28 maio, 2007

Terrakota - Próxima Estação: Aula Magna



A propósito do lançamento do álbum «Oba Train» e do concerto de apresentação do disco, dia 31, próxima quinta-feira, na Aula Magna, em Lisboa, a cantora Romi e o guitarrista Alex deram uma entrevista ao Raízes e Antenas. Um resumo da conversa segue aqui em baixo como mais um aperitivo para a audição do álbum (ver também crítica ao disco) e/ou para o concerto...

Quais são as principais motivações para continuarem a lutar pela vossa música?

Alex - Para já, continuamos todos muito apaixonados por aquilo que fazemos. E também recebemos muitos estímulos das pessoas que nos ouvem que nos motivam a continuar. Quando fazes o que gostas e percebes que a coisa também passa para o público, isso dá muita força. Também temos tido oportunidade, graças ao nosso trabalho, de não estarmos fechados numa carreira apenas em Portugal. E os nossos concertos no estrangeiro, perante públicos novos, e apesar do cansaço, vai-nos estimulando.

Romi - Se só tocássemos em Portugal, tenho a sensação de que estaríamos muitas vezes a andar em círculos fechados. O facto de tocarmos lá fora é importante para essa motivação e também para tentar melhorar sempre.

Este álbum dos Terrakota estreia uma nova editora, a Gumalaka, associada à Matarroa e à Rádio Fazuma. como é que surgiu essa associação de vontades?

Alex - O trabalho das grandes editoras, que são cada vez menos, é um trabalho repetitivo e feito com pouca paixão. E então nós fomos ter com pessoas que, ao longo dos anos, gostam daquilo que fazem e daquilo que nós fazemos. Fomos falar com a Rádio Fazuma e, a partir dali, o processo foi correndo: fomos falar com a Matarroa e também sentimos muito boa energia. E isto alargou-se às outras pessoas que trabalharam connosco, os técnicos, as pessoas do estúdio, as pessoas que acreditam em nós e contribuíram com dinheiro. E isso nota-se no disco: há, por exemplo, uma voz que é de uma das pessoas da Rádio Fazuma...

Romi - Reuniu-se aqui um grupo alargado de pessoas que têm a mesma forma de sentir, de estar; o mesmo gosto. E uma maneira de fazer as coisas que tem mais a ver com a cultura verdadeira e não com o comércio.

O vosso técnico nas gravações foi, mais uma vez, o Dominique Borde. Ele é quase um membro honorário dos Terrakota, ou não?

Alex - Quando vamos para estúdio, sim. Não sei se mais alguém teria paciência para suportar aquela quantidade de pistas que nós gravamos. «Olha, vamos pôr mais um instrumento; olha...». E o estúdio dos Blasted Mechanism, em que o nosso álbum foi gravado, tem muito bom som. Tem uma ligeira reverberação que é muito melhor para os nossos instrumentos acústicos do que outros estúdios, de acústica mais seca e abafada, em que já gravámos.

Há, pelo menos, uma grande diferença neste álbum em relação ao anterior («Húmus Sapiens»): o Junior tem novamente uma presença importante nas vozes, a juntar à Romi...

Romi - Sim, no primeiro álbum nós dividíamos muito as vozes entre os dois, mas no segundo fui eu que cantei mais. Neste novo voltámos um pouco à espontaneiade do primeiro e as coisas aconteceram assim naturalmente, mas com mais maturidade...

A vossa música passa por imensos géneros e o novo álbum ainda passa por mais alguns que nunca tinham visitado. Mas há, aqui, uma presença maior do chamado «som mestiço» (Manu Chao, etc.) e de temas cantados em espanhol...

Romi - Nós estivemos em Barcelona e gostamos imenso do trabalho do Manu Chao, mas tudo isso foi por acaso. Lisboa também seria o lugar ideal para se fazer um «som mestiço», à semelhança de Barcelona ou de Paris, mas isso não acontece porque cá ainda há muitos preconceitos a vários níveis. É quase como se fosse uma borbulha que Lisboa tem e que tenta esconder com base em vez de a extrair e tentar curá-la.

Mas, ao menos, já há alguns casos em Lisboa de mestiçagem musical...

Romi - Sim, mas as mais visíveis são mais na área da electrónica. Se se meter um bocadinho de drum'n'bass já a coisa vai, como no caso dos Buraka Som Sistema... Mas o mesmo já não acontece em relação a outros grupos. Esta situação poderá mudar: a minha filha é filha de um pai italiano e de uma mãe semi-angolana semi-portuguesa e, assim, a mente dela é mais aberta em termos culturais e de linguagens.

Alex - Mas tens razão em relação ao «som mestiço»... Nós somos um grupo de «global-fusion», como dizem os ingleses; somos uma coisa híbrida, numa sociedade híbrida, a fazer uma música híbrida.

Romi - E, ainda em relação ao cantar em espanhol, digo-te que, a primeira vez que ouvi flamenco, aquilo tocou-me tanto quanto a música africana. Eu acredito que já fui cigana numa outra vida... O flamenco tem uma energia vital.

Qual foi a intenção de convidarem tanto os rapazes do hip-hop angolano quanto o lendário U-Roy para as gravações do álbum?

Alex - O Ikonoklasta e o Conductor do Conjunto Ngonguenha têm um trabalho que está muito à frente em termos de mensagem e há entre nós uma grande identificação na leitura do mundo. A colaboração correu muito bem e ainda havemos de fazer mais coisas juntos. Quanto ao U-Roy, houve, para além da admiração que temos por ele, uma oportunidade única que foi o facto de ele vir cá a um festival. E gravámos a participação dele no quarto de hotel porque ele tinha que ir para Espanha umas horas depois. Mas foi muito giro.

Há agora alguns concertos de apresentação do álbum...

Alex - Já houve um, em Milão, que correu muito bem! Tínhamos três mil pessoas a ver-nos. E agora há o de apresentação oficial na Aula Magna, dia 3, produzido por nós, por uma associação cultural, a Bigorna, e a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa. Vão lá!!! O bilhete custa só 5 euros!!! É simbólico... E vai acabar antes de o Metro terminar. Depois vamos ao Porto, ao Festival Mestiço, dia 8 de Junho. Em Lisboa vamos ter como convidado o Conductor e no Porto vamos ter os dois: o Conductor e o Ikonoklasta. E a seguir, os Terrakota fazem de banda de suporte de um concerto deles...

3 comentários:

un dress disse...

terracota...

festival mestiço.

/que já vai ser. de novo...!!/

gosto das cores e dos símbolos

associados e do que conheço da

música deles. :)


beijO.antóniO

un dress disse...

e estava a discorrer sobre a incrível expressão corporal do peter gabriel no tempo dos genesis...!!

mas o comentário falhou 2 vezes pelo que fica aqui...:)



*

António Pires disse...

Un Dress:

Os Terrakota são de uma beleza musical e visual policromática, transcromática, multicromática... E vale sempre a pena vê-los ao vivo. A sua presença no Festival Mestiço é mais que justificada!! E, sim, o Peter Gabriel era um fascínio visual/coreográfico/teatral no tempo dos Genesis e é um fascínio agora ainda. Ele consegue criar encenações simples, mas incisivas - o fato das lâmpadas, a cabine telefónica, a bolha uterina em que ele percorre o palco todo... - para muitas das suas canções. Mas sempre com uma verdade imensa naquilo que faz. Vi-o há alguns anos num concerto da Amnistia Internacional em Bércy, Paris, e emocionou-me. Voltei a vê-lo no Rock In Rio de Lisboa há três anos
e chorei durante o «Biko». É um grande senhor!!!

Beijo...