13 julho, 2007

Cromos Raízes e Antenas XXIII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XXIII.1 - Carmen Miranda



Possivelmente a primeira diva global de fora da esfera anglo-saxónica, a portuguesa de nascimento mas brasileira de alma Carmen Miranda (nascida a 9 de Fevereiro de 1909 em Marco de Canaveses, Portugal, com o nome Maria do Carmo Miranda da Cunha - Carmen viria da paixão do seu pai pela ópera; falecida a 5 de Agosto de 1955) conquistou fãs em todo o mundo através do seu trabalho de actriz e cantora. Considerada como uma pioneira do tropicalismo, pelo seu cruzamento de música brasileira com sonoridades mais «sofisticadas», e inserindo-se na perfeição no conceito de música «exotica» que precedeu o conceito de «world music», dela ficaram canções inesquecíveis como «Pra Você Gostar de Mim» («Taí»), «O Que É Que a Baiana Tem», «Chattanooga Choo Choo» ou «South American Way», para além de treze filmes rodados em Hollywood.


Cromo XXIII.2 - Amadou & Mariam



O casal mais famoso da música maliana, Amadou & Mariam, é um belísimo exemplo de como as contrariedades da vida podem ser ultrapassadas e como se pode ser feliz apesar delas - e basta vê-los em palco para se perceber o amor que os une e o amor que os une, também, na música, belíssima, que fazem. Amadou (Amadou Bagayoko, nascido em Bamako, a 24 de Outubro de 1954) e Mariam (Mariam Doumbia, nascida igualmente em Bamako, a 15 de Abril de 1958) conheceram-se na escola para cegos desta cidade e a paixão comum pela música - ela mais do lado das cantoras malianas e das variedades francesas, ele mais do lado dos blues e do rock de Jimi Hendrix, Led Zeppelin ou John Lee Hooker, e já com carreira feita em alguns grupos - leva-os ao casamento e a uma carreira riquíssima em que pontificam os álbuns «Sou Ni Tilé», «Tje Ni Mousso», «Dimanche à Bamako» e «Welcome To Mali», onde têm cruzado a sua música com a de Manu Chao ou a de Damon Albarn, entre outros.


Cromo XXIII.3 - Moussu T e Lei Jovents



Cidade portuária - feita de cruzamentos de povos e culturas -, Marselha é o cadinho perfeito para a criação de músicas híbridas, excitantes, vindas de muitos lugares. E o projecto Moussu T e Lei Jovents é um excelente exemplo dessa abertura, unindo música da Provença e música negra, seja ela norte-americana, africana, brasileira ou das Antilhas. Liderado por Moussu T (aka Tatou, ex-Massilia Sound System) do grupo fazem também parte Blu (igualmente ex-Massilia Sound System) e o percussionista brasileiro Jamilson, aos quais se juntam vários outros cúmplices para as gravações e/ou os concertos. Cantando quase sempre em língua occitana (também se ouvem por lá palavras em português e na gíria portuária de Marselha), o grupo dedicou o seu primeiro álbum, «Mademoiselle: Marseille» (2005), ao escritor jamaicano Claude McKay, que glosou nos seus poemas a cidade portuária de Marselha. Seguiram-se-lhe «Forever Polida», «Inventé a la Ciotat» e «Home Sweet Home».


Cromo XXIII.4 - Steelpan



Também conhecido como steeldrum - o que não é propriamente correcto porque este instrumento não é um tambor, sendo antes um idiofone -, o steelpan é uma fabulosa invenção dos músicos de Trinidad e Tobago, nos anos 30 do séc. XX, que de bidões de gasolina fizeram um instrumento musical riquíssimo em notas, timbres e nuances - o topo do bidão é trabalhado de modo a que se obtenham as notas musicais que se desejam. E foram mais longe: juntando vários steelpans eles criaram orquestras (que chegam, por vezes, a reunir dezenas de músicos), as steelbands, capazes de interpretar temas tradicionais (como o calipso), canções rock, sinfonias clássicas ou a nossa «Coimbra». As steelbands tornaram-se um símbolo de Trinidad e Tobago (duas ilhas próximas da Venezuela) e, todos os anos, há competições entre variadíssimas steelbands que enchem de espectadores os estádios de futebol.

5 comentários:

un dress disse...

bela foto da carmen miranda ...!


viagem de cores num tempo...



vi.a.GeM...





beijO

António Pires disse...

Un-Dress:

Sim, e acho que no caso da Carmen Miranda vê-se uma foto e, mesmo que não se conheça, imagina-se logo a música. E também gosto muito das fotos dela com arranjo frutal na cabeça...

Beijo

Anónimo disse...

Há alguns anos atrás vi um documentario sobre os stelpan e segundo percebi não são aquecidos nem lixados, são é batidos, martelados, por isso ficam com aquela forma concava, e se reparares, parece que tem amolgadelas.
Começaram a ser feitos com bidons deixados por uma empresa americana que abandonou o país e claro, o engenho dos pobres criou esta maravilha.

Anónimo disse...

O comentario sobre os bidons era meu

Beijo
Amália

António Pires disse...

Olá Amália:

Não duvido das tuas palavras, pelo menos em relação a uma primeira fase dos steelpan, quando - e usando as tuas palavras, correctíssimas - «o engenho dos pobres criou esta maravilha». Mas olha que as técnicas evoluem e, tanto quanto sei - posso estar enganado, claro - na actualidade o aquecimento do metal e a sua «lixagem» são parte integrante da construção dos instrumentos. Obrigado, sempre, pela partilha! E um beijo, Amália... Volta sempre!

António