01 maio, 2007

Cromos Raízes e Antenas XVIII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo XVIII.1 - 3 Mustaphas 3


Se alguma vez uma banda mereceu a designação «grupo de world music», essa banda respondeu pelo nome de 3 Mustaphas 3. Nascido em Inglaterra, em 1986, sob a liderança de Ben Mandelson (aka Hijaz Mustapha) e Colin Bass (aka Sabah Habas Mustapha), aos quais ao longo dos anos se foram juntando outros «Mustaphas» - nas suas biografias, obviamente falsas, os membros do grupo clamavam ser todos sobrinhos de um tal Patrel Mustapha, sendo alegadamente originários de Szegerely, algures nos Balcãs. E a sua música tinha influências balcânicas, sim, mas também de tudo e mais alguma coisa que se possa imaginar: country, rock, cajun, klezmer, música japonesa, turca, indiana e mexicana, muitas vezes com vários destes ingredientes - e muitos outros - na mesma canção. O resultado era quase sempre divertimento em estado puro e, muitas vezes, muito boa música. Audição aconselhada: o álbum «Soup of the Century» (1990).


Cromo XVIII.2 - Orfeu



Um dos mitos mais perenes da cultura ocidental, Orfeu era considerado na antiguidade greco-latina como o «pai das canções», o «maior músico e poeta» e o «inventor» ou, noutros casos, o «aperfeiçoador da lira». As narrativas clássicas contam que a sua música podia acalmar os animais, obrigar as árvores a curvarem-se, parar o curso dos rios ou fazer as rochas dançar. Se bem que nem todas estas narrativas lhe atribuam uma origem divina, algumas apontam-no como filho de Apolo, que lhe teria dado a lira que ele teria depois tão bem tocado. A Orfeu é também atribuído o ensino à Humanidade da medicina, da escrita e da agricultura, para além de ser astrónomo, adivinho e feiticeiro. Filho da musa Calíope e, eventualmente, de Apolo, teve como grande amor Eurídice, uma história triste e belíssima que mete descidas aos Infernos e a música sempre como pano de fundo de toda a tragédia.


Cromo XVIII.3 - Kassav




Quando, em 1979, um grupo de músicos - Pierre-Edouard Décimus, Georges Décimus, Freddy Marshall e Jacob Desvarieux - formam os Kassav, eles estavam a inventar o zouk e, sem o saber, também a contribuir para o desenvolvimento futuro da... kizomba. Nesse ano, os Kassav lançam o mítico álbum «Love and Ka Dance» e, depois, já com a emblemática Jocelyne Béroard a bordo (que entrou para as gravações do segundo álbum, «Lagué Mwen», de 1980), partem para a conquista do mundo. Originários de Guadalupe, nas Antilhas, os Kassav - nome que significa «bolacha de mandioca» - fazem uma mistura tórrida e absolutamente dançável de ritmos locais (como o merengue e o biguine) com o reggae, a salsa e o rock. O pico de popularidade dos Kassav - que continuam ainda a efectuar digressões em todo o mundo, nomeadamente em África, continente onde têm um culto enorme - aconteceu em 1985, com o álbum «Yélélé» e o single «Zouk la Sé Sèl Médickaman Nou Ni».


Cromo XVIII.4 - Can



Pelos Can passaram - e repare-se só no valor individual de cada um destes nomes para se ter uma ideia do que eles fizeram na banda alemã - Holger Czukay, Michael Karoli, Jaki Liebezeit, Irmin Schmidt, Malcolm Mooney, Damo Suzuki, Rosko Gee e Rebop Kwaku Baah (entre outros). Se calhar, dizer isto já chegava. Mas ainda se podem dizer mais coisas: por exemplo, que nunca uma categoria musical (neste caso, o krautrock, porque assim eram designadas a pontapé dezenas de bandas alemãs) foi tão redutora como no caso dos Can. Ou que, nos Can, conviviam tantas músicas - músicas de muitos lugares do mundo, músicas de um laboratório só deles, músicas sacadas ao fundo da alma e do corpo e de um imaginário, digamos, colectivo. Uma música viva que, com origem em Colónia, em 1968, chegou - pelo menos se assim o imaginarmos - aos clubes de free-jazz nova-iorquinos, a vielas esconsas de Bombaim e... a Alfa de Centauro. Ritmo, drone, liberdade, emoção... Álbuns aconselhados: «Tago Mago», «Ege Bamyasi», «Future Days» e «Saw Delight».

5 comentários:

Bandida disse...

estou fascinada com o seu blog!!!

amanhã volto cá com mais tempo para o ver com mais atenção.



B.
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un dress disse...

orfeu é para mim o mais fascinante dos mitos.
orfeu filho de musa, a doce voz, a lira...
e então a tragédia do olhar antes da regra do tempo imposto, que desmaia para sempre eurídice...

dos kassav.
conheço muito bem, grande música para dançar!



e MuiTo bOm estar aqui...!
bOm dia antóniO :)

António Pires disse...

Bandida:

Por aqui não há muita música clássica e/ou erudita mas há outras músicas... Seja bem-vinda!

Un Dress:

Bom dia! Sim, o mito de Orfeu é lindíssimo - e há ecos dele em outras narrativas (desde a história das estátuas de sal quando se olha para trás na destruição de Sodoma e Gomorra, na Bíblia, aos grandes amores trágicos medievais e shakespearianos)... Mas se a música pode comover, confundir ou amolecer as forças das Trevas (Cérebro e Hades, protótipos do Diabo) isso quer dizer que cumpriu bem a sua função...

Obrigado!

Anónimo disse...

SUAS PESQUISAS ESTÃO MUITO RUIM

António Pires disse...

Caro Anónimo ou Cara Anónima:

Muito obrigado!! Acabou de me enviar o pior comentário de sempre na história do Raízes e Antenas. E o pior em vários sentidos e por várias razões:

1 - É um insulto e em maiúsculas que é para doer mais...

2 - O seu português é péssimo: se é «pesquisas», no plural, o final da frase deve ser «ruins» e não «ruim» (singular).

3 - Não especifica que raio de pesquisas é que são, segundo as suas palavras, «ruim». Ou são mesmo toda, desculpe, todas? É que assim fico mesmo preocupado!

4 - Não se identifica e, com isso, perde uma excelente oportunidade de eu lhe responder cara a cara. Não quer deixar um nome ou até, no pluaral, dois para podermos conversar?