22 novembro, 2006

«No Child Soldiers» - Desmobilizem As Crianças!


São carne para canhão. Tenra e barata. Muitas vezes esfomeada. Outras vezes com sede de vingança. Crianças entre os seis e os dezassete anos que brincam às guerras nas guerras a sério. Do lado de bandos rebeldes ou dos exércitos governamentais, sem direito a soldo nem ao remorso dos seus comandantes. Muitos morrem. Outros ficam estropiados. Outros viciados nas drogas que os chefes lhes dão para melhor os controlar. Muitos outros ficam com danos psicológicos irreversíveis. Neste momento são mais de 300 mil - 300 mil, santo Deus! - em todo o mundo. E há outras estatísticas: mais de um milhão de crianças passou por esta experiência; mais de dois milhões de crianças morreram em consequência de guerras nos últimos anos; mais de seis milhões ficaram estropiadas ou foram gravemente feridas; há dez milhões de crianças refugiadas, órfãs ou seriamente traumatizadas por guerras recentes. Os números, cruéis, estão no livreto do álbum «No Child Soldiers», que reúne inúmeras vedetas da música africana numa causa comum: a desmobilização das crianças-soldados. O resultado das vendas do disco - uma ideia da organização francesa Aikah a que se associaram outras entidades - reverte para organizações de desmobilização e reinserção de crianças-soldados. A fotografia que encima este texto é de Antony Njuguna, da Reuters.


VÁRIOS
«NO CHILD SOLDIERS»
O+ Music/Harmonia Mundi

Apesar do problema das crianças-soldados ser universal - do Sri Lanka à Palestina, da América Latina ao Afeganistão - «No Child Soldiers», o álbum, é totalmente protagonizado por artistas africanos, nascidos no mesmo continente em que há dezenas de milhar (centenas de milhar?) de crianças-soldados. E o tema é logo referido no início do álbum, no hino afro-reggae-soul ««Benamou (Enfants Soldats)», composto por Ange Yao e Madéka, em que intervêm também vários dos protagonistas deste álbum - Alpha Blondy, Angélique Kidjo, Lokua Kanza, Ben Okafor, Aicha Koné, Charlotte M'Bango, Monique Séka, Mama Keita, Diane Solo e Bibi); canção que é repegada, numa versão reduzida, no final. E o álbum, riquíssimo, está cheio de excelentes artistas e temas africanos. Vejamos... Tété num tema bluesy, «Le Meilleur des Mondes», que faria inveja a Ben Harper. O enorme Geoffrey Oryema nos afro-blues luminosos do clássico «Yé Yé Yé». Outro «monstro», Alpha Blondy, no reggae quente e interventivo de «Peace In Liberia». Aicha Koné cruzando a música mandinga com swing eléctrico em «Kanawa». Madeleine «Madéka» Kouadio numa canção lindíssima, puxada a violino e percussões, «Miwa». Angélique Kidjo a fazer a ponte sonora entre África, Cuba, Jamaica e Estados Unidos no festivo «Mutoto Kwanza». Os balafons a servir de cama à fabulosa voz de Rokia Traoré em «Sakanto». Outro clássico incontornável, «Tekere», do nobre trânsfuga Salif Keita. Koras, percussões e secção de metais em roda livre no absolutamente dançável «Sinebar», de Youssou N'Dour. E ainda, para compor o ramalhete, temas de Corneille, Ben Okafor, Mama Keita, Bibie, Extra Bokaya e Lokua Kanza. Tudo por uma causa urgente, num álbum muito, muito bom. Só falta aqui Emmanuel Jal... (9/10)

Links:

No Child Soldiers
UNICEF
Amnistia Internacional
Handicap International

3 comentários:

ANNA-LYS disse...

No Child Soldiers

Does even animals send their small one's in front of them when attacked? No, they hide their small precious ones! What does this "human" behavior makes us?

I cry for the children .... my heart bleeds

Anónimo disse...

Podes dizer onde é que arranjaste o disco?

Abraço,
Carlos Ramos

António Pires disse...

Olá Carlos!

Comprei-o na FNAC anteontem. Devem ter feito importação directa da FNAC francesa porque não sei de nenhuma empresa portuguesa que esteja a distribuí-lo em Portugal. Mas é pena...

Abraços