11 fevereiro, 2008

La MC Malcriado e Izé - Entre Cabo Verde e... O Mundo


A diáspora cabo-verdiana é, desde há décadas, um alfobre de excelente música (feita por grupos e artistas de Cabo Verde em França, Holanda, Portugal, Estados Unidos...) e muitas vezes mantendo a pureza das suas raízes. Mas, de outras vezes, fundindo-a com outras músicas, como é o caso desta crew de rappers cabo-verdianos sediados em França, os La MC Malcriado (na foto), colectivo que mistura muitas músicas tradicionais com músicas exteriores e ao qual também pertence Izé, cujo novo álbum a solo apresenta uma fórmula nova e mágica: a mistura de funaná com... kuduro.


LA MC MALCRIADO
«NOS POBREZA KÉ NOS RIKÉZA»
Lusafrica

Cabo-verdianos - ou filhos de cabo-verdianos - baseados em Paris, os La MC Malcriado (noutras grafias: LA MC Malcriado, LA-MC Malcriado ou, simplesmente, MC Malcriado) são um quarteto que mistura, com saber e um imenso amor pelas suas origens, géneros musicais habitualmente associados a Cabo Verde (coladeiras, batuques, funanás, kizombas, etc, etc) com beats de hip-hop, electrónicas, ragga, funk e tudo o mais que lhes venha à mão e que faça sentido nesta música. Nascido em 1998, o colectivo é agora formado por Stomy Bugsy, Jacky Brown (também dos Neg'Marrons), Izé e JP (este também dos 2 Doigts). E no seu álbum «Nos Pobreza Ké Nos Rikéza», a mistura de referências atinge um ponto de perfeição difícil de igualar. Com a participação, entre outros, de nomes grandes da kizomba (como Philippe Monteiro), do funaná (o mítico Zéca di Nha Reinalda) e das divas Cesária Évora e Mayra Andrade, os La MC Malcriado assinam um álbum variadíssimo, quase sempre absolutamente dançável e com uma universalidade - pela mistura perfeita de elementos sonoros tradicionais com elementos «universais» - rara. Muitas vezes politizado (oiça-se a fabulosa homenagem a Amílcar Cabral, último tema do álbum) e cantado em crioulo e francês, «Nos Pobreza Ké Nos Rikéza» é um grandíssimo álbum. (8/10)


IZÉ
«KUNANA SPIRIT»
Lusafrica/Tumbao

Já com dois álbuns a solo em nome próprio anteriores a este «Kunana Spirit» («Double Nationalité» e «Mobilizé»), Izé - um dos quatro La MC Malcriado - chega aqui a uma fórmula sonora novíssima e explosiva: a mistura de funaná com... kuduro!!! E o resultado é um álbum todo ele virado para as pistas de dança, não querendo isto dizer que não possa ser ouvido - e com prazer! - no sofá aqui de casa. E, se bem que andem por lá outras referências musicais (o batuque e a morna de um lado, o hip-hop do outro...), são mesmo os temas em que o acordeão e o «ferro» do funaná se juntam à batida irresistível do kuduro que Izé cumpre a sua missão: a criação de uma nitroglicerina musical em que a tradição cabo-verdiana se mistura com elementos exteriores (o kuduro angolano, que por sua vez já é uma mistura de kizomba, zouk, ragga, hip-hop, kwaito...). Com samples bem metidos (a voz de Lura em «Oh Narina», do falecido Orlando Pantera...) e vários convidados (como JP, seu companheiro nos La MC Malcriado, entre outros), «Kunana Spirit» é um fabuloso exemplo de como se podem fundir, e tão bem!, músicas aparentemente tão distantes entre si. (9/10)

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo fantástico blog. É um ponto de passagem obrigatório.

António Pires disse...

Fábio Teixeira:

Muito obrigado pelas suas palavras!!

Um grande abraço

Naked Lunch disse...

passa por aqui, muito genuino http://www.myspace.com/ritchazekeke

parabens pelo blog! abraco

António Pires disse...

Naked Lunch:

Obrigado pelos parabéns! E eu conheço Ritchaz & Kéke - vi-os na ZDB (juntamente com os N'Gapas e Kotalume) - e no festival de Natal da Filho Único, na Av. da Liberdade. Mas obrigado pela (óptima) sugestão!

Um abraço

Graça Brites disse...

Devem ser de encantar as formas sonoras e essas misturas altamente explosivas de que falas. A mim também me encantam as formas línguísticas. Do prazer de ler ao sentir da música há-de ser viagem de longa distância apetecível e irresístivel.

Beijo.