
Prólogo
Ao fim de tarde na praia Vasco da Gama
Já vemos garbosos navios a atracar
São cervejas, manhanhaus e caipirinhas,
Ao som de Bob Marley e de tanto, tanto mar...
São p'ra cima de vinte, os marinheiros
Espalhados por toda esta semana
Em três caravelas, três!!!, senhores,
Mesmo que não haja assim tanta cama
Não faz mal, diz o Capitão Vítor
Algum canto se há-de arranjar
E de canto em canto lá vamos
Passando estes dias a cantar*
Tanto cantámos na noite de sábado
Que a Tenente Cristina discursou
E com tanto empenho e brio o fez
Que a todos os amotinados calou!
As Primeiras Descobertas da Tripulação
À noite no promontório de Porto Covo
Solta-se a música em grande folguedo
E só os Deti Picasso, apesar da miúda,
Fizeram uma música de fugir de medo
De resto, tudo ficou bem por aqui:
O Darko Rundek e o violinista travesti
O franciú da guitarra com a Mamani
A loucura ska-trad dos Haydamaky
As gaitas dos Galandum (sopra-me aqui!)
Os Etran Finatawa, do Niger que parece Mali
E até os Djabe... em inglês: da Hungary
(Mas... o Rão Kyao, esse, coitado, era melhor continuar no fado)
No novo Centro de Artes de Sines
Havia gente por dentro e por fora
E todos os concertos foram bons
Indepentemente do estilo e da hora
Nas Ttukunak a txalaparta partiu
Ah, grandes gémeas do País Basco
Foi tal o vigor que delas se viu
São por certo marujas do Gama, o Vasco!
O Marcel parece um Cohen judeu
E a bela Lula aos matraquilhos perdeu
Mas quando cantou, Deus meu!,
Até o Boy George no fado meteu
O Jacky Molard mais a sua banda
Misturam bem a tradição com o jazz
Mas foi no convés da nau SMURSS
Que mostraram como a música se faz
(E agora um Breve Interlúdio à la «Ilha dos Amores»):
Comemos frango de freak-à-séria
Nas esplanadas das tasquinhas
E bebemos um néctar tão perfumado
Que vinha das melhores vinhas**
Descobre o freak que há em ti
Disse-lhe ela com todo o respeito
E enrolou-lhe um charro de erva
Enquanto da relva fez seu leito***
E lá vem Ana; e lá vem Pedro
Anunciar, taram!, o seu noivado
Não estivéssemos todos bêbados
E tínhamos logo caído p'ró lado
Há um doce triângulo amoroso
Do mais bonito que pode haver
O Manuel, a Petra e o Luís
Todos estão nos blues com prazer
Sem esquecer a cadela Naika
Que outro triângulo (quadrado?) insinua
Ela, o Luís e a sua querida Petra
Mais o Árabe, lindo, a uivar à Lua
O amor, o amor, o amor é tão bonito
Que outras histórias se poderiam contar
Mas como gosto dos meus amigos
O melhor é ver, ouvir e... assobiar
(fim do interlúdio à la «Ilha dos Amores»)
Notas:
(*reparem bem, por favor, no elegante jogo de aliterações entre as palavras «canto» - de «um sítio qualquer onde descansar o esqueleto, nem que seja o hall de entrada, quando não estamos a ver concertos e a embebedar-nos violentamente» - e «canto», do verbo «cantar»)
(**reparem bem, bis, no subtil jogo fonético da palavra «vinha» - do verbo vir - com a palavra «vinhas» - de videiras, aquelas plantas que dão uvas, das quais se faz vinho, etc, etc...)
(***reparem bem, tris, na inteligente ligação entre os diferentes significados de «erva» e de «relva», que apesar de serem por vezes sinónimas são vegetais que nem sempre têm a mesma origem, utilidade e função...)
(Na foto: Vasco da Gama, nossa inspiração comum... Amanhã no Raízes e Antenas: As descobertas das costas de África, das Américas e da Índia na segunda e última parte de «Os Gamíadas»)