupos e artistas aqui falados na Link TV e na National Geographic World Music, que estão nas minhas ligações, ou no You Tube). Na rádio, tem a BBC 3 e programas na Antena 2, Antena 1 (Cantos da Casa), Antena 3 (Planeta 3), o «Terra Pura» - pode ouvi-lo no blog Crónicas da Terra -, o «Sopa da Pedra», «Canto Nómada», «Multipistas», «O Templo das Heresias», «Folklândia» e peço desculpa se estou a falhar algum... E há sempre maneira de encontrar uns mp3s na net...

Anónimo disse...

e ainda que a rádio está como está... o que vale é que não faltam "carolas" nas rádio e na internet.

Ah, e na "província" não faltam também os festivais...

abraços

ygg

António Pires disse...

Bom acrescento, Ygg!

Obrigado!

Sim, muitos dos nomes de que aqui se fala já passaram por cá nos cada vez mais (em maior número) e cada vez mais excelentes festivais que nós temos. E, Mário, se reparar bem até os festivais de rock estão a apostar cada vez mais nestas áreas (verifique o cartaz do ano passado do Festival Sudoeste, sff...).